Roda Viva temático sobre a crise econômica em 2016 discute as medidas anunciadas pelo governo para a retomada do crescimento, as projeções e...
Roda Viva temático sobre a crise econômica em 2016 discute as medidas anunciadas pelo governo para a retomada do crescimento, as projeções e cenários para os próximos anos e os principais aspectos da crise, entre outros assuntos.
Apresentado por Augusto Nunes, o programa reuniu cinco especialistas: Luiz Carlos Bresser Pereira (ex-ministro da Fazenda), Luiz Gonzaga Belluzzo (economista e professor), Amir Khair (especialista em finanças públicas), Marcos Lisboa (presidente do Instituto Insper) e Samuel Pessoa (economista e professor da pós-graduação da Fundação Getúlio Vargas) - este último ficou retido no aeroporto no Rio e chegou um pouco mais tarde ao programa.
Selecionamos, a seguir, alguns trechos do debate.
Bresser: O Brasil está ficando para trás desde 1990. E é isso que temos de discutir realmente. Todo mundo quer saber o que o governo pode fazer para sair da crise agora. O que o governo tinha que fazer era o ajuste fiscal. Fez o que pôde. (...) Precisa restabelecer a confiança. Mas o que precisamos realmente é uma grande discussão sobre qual é o futuro do Brasil.
O Brasil começou a cair para trás no Governo Collor quando o Collor abriu toda a economia. (...) Eu fui a favor da abertura da economia. Mas quando ele abriu a economia ele destruiu o mecanismo de neutralização da doença holandesa. Isso significou que a nossa indústria passou a ter uma desvantagem de 15% a 20% nos últimos 25, quase 30 anos.
(...) O Brasil precisa reindustrializar. Mas, lendo os jornais parece que a solução é liberalizar. Nos estamos liberalizando desde 1990.
É fundamental que a taxa de juros seja baixa e a taxa de câmbio seja competitiva. São as duas coisa que há muito tempo estão fora do lugar. Por acaso, na crise, a taxa de câmbio está no lugar certo.
Marcos Lisboa: Eu acho que o Brasil nos anos 1990, apresentou avanços imensos. (...) Nos vinhamos de uma década de 80 de uma economia que não crescia, tivemos, até então, a maior recessão da história - no começo dos anos 80 -, uma inflação que chegou no final da década a 90% ao mês, uma economia atrasada, defasagem em todos os indicadores sociais, uma explosão da desigualdade de renda.
Nos anos 90, tivemos uma economia que estabilizou, a nossa produtividade que tinha retrocedido voltou, pelo menos, a acompanhar o resto do mundo. (...) E o Brasil teve, pela primeira vez, em três décadas, que foi a década de 2000, no fim do segundo [governo] Fernando Henrique até metade do segundo [governo] Lula, um período em que o Brasil, pelo menos, cresceu como o resto do mundo. Teve uma queda importante da desigualdade de renda e o crescimento de 4%.(...)
Houve de fato a globalização (...) e o investimento americano e depois o europeu correu para fora. Para onde foi? Foi para o país que estava com câmbio valorizado? Foi para esse país que eles foram?
O Brasil foi o país que mais recebeu investimento direto nas décadas de 50, 60 e 70. Então não era atrasado, não. O que o Brasil não fez foi dar o salto da 3ª revolução tecnológica. Da revolução da informática. Porque a política industrial ficou firme em aço, siderurgia, metais básicos, etc.
Então essa transformações foram muito importantes e o Brasil realmente ficou para trás. Não foi capaz de engatar a economia nessas transformações da economia internacional. Quem é que engatou? Não foi só a China, não. Foi a China, a Coreia... Quando é que começaram a aparecer as grandes empresas coreanas internacionais? Samsung, LG... Quando começaram? Final dos [anos] 80, começo dos 90. Hoje elas são empresas globais. Nós não conseguimos fazer essa passagem. (...)
Nós resolvemos adotar todas as medidas do Consenso de Washington. (...) A partir dos anos 90. E o Serra, que era do PSDB, sempre dizia, irritado, que vocês estavam destruindo o Brasil.
No Brasil hoje, nós trabalhamos com uma taxa de juros ao consumidor de 140% ao ano. (...) Isso significa que para comprar um produto o brasileiro paga 2,4 vezes mais que o preço a vista. Isso é um freio tremendo na economia.
Uma impressão que fica é que a crise econômica não pode ser explicada sem uma análise conjuntural que vai muito além da economia. A educação continua sendo um fator primordial para transformações sociais duradouras e que esse ano, se o panorama político e econômico parar de piorar (ou piorar menos aceleradamente) já será uma boa notícia.
Fonte: Programa Roda Viva
[Visto no Brasil Acadêmico]
Selecionamos, a seguir, alguns trechos do debate.
Bresser: O Brasil está ficando para trás desde 1990. E é isso que temos de discutir realmente. Todo mundo quer saber o que o governo pode fazer para sair da crise agora. O que o governo tinha que fazer era o ajuste fiscal. Fez o que pôde. (...) Precisa restabelecer a confiança. Mas o que precisamos realmente é uma grande discussão sobre qual é o futuro do Brasil.
A impressão que eu tenho lendo os jornais é que o Brasil começou a ficar para trás a partir de 2003, quando começou o governo do PT. Não é verdade.
O Brasil começou a cair para trás no Governo Collor quando o Collor abriu toda a economia. (...) Eu fui a favor da abertura da economia. Mas quando ele abriu a economia ele destruiu o mecanismo de neutralização da doença holandesa. Isso significou que a nossa indústria passou a ter uma desvantagem de 15% a 20% nos últimos 25, quase 30 anos.
(...) O Brasil precisa reindustrializar. Mas, lendo os jornais parece que a solução é liberalizar. Nos estamos liberalizando desde 1990.
É fundamental que a taxa de juros seja baixa e a taxa de câmbio seja competitiva. São as duas coisa que há muito tempo estão fora do lugar. Por acaso, na crise, a taxa de câmbio está no lugar certo.
Marcos Lisboa: Eu acho que o Brasil nos anos 1990, apresentou avanços imensos. (...) Nos vinhamos de uma década de 80 de uma economia que não crescia, tivemos, até então, a maior recessão da história - no começo dos anos 80 -, uma inflação que chegou no final da década a 90% ao mês, uma economia atrasada, defasagem em todos os indicadores sociais, uma explosão da desigualdade de renda.
Nos anos 90, tivemos uma economia que estabilizou, a nossa produtividade que tinha retrocedido voltou, pelo menos, a acompanhar o resto do mundo. (...) E o Brasil teve, pela primeira vez, em três décadas, que foi a década de 2000, no fim do segundo [governo] Fernando Henrique até metade do segundo [governo] Lula, um período em que o Brasil, pelo menos, cresceu como o resto do mundo. Teve uma queda importante da desigualdade de renda e o crescimento de 4%.(...)
O nosso problema é a trajetória da despesa. A nossa despesa pública, não financeira, cresce mais do que o PIB há duas décadas.Belluzzo: Eu quero dizer que o Bresser tem um ponto importante. Qual é a razão pela qual ele apontou um retrocesso da economia brasileira? No mesmo momento em que a China estava fazendo uma escalada industrial impressionante, que hoje terminou, investindo 50% do PIB, o Brasil estava destruindo a sua indústria. Com uma abertura burra (...), porque não se trata de abrir ou não abrir. (...)
Houve de fato a globalização (...) e o investimento americano e depois o europeu correu para fora. Para onde foi? Foi para o país que estava com câmbio valorizado? Foi para esse país que eles foram?
O Brasil foi o país que mais recebeu investimento direto nas décadas de 50, 60 e 70. Então não era atrasado, não. O que o Brasil não fez foi dar o salto da 3ª revolução tecnológica. Da revolução da informática. Porque a política industrial ficou firme em aço, siderurgia, metais básicos, etc.
Então essa transformações foram muito importantes e o Brasil realmente ficou para trás. Não foi capaz de engatar a economia nessas transformações da economia internacional. Quem é que engatou? Não foi só a China, não. Foi a China, a Coreia... Quando é que começaram a aparecer as grandes empresas coreanas internacionais? Samsung, LG... Quando começaram? Final dos [anos] 80, começo dos 90. Hoje elas são empresas globais. Nós não conseguimos fazer essa passagem. (...)
Nós resolvemos adotar todas as medidas do Consenso de Washington. (...) A partir dos anos 90. E o Serra, que era do PSDB, sempre dizia, irritado, que vocês estavam destruindo o Brasil.
O governo não deveria ter desonerado e investido em outras coisas. Deveria ter recuperado o câmbio e fazer o ciclo de investimentos públicos para manter a economia funcionando.Amir Khair: Tudo vai depender de manter ou não a política econômica. Se continuar essa política econômica, que tem uma proximidade muito grande com o que aconteceu em 2015, nos teremos um aumento do desemprego, vamos ter uma piora das contas públicas, e a única coisa boa que nó teremos é no front externo que o déficit caiu muito, de 2014 para 2015 caiu pela metade, e a tendência é continuar melhorando.
No Brasil hoje, nós trabalhamos com uma taxa de juros ao consumidor de 140% ao ano. (...) Isso significa que para comprar um produto o brasileiro paga 2,4 vezes mais que o preço a vista. Isso é um freio tremendo na economia.
Para você reativar o crescimento econômico, esse é o grande desafio, não é tanto a inflação, você tem que remover essa barreira tremenda que é a taxa de juros ao consumo.Samuel Pessoa: Não há dúvida que vai ser melhor (2016 em relação a 2015). (...) Foram cometidos muitos erros mas acho que isso não tem nada a ver com erros de política. Nós somos uma sociedade que poupa pouco.
Uma impressão que fica é que a crise econômica não pode ser explicada sem uma análise conjuntural que vai muito além da economia. A educação continua sendo um fator primordial para transformações sociais duradouras e que esse ano, se o panorama político e econômico parar de piorar (ou piorar menos aceleradamente) já será uma boa notícia.
Fonte: Programa Roda Viva
[Visto no Brasil Acadêmico]
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