Paul Tudor Jones II ama o capitalismo. É um sistema que fez muito bem a ele nas últimas décadas. No entanto, este gestor de fundos de cobert...
Paul Tudor Jones II ama o capitalismo. É um sistema que fez muito bem a ele nas últimas décadas. No entanto, este gestor de fundos de cobertura e filantropo está preocupado que o foco excessivo nos lucros esteja, como ele diz, "ameaçando os fundamentos da sociedade". Nesta palestra reflexiva e apaixonante, ele delimita seu plano de contra-ataque, que se baseia no conceito de "justeza".
Esta é uma história sobre o capitalismo.
É um sistema que eu amo pelos sucessos e oportunidades que proporcionou a mim e a milhões de pessoas. Aos 20 anos, comecei negociando commodities na bolsa, especialmente algodão, e se havia um mercado livre para todos, era esse, onde homens engravatados agindo como gladiadores lutavam literalmente e fisicamente por lucros.
Felizmente, eu era tão bom nisso que fui para o andar de cima do mundo da gestão financeira aos 30 anos de idade, onde passei os 30 anos seguintes como um macronegociador global. Durante esse tempo, eu vi muitas loucuras nos mercados, e negociei um monte de manias loucas.
Infelizmente, sinto informar que podemos estar nas garras de um dos maiores desastres, certamente da minha carreira, e uma lição para levar disso é que manias nunca acabam bem. Ao longo dos últimos 50 anos, nós passamos a ver nossas empresas e corporações de uma maneira muito estreita, quase monomaníaca, no que diz respeito ao modo como as valorizamos, e colocamos muita ênfase nos lucros, nos lucros trimestrais de curto prazo e no valor das ações, e excluímos todo o resto. É como se arrancássemos a humanidade de nossas empresas. Mas nós não fazemos isso -- reduzir algo a números com que podemos brincar como peças de Lego -- em nossa vida individual. Não tratamos ou valorizamos alguém com base em sua renda mensal ou sua pontuação de crédito, mas temos esse padrão duplo quando se trata de como valorizamos nossos negócios, e sabem o que mais? Ele está ameaçando os próprios fundamentos da nossa sociedade. E podemos ver isso aqui. Este gráfico mostra os lucros das empresas ao longo de 40 anos como percentual da receita, e podemos ver que estamos em alta de 12,5% em 40 anos. Oba, se você for um acionista, mas se estiver do outro lado, e for o trabalhador americano médio, então você pode ver que não é uma coisa tão boa.
["Parcela da renda dedicada ao trabalho vs. Razão CEO-Trabalhador nos EUA "]
As margens de lucro mais elevadas não aumentam a riqueza social. O que fazem é aumentar a desigualdade de renda, e isso não é uma coisa boa. Intuitivamente, isso faz sentido, certo? Porque se 10% das famílias americanas possuem 90% das ações, como eles levam uma parcela maior dos lucros das empresas, então há menos rendimentos para o resto da sociedade. De novo, a desigualdade de renda não é uma coisa boa. Este próximo gráfico, feito pela Equality Trust, mostra 21 países, da Áustria ao Japão, à Nova Zelândia. No eixo horizontal está a desigualdade de renda. Quanto mais para a direita, maior é a desigualdade de renda. No eixo vertical estão nove indicadores sociais e de saúde. Quanto mais para cima, piores são os problemas, e isso inclui expectativa de vida, gravidez na adolescência, alfabetização, mobilidade social, só para citar alguns. Agora, os americanos na plateia podem se perguntar: "Bem, onde estão os Estados Unidos? Onde estão nesse gráfico?" Adivinhem? Estamos literalmente fora do gráfico. Sim, somos nós, com a maior desigualdade de renda e os maiores problemas sociais, de acordo com estas métricas. Eis aqui uma previsão macro que é fácil de fazer, e essa é a distância entre os mais ricos e os mais pobres: ela vai diminuir. A história sempre faz isso. Normalmente acontece de três maneiras: quer através de revolução, impostos mais altos, ou guerras. Nenhum deles está na minha lista.
(Risos)
Agora, há outra maneira de fazer isso, através do aumento da justiça no comportamento corporativo, mas a maneira como estamos operando agora exigiria uma mudança tremenda de comportamento, e como um viciado tentando largar o hábito, o primeiro passo é reconhecer que você tem um problema. E só para ressaltar, esta mania de lucros está tão profundamente arraigada que não percebemos que prejudicamos a sociedade. Eis aqui um pequeno mas brilhante exemplo de como fazemos isso: este gráfico mostra doação corporativa como uma porcentagem dos lucros, não das receitas, dos últimos 30 anos. Sobreponha isso ao gráfico anterior das margens de lucro das empresas, e pergunto: isso parece certo? Com toda a justiça, quando eu comecei a escrever isto, pensei:
"Opa, o que a minha empresa faz, o que a Tudor faz?"
E percebi que nós damos 1% dos lucros corporativos para instituições de caridade todos os anos. E eu me vejo como um filantropo. Quando percebi isso, eu literalmente quis vomitar. Mas o ponto é que esta mania está tão arraigada que pessoas bem-intencionadas, como eu, sequer percebem que somos parte dela. Agora, não vamos mudar o comportamento empresarial simplesmente aumentando a filantropia corporativa ou contribuições de caridade. E a propósito, quadruplicamos isso desde então, mas (Aplausos) Por favor. Mas podemos mudar ao incentivar um comportamento mais justo. E uma maneira de fazer isso é confiando no sistema que nos trouxe aqui, em primeiro lugar, e que é o sistema de livre mercado. Cerca de um ano atrás, alguns amigos e eu fizemos uma organização sem fins lucrativos chamada Just Capital. Sua missão é muito simples: ajudar as empresas e corporações a aprender como operar de modo mais justo usando a informação do público para definir quais são os critérios para o comportamento empresarial justo.
Neste momento, não há nenhum padrão amplamente aceito que uma empresa ou corporação siga, e é aí que entra a Just Capital, porque a partir deste ano vamos realizar um levantamento nacional de uma amostra representativa de 20 mil americanos para descobrir exatamente o que pensam sobre os critérios de justiça no comportamento corporativo. Este é um modelo que vai começar nos Estados Unidos, mas pode ser expandido a qualquer lugar no globo, e talvez descobriremos que a coisa mais importante para o público é que criamos empregos de salário digno, ou fazemos produtos saudáveis, ou ajudamos, e não prejudicamos, o meio ambiente. Na Just Capital, não sabemos, e não cabe a nós decidir. Somos apenas os mensageiros, mas temos 100% de confiança e fé no público americano que vão acertar. Nós vamos liberar os resultados em setembro pela primeira vez, e no próximo ano, vamos pesquisar novamente, e vamos dar mais um passo para fazer o ranking das mil maiores empresas norte-americanas do número um ao número mil e tudo mais. Chamamos isso de Just Index, e lembrem-se, somos uma organização independente, imparcial, e estaremos dando ao público americano uma voz. E talvez com o tempo, vamos descobrir que à medida que as pessoas conhecem quais são as empresas mais justas, recursos humanos e econômicos serão conduzidos a elas, e elas vão se tornar as mais prósperas e ajudar o nosso país a ser o mais próspero.
Agora, o capitalismo tem sido responsável por cada grande inovação que fez deste mundo um lugar mais inspirador e maravilhoso para se viver. O capitalismo precisa ser baseado na justiça. Precisa ser, e agora mais do que nunca, com divisões econômicas crescendo mais e mais a cada dia. Estima-se que 47% dos trabalhadores americanos poderão ser demitidos nos próximos 20 anos. Eu não sou contra o progresso. Quero um carro sem motorista e um "jet pack" como todo mundo. Mas imploro pelo reconhecimento de que, com o aumento da riqueza e dos lucros, é preciso haver uma maior responsabilidade social corporativa. "Se a justiça for removida", disse Adam Smith, o pai do capitalismo, "o grande, o imenso tecido social humano deve num instante desintegrar-se em átomos. " Agora, quando eu era jovem, e havia um problema, minha mãe costumava suspirar e sacudir a cabeça e dizer: "Tenha misericórdia, tenha misericórdia." Agora não é o momento para mostrarmos misericórdia. A hora é agora para nós mostrarmos justiça, e nós podemos fazer isso, você e eu, começando onde trabalhamos, nas empresas em que operamos. E quando colocamos a justiça pareada com os lucros, vamos alcançar a coisa mais maravilhosa em todo o mundo. Nós vamos ter de volta nossa humanidade. Obrigado.
(Aplausos)
Fonte: TED
[Visto no Brasil Acadêmico]
Esta é uma história sobre o capitalismo.
É um sistema que eu amo pelos sucessos e oportunidades que proporcionou a mim e a milhões de pessoas. Aos 20 anos, comecei negociando commodities na bolsa, especialmente algodão, e se havia um mercado livre para todos, era esse, onde homens engravatados agindo como gladiadores lutavam literalmente e fisicamente por lucros.
Felizmente, eu era tão bom nisso que fui para o andar de cima do mundo da gestão financeira aos 30 anos de idade, onde passei os 30 anos seguintes como um macronegociador global. Durante esse tempo, eu vi muitas loucuras nos mercados, e negociei um monte de manias loucas.
Infelizmente, sinto informar que podemos estar nas garras de um dos maiores desastres, certamente da minha carreira, e uma lição para levar disso é que manias nunca acabam bem. Ao longo dos últimos 50 anos, nós passamos a ver nossas empresas e corporações de uma maneira muito estreita, quase monomaníaca, no que diz respeito ao modo como as valorizamos, e colocamos muita ênfase nos lucros, nos lucros trimestrais de curto prazo e no valor das ações, e excluímos todo o resto. É como se arrancássemos a humanidade de nossas empresas. Mas nós não fazemos isso -- reduzir algo a números com que podemos brincar como peças de Lego -- em nossa vida individual. Não tratamos ou valorizamos alguém com base em sua renda mensal ou sua pontuação de crédito, mas temos esse padrão duplo quando se trata de como valorizamos nossos negócios, e sabem o que mais? Ele está ameaçando os próprios fundamentos da nossa sociedade. E podemos ver isso aqui. Este gráfico mostra os lucros das empresas ao longo de 40 anos como percentual da receita, e podemos ver que estamos em alta de 12,5% em 40 anos. Oba, se você for um acionista, mas se estiver do outro lado, e for o trabalhador americano médio, então você pode ver que não é uma coisa tão boa.
["Parcela da renda dedicada ao trabalho vs. Razão CEO-Trabalhador nos EUA "]
As margens de lucro mais elevadas não aumentam a riqueza social. O que fazem é aumentar a desigualdade de renda, e isso não é uma coisa boa. Intuitivamente, isso faz sentido, certo? Porque se 10% das famílias americanas possuem 90% das ações, como eles levam uma parcela maior dos lucros das empresas, então há menos rendimentos para o resto da sociedade. De novo, a desigualdade de renda não é uma coisa boa. Este próximo gráfico, feito pela Equality Trust, mostra 21 países, da Áustria ao Japão, à Nova Zelândia. No eixo horizontal está a desigualdade de renda. Quanto mais para a direita, maior é a desigualdade de renda. No eixo vertical estão nove indicadores sociais e de saúde. Quanto mais para cima, piores são os problemas, e isso inclui expectativa de vida, gravidez na adolescência, alfabetização, mobilidade social, só para citar alguns. Agora, os americanos na plateia podem se perguntar: "Bem, onde estão os Estados Unidos? Onde estão nesse gráfico?" Adivinhem? Estamos literalmente fora do gráfico. Sim, somos nós, com a maior desigualdade de renda e os maiores problemas sociais, de acordo com estas métricas. Eis aqui uma previsão macro que é fácil de fazer, e essa é a distância entre os mais ricos e os mais pobres: ela vai diminuir. A história sempre faz isso. Normalmente acontece de três maneiras: quer através de revolução, impostos mais altos, ou guerras. Nenhum deles está na minha lista.
(Risos)
Agora, há outra maneira de fazer isso, através do aumento da justiça no comportamento corporativo, mas a maneira como estamos operando agora exigiria uma mudança tremenda de comportamento, e como um viciado tentando largar o hábito, o primeiro passo é reconhecer que você tem um problema. E só para ressaltar, esta mania de lucros está tão profundamente arraigada que não percebemos que prejudicamos a sociedade. Eis aqui um pequeno mas brilhante exemplo de como fazemos isso: este gráfico mostra doação corporativa como uma porcentagem dos lucros, não das receitas, dos últimos 30 anos. Sobreponha isso ao gráfico anterior das margens de lucro das empresas, e pergunto: isso parece certo? Com toda a justiça, quando eu comecei a escrever isto, pensei:
"Opa, o que a minha empresa faz, o que a Tudor faz?"
E percebi que nós damos 1% dos lucros corporativos para instituições de caridade todos os anos. E eu me vejo como um filantropo. Quando percebi isso, eu literalmente quis vomitar. Mas o ponto é que esta mania está tão arraigada que pessoas bem-intencionadas, como eu, sequer percebem que somos parte dela. Agora, não vamos mudar o comportamento empresarial simplesmente aumentando a filantropia corporativa ou contribuições de caridade. E a propósito, quadruplicamos isso desde então, mas (Aplausos) Por favor. Mas podemos mudar ao incentivar um comportamento mais justo. E uma maneira de fazer isso é confiando no sistema que nos trouxe aqui, em primeiro lugar, e que é o sistema de livre mercado. Cerca de um ano atrás, alguns amigos e eu fizemos uma organização sem fins lucrativos chamada Just Capital. Sua missão é muito simples: ajudar as empresas e corporações a aprender como operar de modo mais justo usando a informação do público para definir quais são os critérios para o comportamento empresarial justo.
Neste momento, não há nenhum padrão amplamente aceito que uma empresa ou corporação siga, e é aí que entra a Just Capital, porque a partir deste ano vamos realizar um levantamento nacional de uma amostra representativa de 20 mil americanos para descobrir exatamente o que pensam sobre os critérios de justiça no comportamento corporativo. Este é um modelo que vai começar nos Estados Unidos, mas pode ser expandido a qualquer lugar no globo, e talvez descobriremos que a coisa mais importante para o público é que criamos empregos de salário digno, ou fazemos produtos saudáveis, ou ajudamos, e não prejudicamos, o meio ambiente. Na Just Capital, não sabemos, e não cabe a nós decidir. Somos apenas os mensageiros, mas temos 100% de confiança e fé no público americano que vão acertar. Nós vamos liberar os resultados em setembro pela primeira vez, e no próximo ano, vamos pesquisar novamente, e vamos dar mais um passo para fazer o ranking das mil maiores empresas norte-americanas do número um ao número mil e tudo mais. Chamamos isso de Just Index, e lembrem-se, somos uma organização independente, imparcial, e estaremos dando ao público americano uma voz. E talvez com o tempo, vamos descobrir que à medida que as pessoas conhecem quais são as empresas mais justas, recursos humanos e econômicos serão conduzidos a elas, e elas vão se tornar as mais prósperas e ajudar o nosso país a ser o mais próspero.
Agora, o capitalismo tem sido responsável por cada grande inovação que fez deste mundo um lugar mais inspirador e maravilhoso para se viver. O capitalismo precisa ser baseado na justiça. Precisa ser, e agora mais do que nunca, com divisões econômicas crescendo mais e mais a cada dia. Estima-se que 47% dos trabalhadores americanos poderão ser demitidos nos próximos 20 anos. Eu não sou contra o progresso. Quero um carro sem motorista e um "jet pack" como todo mundo. Mas imploro pelo reconhecimento de que, com o aumento da riqueza e dos lucros, é preciso haver uma maior responsabilidade social corporativa. "Se a justiça for removida", disse Adam Smith, o pai do capitalismo, "o grande, o imenso tecido social humano deve num instante desintegrar-se em átomos. " Agora, quando eu era jovem, e havia um problema, minha mãe costumava suspirar e sacudir a cabeça e dizer: "Tenha misericórdia, tenha misericórdia." Agora não é o momento para mostrarmos misericórdia. A hora é agora para nós mostrarmos justiça, e nós podemos fazer isso, você e eu, começando onde trabalhamos, nas empresas em que operamos. E quando colocamos a justiça pareada com os lucros, vamos alcançar a coisa mais maravilhosa em todo o mundo. Nós vamos ter de volta nossa humanidade. Obrigado.
(Aplausos)
Fonte: TED
[Visto no Brasil Acadêmico]
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