O ingrediente mágico que dá vida aos filmes da Pixar

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Esta palestra faz parte do especial da PBS "TED Talks: Ciência e Fascinação."

Danielle Feinberg, diretora de fotografia da Pixar, cria histórias com alma e encantamento usando matemática, ciência e programação. Entre nos bastidores de "Procurando Nemo", "Toy Story", "Valente", "WALL-E", entre outros, e descubra como a Pixar entrelaça arte e ciência para criar mundos fantásticos no qual as coisas que você imagina podem se tornar realidade.

Quando tinha sete anos, um adulto bem-intencionado me perguntou o que eu queria ser quando crescesse. Orgulhosa, respondi: "Uma artista." "Não, não quer," ele disse, "Você não pode se sustentar sendo uma artista!"

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Meus sonhos de pequena Picasso foram destruídos. Mas me recompus, fui em busca de um novo sonho, finalmente decidi ser uma cientista, algo como a próxima Albert Einstein.

(Risos)

Sempre amei matemática e ciências, e depois, programação. Então decidi estudar programação de computadores na faculdade. No primeiro ano, meu professor de computação gráfica mostrou estes admiráveis curta-metragens. Foi a primeira animação computadorizada que nós havíamos visto. Assisti a esses filmes deslumbrada, paralisada, completamente maravilhada, pensando: É isso que quero fazer da minha vida." A ideia de que toda matemática, ciência e programação que aprendia poderiam se juntar para criar aqueles mundos, personagens e histórias a que me ligava, era pura magia para mim.

Dois anos depois, comecei a trabalhar onde aqueles filmes foram feitos, Pixar Animation Studios. Foi lá que aprendi como realmente fazemos esses filmes. Para criar nossos filmes, criamos um mundo tridimensional dentro do computador. Começamos com um ponto, que faz uma linha, que faz um rosto que gera personagens, ou árvores e pedras que por fim viram uma floresta. E como é um mundo tridimensional, podemos mover a câmera por dentro desse mundo. Estava fascinada por tudo aquilo. Aí tive meu primeiro contato com a iluminação.

Iluminar, na prática, é colocar luzes dentro deste mundo tridimensional. De fato, tenho ícones de luz que movimento lá dentro. Aqui vocês podem ver que coloquei luz, ligo a versão de esboço da iluminação em nosso software, incluo as sombras e acerto a luz. Enquanto acerto a luz, penso em como ficaria na vida real, mas balanceio com o que precisamos artisticamente para a história. Pode ter este aspecto a princípio, mas conforme ajustamos aqui e movemos ali em semanas de trabalho, o esboço pode parecer assim, e na forma final, assim.

Há um momento na iluminação que me faz cair de amores por ela. É quando se vai disto para isto. É o momento quando todas as peças se encaixam, e de repente o mundo ganha vida como se fosse um lugar que existe de verdade. Este momento nunca envelhece, especialmente para aquela menininha de sete anos que queria ser artista.

Aprendendo a iluminar, aprendi a usar a luz para ajudar a contar histórias, definir a hora do dia, criar o clima, guiar os olhos do público, como fazer um personagem parecer atraente ou destacar-se em um cenário entulhado.

Vocês viram o WALL-E?

(Risos)

Lá está ele.

Como podem ver, podemos criar o mundo que quisermos no computador. Podemos fazer um mundo com monstros, com robôs que se apaixonam, podemos até mesmo fazer porcos voarem.

(Risos)

Embora isso seja uma coisa incrível, esta liberdade artística sem amarras, pode criar o caos. Pode criar mundos inacreditáveis, movimentos inacreditáveis, coisas que incomodam o público. Então para evitar isto, nos atemos à ciência.

Usamos a ciência e o mundo que conhecemos como uma espinha dorsal, para nos atermos a coisas relacionáveis e reconhecíveis. "Procurando Nemo" é um ótimo exemplo. A maior parte do filme se passa embaixo d'água. Mas como se faz para parecer embaixo d'água?

Na pesquisa e desenvolvimento iniciais, tomamos uma filmagem embaixo d'água e a recriamos no computador. Então a desconstruímos para ver quais elementos compunham aquele visual embaixo d'água. Um dos elementos cruciais era como a luz viaja através da água. Então codificamos uma luz que mimetiza essa física; primeiro a visibilidade da água, e depois o que acontece com a cor. Objetos próximos aos olhos têm coloração ampla, rica. Conforme a luz viaja mais fundo na água, há menos comprimentos de onda vermelhos, depois os verdes, nos deixando com os azuis nas profundidades distantes.

Neste clipe podem ver outros dois elementos importantes. O primeiro é a ondulação, ou as correntes invisíveis que empurram os pedaços de partículas ao redor da água. O segundo são as cáusticas, Elas são feixes de luz como as que podem ver no fundo de uma piscina, criadas quando a luz do sol se encurva nas cristas da ondas e ondulações na superfície do oceano. Aqui temos feixes de névoa. Eles sugerem profundidade de cor, e também nos dizem qual é o lado de cima em tomadas em que não vemos a superfície da água. A outra coisa muito legal que veem aqui é que iluminamos as partículas apenas com as cáusticas, de modo que quando elas entram e saem desses feixes de luz, elas aparecem e desaparecem, dando um brilho mágico e sutil ao fundo do mar.

Podem ver como usamos a ciência... a física da água, da luz e do movimento... para amarrar aquela liberdade artística. Mas não ficamos presos a isso. Consideramos cada um destes elementos: quais têm de ser cientificamente precisos e quais podemos distorcer para se adequar à história e ao clima.

Logo percebemos que a cor era algo com a qual tínhamos alguma liberdade. Aqui temos uma cena subaquática colorida tradicionalmente. Mas aqui, podemos pegar a Baía de Sydney e deixá-la esverdeada para se adequar ao clima triste do que esta acontecendo. Nesta cena, é realmente importante vermos profundamente embaixo d'água, para entendermos o que é a corrente da Austrália oriental onde as tartarugas estão mergulhando, embarcando numa montanha russa. Então aumentamos a visibilidade na água muito além do que poderíamos ver na vida real. Porque, afinal, não estamos tentando recriar o mundo real cientificamente correto, estamos tentando criar um mundo crível, no qual o público possa mergulhar e viver a história.

Usamos a ciência para criar algo maravilhoso. Usamos a história e um toque artístico para nos levar a um lugar mágico. Este cara, WALL-E, é um grande exemplo disso. Ele encontra beleza nas coisas simples. Mas quando veio para a iluminação, sabíamos que tínhamos um problemão. Ficamos tão obcecados em fazer do WALL-E um robô convincente, que fizemos seus binóculos praticamente perfeitos opticamente.

(Risos)

Os binóculos são uma das ferramentas de atuação mais importantes que ele tem. Aliás, ele não tem um rosto ou mesmo um diálogo tradicional. Então os animadores ficaram muito dependentes dos binóculos para passar sua atitude e suas emoções.

Começamos a iluminar e percebemos que as lentes triplas dentro dos binóculos eram um emaranhado de reflexos. Ele estava começando a ficar com um olhar vidrado.

(Risos)

Agora, um olhar vidrado é uma coisa fundamentalmente horrorosa quando se está tentando convencer o publico de que um robô tem personalidade e que é capaz de se apaixonar. (Risos) Então fomos trabalhar nesses binóculos opticamente perfeitos, tentando achar uma solução que mantivesse a verdade dos materiais usados mas resolvesse este problema de reflexo.

Então começamos com as lentes. Eis las entes planas frontais, temos uma lente côncava e uma lente convexa. E aqui vocês podem ver as três juntas, nos mostrando todos esses reflexos. Tentamos diminuí-los, tentamos bloqueá-los, nada funcionava. Vocês podem ver aqui, às vezes precisávamos que uma coisa específica refletisse em seus olhos... geralmente a EVA. Então não podíamos apenas usar imagens abstratas falsas nas lentes. Então, aqui temos EVA na primeira lente, colocamos EVA na segunda lente, não funciona. Diminuimos, ainda não funciona.

E então tivemos nosso "momento eureka". Adicionamos uma luz ao WALL-E que por acaso vaza dentro dos seus olhos. Vocês podem vê-la acender essas lâminas de abertura cinzas. De repente, essas lâminas de abertura se sobressaem através do reflexo de um modo único. Agora podemos reconhecer que o WALL-E tem um olho. Como humanos, nós temos o branco do olho, a íris colorida, e a pupila preta. Já WALL-E tem o preto do olho, as lâminas de abertura cinzas e a pupila preta. De repente, sentimos como se WALL-E tivesse alma, como se houvesse ali dentro um personagem com emoção. Mais para o final do filme, WALL-E perde sua personalidade, essencialmente ficando sem vida. Este é o momento perfeito para trazer de volta o olhar vidrado. Na cena seguinte, WALL-E volta à vida. Trazemos a luz de volta para trazermos as lâminas do obturador de volta, e ele volta a ser aquele doce robô cheio de alma que nós aprendemos a amar.

(Vídeo) WALL-E: "EVA?" (Risos)

Há certa beleza nesses momentos inesperados, quando achamos a chave para abrir a alma de um robô, o momento em que descobrimos o que quer fazer com a sua vida. A água-viva em "Procurando Nemo" foi um desses momentos para mim.

Existem cenas em todo filme que exigem um esforço para acontecer. Esta foi uma delas. O diretor tinha uma visão para esta cena baseada em uma filmagem maravilhosa de águas-vivas no Pacífico Sul. A medida em que avançávamos, fomos nos afundando. As revisões com o diretor transformaram-se de conversas normais de apresentação em mais e mais perguntas sobre números e porcentagens. Talvez, ao contrário do normal, estávamos nos baseando na vida real, ou talvez apenas porque estávamos perdidos. Mas passou a ser usar nossos cérebros sem os olhos, a ciência sem a arte. A corrente da ciência estava estrangulando a cena.

Mas mesmo com todas as frustrações, ainda acreditava que poderia ser lindo. Então quando chegou na iluminação, Mergulhei. Enquanto trabalhava para balancear os azuis e os rosas, as cáusticas dançando nos corpos das águas-vivas, os feixes de névoa ondulantes, algo promissor começou a aparecer. Cheguei uma manhã e chequei o trabalho da noite anterior. E fiquei empolgada. Então mostrei à diretora de iluminação. E ela ficou empolgada. Logo, estava mostrando para o diretor em uma sala escura com 50 pessoas.

Na revisão do diretor, esperamos receber umas palavras legais, e geralmente, recebemos alguns comentários e ajustes. E aí, quem sabe, recebemos o último ajuste, sinalizando para ir ao próximo estágio. Fiz minha introdução e passei a cena da água-viva. E o diretor ficou em silêncio desconfortavelmente longo. Longo o bastante para eu pensar: "Essa não, foi um fracasso." Então ele começou a aplaudir. E então o designer de produção começou a aplaudir. E então toda a sala estava aplaudindo. Este é o momento na iluminação pelo qual vivo. O momento em que tudo se encaixa e ganhamos um mundo no qual podemos acreditar.

Usamos matemática, ciência e programação para criar estes mundos surpreendentes. Usamos narrativa e arte para trazê-los à vida. Neste entrelaçamento de arte e ciência que eleva o mundo a um lugar de maravilhamento, um lugar com alma, um lugar no qual podemos acreditar, um lugar no qual as coisas que se imagina podem se tornar reais. E um mundo no qual uma garota de repente percebe que ela não é apenas uma cientista, mas também uma artista.

Obrigada.

(Aplausos)

Fonte: TED
[Visto no Brasil Acadêmico]

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Brasil Acadêmico: O ingrediente mágico que dá vida aos filmes da Pixar
O ingrediente mágico que dá vida aos filmes da Pixar
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