Aos 12 anos, Freeman Hrabowski marchou com Martin Luther King. Agora ele é o reitor da Universidade de Maryland, Condado de Baltimore (UMBC)...
Aos 12 anos, Freeman Hrabowski marchou com Martin Luther King. Agora ele é o reitor da Universidade de Maryland, Condado de Baltimore (UMBC), onde trabalha para criar um ambiente que ajude estudantes sub-representados — especificamente afro-americanos, latinos e alunos de baixa renda — a se formarem em Matemática e Ciências. Ele compartilha os quatro pilares da abordagem da UMBC.
Então, vou falar sobre o sucesso do meu campus, a Universidade de Maryland, Condado de Baltimore, UMBC, na educação de alunos de todos os tipos, nas áreas de Artes, Humanas e Ciências e Engenharia. O que torna nossa história especialmente importante é que aprendemos tanto com um grupo de alunos que não estão geralmente no topo da escala acadêmica: estudantes de cor, sub-representados em determinadas áreas. E o que faz essa história particularmente ímpar é que aprendemos como ajudar estudantes afro-americanos, latinos, de baixa renda, a tornarem-se alguns dos melhores do mundo em Ciências e Engenharia.
Então começo com uma história sobre minha infância. Somos todos produto de nossas vivências de infância. Para mim, é difícil acreditar que já faz 50 anos desde que tive a experiência de ser um aluno do nono ano em Birmingham, Alabama, uma criança que adorava ganhar conceito "A", que adorava matemática, que adorava ler, uma criança que diria ao professor - quando ele dizia para a classe: "Aqui estão 10 problemas", este menino gorducho diria: "Passe mais 10". E toda classe diria: "Cale a boca, Freeman". E sempre havia uma tirada dessas, todos os dias. E então eu sempre fiz essa pergunta:
Surpreendentemente, em uma semana na igreja, quando eu não queria estar realmente lá e estava tranquilo, no fundo da sala, resolvendo problemas de matemática, ouvi um homem dizer isso: "Se podemos levar as crianças a participarem nessa manifestação pacífica aqui em Birmingham, podemos mostrar aos Estados Unidos que mesmo crianças sabem a diferença entre certo e errado e que as crianças realmente querem ter a melhor educação possível". E olhei e disse: "Quem é esse homem?" E me disseram que seu nome era Dr. Martin Luther King. E eu disse a meus pais: "Eu tenho que ir. Eu quero ir. Quero fazer parte disso". E disseram: "De jeito nenhum".
(Risos)
E isso gerou um certo desconforto familiar. E naquela época, para ser honesto, não se respondia aos pais. E mesmo assim eu disse: "Sabem, vocês são hipócritas. Você me fazem ir nisso. Vocês me fazem escutar. O cara quer que eu vá, e agora vocês dizem não". E eles pensaram sobre isso a noite toda. No dia seguinte vieram ao meu quarto. Eles não dormiram. Eles literalmente choraram e rezaram e pensaram:
E decidiram que sim. E então eles vieram me contar. Primeiro fiquei exultante. E logo depois comecei a pensar nos cachorros e mangueiras contra incêndio, e fiquei apavorado, fiquei mesmo. E algo que sempre digo às pessoas é que, às vezes, quando as pessoas fazem algo corajoso, não quer dizer que elas sejam tão corajosas. Simplesmente significa que elas acreditam que é importante fazer.
Eu queria uma educação melhor. Não queria ter livros de segunda mão. Eu queria saber que a escola onde estava tinha, não apenas bons professores, mas os recursos de que precisávamos. E o resultado daquela experiência, no meio da semana, enquanto eu estava na prisão, o Dr. King veio com nossos pais e disse:
Recentemente, percebi que dois terços dos americanos de hoje ainda não haviam nascido em 1963. Então para eles, quando ouvem sobre a Cruzada das Crianças em Birmingham, de alguma forma, se eles veem isso na TV, parece algo como o filme "Lincoln", de 1863, para nós: é história. E a verdadeira questão é: que lições aprendemos? Incrível, o mais importante para mim foi isso: que as crianças podem ser capacitadas a tomar as rédeas de sua educação. Podem ser ensinados a ter paixão por quererem aprender, e adorar a ideia de fazer perguntas.
É por isso que é especialmente significativo que a universidade que hoje chefio, a Universidade de Maryland, Condado Baltimore, UMBC, tenha sido fundada no mesmo ano em que fui preso com Dr. King, em 1963. E o que torna tão importante a criação desta instituição é que Maryland é o sul, como sabem, e, honestamente, foi a primeira universidade do nosso estado fundada em uma época em que estudantes de todas as raças podiam entrar. Então, tínhamos estudantes negros e brancos e outros que começaram a frequentá-la. E essa experiência já dura 50 anos. A experiência é essa: é possível ter instituições nos Estados Unidos, universidades, onde pessoas de todas as origens podem aprender a trabalhar juntos e tornar-se líderes, e apoiar uns aos outros nessa experiência.
Agora, o mais importante para mim, desta experiência, é o seguinte: descobrimos que podíamos fazer muito em Artes, Ciências Humanas e Ciências Sociais. Então começamos a trabalhar nisso, por anos, na década de 60. E formamos várias pessoas, do Direito às Ciências Humanas. Formamos artistas fenomenais. Beckett é nossa musa. Muitos dos nossos alunos entraram para o teatro. Um grande trabalho. O problema que tivemos foi o mesmo que os Estados Unidos continuam a ter -- que os estudantes de Ciências e Engenharia, estudantes negros, não estavam tendo sucesso. Mas quando vi os dados, descobri que, honestamente, os estudantes em geral, diversos, não estava indo bem. E por isso, decidimos fazer algo que ajudasse, primeiro, o grupo de baixo, estudantes afro-americanos, e depois os hispanos.
E Robert e Jane Meyerhoff, filantropos, disseram: "Gostaríamos de ajudar". Robert Meyerhoff disse:
Juntamos as ideias e criamos o Programa Acadêmico Meyerhoff. O importante a respeito desse programa é o fato de termos aprendido diversas coisas. E a pergunta é: como é que agora somos líderes na formação de afro-americanos que completam mestrado e doutorado em Ciências e Engenharia? É uma grande conquista. Batam palmas por isso. É uma grande conquista. Grande conquista, realmente.
(Aplausos)
Vejam, a maioria das pessoas não percebe que não são só as minorias que não se saem bem em Ciências e Engenharia. Honestamente, estamos falando de americanos. Se não sabem, enquanto 20% dos negros e hispânicos que começam uma graduação em Ciências e Engenharia irão graduar-se nessas áreas, somente 32% dos brancos que começam uma graduação nessas áreas terão êxito e se formarão, e apenas 42% dos americanos asiáticos.
Portanto, a questão é: qual é o desafio? Bem, uma parte, claro, é o ensino fundamental e médio. Temos que fortalecê-los. Mas a outra parte tem a ver com a cultura das Ciências e Engenharia nos nossos campi. Saibam vocês ou não, diversos estudantes com notas altas no teste de admissão padrão (SAT) e com créditos de colocação avançada, que vão para as mais prestigiadas universidades do país, ingressam em Medicina ou Engenharia e depois migram para outros cursos. E a razão principal, cremos nós, honestamente, é que eles não vão bem no primeiro ano das áreas científica e de exatas.
Quantos de vocês neste auditório conhecem alguém que começou Medicina ou Engenharia e trocou de curso no primeiro ou segundo ano? É um desafio americano. Metade desta sala. Eu sei, eu sei, eu sei. O interessante disso é que muito estudantes são inteligentes e podem fazer esses cursos. Precisamos encontrar maneiras disso acontecer.
Quais são as quatro coisas que fizemos para ajudar os estudantes das minorias, e que agora ajudam a estudantes em geral?
Número um: altas expectativas. É preciso entender a preparação acadêmica dos estudantes - suas notas, o rigor do curso, suas habilidades ao fazer os exames, sua postura, o sangue nas veias, a paixão pelo trabalho, para que dê certo. Então, fazer algo que ajude os alunos a se preparar é muito importante. Mas é igualmente relevante a compreensão de que é o trabalho árduo que faz a diferença. Não me importa o grau de inteligência que você tenha, ou acredite ter. Inteligência significa apenas que está pronto para aprender. Você está entusiasmado para aprender e quer fazer boas perguntas.
I.I. Rabi, ganhador do Nobel, disse que durante o período em que ele cresceu em Nova York, todos os pais dos seus amigos perguntavam-lhes: "O que aprendeu na escola?", no final do dia. E ele disse, ao contrário, sua mãe perguntava:
Logo, altas expectativas tem a ver com curiosidade e com encorajar os jovens a serem curiosos. E o
resultado dessas altas expectativas, é que começamos a encontrar estudantes com quem queríamos trabalhar, para ver o que podíamos fazer para ajudá-los, não apenas para que não desistissem de Ciências e Engenharia, mas para que se tornassem os melhores, e se sobressaíssem.
Curiosamente, um exemplo: dissemos a um jovem que teve conceito "C" no primeiro ano, e queria estudar Medicina: "Precisamos que você refaça o curso, porque você precisa ter uma base forte, se quiser passar ao nível seguinte". Essa base faz toda diferença no próximo nível. Ele refez o curso. Esse jovem prosseguiu, até se formar pela UMBC, e tornou-se o primeiro negro a ter mestrado e doutorado, pela Universidade da Pensilvânia. Hoje, ele trabalha em Harvard. Linda história. Vamos aplaudi-lo também por isso.
(Aplausos)
Em segundo lugar, não se trata apenas de notas. As notas são importantes, mas não são o mais importante. Uma jovem tinha conceitos ótimos, mas suas notas individuais não eram tão altas. Mas ela tinha uma característica muito importante. Ele nunca faltou um dia de escola, até o ensino médio. Havia sangue em suas veias. Essa jovem prosseguiu, e hoje tem mestrado e doutorado, pela Hopkins. Ela é professora assistente de Psiquiatria na faculdade, com doutorado em Neurociência. Ela e seu orientador têm uma patente de uso alternativo do Viagra em pacientes diabéticos. Um grande aplauso para ela. Um grande aplauso. (Aplausos) Portanto, altas expectativas são muito importantes.
Em segundo lugar, a ideia de construir uma comunidade entre os alunos. Todos nós sabemos que em Ciências e Engenharia, geralmente, tende-se a pensar cruelmente. Os estudantes não são ensinados a trabalhar em grupos. E é isso que trabalhamos com esses grupos, ajudando-os a compreender uns aos outros, a criar confiança entre si, a darem apoio uns aos outros, a aprender a fazer boas perguntas, mas também a aprender como explicar conceitos com clareza. Como sabem, uma coisa é você conseguir um conceito "A". Outra coisa é ajudar alguém a se sair bem. E sentir esse senso de responsabilidade faz toda diferença do mundo. Portanto, construir uma comunidade entre os alunos é muito importante.
Em terceiro lugar, são necessários pesquisadores para formar novos pesquisadores. Quer estejamos falando de artistas formando artistas, ou de pessoas ingressando em Ciências Sociais, qualquer disciplina — especialmente em Ciências e Engenharia, como em Arte, por exemplo — precisamos de cientistas que atraiam os alunos ao trabalho. Logo, nossos alunos trabalham regularmente nos laboratórios.
E um grande exemplo que vocês vão gostar: durante uma nevasca em Baltimore, alguns anos atrás, um cara do nosso campus, bolsista do Instituto Médico Howard Hughes, literalmente retornou ao trabalho no seu laboratório, dias depois, e vários estudantes tinham ficado no laboratório. Tinham levado comida para lá. Estavam trabalhando no laboratório, e viram o trabalho, não como um dever de casa, mas como suas vidas. Sabiam que estavam trabalhando na pesquisa sobre AIDS. Estavam analisando este surpreendente desenho de proteína. E o interessante foi que cada um deles se concentrou naquele trabalho. E ele disse:
E então, finalmente, se há uma comunidade, com altas expectativas e pesquisadores formando pesquisadores, é preciso haver pessoas que estejam dispostas, enquanto docentes, a se envolverem com esses alunos, até mesmo dentro da sala de aula. Nunca vou esquecer de um professor que chamou o corpo docente e disse: "Tenho este jovem na classe, um jovem negro, e parece que não está entusiasmado com o trabalho. Ele não faz anotações. Precisamos falar com ele." O importante era que este professor estava observando cada aluno, para descobrir quem estava envolvido e quem não estava, e pensou: "Deixe-me ver como posso trabalhar com eles. Vou pedir ajuda ao corpo docente". Era esta a conexão. Hoje, esse jovem é professor, com mestrado/doutorado em Neuroengenharia, na Duke. Por isso, aplausos para ele.
(Aplausos)
Então, o importante é que desenvolvemos um modelo, que nos ajuda, não apenas com a avaliação, analisando o que funciona. Percebemos que precisávamos pensar numa reestruturação dos cursos. Então, reestruturamos os cursos de Química e Física. Mas agora estamos ocupados na reestruturação das áreas de Humanas e Ciências sociais. Porque há muitos estudantes entediados nas aulas. Sabiam disso? Muitos estudantes, na escola ou em universidades, não querem apenas ficar sentados, escutando alguém falar. Eles precisam participar.
Então fizemos - se visitarem a página do Centro de Descobertas de Química, na internet, verão pessoas vindas de todo o país para ver como estamos reestruturando os cursos, com ênfase na colaboração, uso de tecnologia, utilização de casos práticos das empresas de biotecnologia do nosso campus, e não dando apenas teoria aos alunos, mas fazendo-os batalhar em cima delas. E tem funcionado tão bem, que por todo nosso sistema universitário em Maryland, cada vez mais cursos estão sendo reestruturados.
E o que tudo isso significa? Significa que, agora, temos programas não apenas em Ciências e Engenharia, mas também nas áreas de Artes, Ciências Humanas, Ciências Sociais, na capacitação de professores, e particularmente em prol de mulheres na área de T.I.
E o que quero dizer é que o que fará a diferença será a construção de comunidades entre os estudantes, dizendo às jovens, à juventude pertencente às minorias e aos estudantes em geral que eles podem realizar esse trabalho. E o mais importante, dar-lhes a chance de construir essa comunidade, com a faculdade os incentivando nesse trabalho, e com nossa avaliação do que funciona ou não. O mais importante, se o aluno acredita em si mesmo, é surpreendente como os sonhos e valores podem fazer toda diferença no mundo.
Quando tinha 12 anos, na prisão em Birmingham, eu ficava pensando: "Como será o meu futuro?" Eu nem imaginava que era possível que este menino negro de Birmingham um dia fosse o reitor de uma universidade que tem estudantes de 150 países, onde os alunos não estão lá apenas para por estar, onde eles adoram aprender, onde gostam de ser os melhores, onde um dia mudarão o mundo.
Aristóteles disse:
E então ele disse algo que me arrepia. Ele disse:
A escolha, e não o acaso, determina o seu destino, sonhos e valores.
A todos, meu muito obrigado.
(Aplausos)
Fonte: TED
[Visto no Brasil Acadêmico]
Então, vou falar sobre o sucesso do meu campus, a Universidade de Maryland, Condado de Baltimore, UMBC, na educação de alunos de todos os tipos, nas áreas de Artes, Humanas e Ciências e Engenharia. O que torna nossa história especialmente importante é que aprendemos tanto com um grupo de alunos que não estão geralmente no topo da escala acadêmica: estudantes de cor, sub-representados em determinadas áreas. E o que faz essa história particularmente ímpar é que aprendemos como ajudar estudantes afro-americanos, latinos, de baixa renda, a tornarem-se alguns dos melhores do mundo em Ciências e Engenharia.
Então começo com uma história sobre minha infância. Somos todos produto de nossas vivências de infância. Para mim, é difícil acreditar que já faz 50 anos desde que tive a experiência de ser um aluno do nono ano em Birmingham, Alabama, uma criança que adorava ganhar conceito "A", que adorava matemática, que adorava ler, uma criança que diria ao professor - quando ele dizia para a classe: "Aqui estão 10 problemas", este menino gorducho diria: "Passe mais 10". E toda classe diria: "Cale a boca, Freeman". E sempre havia uma tirada dessas, todos os dias. E então eu sempre fiz essa pergunta:
Bem, como poderíamos fazer com que mais crianças adorem aprender?
Surpreendentemente, em uma semana na igreja, quando eu não queria estar realmente lá e estava tranquilo, no fundo da sala, resolvendo problemas de matemática, ouvi um homem dizer isso: "Se podemos levar as crianças a participarem nessa manifestação pacífica aqui em Birmingham, podemos mostrar aos Estados Unidos que mesmo crianças sabem a diferença entre certo e errado e que as crianças realmente querem ter a melhor educação possível". E olhei e disse: "Quem é esse homem?" E me disseram que seu nome era Dr. Martin Luther King. E eu disse a meus pais: "Eu tenho que ir. Eu quero ir. Quero fazer parte disso". E disseram: "De jeito nenhum".
(Risos)
E isso gerou um certo desconforto familiar. E naquela época, para ser honesto, não se respondia aos pais. E mesmo assim eu disse: "Sabem, vocês são hipócritas. Você me fazem ir nisso. Vocês me fazem escutar. O cara quer que eu vá, e agora vocês dizem não". E eles pensaram sobre isso a noite toda. No dia seguinte vieram ao meu quarto. Eles não dormiram. Eles literalmente choraram e rezaram e pensaram:
Deixaremos nosso filho de 12 anos participar desta marcha e provavelmente ser preso?
E decidiram que sim. E então eles vieram me contar. Primeiro fiquei exultante. E logo depois comecei a pensar nos cachorros e mangueiras contra incêndio, e fiquei apavorado, fiquei mesmo. E algo que sempre digo às pessoas é que, às vezes, quando as pessoas fazem algo corajoso, não quer dizer que elas sejam tão corajosas. Simplesmente significa que elas acreditam que é importante fazer.
Eu queria uma educação melhor. Não queria ter livros de segunda mão. Eu queria saber que a escola onde estava tinha, não apenas bons professores, mas os recursos de que precisávamos. E o resultado daquela experiência, no meio da semana, enquanto eu estava na prisão, o Dr. King veio com nossos pais e disse:
O que vocês, crianças, fazem hoje causará impacto nas crianças que ainda não nasceram.
Recentemente, percebi que dois terços dos americanos de hoje ainda não haviam nascido em 1963. Então para eles, quando ouvem sobre a Cruzada das Crianças em Birmingham, de alguma forma, se eles veem isso na TV, parece algo como o filme "Lincoln", de 1863, para nós: é história. E a verdadeira questão é: que lições aprendemos? Incrível, o mais importante para mim foi isso: que as crianças podem ser capacitadas a tomar as rédeas de sua educação. Podem ser ensinados a ter paixão por quererem aprender, e adorar a ideia de fazer perguntas.
É por isso que é especialmente significativo que a universidade que hoje chefio, a Universidade de Maryland, Condado Baltimore, UMBC, tenha sido fundada no mesmo ano em que fui preso com Dr. King, em 1963. E o que torna tão importante a criação desta instituição é que Maryland é o sul, como sabem, e, honestamente, foi a primeira universidade do nosso estado fundada em uma época em que estudantes de todas as raças podiam entrar. Então, tínhamos estudantes negros e brancos e outros que começaram a frequentá-la. E essa experiência já dura 50 anos. A experiência é essa: é possível ter instituições nos Estados Unidos, universidades, onde pessoas de todas as origens podem aprender a trabalhar juntos e tornar-se líderes, e apoiar uns aos outros nessa experiência.
Agora, o mais importante para mim, desta experiência, é o seguinte: descobrimos que podíamos fazer muito em Artes, Ciências Humanas e Ciências Sociais. Então começamos a trabalhar nisso, por anos, na década de 60. E formamos várias pessoas, do Direito às Ciências Humanas. Formamos artistas fenomenais. Beckett é nossa musa. Muitos dos nossos alunos entraram para o teatro. Um grande trabalho. O problema que tivemos foi o mesmo que os Estados Unidos continuam a ter -- que os estudantes de Ciências e Engenharia, estudantes negros, não estavam tendo sucesso. Mas quando vi os dados, descobri que, honestamente, os estudantes em geral, diversos, não estava indo bem. E por isso, decidimos fazer algo que ajudasse, primeiro, o grupo de baixo, estudantes afro-americanos, e depois os hispanos.
E Robert e Jane Meyerhoff, filantropos, disseram: "Gostaríamos de ajudar". Robert Meyerhoff disse:
Por que tudo que vejo na TV sobre garotos negros, que não está relacionado com basquetebol, não é positivo? Quero fazer a diferença, fazer algo que seja positivo.
Juntamos as ideias e criamos o Programa Acadêmico Meyerhoff. O importante a respeito desse programa é o fato de termos aprendido diversas coisas. E a pergunta é: como é que agora somos líderes na formação de afro-americanos que completam mestrado e doutorado em Ciências e Engenharia? É uma grande conquista. Batam palmas por isso. É uma grande conquista. Grande conquista, realmente.
(Aplausos)
Vejam, a maioria das pessoas não percebe que não são só as minorias que não se saem bem em Ciências e Engenharia. Honestamente, estamos falando de americanos. Se não sabem, enquanto 20% dos negros e hispânicos que começam uma graduação em Ciências e Engenharia irão graduar-se nessas áreas, somente 32% dos brancos que começam uma graduação nessas áreas terão êxito e se formarão, e apenas 42% dos americanos asiáticos.
Portanto, a questão é: qual é o desafio? Bem, uma parte, claro, é o ensino fundamental e médio. Temos que fortalecê-los. Mas a outra parte tem a ver com a cultura das Ciências e Engenharia nos nossos campi. Saibam vocês ou não, diversos estudantes com notas altas no teste de admissão padrão (SAT) e com créditos de colocação avançada, que vão para as mais prestigiadas universidades do país, ingressam em Medicina ou Engenharia e depois migram para outros cursos. E a razão principal, cremos nós, honestamente, é que eles não vão bem no primeiro ano das áreas científica e de exatas.
Na verdade, chamamos o primeiro ano dos cursos de Ciências e Engenharia, nos Estados Unidos, de cursos de eliminação ou cursos de barreira.
Quantos de vocês neste auditório conhecem alguém que começou Medicina ou Engenharia e trocou de curso no primeiro ou segundo ano? É um desafio americano. Metade desta sala. Eu sei, eu sei, eu sei. O interessante disso é que muito estudantes são inteligentes e podem fazer esses cursos. Precisamos encontrar maneiras disso acontecer.
Quais são as quatro coisas que fizemos para ajudar os estudantes das minorias, e que agora ajudam a estudantes em geral?
Número um: altas expectativas. É preciso entender a preparação acadêmica dos estudantes - suas notas, o rigor do curso, suas habilidades ao fazer os exames, sua postura, o sangue nas veias, a paixão pelo trabalho, para que dê certo. Então, fazer algo que ajude os alunos a se preparar é muito importante. Mas é igualmente relevante a compreensão de que é o trabalho árduo que faz a diferença. Não me importa o grau de inteligência que você tenha, ou acredite ter. Inteligência significa apenas que está pronto para aprender. Você está entusiasmado para aprender e quer fazer boas perguntas.
I.I. Rabi, ganhador do Nobel, disse que durante o período em que ele cresceu em Nova York, todos os pais dos seus amigos perguntavam-lhes: "O que aprendeu na escola?", no final do dia. E ele disse, ao contrário, sua mãe perguntava:
Izzy, fez uma boa pergunta hoje?
Logo, altas expectativas tem a ver com curiosidade e com encorajar os jovens a serem curiosos. E o
resultado dessas altas expectativas, é que começamos a encontrar estudantes com quem queríamos trabalhar, para ver o que podíamos fazer para ajudá-los, não apenas para que não desistissem de Ciências e Engenharia, mas para que se tornassem os melhores, e se sobressaíssem.
Curiosamente, um exemplo: dissemos a um jovem que teve conceito "C" no primeiro ano, e queria estudar Medicina: "Precisamos que você refaça o curso, porque você precisa ter uma base forte, se quiser passar ao nível seguinte". Essa base faz toda diferença no próximo nível. Ele refez o curso. Esse jovem prosseguiu, até se formar pela UMBC, e tornou-se o primeiro negro a ter mestrado e doutorado, pela Universidade da Pensilvânia. Hoje, ele trabalha em Harvard. Linda história. Vamos aplaudi-lo também por isso.
(Aplausos)
Em segundo lugar, não se trata apenas de notas. As notas são importantes, mas não são o mais importante. Uma jovem tinha conceitos ótimos, mas suas notas individuais não eram tão altas. Mas ela tinha uma característica muito importante. Ele nunca faltou um dia de escola, até o ensino médio. Havia sangue em suas veias. Essa jovem prosseguiu, e hoje tem mestrado e doutorado, pela Hopkins. Ela é professora assistente de Psiquiatria na faculdade, com doutorado em Neurociência. Ela e seu orientador têm uma patente de uso alternativo do Viagra em pacientes diabéticos. Um grande aplauso para ela. Um grande aplauso. (Aplausos) Portanto, altas expectativas são muito importantes.
Em segundo lugar, a ideia de construir uma comunidade entre os alunos. Todos nós sabemos que em Ciências e Engenharia, geralmente, tende-se a pensar cruelmente. Os estudantes não são ensinados a trabalhar em grupos. E é isso que trabalhamos com esses grupos, ajudando-os a compreender uns aos outros, a criar confiança entre si, a darem apoio uns aos outros, a aprender a fazer boas perguntas, mas também a aprender como explicar conceitos com clareza. Como sabem, uma coisa é você conseguir um conceito "A". Outra coisa é ajudar alguém a se sair bem. E sentir esse senso de responsabilidade faz toda diferença do mundo. Portanto, construir uma comunidade entre os alunos é muito importante.
Em terceiro lugar, são necessários pesquisadores para formar novos pesquisadores. Quer estejamos falando de artistas formando artistas, ou de pessoas ingressando em Ciências Sociais, qualquer disciplina — especialmente em Ciências e Engenharia, como em Arte, por exemplo — precisamos de cientistas que atraiam os alunos ao trabalho. Logo, nossos alunos trabalham regularmente nos laboratórios.
E um grande exemplo que vocês vão gostar: durante uma nevasca em Baltimore, alguns anos atrás, um cara do nosso campus, bolsista do Instituto Médico Howard Hughes, literalmente retornou ao trabalho no seu laboratório, dias depois, e vários estudantes tinham ficado no laboratório. Tinham levado comida para lá. Estavam trabalhando no laboratório, e viram o trabalho, não como um dever de casa, mas como suas vidas. Sabiam que estavam trabalhando na pesquisa sobre AIDS. Estavam analisando este surpreendente desenho de proteína. E o interessante foi que cada um deles se concentrou naquele trabalho. E ele disse:
Não dá pra ficar melhor do que isso.
E então, finalmente, se há uma comunidade, com altas expectativas e pesquisadores formando pesquisadores, é preciso haver pessoas que estejam dispostas, enquanto docentes, a se envolverem com esses alunos, até mesmo dentro da sala de aula. Nunca vou esquecer de um professor que chamou o corpo docente e disse: "Tenho este jovem na classe, um jovem negro, e parece que não está entusiasmado com o trabalho. Ele não faz anotações. Precisamos falar com ele." O importante era que este professor estava observando cada aluno, para descobrir quem estava envolvido e quem não estava, e pensou: "Deixe-me ver como posso trabalhar com eles. Vou pedir ajuda ao corpo docente". Era esta a conexão. Hoje, esse jovem é professor, com mestrado/doutorado em Neuroengenharia, na Duke. Por isso, aplausos para ele.
(Aplausos)
Então, o importante é que desenvolvemos um modelo, que nos ajuda, não apenas com a avaliação, analisando o que funciona. Percebemos que precisávamos pensar numa reestruturação dos cursos. Então, reestruturamos os cursos de Química e Física. Mas agora estamos ocupados na reestruturação das áreas de Humanas e Ciências sociais. Porque há muitos estudantes entediados nas aulas. Sabiam disso? Muitos estudantes, na escola ou em universidades, não querem apenas ficar sentados, escutando alguém falar. Eles precisam participar.
Então fizemos - se visitarem a página do Centro de Descobertas de Química, na internet, verão pessoas vindas de todo o país para ver como estamos reestruturando os cursos, com ênfase na colaboração, uso de tecnologia, utilização de casos práticos das empresas de biotecnologia do nosso campus, e não dando apenas teoria aos alunos, mas fazendo-os batalhar em cima delas. E tem funcionado tão bem, que por todo nosso sistema universitário em Maryland, cada vez mais cursos estão sendo reestruturados.
É a chamada inovação acadêmica.
E o que tudo isso significa? Significa que, agora, temos programas não apenas em Ciências e Engenharia, mas também nas áreas de Artes, Ciências Humanas, Ciências Sociais, na capacitação de professores, e particularmente em prol de mulheres na área de T.I.
Se não sabem, existe um declínio de 79% no número de mulheres que se formam em Ciências da Computação, desde o ano 2000.
E o que quero dizer é que o que fará a diferença será a construção de comunidades entre os estudantes, dizendo às jovens, à juventude pertencente às minorias e aos estudantes em geral que eles podem realizar esse trabalho. E o mais importante, dar-lhes a chance de construir essa comunidade, com a faculdade os incentivando nesse trabalho, e com nossa avaliação do que funciona ou não. O mais importante, se o aluno acredita em si mesmo, é surpreendente como os sonhos e valores podem fazer toda diferença no mundo.
Quando tinha 12 anos, na prisão em Birmingham, eu ficava pensando: "Como será o meu futuro?" Eu nem imaginava que era possível que este menino negro de Birmingham um dia fosse o reitor de uma universidade que tem estudantes de 150 países, onde os alunos não estão lá apenas para por estar, onde eles adoram aprender, onde gostam de ser os melhores, onde um dia mudarão o mundo.
Aristóteles disse:
A excelência nunca é um acidente. É o resultado de forte propósito, esforço sincero e execução inteligente. Representa a opção mais sábia entre muitas alternativas.
E então ele disse algo que me arrepia. Ele disse:
A escolha, e não o acaso, determina o seu destino.
A escolha, e não o acaso, determina o seu destino, sonhos e valores.
A todos, meu muito obrigado.
(Aplausos)
Fonte: TED
[Visto no Brasil Acadêmico]
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