O Brasil já possui um Nobel? Sim e não. No ano de seu centenário, conheça a história desse cientista que praticamente abriu mão de sua nacio...
O Brasil já possui um Nobel? Sim e não. No ano de seu centenário, conheça a história desse cientista que praticamente abriu mão de sua nacionalidade brasileiro fazendo com que o Brasil batesse na trave na conquista desse prestigioso prêmio.
Peter Brian Medawar nasceu às 17h30 de 28 de fevereiro de 1915 em Petrópolis, Rio de Janeiro. Fato que consta no registro civil de 10 de março do mesmo ano, no cartório local, e lhe conferiu a cidadania brasileira. Filho do brasileiro de origem libanesa, Nicholas Medawar, empresário do ramo de pedras semi-preciosas, que fez fortuna na Inglaterra fabricando instrumentos odontológicos e ópticos, e de mãe britânica, Edith Muriel Dowling, que veio com o marido para o Rio de Janeiro em 1913, para instalar uma filial, a Óptica Inglesa. Na infância, Peter morou com a família no recém-inaugurado bairro de Copacabana, onde fez o curso primário.
Peter tinha dupla cidadania. A britânica foi atribuída no nascimento. Quando Peter tinha 13 anos, foi mandado para a Inglaterra na companhia de sua irmã Pamela, para cursarem os estudos secundários. Pamela casou-se com Sir David Hunt, secretário particular de Winston Churchill e embaixador da Inglaterra no Brasil entre 1969 e 1973. Peter, na época de sua maioridade, recebia uma bolsa de estudos do governo britânico. Seu pai solicitou a intervenção de seu padrinho, o então ministro da Aeronáutica Salgado Filho, para obter isenção do serviço militar obrigatório no Brasil e não ter que interromper os estudos na Europa. Salgado Filho solicitou pessoalmente ao Ministro da Guerra do governo Getúlio Vargas, Marechal Eurico Gaspar Dutra, mas não foi atendido.
Pois esse impasse fez com que muitos achassem que sua nacionalidade brasileira estivesse perdida e ela nunca foi vinculada ao laureado com o prêmio Nobel.
Peter Medawar estudou biologia e zoologia no Marlborough College e depois no Magdalen College da Universidade de Oxford, onde se destacou pelas melhores notas da turma, graduando-se em 1935, aos 20 anos de idade. Na School of Pathology trabalhou como assistente de Howard Florey, Prêmio Nobel de 1945 por seus estudos sobre a penicilina. Com apenas 24 anos obteve o primeiro lugar em concurso para a cadeira de microbiologia em Oxford.
Em 1947 já era professor titular da cadeira de zoologia na Birmingham University. Dois anos depois, foi eleito membro fellow da Royal Society. Em 1951 passou a professor de zoologia e anatomia comparativa na University College of London . Em 1959, recebeu a medalha da Royal Society.
As pesquisas iniciais de Peter Medawar foram dedicadas à cultura de células e à regeneração de nervos periféricos. Foi pioneiro no emprego de modelagem matemática em culturas de tecidos, aplicando-a na análise do crescimento, morfologia e desenvolvimento celular. Durante a Segunda Guerra, prestou serviço na Unidade de Queimados da Glasgow Royal Infirmary.
Os bombardeios na Inglaterra causaram muitas vítimas com queimaduras extensas e a rejeição dos enxertos de pele era um dos maiores problemas médicos. Naquela época acreditava-se que a prevenção da rejeição de pele era questão de habilidade cirúrgica. Medawar demonstrou que a rejeição era um problema biológico, verificando a invasão do enxerto por linfócitos.
Em 1960, juntamente com Frank Burnet, recebeu o Nobel de Fisiologia ou Medicina, pela descoberta que os enxertos de pele eram rejeitados por uma resposta do sistema imunológico. Ele estabeleceu as bases da tolerância imunológica adquirida e da imunomodulação com corticóides, estudo que ajudou muito no combate aos efeitos da rejeição em transplantes de órgãos e preparou terreno para a descoberta de drogas imunossupressoras, que previnem que as células brancas do sangue do receptor ataquem o tecido doado. O primeiro transplante bem sucedido de um doador morto ocorreu em 1962, e o receptor de rim viveu 21 meses. Outros transplantes vieram logo depois: fígado (1963), pulmões (1963), pâncreas (1966) e coração (1967).
Em 1961, o laureado cientista retornou ao Rio de Janeiro, quando recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade do Brasil (atual UFRJ). Na ocasião declarou que o retorno ao Brasil, depois de tantos anos, foi uma das maiores emoções de sua vida. Peter se reuniu com cientistas brasileiros e proferiu duas palestras, na Academia Brasileira de Ciências e no Instituto de Biofísica da Universidade do Brasil.
Em 1962 foi nomeado chefe do maior laboratório de investigação médica do Reino Unido, o National Institute for Medical Research, em Mill Hill, e ocupou o cargo até 1971.
Em 1965 foi agraciado com o título de sir, pela Rainha Elizabeth II. Um dos edifícios da universidade leva seu nome.
Em 1969, recebeu a Copley Medal. Foi presidente da British Association for the Advancement of Science no biênio 1968/69.
Em 1969 teve uma série de problemas de saúde, incluindo um Acidente Vascular Cerebral , que o acometeu quando discursava num encontro da British Association for the Advancement of Science. Sobre essa doença fez o seguinte comentário
Entre 1971 e 1986, foi o chefe do setor de transplantes no centro de pesquisas clínicas do Medical Research Council, em Harrow. Entre 1971 a 1983, atuou como professor de medicina experimental no Royal Institution e presidente do Royal Postgraduate Medical School (1981-87).
Em 1981 foi eleito Fellow of the British Academy. Foi laureado pela Unesco com o prêmio Kalinga pela popularização da ciência, em 1985.
Era um cientista com múltiplos interesses, incluindo ópera, filosofia e cricket. Era alto (1,95m), robusto, de voz potente, espirituoso e sempre bem humorado.
A Academia de Medicina do Estado do Rio de Janeiro criou a medalha Peter Medawar como forma de homenagear o ilustre conterrâneo e perpetuar seu nome nos meios acadêmicos. Em 1990, a The Transplantation Society criou a o Prêmio Medawar, uma homenagem ao seu co-fundador, considerado um dos maiores prêmios científicos mundiais, que já premiou as maiores expressões acadêmicas da imunologia e dos transplantes.
No centenário de seu nascimento busca-se resgatar sua memória. A cidade de Petrópolis criou um memorial e um pequeno museu em sua homenagem. O ministro Aldo Rabelo, da Ciência e Tecnologia, solicitou ao Itamaraty ação da diplomacia junto ao Instituto Nobel para que Peter Medawar seja reconhecido também como brasileiro.
Muito embora desejemos tal reconhecimento, como forma de inspirar nossa produção acadêmica e o orgulho nacional, pelo seu histórico é fácil perceber que a carreira científica de Peter Medawar foi toda forjada no exterior. Que o ano de seu centenário sirva para refletirmos o quanto ainda temos que melhorar para que o Brasil produza um laureado. Ainda que o trabalho e a criatividade de um pesquisador brasileiro aqui ou no exterior possa, eventualmente, nos trazer uma surpresa tão grande quanto Peter.
Peter morreu em Londres aos 72 anos, em 2 de outubro de 1987, devido a uma hemorragia cerebral, pouco tempo depois de celebrar bodas de ouro. Era casado desde 1937 com Jean Shinglewood Taylor, filha de um médico de Cambridge, e sua colega da universidade Magdalen. Tiveram dois filhos, Charles e Alexander, e duas filhas, Caroline e Louise.
Fonte: Hospital do Coração, WIkipedia
[Visto no Brasil Acadêmico]
Sir Peter Brian Medawar |
Peter Brian Medawar nasceu às 17h30 de 28 de fevereiro de 1915 em Petrópolis, Rio de Janeiro. Fato que consta no registro civil de 10 de março do mesmo ano, no cartório local, e lhe conferiu a cidadania brasileira. Filho do brasileiro de origem libanesa, Nicholas Medawar, empresário do ramo de pedras semi-preciosas, que fez fortuna na Inglaterra fabricando instrumentos odontológicos e ópticos, e de mãe britânica, Edith Muriel Dowling, que veio com o marido para o Rio de Janeiro em 1913, para instalar uma filial, a Óptica Inglesa. Na infância, Peter morou com a família no recém-inaugurado bairro de Copacabana, onde fez o curso primário.
Peter tinha dupla cidadania. A britânica foi atribuída no nascimento. Quando Peter tinha 13 anos, foi mandado para a Inglaterra na companhia de sua irmã Pamela, para cursarem os estudos secundários. Pamela casou-se com Sir David Hunt, secretário particular de Winston Churchill e embaixador da Inglaterra no Brasil entre 1969 e 1973. Peter, na época de sua maioridade, recebia uma bolsa de estudos do governo britânico. Seu pai solicitou a intervenção de seu padrinho, o então ministro da Aeronáutica Salgado Filho, para obter isenção do serviço militar obrigatório no Brasil e não ter que interromper os estudos na Europa. Salgado Filho solicitou pessoalmente ao Ministro da Guerra do governo Getúlio Vargas, Marechal Eurico Gaspar Dutra, mas não foi atendido.
Se ele voltasse ao Brasil teria que prestar o serviço militar, portanto, ele teria que interromper seus estudos. E ele não queria isso de forma alguma.
Gerdal Medawar. Primo de Peter Medawar
Pois esse impasse fez com que muitos achassem que sua nacionalidade brasileira estivesse perdida e ela nunca foi vinculada ao laureado com o prêmio Nobel.
Em nenhuma forma a não prestação de serviço militar poderia significar a perda da nacionalidade brasileira. Para o Brasil, ele será sempre brasileiro. E para o Reino Unido ele será sempre inglês.
Luís Roberto Barroso. Advogado (Atualmente Ministro do STF)
Peter Medawar estudou biologia e zoologia no Marlborough College e depois no Magdalen College da Universidade de Oxford, onde se destacou pelas melhores notas da turma, graduando-se em 1935, aos 20 anos de idade. Na School of Pathology trabalhou como assistente de Howard Florey, Prêmio Nobel de 1945 por seus estudos sobre a penicilina. Com apenas 24 anos obteve o primeiro lugar em concurso para a cadeira de microbiologia em Oxford.
Em 1947 já era professor titular da cadeira de zoologia na Birmingham University. Dois anos depois, foi eleito membro fellow da Royal Society. Em 1951 passou a professor de zoologia e anatomia comparativa na University College of London . Em 1959, recebeu a medalha da Royal Society.
As pesquisas iniciais de Peter Medawar foram dedicadas à cultura de células e à regeneração de nervos periféricos. Foi pioneiro no emprego de modelagem matemática em culturas de tecidos, aplicando-a na análise do crescimento, morfologia e desenvolvimento celular. Durante a Segunda Guerra, prestou serviço na Unidade de Queimados da Glasgow Royal Infirmary.
Os bombardeios na Inglaterra causaram muitas vítimas com queimaduras extensas e a rejeição dos enxertos de pele era um dos maiores problemas médicos. Naquela época acreditava-se que a prevenção da rejeição de pele era questão de habilidade cirúrgica. Medawar demonstrou que a rejeição era um problema biológico, verificando a invasão do enxerto por linfócitos.
Em 1960, juntamente com Frank Burnet, recebeu o Nobel de Fisiologia ou Medicina, pela descoberta que os enxertos de pele eram rejeitados por uma resposta do sistema imunológico. Ele estabeleceu as bases da tolerância imunológica adquirida e da imunomodulação com corticóides, estudo que ajudou muito no combate aos efeitos da rejeição em transplantes de órgãos e preparou terreno para a descoberta de drogas imunossupressoras, que previnem que as células brancas do sangue do receptor ataquem o tecido doado. O primeiro transplante bem sucedido de um doador morto ocorreu em 1962, e o receptor de rim viveu 21 meses. Outros transplantes vieram logo depois: fígado (1963), pulmões (1963), pâncreas (1966) e coração (1967).
[Via Inglês no Supermercado] |
Em 1962 foi nomeado chefe do maior laboratório de investigação médica do Reino Unido, o National Institute for Medical Research, em Mill Hill, e ocupou o cargo até 1971.
Em 1965 foi agraciado com o título de sir, pela Rainha Elizabeth II. Um dos edifícios da universidade leva seu nome.
Em 1969, recebeu a Copley Medal. Foi presidente da British Association for the Advancement of Science no biênio 1968/69.
Em 1969 teve uma série de problemas de saúde, incluindo um Acidente Vascular Cerebral , que o acometeu quando discursava num encontro da British Association for the Advancement of Science. Sobre essa doença fez o seguinte comentário
Foi muita falta de sorte, porque Jim Whyte Black ainda não tinha descoberto os medicamentos betabloqueadores, que diminuem as batidas do coração e poderiam salvar minha saúde e minha careira.
Entre 1971 e 1986, foi o chefe do setor de transplantes no centro de pesquisas clínicas do Medical Research Council, em Harrow. Entre 1971 a 1983, atuou como professor de medicina experimental no Royal Institution e presidente do Royal Postgraduate Medical School (1981-87).
[Sobre uma discussão interminável sobre o que é a vida, o que a caracteriza, em que momento exato do processo de evolução ela começou, o que é um ser vivo e o que não é] Senhores, todos aqui nesta sala sabem a diferença entre um cavalo vivo e um cavalo morto. Por favor, vamos deixar de chicotear este último.
Peter Brian Medawar
Em 1981 foi eleito Fellow of the British Academy. Foi laureado pela Unesco com o prêmio Kalinga pela popularização da ciência, em 1985.
Era um cientista com múltiplos interesses, incluindo ópera, filosofia e cricket. Era alto (1,95m), robusto, de voz potente, espirituoso e sempre bem humorado.
A mente humana trata uma nova ideia da mesma forma que o corpo trata uma proteína estranha. Ela rejeita.
Peter Brian Medawar
A Academia de Medicina do Estado do Rio de Janeiro criou a medalha Peter Medawar como forma de homenagear o ilustre conterrâneo e perpetuar seu nome nos meios acadêmicos. Em 1990, a The Transplantation Society criou a o Prêmio Medawar, uma homenagem ao seu co-fundador, considerado um dos maiores prêmios científicos mundiais, que já premiou as maiores expressões acadêmicas da imunologia e dos transplantes.
Nas suas memórias, o pesquisador relembrou como gostava do arroz, feijão e farofa, preparados pela babá Dina, que cuidava carinhosamente Homenagem da Nefrologia Brasileira a Peter Brian Medawar dele e dos irmãos, Pamela e Philip.
No centenário de seu nascimento busca-se resgatar sua memória. A cidade de Petrópolis criou um memorial e um pequeno museu em sua homenagem. O ministro Aldo Rabelo, da Ciência e Tecnologia, solicitou ao Itamaraty ação da diplomacia junto ao Instituto Nobel para que Peter Medawar seja reconhecido também como brasileiro.
Muito embora desejemos tal reconhecimento, como forma de inspirar nossa produção acadêmica e o orgulho nacional, pelo seu histórico é fácil perceber que a carreira científica de Peter Medawar foi toda forjada no exterior. Que o ano de seu centenário sirva para refletirmos o quanto ainda temos que melhorar para que o Brasil produza um laureado. Ainda que o trabalho e a criatividade de um pesquisador brasileiro aqui ou no exterior possa, eventualmente, nos trazer uma surpresa tão grande quanto Peter.
Peter morreu em Londres aos 72 anos, em 2 de outubro de 1987, devido a uma hemorragia cerebral, pouco tempo depois de celebrar bodas de ouro. Era casado desde 1937 com Jean Shinglewood Taylor, filha de um médico de Cambridge, e sua colega da universidade Magdalen. Tiveram dois filhos, Charles e Alexander, e duas filhas, Caroline e Louise.
Fonte: Hospital do Coração, WIkipedia
[Visto no Brasil Acadêmico]
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