O PSDB e suas principais lideranças se engajaram de forma contundente nos protestos do último domingo, 13 de março de 2016, contra Dilma Rou...
O PSDB e suas principais lideranças se engajaram de forma contundente nos protestos do último domingo, 13 de março de 2016, contra Dilma Rousseff e o PT. É a segunda vez que isso acontece. Aécio Neves participou das demonstrações do dia 16 de agosto de 2015. Nas duas vezes, o tucano foi hostilizado pela população.
por Marcelo Alves
O PSBD utilizou seu tempo na televisão para convocar as manifestações e, neste domingo, montou uma caravana com suas principais lideranças para visitar os eventos. Na primeira tentativa, sucesso em Belo Horizonte. Aécio publicou um vídeo em sua conta no Twitter sendo agraciado pelos mineiros. Depois, a caravana seguiu para o local de maior concentração de manifestantes, a Avenida Paulista. Porém, Aécio e Alckmin não ficaram lá nem trinta minutos. Repelidos por xingamentos, precisaram ser escoltados para não sofrer agressões físicas. Desta vez, sem publicações. Ficaram os memes que diziam: “Podem prender Aécio, quem tem bandido de estimação são vocês”.
O PSDB está participando de um jogo perigoso, do qual não é o protagonista, nem necessariamente um dos beneficiados. O antipetismo agrega cidadãos com posicionamentos e crenças diferentes, com diferentes inclinações no campo ideológico das direitas. Até então, nenhuma das lideranças políticas nacionais conseguiu catalisar os sentimentos de insatisfação expressados nas demonstrações que vêm intensficando o terceiro turno e a intensa crise política nacional. Estudo de Winters e Welz-Shapiro, publicado em 2014 no Journal of Politics in Latin America [i], já apontava que as jornadas de junho de 2013, também difusas e voláteis, tiveram consequência de redução na confiança da população no sistema partidário como um todo e no PT em particular. O que está em jogo, aqui, vai muito além de encontrar lideranças viáveis para conduzir o governo federal. Estamos passando por um período de descrédito das instituições democráticas e de seus principais representantes. O resultado pode ser o crescimento do apelo de líderes outsiders e de discurso radicalizado contra minorias, como o deputado federal, Jair Bolsonaro (PSC-RJ).
Todos os protestos de rua pelo impeachment de Dilma possuem dois pontos em comum: o antipetismo e a convocação por repertórios híbridos, que sobrepõe imprensa, lideranças políticas e movimentos formandos na internet que falam para um público antiestablishment, como Revoltados Online, Movimento Brasil Livre e Vem Pra Rua. Em geral, estes atuam por meio de apropriações particulares da lógica que Bennett e Segerberg (2013)[ii] chamam de ação conectiva, isto é, protestos mobilizados por agentes em rede na internet, marcados por agendas personalistas e difusas, que apelam para grande quantidade de pessoas. Investigamos este problema por um ângulo muito particular. A partir de dados coletados nas mídias sociais, especialmente Twitter e Facebook, tentamos sugerir apontamentos que ajudam a responder alguns questionamentos deste fenômeno tão complexo.
Tento providenciar caminhos para responder alguns questionamentos desde minha dissertação, que cuida do antipetismo no Facebook na eleição de 2014 [iii]. Neste trabalho, argumento que o antipetismo possui diversas faces, indo além do mero voto útil contra o PT. No contexto de campanha, afirmo que as relações entre antipetistas e tucanos foram ambivalentes. Três momentos podem ser destacados. O primeiro turno, de forte ataque dos antipetistas contra Dlima Rousseff, Marina Silva, Luciana Genro e Eduardo Jorge, todos eles entendidos como representantes do petismo. O segundo turno, quando Aécio foi defendido pelos antipetistas como opção viável, um mal menor contra Dilma. E o terceiro turno, quando as antipetistas dirigem duras críticas contra Aécio e o PSDB por sua falta de contundência em adotar todos os meios necessários para anular a eleição e impedir a reeleição da petista.
Por meio de mapeamentos das ligações entre canais antipetistas no Facebook e de técnicas da Análise de Redes Sociais, dividimos o antipetismo em cinco vertentes amplas: (1) direitistas: grupos que se autodenominam de direita e promovem uma caçada contra esquerdistas e comunistas; (2) ultraliberais: institutos e canais que investem na retórica de fundamentação liberal, seguindo Ludwig Von Mises e Friederich Hayek, como o Instituto Misea [iv]; (3) anticorrupção: conjuntos de filiação ideológica imprecisa e pouca vivência política institucional que atuam por meio do quadro generalizado de combate à corrupção; (4) autoritários: movimentos que reivindicam a intervenção militar e a extinção do sistema político democrático; e (5) institucionais: lideranças inseridas no jogo político e na imprensa tradicional, como Aécio Neves.
As relações entre estes grupos são marcadamente conflitantes. Eles se unem apenas contra um inimigo em comum: o Partido dos Trabalhadores. No mais, possuem agendas e métodos de atuação discrepantes. Aécio não representa os anseios destes antipetistas mais radicais. Também está perdendo apoio entre o grupo anticorrupção, dadas as seguintes menções na Lava Jato, cinco até então. Jair Bolsonaro é o político que mais se aproxima de um acordo viável entre os antipetistas. Mesmo assim, o consenso não é absoluto. Um embate interessante se dá entre os direitistas conservadores, representados por Olavo de Carvalho, e liberais, como Reinaldo Azevedo, quanto ao apoio à sua candidatura para presidente. Reinaldo publicou diversos textos contra Bolsonaro, principalmente devido a episódios de homofobia e machismo, chamando-o de "abobalhado fascistóide"[v]. Já Olavo é um defensor de Bolsonaro, mesmo diante de suas falas contra minorias. Estas divergências provocam acirramento e embate entre estes campos distintos das direitas.
Com fins de demonstração exploratória do afastamento entre estes grupos, coletamos dados do Twitter durante o dia 13. Extraímos as menções feitas a Jair Bolsonaro (@DepBolsonaro) e a Aécio Neves (@AecioNeves). Há uma representação quantitativa que favorece o ex-candidato à presidência. Aécio recebeu 9.833 menções, contra 2.810 de Bolsonaro. Contudo, a formação de grupos que citam os dois personagens é totalmente diferente. O desenho da rede mostra afastamento entre estes usuários. Bolsonaro é cercado majoritariamente por agentes fora do establishment, como Olavo de Carvalho, Direita Extrema, BlogdoPim, RevoltadoOnline, e JoiceHasselman. Aécio está mais próximo a personagens da elite política, como Geraldo Alckmin, Rede45, Aloysio Nunes, Paulinho da Força e Antônio Imbassahy. Fazem a ponte entre estes dois grupos, nos dados desta coleta, o senador Ronaldo Caiado, o deputado federal Carlos Sampaio e o músico Lobão.
Para os acontecimentos de ontem, tiramos a conclusão de que estes grupos estão, cada vez mais, justificando os fins pelos meios. Isso quer dizer que as seguidas notícias e prisões da Lava Jato possivelmente têm estimulado “choques corretivos” antidemocráticos. A população já julgou e condenou Dilma e Lula. Mas tem se mostrado mais propensa a condenar também toda a classe política. Os presidentes das duas casas, Eduardo Cunha e Renan Calheiros, são réus de investigações de esquemas de corrupção. Aécio, Alckmin e Marta foram escorraçados do maior palco de protesto contra o PT. Estamos presenciando um momento de altíssima insatisfação contra o establishment político. Os resultados disso são imprevisíveis e não muito animadores.
Fonte: Comunicação e Política
[Visto no Brasil Acadêmico]
[i] http://journals.sub.uni-hamburg.de/giga/jpla/article/view/733
[ii] http://www.cambridge.org/mx/academic/subjects/politics-international-relations/comparative-politics/logic-connective-action-digital-media-and-personalization-contentious-politics
[iii]https://www.academia.edu/22866036/Vai_pra_Cuba_A_Rede_Antipetista_na_elei%C3%A7%C3%A3o_de_2014
[iv] A tese de doutorado de Denise Barbosa Gros, Institutos liberais e neoliberalismo no Brasil da Nova República, defendida em 2002 no Departamento de Ciência Política da Universidade Estadual de Campinas traz apontamentos valiosos sobre este agrupamento.
[v] http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/ele-nao-e-direitista-nao-ele-e-um-abobalhado-e-as-esquerdas-adoram-te-lo-como-adversario/
Marcelo Alves é doutorando em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Lecionou a disciplina Monitoramento de Redes Colaborativas no curso de graduação em Estudos de Mídia da UFF. Pesquisa temas relacionados à Comunicação Política nas mídias sociais, com atenção especial para os processos metodológicos no período de campanhas eleitorais, difusão de notícias, e ações de movimentos sociais.
por Marcelo Alves
O PSBD utilizou seu tempo na televisão para convocar as manifestações e, neste domingo, montou uma caravana com suas principais lideranças para visitar os eventos. Na primeira tentativa, sucesso em Belo Horizonte. Aécio publicou um vídeo em sua conta no Twitter sendo agraciado pelos mineiros. Depois, a caravana seguiu para o local de maior concentração de manifestantes, a Avenida Paulista. Porém, Aécio e Alckmin não ficaram lá nem trinta minutos. Repelidos por xingamentos, precisaram ser escoltados para não sofrer agressões físicas. Desta vez, sem publicações. Ficaram os memes que diziam: “Podem prender Aécio, quem tem bandido de estimação são vocês”.
O PSDB está participando de um jogo perigoso, do qual não é o protagonista, nem necessariamente um dos beneficiados. O antipetismo agrega cidadãos com posicionamentos e crenças diferentes, com diferentes inclinações no campo ideológico das direitas. Até então, nenhuma das lideranças políticas nacionais conseguiu catalisar os sentimentos de insatisfação expressados nas demonstrações que vêm intensficando o terceiro turno e a intensa crise política nacional. Estudo de Winters e Welz-Shapiro, publicado em 2014 no Journal of Politics in Latin America [i], já apontava que as jornadas de junho de 2013, também difusas e voláteis, tiveram consequência de redução na confiança da população no sistema partidário como um todo e no PT em particular. O que está em jogo, aqui, vai muito além de encontrar lideranças viáveis para conduzir o governo federal. Estamos passando por um período de descrédito das instituições democráticas e de seus principais representantes. O resultado pode ser o crescimento do apelo de líderes outsiders e de discurso radicalizado contra minorias, como o deputado federal, Jair Bolsonaro (PSC-RJ).
Todos os protestos de rua pelo impeachment de Dilma possuem dois pontos em comum: o antipetismo e a convocação por repertórios híbridos, que sobrepõe imprensa, lideranças políticas e movimentos formandos na internet que falam para um público antiestablishment, como Revoltados Online, Movimento Brasil Livre e Vem Pra Rua. Em geral, estes atuam por meio de apropriações particulares da lógica que Bennett e Segerberg (2013)[ii] chamam de ação conectiva, isto é, protestos mobilizados por agentes em rede na internet, marcados por agendas personalistas e difusas, que apelam para grande quantidade de pessoas. Investigamos este problema por um ângulo muito particular. A partir de dados coletados nas mídias sociais, especialmente Twitter e Facebook, tentamos sugerir apontamentos que ajudam a responder alguns questionamentos deste fenômeno tão complexo.
Tento providenciar caminhos para responder alguns questionamentos desde minha dissertação, que cuida do antipetismo no Facebook na eleição de 2014 [iii]. Neste trabalho, argumento que o antipetismo possui diversas faces, indo além do mero voto útil contra o PT. No contexto de campanha, afirmo que as relações entre antipetistas e tucanos foram ambivalentes. Três momentos podem ser destacados. O primeiro turno, de forte ataque dos antipetistas contra Dlima Rousseff, Marina Silva, Luciana Genro e Eduardo Jorge, todos eles entendidos como representantes do petismo. O segundo turno, quando Aécio foi defendido pelos antipetistas como opção viável, um mal menor contra Dilma. E o terceiro turno, quando as antipetistas dirigem duras críticas contra Aécio e o PSDB por sua falta de contundência em adotar todos os meios necessários para anular a eleição e impedir a reeleição da petista.
Por meio de mapeamentos das ligações entre canais antipetistas no Facebook e de técnicas da Análise de Redes Sociais, dividimos o antipetismo em cinco vertentes amplas: (1) direitistas: grupos que se autodenominam de direita e promovem uma caçada contra esquerdistas e comunistas; (2) ultraliberais: institutos e canais que investem na retórica de fundamentação liberal, seguindo Ludwig Von Mises e Friederich Hayek, como o Instituto Misea [iv]; (3) anticorrupção: conjuntos de filiação ideológica imprecisa e pouca vivência política institucional que atuam por meio do quadro generalizado de combate à corrupção; (4) autoritários: movimentos que reivindicam a intervenção militar e a extinção do sistema político democrático; e (5) institucionais: lideranças inseridas no jogo político e na imprensa tradicional, como Aécio Neves.
As relações entre estes grupos são marcadamente conflitantes. Eles se unem apenas contra um inimigo em comum: o Partido dos Trabalhadores. No mais, possuem agendas e métodos de atuação discrepantes. Aécio não representa os anseios destes antipetistas mais radicais. Também está perdendo apoio entre o grupo anticorrupção, dadas as seguintes menções na Lava Jato, cinco até então. Jair Bolsonaro é o político que mais se aproxima de um acordo viável entre os antipetistas. Mesmo assim, o consenso não é absoluto. Um embate interessante se dá entre os direitistas conservadores, representados por Olavo de Carvalho, e liberais, como Reinaldo Azevedo, quanto ao apoio à sua candidatura para presidente. Reinaldo publicou diversos textos contra Bolsonaro, principalmente devido a episódios de homofobia e machismo, chamando-o de "abobalhado fascistóide"[v]. Já Olavo é um defensor de Bolsonaro, mesmo diante de suas falas contra minorias. Estas divergências provocam acirramento e embate entre estes campos distintos das direitas.
Com fins de demonstração exploratória do afastamento entre estes grupos, coletamos dados do Twitter durante o dia 13. Extraímos as menções feitas a Jair Bolsonaro (@DepBolsonaro) e a Aécio Neves (@AecioNeves). Há uma representação quantitativa que favorece o ex-candidato à presidência. Aécio recebeu 9.833 menções, contra 2.810 de Bolsonaro. Contudo, a formação de grupos que citam os dois personagens é totalmente diferente. O desenho da rede mostra afastamento entre estes usuários. Bolsonaro é cercado majoritariamente por agentes fora do establishment, como Olavo de Carvalho, Direita Extrema, BlogdoPim, RevoltadoOnline, e JoiceHasselman. Aécio está mais próximo a personagens da elite política, como Geraldo Alckmin, Rede45, Aloysio Nunes, Paulinho da Força e Antônio Imbassahy. Fazem a ponte entre estes dois grupos, nos dados desta coleta, o senador Ronaldo Caiado, o deputado federal Carlos Sampaio e o músico Lobão.
Para os acontecimentos de ontem, tiramos a conclusão de que estes grupos estão, cada vez mais, justificando os fins pelos meios. Isso quer dizer que as seguidas notícias e prisões da Lava Jato possivelmente têm estimulado “choques corretivos” antidemocráticos. A população já julgou e condenou Dilma e Lula. Mas tem se mostrado mais propensa a condenar também toda a classe política. Os presidentes das duas casas, Eduardo Cunha e Renan Calheiros, são réus de investigações de esquemas de corrupção. Aécio, Alckmin e Marta foram escorraçados do maior palco de protesto contra o PT. Estamos presenciando um momento de altíssima insatisfação contra o establishment político. Os resultados disso são imprevisíveis e não muito animadores.
Fonte: Comunicação e Política
[Visto no Brasil Acadêmico]
[i] http://journals.sub.uni-hamburg.de/giga/jpla/article/view/733
[ii] http://www.cambridge.org/mx/academic/subjects/politics-international-relations/comparative-politics/logic-connective-action-digital-media-and-personalization-contentious-politics
[iii]https://www.academia.edu/22866036/Vai_pra_Cuba_A_Rede_Antipetista_na_elei%C3%A7%C3%A3o_de_2014
[iv] A tese de doutorado de Denise Barbosa Gros, Institutos liberais e neoliberalismo no Brasil da Nova República, defendida em 2002 no Departamento de Ciência Política da Universidade Estadual de Campinas traz apontamentos valiosos sobre este agrupamento.
[v] http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/ele-nao-e-direitista-nao-ele-e-um-abobalhado-e-as-esquerdas-adoram-te-lo-como-adversario/
Marcelo Alves é doutorando em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Lecionou a disciplina Monitoramento de Redes Colaborativas no curso de graduação em Estudos de Mídia da UFF. Pesquisa temas relacionados à Comunicação Política nas mídias sociais, com atenção especial para os processos metodológicos no período de campanhas eleitorais, difusão de notícias, e ações de movimentos sociais.
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