Há pessoas que podem rapidamente memorizar uma lista de milhares de números, a ordem de um baralho (ou de dez deles!) e muito mais. O escrit...
Há pessoas que podem rapidamente memorizar uma lista de milhares de números, a ordem de um baralho (ou de dez deles!) e muito mais. O escritor cientista Joshua Foer descreve a técnica - chamada de palácio da memória - e mostra suas características mais notáveis: qualquer um pode aprender a usá-las, inclusive ele.
Eu gostaria de convidá-los a fecharem seus olhos.
Imagine-se de pé do lado de fora da porta principal da sua casa. Gostaria que você observasse a cor da porta, e o material em que foi feita. Agora, visualize um grupo de nudistas gordos de bicicletas. Eles estão nus numa corrida de bicicleta e estão vindo em direção à sua porta da frente. Preciso que você realmente veja isso. Eles estão pedalando com força, suados, sacolejando bastante. E eles batem de cara bem na sua porta principal. Bicicletas voam para todos os lados, rodas passam rolando por você, raios acabam em cantos desconfortáveis. Dê um passo pelo limiar de sua porta para o vestíbulo, corredor, ou o que quer que esteja do outro lado, e aprecie a qualidade da luz. A luz está brilhando sobre o Come-Come. O Come-Come está acenando para você, montado num cavalo cor de canela. É um cavalo falante. Você praticamente pode sentir o pelo azul fazendo cócegas no seu nariz. Você consegue sentir o cheiro da bolacha de aveia e passas que ele está prestes a devorar. Passe por ele. Passe por ele até sua sala de estar. Na sua sala, num devaneio total, imagine Britney Spears. Ela veste roupas provocantes, está dançando na sua mesa de centro, e canta "Hit Me Baby One More Time". Então me siga até a cozinha. Na sua cozinha, o chão foi pavimentado com tijolos amarelos e, do forno, estão saindo em direção a você Dorothy, o Homem de Lata, o Espantalho e o Leão de "O Mágico de Oz", de mãos dadas, pulando na sua direção.
Ok. Abra os olhos.
Quero contar-lhes sobre um concurso bizarro que acontece toda primavera em Nova Iorque. É chamado de Campeonato Americano de Memória. E eu fui cobrir esse concurso alguns anos atrás, como jornalista científico, esperando, acho, que isso fosse ser como uma Supercopa de sábios estudiosos. Era um bando de rapazes e algumas mulheres, de idades e higiene bem variadas
(Risos)
Estavam memorizando centenas de números aleatórios, olhando para eles apenas uma vez. Estavam memorizando nomes de dúzias e dúzias de estranhos. Estavam memorizando poemas inteiros em apenas alguns minutos. Estavam competindo para ver quem conseguia decorar mais rápido a ordem das cartas de um baralho embaralhado. Eu não podia acreditar. Essas pessoas devem ser aberrações da natureza.
E comecei a conversar com alguns competidores. Este cara se chama Ed Cook e veio da Inglaterra onde ele tinha uma das melhores memórias treinadas. E eu lhe disse: "Ed, quando foi que você percebeu que era um expoente?" E ele respondeu: "Não sou um expoente.
Nós todos nos treinamos para realizar estas façanhas absolutamente milagrosas da memória, usando uma série de técnicas antigas, técnicas inventadas 2.500 anos atrás, na Grécia, as mesmas técnicas que Cicero usou para memorizar seus discursos, que estudiosos medievais usaram para memorizar livros inteiros." E eu fiquei tipo, "Uau. Como eu nunca ouvi falar disso antes?"
Estávamos parados do lado de fora da sala de competições, e Ed, que é maravilhoso, brilhante, mas de certa forma um inglês excêntrico, me disse, "Josh, você é um jornalista americano. Você conhece a Britney Spears?" Eu disse: "Quê? Não. Por quê?" "Porque eu gostaria mesmo de ensinar a Britney Spears como memorizar a ordem de um baralho embaralhado em rede nacional, nos EUA. Irá provar ao mundo que qualquer um pode fazer isso."
(Risos)
Eu acrescentei: "Bem, não sou a Britney Spears, mas talvez você possa me ensinar. Digo, você tem que começar em algum lugar, certo?" E esse foi o início de uma jornada bem estranha pra mim.
Terminei gastando parte do próximo ano não apenas no treinamento da minha memória, mas também investigando-a, tentando entender como ela funciona, por que ela não funciona algumas vezes e qual seria seu potencial.
Conheci muitas pessoas bem interessantes. Esse é um cara chamado E.P. Ele é um amnésico que tem, provavelmente, a pior memória do mundo. Sua memoria era tão ruim que ele nem lembrava que tinha um problema de memória, o que é incrível. E ele era essa figura incrivelmente trágica, mas era uma janela na medida em que nossas memórias nos fazem ser quem somos.
O outro lado do espectro: conheci este cara. Este é Kim Peek. Ele foi a base para o personagem de Dustin Hoffman no filme "Rain Man". Passamos uma tarde juntos, na biblioteca pública de Salt Lake City, memorizando listas telefônicas, o que foi brilhante.
(Risos)
Voltei e li muitos tratados sobre a memória, tratados escritos há mais de 2000 anos, em latim, na antiguidade e, mais tarde, na Idade Média. E aprendi muitas coisas interessantes. Umas dessas coisas interessantes que aprendi é que, algum tempo atrás, essa ideia de cultivar uma memória treinada, disciplinada não era tão estranha como nos parece hoje em dia. Tempos atrás, as pessoas investiam em suas memórias, em diligentemente equipar suas mentes.
Durante os últimos milênios nós inventamos uma série de tecnologias -- de alfabeto a papiro, código, impressora, fotografia, computador, smartphone -- que, progressivamente, facilitaram cada vez mais a alocação de nossas memórias como exteriores a nós, para que essencialmente terceirizássemos essa fundamental capacidade humana. Essas tecnologias tornaram possível o nosso mundo moderno mas elas também nos modificaram. Elas nos modificaram culturalmente e eu diria que elas nos mudaram cognitivamente. Tendo pouca necessidade de lembrar, às vezes, parece que nos esquecemos de como fazê-lo.
Um dos últimos lugares na Terra onde ainda encontramos pessoas apaixonadas por essa ideia de cultivar uma memória treinada e disciplinada é essa totalmente única competição da memória. Na verdade, não é tão única, há concursos acontecendo por todo o mundo. E eu estava fascinado, queria saber como esses caras fazem isso.
Alguns anos atrás, um grupo de pesquisadores da University College, em Londres, trouxeram para o laboratório vários campeões da memória. Eles queriam saber: esses caras têm cérebros que são, de alguma forma, na estrutura, na anatomia, diferentes dos nossos? A resposta foi negativa. Será que eles são mais inteligentes que nós? Deram a eles pilhas de testes cognitivos, e a resposta foi: na verdade não.
Houve, no entanto, uma diferença interessante e expressiva entre os cérebros dos campeões da memória e os dos indivíduos de controle com os quais eles estavam sendo comparados. Quando colocaram esses caras em uma máquina de ressonância magnética e escanearam seus cérebros enquanto eles estavam memorizando números, fisionomias e fotos de flocos de neve, descobriram que os campeões da memória estavam acessando partes diferentes do cérebro do que qualquer outra pessoa. Notem que eles estavam usando ou pareciam usar a parte do cérebro que está relacionada com a memória espacial e a navegação. Por quê? E há algo que podemos aprender a partir disso?
O esporte da memorização competitiva é impulsionado por um tipo de corrida às armas em que todos os anos alguém aparece com uma nova forma de lembrar mais coisas rapidamente, e os demais competidores têm que brincar de pique.
Esse é meu amigo Ben Pridmore, campeão mundial de memorização por três vezes. Na mesa à sua frente, há 36 baralhos de cartas embaralhados que ele está prestes a memorizar em uma hora, usando uma técnica que ele inventou e dominou sozinho. Ele usava uma técnica parecida para memorizar a ordem exata de 4.140 dígitos binários aleatórios em meia hora. Sim.
E, ainda que haja muitas maneiras de lembrar as coisas nessas competições, tudo, todas as técnicas que estão sendo usadas chegam finalmente a um conceito ao qual os psicólogos se referem como codificação elaborativa.
E é bem ilustrado por um paradoxo estiloso, conhecido por paradoxo de 'Baker / baker', que é mais ou menos assim: se eu disser para duas pessoas se lembrarem da mesma palavra, se eu disser para você "Lembre-se de que há um cara chamado Baker." Esse é o sobrenome dele. E digo a você: "Lembre-se de que há um cara que é um 'baker' (padeiro)." E mais tarde, em algum momento, eu me volto a vocês e digo: "Vocês se lembram daquela palavra que eu lhes disse há pouco? Lembram-se do que era?" A pessoa a quem foi dito que o sobrenome era Baker está menos propensa a lembrar a mesma palavra que a pessoa a quem foi dito que ele é um 'baker'. Mesma palavra, diferente forma de lembrar; é estranho. O que acontece aqui?
Bom, o sobrenome Baker não significa nada pra você. Está completamente desconectado de todas aquelas memórias flutuando dentro do seu crânio. Mas o nome comum 'baker' (padeiro), nós conhecemos 'bakers'. 'Bakers' usam chapéus brancos engraçados. 'Bakers' têm farinha nas mãos. 'Bakers' cheiram bem quando chegam em casa do trabalho. Talvez até conheçamos um 'baker'. E quando nós ouvimos aquela palavra pela primeira vez, começamos a colocar esses ganchos associativos nela que tornam fácil pescá-la em algum momento posterior. A arte do que está acontecendo nesses concursos de memória, e toda a arte de lembrar melhor coisas na vida cotidiana, é imaginar formas de transformar o B maiúsculo de 'Bakers'. em b minúsculo de 'bakers' -- localizar informação que está faltando no contexto, em significado, em sentido, e transformá-la de alguma forma para que ela se torne significante, à luz de todas as outras coisas que você tem na mente.
Uma das formas mais elaboradas de fazer isso data de 2500 anos atrás, na Grécia Antiga. Tornou-se conhecida como o palácio da memória. A história por trás de sua criação é mais ou menos assim. Havia um poeta chamado Simonides que estava em um banquete.
E ele se levantava, declamava seus poemas de memória e ia embora, e, no momento que ele saía, o lugar do banquete desmoronou, matando todo mundo lá dentro. E não só matou todo mundo, também desfigurou os corpos para além de qualquer reconhecimento. Ninguém conseguia dizer quem estava dentro, ninguém conseguia dizer onde estavam sentados. Os corpos não podiam ser enterrados adequadamente. É uma tragédia compondo outra. Simonides, parado do lado de fora, o único sobrevivente entre os escombros, fecha os olhos e têm essa percepção, que é aquela dos olhos de sua mente, ele podia relembrar em qual lugar cada um dos convidados estava sentado. E ele pega os parentes pela mão e os guia cada um para seus amados, entre os escombros.
O que Simonides percebe naquele momento é algo que penso que todos nós sabemos intuitivamente, isto é, por pior que sejamos em lembrar nomes ou telefones e cada palavra das instruções dos nossos colegas, nós temos uma excepcional memória espacial e visual. Se eu lhes pedir para recontar as primeiras 10 palavras da história que acabei de contar sobre Simonides, a chance é de que vocês tenham muita dificuldade tentando. Mas eu apostaria que, se eu pedisse que lembrassem quem está sentado na sela de um cavalo castanho falante na sua sala agora mesmo, você seria capaz de ver isso.
A ideia por trás do palácio da memória é criar um edifício imaginário dentro dos olhos da sua mente e povoá-lo com imagens de coisas que você quer lembrar.
Esse conselho data de mais de 2000 anos atrás, nos primeiros tratados latinos sobre memória.
Então, como funciona? Digamos que você foi convidado para fazer um discurso no palco principal do TED e você quer fazê-lo de memória, você quer fazê-lo como Cicero teria feito, se ele tivesse sido convidado para o TEDx Roma há 2000 anos. O que você poderia fazer é imaginar-se na porta da frente da sua casa. E você encontraria algum tipo de imagem absolutamente louca, ridícula, inesquecível, para lembrar-lhe que a primeira coisa que você quer falar é sobre esse desafio totalmente bizarro. E depois você entraria na sua casa, e veria a imagem do Come-come em cima do Mister Ed. E isso o lembraria que você gostaria de introduzir seu amigo Ed Cook. A seguir, você veria uma imagem da Britney Spears para lembrar-se dessa piada engraçada que você quer contar. E você entraria na cozinha, e a quarta coisa de que você falaria seria sobre essa estranha jornada que você viveu por um ano e você tem alguns amigos que o ajudam a lembrar isso.
Era assim que os oradores romanos memorizavam seus discursos -- não era palavra por palavra, o que só sacanearia você, mas tópico a tópico. Na verdade, a expressão "tópico frasal", que vem da palavra grega "topos" que significa "lugar". Isso é um vestígio de como as pessoas costumavam pensar em oratória e retórica nesses termos espaciais. A expressão "em primeiro lugar" é como o primeiro lugar do seu palácio da memória.
Achei que essa forma era simplesmente fascinante, e realmente entrei nela. E fui a mais alguns desses concursos. E tive a impressão de que poderia escrever algo mais longo sobre essa subcultura de memorizadores competitivos. Mas havia um problema. O problema era que um concurso de memória é um evento patologicamente entendiante. (Risos) Sério, é como um grupo de pessoas sentadas fazendo provas. Digo, o mais dramático que fica é quando alguém começa a massagear a têmpora. E eu sou jornalista, preciso de algo sobre o que escrever. Sei que há essas coisas incríveis acontecendo dentro das mentes dessas pessoas, mas eu não tenho acesso a elas.
E percebi que, se eu quisesse contar essa história, teria que me colocar no lugar delas um pouquinho. Então, tentei gastar de 15 a 20 minutos, todas as manhãs, antes de me sentar para ler o New York Times, apenas tentando lembrar algo. Talvez um poema. Talvez nomes de um velho livro do ano que eu comprei no sebo. E descobri que isso era surpreendentemente divertido. Nunca esperaria isso. Era divertido porque não é exatamente sobre treinar sua memória O que você está fazendo é tentar melhorar cada vez mais. na criatividade, na possibilidade de sonhar essas imagens completamente ridículas, atrevidas, hilárias e felizmente inesquecíveis aos olhos da sua mente. E eu entrei fortemente nisso.
Este sou eu usando meu 'kit' básico de treinamento da memória competitiva. É um par de protetores de orelhas e um par de óculos de segurança que foram mascarados exceto por dois pequenos furos, porque a distração é o pior inimigo do memorizador competitivo.
Acabei voltando ao mesmo concurso que eu tinha coberto um ano antes. E tinha essa ideia de que eu entraria ali como um tipo de experimento de jornalismo participativo Seria, eu achava, talvez um bom epílogo para a minha pesquisa. O problema é que o experimento acabou uma loucura. Eu venci o concurso, o que não deveria acontecer.
(Risos)
Agora, é legal ser capaz de memorizar discursos e telefones e listas de compras, mas é, na verdade, além do ponto. Esses são apenas truques. São truques que funcionam porque são baseados em princípios bem elementares sobre como funciona nosso cérebro. E você não precisa ficar construindo palácios de memória ou memorizando pacotes de baralhos para se beneficiar de um pouquinho de discernimento sobre como funciona sua mente.
Sempre falamos de pessoas com grandes memórias como se isso fosse um tipo de dom inato, mas esse não é o caso. Grandes memórias são desenvolvidas. No nível mais básico, nós lembramos quando prestamos atenção. Nós lembramos quando estamos profundamente envolvidos. Lembramos quando somos capazes de pegar um pouco de informação e experiência e descobrir porque é tão significante para nós, porque é significante, porque é colorido, quando somos capazes de transformá-lo de alguma forma que faça sentido, à luz de todas as coisas que estão flutuando em nossas mentes, quando somos capazes de transformar 'Bakers' em 'bakers'.
O palácio da memória, essas técnicas de memorização, são apenas atalhos. Na verdade, eles nem são verdadeiros atalhos. Eles funcionam porque fazem você funcionar. Eles forçam um tipo de processamento profundo, um tipo de preenchimento completo da mente, que a maioria de nós não anda exercitando por aí. Mas, na verdade, não há atalhos. É assim que as coisas se tornam memoráveis.
Quanto desejamos perder da nossa já tão curta vida por perder-nos nos nossos Blackberries ou Iphones, por não prestar atenção no ser humano à nossa frente, que está falando conosco, por ser tão preguiçosos que não queremos processar profundamente?
Aprendi de primeira mão que há capacidades de memorização incríveis latentes em todos nós. Mas, se você quer viver uma vida memorável, você tem que ser o tipo de pessoa que lembra de se lembrar.
Obrigado.
(Aplausos)
[Via BBA]
Eu gostaria de convidá-los a fecharem seus olhos.
Imagine-se de pé do lado de fora da porta principal da sua casa. Gostaria que você observasse a cor da porta, e o material em que foi feita. Agora, visualize um grupo de nudistas gordos de bicicletas. Eles estão nus numa corrida de bicicleta e estão vindo em direção à sua porta da frente. Preciso que você realmente veja isso. Eles estão pedalando com força, suados, sacolejando bastante. E eles batem de cara bem na sua porta principal. Bicicletas voam para todos os lados, rodas passam rolando por você, raios acabam em cantos desconfortáveis. Dê um passo pelo limiar de sua porta para o vestíbulo, corredor, ou o que quer que esteja do outro lado, e aprecie a qualidade da luz. A luz está brilhando sobre o Come-Come. O Come-Come está acenando para você, montado num cavalo cor de canela. É um cavalo falante. Você praticamente pode sentir o pelo azul fazendo cócegas no seu nariz. Você consegue sentir o cheiro da bolacha de aveia e passas que ele está prestes a devorar. Passe por ele. Passe por ele até sua sala de estar. Na sua sala, num devaneio total, imagine Britney Spears. Ela veste roupas provocantes, está dançando na sua mesa de centro, e canta "Hit Me Baby One More Time". Então me siga até a cozinha. Na sua cozinha, o chão foi pavimentado com tijolos amarelos e, do forno, estão saindo em direção a você Dorothy, o Homem de Lata, o Espantalho e o Leão de "O Mágico de Oz", de mãos dadas, pulando na sua direção.
Ok. Abra os olhos.
Quero contar-lhes sobre um concurso bizarro que acontece toda primavera em Nova Iorque. É chamado de Campeonato Americano de Memória. E eu fui cobrir esse concurso alguns anos atrás, como jornalista científico, esperando, acho, que isso fosse ser como uma Supercopa de sábios estudiosos. Era um bando de rapazes e algumas mulheres, de idades e higiene bem variadas
(Risos)
Estavam memorizando centenas de números aleatórios, olhando para eles apenas uma vez. Estavam memorizando nomes de dúzias e dúzias de estranhos. Estavam memorizando poemas inteiros em apenas alguns minutos. Estavam competindo para ver quem conseguia decorar mais rápido a ordem das cartas de um baralho embaralhado. Eu não podia acreditar. Essas pessoas devem ser aberrações da natureza.
E comecei a conversar com alguns competidores. Este cara se chama Ed Cook e veio da Inglaterra onde ele tinha uma das melhores memórias treinadas. E eu lhe disse: "Ed, quando foi que você percebeu que era um expoente?" E ele respondeu: "Não sou um expoente.
Na verdade, eu tenho apenas uma memória mediana. Todos os concorrentes deste concurso irão lhe dizer que têm apenas uma memória mediana.
Nós todos nos treinamos para realizar estas façanhas absolutamente milagrosas da memória, usando uma série de técnicas antigas, técnicas inventadas 2.500 anos atrás, na Grécia, as mesmas técnicas que Cicero usou para memorizar seus discursos, que estudiosos medievais usaram para memorizar livros inteiros." E eu fiquei tipo, "Uau. Como eu nunca ouvi falar disso antes?"
Estávamos parados do lado de fora da sala de competições, e Ed, que é maravilhoso, brilhante, mas de certa forma um inglês excêntrico, me disse, "Josh, você é um jornalista americano. Você conhece a Britney Spears?" Eu disse: "Quê? Não. Por quê?" "Porque eu gostaria mesmo de ensinar a Britney Spears como memorizar a ordem de um baralho embaralhado em rede nacional, nos EUA. Irá provar ao mundo que qualquer um pode fazer isso."
(Risos)
Eu acrescentei: "Bem, não sou a Britney Spears, mas talvez você possa me ensinar. Digo, você tem que começar em algum lugar, certo?" E esse foi o início de uma jornada bem estranha pra mim.
Terminei gastando parte do próximo ano não apenas no treinamento da minha memória, mas também investigando-a, tentando entender como ela funciona, por que ela não funciona algumas vezes e qual seria seu potencial.
Conheci muitas pessoas bem interessantes. Esse é um cara chamado E.P. Ele é um amnésico que tem, provavelmente, a pior memória do mundo. Sua memoria era tão ruim que ele nem lembrava que tinha um problema de memória, o que é incrível. E ele era essa figura incrivelmente trágica, mas era uma janela na medida em que nossas memórias nos fazem ser quem somos.
O outro lado do espectro: conheci este cara. Este é Kim Peek. Ele foi a base para o personagem de Dustin Hoffman no filme "Rain Man". Passamos uma tarde juntos, na biblioteca pública de Salt Lake City, memorizando listas telefônicas, o que foi brilhante.
(Risos)
Voltei e li muitos tratados sobre a memória, tratados escritos há mais de 2000 anos, em latim, na antiguidade e, mais tarde, na Idade Média. E aprendi muitas coisas interessantes. Umas dessas coisas interessantes que aprendi é que, algum tempo atrás, essa ideia de cultivar uma memória treinada, disciplinada não era tão estranha como nos parece hoje em dia. Tempos atrás, as pessoas investiam em suas memórias, em diligentemente equipar suas mentes.
Durante os últimos milênios nós inventamos uma série de tecnologias -- de alfabeto a papiro, código, impressora, fotografia, computador, smartphone -- que, progressivamente, facilitaram cada vez mais a alocação de nossas memórias como exteriores a nós, para que essencialmente terceirizássemos essa fundamental capacidade humana. Essas tecnologias tornaram possível o nosso mundo moderno mas elas também nos modificaram. Elas nos modificaram culturalmente e eu diria que elas nos mudaram cognitivamente. Tendo pouca necessidade de lembrar, às vezes, parece que nos esquecemos de como fazê-lo.
Um dos últimos lugares na Terra onde ainda encontramos pessoas apaixonadas por essa ideia de cultivar uma memória treinada e disciplinada é essa totalmente única competição da memória. Na verdade, não é tão única, há concursos acontecendo por todo o mundo. E eu estava fascinado, queria saber como esses caras fazem isso.
Alguns anos atrás, um grupo de pesquisadores da University College, em Londres, trouxeram para o laboratório vários campeões da memória. Eles queriam saber: esses caras têm cérebros que são, de alguma forma, na estrutura, na anatomia, diferentes dos nossos? A resposta foi negativa. Será que eles são mais inteligentes que nós? Deram a eles pilhas de testes cognitivos, e a resposta foi: na verdade não.
Houve, no entanto, uma diferença interessante e expressiva entre os cérebros dos campeões da memória e os dos indivíduos de controle com os quais eles estavam sendo comparados. Quando colocaram esses caras em uma máquina de ressonância magnética e escanearam seus cérebros enquanto eles estavam memorizando números, fisionomias e fotos de flocos de neve, descobriram que os campeões da memória estavam acessando partes diferentes do cérebro do que qualquer outra pessoa. Notem que eles estavam usando ou pareciam usar a parte do cérebro que está relacionada com a memória espacial e a navegação. Por quê? E há algo que podemos aprender a partir disso?
O esporte da memorização competitiva é impulsionado por um tipo de corrida às armas em que todos os anos alguém aparece com uma nova forma de lembrar mais coisas rapidamente, e os demais competidores têm que brincar de pique.
Esse é meu amigo Ben Pridmore, campeão mundial de memorização por três vezes. Na mesa à sua frente, há 36 baralhos de cartas embaralhados que ele está prestes a memorizar em uma hora, usando uma técnica que ele inventou e dominou sozinho. Ele usava uma técnica parecida para memorizar a ordem exata de 4.140 dígitos binários aleatórios em meia hora. Sim.
E, ainda que haja muitas maneiras de lembrar as coisas nessas competições, tudo, todas as técnicas que estão sendo usadas chegam finalmente a um conceito ao qual os psicólogos se referem como codificação elaborativa.
E é bem ilustrado por um paradoxo estiloso, conhecido por paradoxo de 'Baker / baker', que é mais ou menos assim: se eu disser para duas pessoas se lembrarem da mesma palavra, se eu disser para você "Lembre-se de que há um cara chamado Baker." Esse é o sobrenome dele. E digo a você: "Lembre-se de que há um cara que é um 'baker' (padeiro)." E mais tarde, em algum momento, eu me volto a vocês e digo: "Vocês se lembram daquela palavra que eu lhes disse há pouco? Lembram-se do que era?" A pessoa a quem foi dito que o sobrenome era Baker está menos propensa a lembrar a mesma palavra que a pessoa a quem foi dito que ele é um 'baker'. Mesma palavra, diferente forma de lembrar; é estranho. O que acontece aqui?
Bom, o sobrenome Baker não significa nada pra você. Está completamente desconectado de todas aquelas memórias flutuando dentro do seu crânio. Mas o nome comum 'baker' (padeiro), nós conhecemos 'bakers'. 'Bakers' usam chapéus brancos engraçados. 'Bakers' têm farinha nas mãos. 'Bakers' cheiram bem quando chegam em casa do trabalho. Talvez até conheçamos um 'baker'. E quando nós ouvimos aquela palavra pela primeira vez, começamos a colocar esses ganchos associativos nela que tornam fácil pescá-la em algum momento posterior. A arte do que está acontecendo nesses concursos de memória, e toda a arte de lembrar melhor coisas na vida cotidiana, é imaginar formas de transformar o B maiúsculo de 'Bakers'. em b minúsculo de 'bakers' -- localizar informação que está faltando no contexto, em significado, em sentido, e transformá-la de alguma forma para que ela se torne significante, à luz de todas as outras coisas que você tem na mente.
Uma das formas mais elaboradas de fazer isso data de 2500 anos atrás, na Grécia Antiga. Tornou-se conhecida como o palácio da memória. A história por trás de sua criação é mais ou menos assim. Havia um poeta chamado Simonides que estava em um banquete.
Ele era, na verdade, a diversão contratada, porque, naquele tempo, se você queria dar uma festa do barulho, você não contratava um D.J., e sim um poeta.
E ele se levantava, declamava seus poemas de memória e ia embora, e, no momento que ele saía, o lugar do banquete desmoronou, matando todo mundo lá dentro. E não só matou todo mundo, também desfigurou os corpos para além de qualquer reconhecimento. Ninguém conseguia dizer quem estava dentro, ninguém conseguia dizer onde estavam sentados. Os corpos não podiam ser enterrados adequadamente. É uma tragédia compondo outra. Simonides, parado do lado de fora, o único sobrevivente entre os escombros, fecha os olhos e têm essa percepção, que é aquela dos olhos de sua mente, ele podia relembrar em qual lugar cada um dos convidados estava sentado. E ele pega os parentes pela mão e os guia cada um para seus amados, entre os escombros.
O que Simonides percebe naquele momento é algo que penso que todos nós sabemos intuitivamente, isto é, por pior que sejamos em lembrar nomes ou telefones e cada palavra das instruções dos nossos colegas, nós temos uma excepcional memória espacial e visual. Se eu lhes pedir para recontar as primeiras 10 palavras da história que acabei de contar sobre Simonides, a chance é de que vocês tenham muita dificuldade tentando. Mas eu apostaria que, se eu pedisse que lembrassem quem está sentado na sela de um cavalo castanho falante na sua sala agora mesmo, você seria capaz de ver isso.
A ideia por trás do palácio da memória é criar um edifício imaginário dentro dos olhos da sua mente e povoá-lo com imagens de coisas que você quer lembrar.
As imagens mais loucas, esquisitas, bizarras, engraçadas, provocadoras, espantosas são, provavelmente, as mais inesquecíveis.
Esse conselho data de mais de 2000 anos atrás, nos primeiros tratados latinos sobre memória.
Então, como funciona? Digamos que você foi convidado para fazer um discurso no palco principal do TED e você quer fazê-lo de memória, você quer fazê-lo como Cicero teria feito, se ele tivesse sido convidado para o TEDx Roma há 2000 anos. O que você poderia fazer é imaginar-se na porta da frente da sua casa. E você encontraria algum tipo de imagem absolutamente louca, ridícula, inesquecível, para lembrar-lhe que a primeira coisa que você quer falar é sobre esse desafio totalmente bizarro. E depois você entraria na sua casa, e veria a imagem do Come-come em cima do Mister Ed. E isso o lembraria que você gostaria de introduzir seu amigo Ed Cook. A seguir, você veria uma imagem da Britney Spears para lembrar-se dessa piada engraçada que você quer contar. E você entraria na cozinha, e a quarta coisa de que você falaria seria sobre essa estranha jornada que você viveu por um ano e você tem alguns amigos que o ajudam a lembrar isso.
Era assim que os oradores romanos memorizavam seus discursos -- não era palavra por palavra, o que só sacanearia você, mas tópico a tópico. Na verdade, a expressão "tópico frasal", que vem da palavra grega "topos" que significa "lugar". Isso é um vestígio de como as pessoas costumavam pensar em oratória e retórica nesses termos espaciais. A expressão "em primeiro lugar" é como o primeiro lugar do seu palácio da memória.
Achei que essa forma era simplesmente fascinante, e realmente entrei nela. E fui a mais alguns desses concursos. E tive a impressão de que poderia escrever algo mais longo sobre essa subcultura de memorizadores competitivos. Mas havia um problema. O problema era que um concurso de memória é um evento patologicamente entendiante. (Risos) Sério, é como um grupo de pessoas sentadas fazendo provas. Digo, o mais dramático que fica é quando alguém começa a massagear a têmpora. E eu sou jornalista, preciso de algo sobre o que escrever. Sei que há essas coisas incríveis acontecendo dentro das mentes dessas pessoas, mas eu não tenho acesso a elas.
E percebi que, se eu quisesse contar essa história, teria que me colocar no lugar delas um pouquinho. Então, tentei gastar de 15 a 20 minutos, todas as manhãs, antes de me sentar para ler o New York Times, apenas tentando lembrar algo. Talvez um poema. Talvez nomes de um velho livro do ano que eu comprei no sebo. E descobri que isso era surpreendentemente divertido. Nunca esperaria isso. Era divertido porque não é exatamente sobre treinar sua memória O que você está fazendo é tentar melhorar cada vez mais. na criatividade, na possibilidade de sonhar essas imagens completamente ridículas, atrevidas, hilárias e felizmente inesquecíveis aos olhos da sua mente. E eu entrei fortemente nisso.
Este sou eu usando meu 'kit' básico de treinamento da memória competitiva. É um par de protetores de orelhas e um par de óculos de segurança que foram mascarados exceto por dois pequenos furos, porque a distração é o pior inimigo do memorizador competitivo.
A distração é o pior inimigo do memorizador competitivo.
Acabei voltando ao mesmo concurso que eu tinha coberto um ano antes. E tinha essa ideia de que eu entraria ali como um tipo de experimento de jornalismo participativo Seria, eu achava, talvez um bom epílogo para a minha pesquisa. O problema é que o experimento acabou uma loucura. Eu venci o concurso, o que não deveria acontecer.
(Risos)
Agora, é legal ser capaz de memorizar discursos e telefones e listas de compras, mas é, na verdade, além do ponto. Esses são apenas truques. São truques que funcionam porque são baseados em princípios bem elementares sobre como funciona nosso cérebro. E você não precisa ficar construindo palácios de memória ou memorizando pacotes de baralhos para se beneficiar de um pouquinho de discernimento sobre como funciona sua mente.
Sempre falamos de pessoas com grandes memórias como se isso fosse um tipo de dom inato, mas esse não é o caso. Grandes memórias são desenvolvidas. No nível mais básico, nós lembramos quando prestamos atenção. Nós lembramos quando estamos profundamente envolvidos. Lembramos quando somos capazes de pegar um pouco de informação e experiência e descobrir porque é tão significante para nós, porque é significante, porque é colorido, quando somos capazes de transformá-lo de alguma forma que faça sentido, à luz de todas as coisas que estão flutuando em nossas mentes, quando somos capazes de transformar 'Bakers' em 'bakers'.
O palácio da memória, essas técnicas de memorização, são apenas atalhos. Na verdade, eles nem são verdadeiros atalhos. Eles funcionam porque fazem você funcionar. Eles forçam um tipo de processamento profundo, um tipo de preenchimento completo da mente, que a maioria de nós não anda exercitando por aí. Mas, na verdade, não há atalhos. É assim que as coisas se tornam memoráveis.
E acho que se há algo que quero deixar com vocês, é aquilo que E.P., o amnésico que nem podia lembrar que tinha um problema de memória, me deixou, que é a noção de que nossas vidas são o resumo de nossas memórias.
Quanto desejamos perder da nossa já tão curta vida por perder-nos nos nossos Blackberries ou Iphones, por não prestar atenção no ser humano à nossa frente, que está falando conosco, por ser tão preguiçosos que não queremos processar profundamente?
Aprendi de primeira mão que há capacidades de memorização incríveis latentes em todos nós. Mas, se você quer viver uma vida memorável, você tem que ser o tipo de pessoa que lembra de se lembrar.
Obrigado.
(Aplausos)
[Via BBA]
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