Quem já assistiu ao filme Gravidade teve uma ideia da gravidade do problema de ter inúmeros objetos espaciais na órbita Terrestre. Conheça a...
Quem já assistiu ao filme Gravidade teve uma ideia da gravidade do problema de ter inúmeros objetos espaciais na órbita Terrestre. Conheça as Agulhas West Ford e um projeto que nos permite ver o mapeamento de alguns deles.
Uma casquinha de tinta de espaçonave viajando mais rápido do que uma bala de fuzil pode perfurar os trajes espaciais de astronautas, cosmonautas ou taikonautas que venha a se aventurar em um passeio fora de um veículo ou estação espacial que sirva de abrigo.
Por isso mesmo, o lixo residual da exploração espacial é um problema relevante para as missões e até mesmo para os habitantes da superfície da Terra nos raros casos em que pedaços maiores podem chegar até o solo sem se desintegrar na atmosfera.
Mas nem sempre os responsáveis por essas viagens tiveram consciência dos impactos que os resíduos deixados no espaço teriam nas gerações posteriores de exploradores do céu. Durante a Guerra Fria, no final da década de 1950, as comunicações de longo alcance remetiam a cabos submarinos ou rádio. Caso os soviéticos atacassem um cabo submarino de telefone ou de telégrafo, os EUA só seriam capazes de confiar em transmissões de rádio para se comunicar com o exterior. Mas a fidelidade da ionosfera, a camada da atmosfera que faz a maioria das transmissões de ondas de rádio de longo alcance possível, fica à mercê do sol: Ela é rotineiramente perturbada por tempestades solares e os militares consideravam essa limitação inaceitável.
Em 1958, no Lincoln Labs do MIT, Walter E. Morrow sugeriu que se a Terra possuísse um refletor de rádio permanente na forma de um anel de fios de cobre em órbita, comunicações de longo alcance da América seria imune a perturbações solares e fora do alcance dos soviéticos, tal projeto foi denominado West Ford.
A primeira tentativa de colocar uma antena na forma de finas agulhas de menos de 2 cm na órbita terrestre falhou, pois as tais agulhas não se dispersaram como esperado, mas outras tentativas foram feitas até colocarem quase meio bilhão desses fios flutuando nas cercanias da Terra. Grande parte já retornou para a Terra mas não é possível saber quantas agulhas, talvez milhares, ainda pairam como conglomerados de fios que podem levar décadas até voltarem para a atmosfera.
Embora tal ideia soe bem estapafúrdia hoje, essa é só uma das cargas mais estranhas que já foram para o espaço, não a mais impactante. Os satélites de comunicação acabaram tornando essa ideia obsoleta - ainda bem - resultando em menos detritos. Mas os satélites também contribuem para a formação de anéis de sujeira no entorno da Terra.
Em 1979, a estação espacial norte-americana Skylab, que fora abandonada em órbita, a 455 km de altitude, se despedaçou na atmosfera deixando o mundo em alerta. A chance de um pedaço do Skylab atingir uma pessoa, nas contas da NASA, não era nada desprezível: uma em 152. E a possibilidade de uma cidade com pelo menos 100 mil habitantes ser atingida era ainda mais preocupante: uma em apenas 7. Felizmente, os destroços caíram sobre o oceano Índico e áreas desabitadas do oeste da Austrália.
Em 2009, A colisão entre os dois satélites de comunicação - um da Rússia e um dos Estados Unidos - se deu a cerca de 780 km acima do território da Sibéria, na Rússia. Um dos equipamentos pertencia à companhia americana Iridium, e orbitava em alta velocidade quando bateu em um satélite militar russo desativado.
Segundo a NASA, O impacto produziu uma gigantesca "nuvem" de escombros, que poderiam atingir e até destruir outros satélites (posso até antever a reação em cadeia). No entanto, o risco para a Estação Espacial Internacional (ISS) é pequeno, já que ela orbita a Terra a uma distância de 435 km abaixo da rota da colisão.
Em 2013, aconteceu novamente, um pequeno satélite russo foi severamente danificado após de ter sido atingido por um fragmento de lixo espacial produzidos pela explosão de um satélite chinês. O satélite foi atingido por um dos fragmentos do satélite Fengyun 1C, originados depois que a China o destruiu propositalmente em 2007 durante um teste de seu sistema antimíssil. Depois da destruição, cerca de 3 mil pedaços do satélite permaneceram em órbita e até hoje continuam caindo em direção à Terra, o que obriga as agências espaciais manterem vigilância constante para evitar choques dos satélites de órbita baixa com os restos de lixo espacial.
O Space-Track.org segue todos os objetos em órbita com tamanho superior à de uma bola de tênis, para nos apresentar uma visualização 3D da sua posição em tempo real.
Porém, se você quiser uma representação visual dos anéis de lixo espacial e outros artefatos do planeta. O Stuff in Space recorre aos dados do Space-Track.org e nós fornece essa visão. A aplicação exige que o seu browser suporte WebGL e Web Worker.
O mapa inclui satélites ativos, inativos, e todo um vasto conjunto de lixo espacial que continua a ser monitorado para que não coloquem em risco outros projetos espaciais. Atualmente essa base de dados dispõe de mais de 150 mil objetos, o que já nos dá uma pista acerca da dimensão do problema.
Pelo menos duas vezes por ano a Estação Espacial Internacional precisa fazer manobras para evitar a colisão com o lixo espacial e à medida que os detritos das colisões ou destruições propositais caem para as orbitas mais baixas, onde estão a ISS e grande parte dos satélites científicos, aumentam também os riscos de colisão.
Por tudo isso, já existem alguns planos para realizar a limpeza do céu. Os desafios serão enormes e os custos astronômicos. Mas é necessário se quisermos que a exploração espacial continue seu curso. Afinal, vão-se os anéis e ficam os dedos.
Fonte: Aberto até de madrugada, Wired, Terra, Apollo 11, Wikipedia
[Visto no Brasil Acadêmico]
Uma casquinha de tinta de espaçonave viajando mais rápido do que uma bala de fuzil pode perfurar os trajes espaciais de astronautas, cosmonautas ou taikonautas que venha a se aventurar em um passeio fora de um veículo ou estação espacial que sirva de abrigo.
Por isso mesmo, o lixo residual da exploração espacial é um problema relevante para as missões e até mesmo para os habitantes da superfície da Terra nos raros casos em que pedaços maiores podem chegar até o solo sem se desintegrar na atmosfera.
Mas nem sempre os responsáveis por essas viagens tiveram consciência dos impactos que os resíduos deixados no espaço teriam nas gerações posteriores de exploradores do céu. Durante a Guerra Fria, no final da década de 1950, as comunicações de longo alcance remetiam a cabos submarinos ou rádio. Caso os soviéticos atacassem um cabo submarino de telefone ou de telégrafo, os EUA só seriam capazes de confiar em transmissões de rádio para se comunicar com o exterior. Mas a fidelidade da ionosfera, a camada da atmosfera que faz a maioria das transmissões de ondas de rádio de longo alcance possível, fica à mercê do sol: Ela é rotineiramente perturbada por tempestades solares e os militares consideravam essa limitação inaceitável.
Mini agulhas do projeto West Ford. |
A primeira tentativa de colocar uma antena na forma de finas agulhas de menos de 2 cm na órbita terrestre falhou, pois as tais agulhas não se dispersaram como esperado, mas outras tentativas foram feitas até colocarem quase meio bilhão desses fios flutuando nas cercanias da Terra. Grande parte já retornou para a Terra mas não é possível saber quantas agulhas, talvez milhares, ainda pairam como conglomerados de fios que podem levar décadas até voltarem para a atmosfera.
Embora tal ideia soe bem estapafúrdia hoje, essa é só uma das cargas mais estranhas que já foram para o espaço, não a mais impactante. Os satélites de comunicação acabaram tornando essa ideia obsoleta - ainda bem - resultando em menos detritos. Mas os satélites também contribuem para a formação de anéis de sujeira no entorno da Terra.
Apenas dez anos após a chegada do homem à Lua os destroços da estação espacial Skylab eram capa da Time. |
Em 1979, a estação espacial norte-americana Skylab, que fora abandonada em órbita, a 455 km de altitude, se despedaçou na atmosfera deixando o mundo em alerta. A chance de um pedaço do Skylab atingir uma pessoa, nas contas da NASA, não era nada desprezível: uma em 152. E a possibilidade de uma cidade com pelo menos 100 mil habitantes ser atingida era ainda mais preocupante: uma em apenas 7. Felizmente, os destroços caíram sobre o oceano Índico e áreas desabitadas do oeste da Austrália.
Em 2009, A colisão entre os dois satélites de comunicação - um da Rússia e um dos Estados Unidos - se deu a cerca de 780 km acima do território da Sibéria, na Rússia. Um dos equipamentos pertencia à companhia americana Iridium, e orbitava em alta velocidade quando bateu em um satélite militar russo desativado.
Segundo a NASA, O impacto produziu uma gigantesca "nuvem" de escombros, que poderiam atingir e até destruir outros satélites (posso até antever a reação em cadeia). No entanto, o risco para a Estação Espacial Internacional (ISS) é pequeno, já que ela orbita a Terra a uma distância de 435 km abaixo da rota da colisão.
Em 2013, aconteceu novamente, um pequeno satélite russo foi severamente danificado após de ter sido atingido por um fragmento de lixo espacial produzidos pela explosão de um satélite chinês. O satélite foi atingido por um dos fragmentos do satélite Fengyun 1C, originados depois que a China o destruiu propositalmente em 2007 durante um teste de seu sistema antimíssil. Depois da destruição, cerca de 3 mil pedaços do satélite permaneceram em órbita e até hoje continuam caindo em direção à Terra, o que obriga as agências espaciais manterem vigilância constante para evitar choques dos satélites de órbita baixa com os restos de lixo espacial.
O Space-Track.org segue todos os objetos em órbita com tamanho superior à de uma bola de tênis, para nos apresentar uma visualização 3D da sua posição em tempo real.
A web application Stuff in Space permite ver milhares de satélites, pedaços de foguetes e detritos. Além disso, você pode isolar objetos pelo nome. |
Porém, se você quiser uma representação visual dos anéis de lixo espacial e outros artefatos do planeta. O Stuff in Space recorre aos dados do Space-Track.org e nós fornece essa visão. A aplicação exige que o seu browser suporte WebGL e Web Worker.
O mapa inclui satélites ativos, inativos, e todo um vasto conjunto de lixo espacial que continua a ser monitorado para que não coloquem em risco outros projetos espaciais. Atualmente essa base de dados dispõe de mais de 150 mil objetos, o que já nos dá uma pista acerca da dimensão do problema.
Pelo menos duas vezes por ano a Estação Espacial Internacional precisa fazer manobras para evitar a colisão com o lixo espacial e à medida que os detritos das colisões ou destruições propositais caem para as orbitas mais baixas, onde estão a ISS e grande parte dos satélites científicos, aumentam também os riscos de colisão.
Por tudo isso, já existem alguns planos para realizar a limpeza do céu. Os desafios serão enormes e os custos astronômicos. Mas é necessário se quisermos que a exploração espacial continue seu curso. Afinal, vão-se os anéis e ficam os dedos.
Fonte: Aberto até de madrugada, Wired, Terra, Apollo 11, Wikipedia
[Visto no Brasil Acadêmico]
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