Munido com ilustrações impressionantes, David Christian, narra a completa história do universo, do Big Bang à internet, em 18 fascinantes mi...
Munido com ilustrações impressionantes, David Christian, narra a completa história do universo, do Big Bang à internet, em 18 fascinantes minutos. Esta é a "Grande História". Uma esclarecedora e ampla visão sobre a complexidade, a vida e a humanidade, em contraponto à nossa exígua existência na linha de tempo cósmica.
Primeiro, um vídeo. Sim, isto é um ovo mexido. Mas, à medida que vocês olham para ele, Eu acho que vocês começarão a sentir um pequeno estranhamento.
Porque vocês talvez notem que, o que está realmente acontecendo, é que o ovo está se recompondo. E verão agora que a gema e a clara se separaram. E agora, eles retornarão para dentro do ovo. E todos nós sabemos, do fundo de nossos corações, que este não é o modo como o universo funciona. Um ovo mexido é uma desordem, uma saborosa desordem, mas uma desordem. Um ovo é uma coisa bela e sofisticada que pode criar coisas ainda mais sofisticadas, tais como galinhas. E nós sabemos, do fundo de nossos corações, que o universo não vai da desordem para a complexidade. Na verdade, este instinto visceral é representado em uma das mais fundamentais leis da física, a 2ª Lei da Termodinâmica, ou a Lei da Entropia. O que ela diz basicamente é que a tendência geral do universo é se mover da ordem e estrutura para a falta de ordem, falta de estrutura -- na verdade, para a desordem. E é por isso que aquele vídeo nos parece um pouco estranho.
E contudo, olhem ao nosso redor. O que vemos ao nosso redor é uma assombrosa complexidade. Eric Beinhocker estima que em Nova Iorque, isolada, existam cerca de 10 bilhões bens, ou diferentes commodities, sendo negociados. Isto é centenas de vezes o número de espécies que existem na Terra. E eles são negociados por uma espécie com quase sete bilhões de indivíduos que são ligados pelo comércio, viagens e internet a um sistema global de estupenda complexidade.
Então, eis aqui uma quebra-cabeça: Em um universo governado pela 2ª Lei da Termodinâmica, como é possível gerar o tipo de complexidade que descrevi -- o tipo de complexidade representada por vocês e por mim e por este centro de convenções? Bem, a resposta parece ser que o universo pode criar complexidade, mas com grande dificuldade. Em bolsões, surge aquilo que meu colega, Fred Spier, chama de "Condições Cachinhos Dourados" (e os três ursos) não tão quente, não tão frio; simplesmente o tanto exato para a criação da complexidade. E coisas ligeiramente mais complexas surgem. E onde você tem coisas ligeiramente mais complexas, você pode obter coisas um pouco mais complexas. E, deste modo, a complexidade é gerada passo a passo. Cada passo é mágico pois ele cria a impressão de algo inteiramente novo aparentemente vindo do nada do universo. Nós chamamos estes momentos, na grande história universal, de momentos limiares. E a cada limiar, o avanço torna-se mais difícil. As coisas complexas tornam-se mais frágeis, mais vulneráveis, as condições "Cachinhos Dourados" ficam mais estritas e é mais difícil criar a complexidade.
Agora, nós, como criaturas extremamente complexas, necessitamos desesperadamente conhecer esta história de como o universo gera a complexidade, a despeito da 2ª Lei, e por que a complexidade significa vulnerabilidade e fragilidade. E esta é a história que contamos na grande história. Mas para fazê-lo, você deve fazer algo que, talvez, à primeira vista, parece completamente impossível. Você deve investigar a história completa do universo. Então, vamos fazer isto. (Risos) Vamos comecar recuando na linha do tempo 13.7 bilhões de anos até o começo do tempo...
À nossa volta não há nada. Não há nem mesmo tempo ou espaço. Imaginem a coisa mais escura e vazia que conseguirem elevem isto à um zetalhão de vezes e é aí que nós estamos. E depois, de repente, BANG! Um universo aparece, um universo inteiro. E cruzamos o nosso primeiro limiar. O universo é pequeno; ele é menor do que um átomo. Ele é inacreditavelmente quente. Ele contém tudo o que está no universo atual, então, vocês podem imaginar, está arrebentando, e se expandindo a uma incrível velocidade. E, inicialmente, ele é apenas um borrão, mas muito rapidamente coisas distintas começam a surgir naquele borrão. Dentro do primeiro segundo, a própria energia separa-se em forças distintas incluindo o eletromagnetismo e a gravidade. E a energia faz outra coisa realmente mágica, ela se solidifica para formar a matéria -- quarks que criarão os prótons e léptons que incluem os elétrons. E tudo isso acontece no primeiro segundo.
Agora, avancemos 380.000 anos. Isso é o dobro do tempo de existência dos humanos neste planeta. E agora, átomos simples aparecem de hidrogênio e hélio. Agora, eu quero fazer uma breve pausa, nos 380.000 anos após a origem do universo, pois, na verdade, sabemos um bocado sobre o universo neste estágio. Sabemos, acima de tudo, que ele era extremamente simples. Era formado por enormes nuvens de átomos de hidrogênio e hélio, sem nenhuma estrutura. Eles eram, na verdade, um tipo de mistura cósmica. Mas isso não é totalmente verdadeiro. Estudos recentes de satélites, como o WMAP (Wilkinson Microwave Anisotropy Probe) mostraram que, na verdade, existiam pequenas diferenças naquele contexto. O que vocês vêem aqui, as áreas azuis são cerca de um milésimo de grau mais frias do que as áreas vermelhas. Estas são diferenças mínimas, mas eram suficientes para que o universo avançasse para o estágio seguinte de criação de complexidade.
E é assim que funciona. A gravidade é mais poderosa onde existem mais coisas. Então, onde você tem áreas um pouco mais densas, a gravidade começa a compactar as nuvens de átomos de hidrogênio e hélio. Assim, podemos imaginar o universo primevo separando-se em bilhões de nuvens. E cada nuvem é compactada, a gravidade torna-se mais poderosa à medida que a densidade aumenta, a temperatura começa a subir no centro de cada nuvem, e depois, no centro de cada nuvem, a temperatura ultrapassa o limiar de temperatura de 10 milhões de graus, os prótons começam a se fundir, há uma enorme liberação de energia, e, BANG! Temos as nossas primeiras estrelas. Cerca de 200 milhões de anos depois do Big Bang, estrelas começam a aparecer por todo o universo, bilhões delas. E o universo é agora significativamente mais interessante e mais complexo.
As estrelas criarão "Condições Cachinhos Dourados" para ultrapassar dois outros limiares. Quando estrelas muito grandes morrem, elas criam temperaturas tão altas que os prótons começam a se fundir em todo o tipo de combinações exóticas, para formar todos os elementos da tabela periódica. Se, como eu, vocês usam uma aliança de ouro, ela foi forjada na explosão de uma supernova. Agora então, o universo é quimicamente mais complexo. E, em um universo quimicamente mais complexo, é possível fazer mais coisas. E o que começa a acontecer é que, em torno de jovens sóis, de jovens estrelas, todos esses elementos se combinam, eles gravitam ao redor, a energia da estrela os move ao redor, eles formam partículas, eles formam flocos de neve, eles formam pequenos grãos de poeira, eles formam rochas, eles formam asteróides e eventualmente eles formam planetas e luas. E foi assim que o nosso sistema solar foi formado, quatro bilhões e meio de anos atrás. Planetas rochosos como a nossa Terra são significativamente mais complexos do que estrelas, pois eles contêm uma diversidade muito maior de materiais. Portanto, cruzamos um quarto limiar de complexidade.
Agora, o avanço torna-se mais difícil. O estágio seguinte introduz entidades que são significativamente mais frágeis, significativamente mais vulneráveis, mas elas são também muito mais criativas e muito mais capazes de gerar maior complexidade. Eu me refiro, é claro, aos organismos vivos. Organismos vivos são gerados pela química. Somos grandes pacotes de produtos químicos. Tal química é governada pela força eletromagnética. Que opera em escalas menores do que a gravidade, o que explica porque vocês e eu somos menores do que as estrelas e os planetas. Agora, quais são as condições ideais para a química? Quais são as "Condições Cachinhos Dourados"? Bem, primeiro você precisa de energia, mas não muita. No centro de uma estrela, há energia demais, tanta energia que, quaisquer átomos que se combinem, serão separados de novo. Mas não energia de menos. No espaço intergalático, há tão pouca energia que os átomos não conseguem se combinar. O que vocês querem é apenas a quantidade certa, e nos planetas, por outro lado, há a quantidade certa, pois eles estão próximos das estrelas, mas não tão próximos.
Você também precisa de uma grande diversidade de elementos químicos, e você precisa de um líquido, tal como a água, Por que? Bem, nos gases, os átomos passam uns pelos outros tão rapidamente que eles não conseguem pegar uma carona. Nos sólidos, os átomos estão tão juntos, que não podem se movimentar. Nos líquidos, eles podem viajar e se abraçar e se ligarem para formar moléculas. Pois bem, onde vocês encontram tais "Condições Cachinhos Dourados"? Bem, planetas são ótimos, e nossa primitiva Terra era quase perfeita. Ela estava simplesmente na distância certa de sua estrela para conter enormes oceanos de água livre. E na profundeza destes oceanos junto às fendas da crosta terrestre, você tinha calor jorrando do interior da Terra, e você tinha uma grande diversidade de elementos. Então, nestas produndas aberturas oceânicas, uma fantástica química começou a acontecer, e os átomos combinaram-se em todos o tipos de exóticos arranjos.
Mas, evidentemente, a vida é mais do que uma mera química exótica. Como é que vocês estabilizam essas enormes moléculas que parecem ser viáveis? Bem, é aqui que a vida introduz um truque inteiramente novo. Você não estabiliza o indivíduo; você estabiliza o molde, a coisa que carreia a informação, e você permite que o molde copie a si mesmo. E o DNA, é claro, é a bela molécula que contém aquela informação. Vocês se familiarizarão com a dupla hélice do DNA. Cada degrau contém informação. Assim, o DNA contém informação sobre como fazer organismos vivos. E o DNA também copia a si mesmo. Então, ele copia a si mesmo e espalha os moldes pelo oceano. Assim, a informação se propaga. Notem que a informação passou a fazer parte da nossa história. A real beleza do DNA, todavia, está em suas imperfeições. À medida em que ele se copia, uma vez em cada bilhão de degraus, tende a ocorrer um erro. E o que isto significa é que aquele DNA está, de fato, aprendendo. Ele está acumulando novas formas de fazer organismos vivos pois alguns daqueles erros funcionam. Então, o DNA está aprendendo e está gerando maior diversidade e maior complexidade. E nós podemos ver isto acontecendo ao longo dos últimos 4 bilhões de anos.
Durante a maior parte do tempo de vida na Terra, os organismos vivos eram relativamente simples -- células isoladas. Mas tinham grande diversidade, e, em seus interiores, grande complexidade. Depois, a partir de 600 a 800 milhões de anos atrás, organismos multicelulares aparecem. Você tem fungos, você tem peixes, você tem plantas, você tem anfíbios, você tem répteis, e depois, é claro, você tem os dinossauros. E ocasionalmente acontecem disastres. Há 65 milhões de anos, um asteróide 'pousou' na Terra perto da península de Yucatán, criando condições semelhantes àquelas de uma guerra nuclear e os dinossauros foram aniquilados. Péssima notícia para os dinossauros. Mas excelente notícia para os nossos ancestrais mamíferos que floresceram nos nichos vazios, deixados pelos dinossauros. E nós, seres humanos somos parte daquele impluso criativo evolutivo que começou 65 milhões de anos atrás com a 'aterrissagem' de um asteróide.
Humanos aparecem por volta de 200.000 anos atrás. E eu acredito que nós somos um limiar nesta grandiosa história. Deixem-me explicar o porquê. Vimos que o DNA aprende, num certo sentido, ele acumula informação. Mas ele é muito lento. O DNA acumula informação através de erros aleatórios, alguns dos quais, acabam dando certo. Mas o DNA, na realidade, gerou um modo mais rápido de aprender; ele produziu organismos vivos com cérebros, e esses organismos podem aprender em tempo real. Eles acumulam informação, eles aprendem. A coisa triste é que, quando eles morrem, a informação morre com eles. Agora, o que faz os humanos diferentes é a linguagem humana. Fomos presenteados com uma linguagem, com um sistema de comunicação, tão poderoso e preciso que nós podemos compartilhar aquilo que aprendemos com tamanha precisão que isto pode ser acumulado na memória coletiva. E isso significa que a informação pode perdurar além dos indivíduos que a aprenderam, e pode acumular-se de geração em geração. E é por isso que, como espécie, somos tão criativos e tão poderosos, e é por isso que temos uma história. Parecemos ser a única espécie, em 4 bilhões de anos, a ter este dom.
Eu chamo esta habilidade de aprendizado coletivo. É o que nos faz diferentes. Podemos ver isto funcionando desde os primórdios da história humana. Nós evoluímos, como espécie, nas áreas de savana da África, mas depois, você vê os humanos migrando para novos ambientes -- para terras desertas, para florestas, para a tundra glacial da Sibéria -- um duro, duro ambiente -- para as Américas, para a Australásia. Cada migração envolveu aprendizagem -- aprendendo novas maneiras de explorar o ambiente, novas maneiras de lidar com seus arredores.
Depois, há 10.000 anos, explorando uma súbita mudança climática global com o fim da última era glacial, os humanos aprenderam a cultivar. Cultivar era uma bonança de energia. E explorando aquela energia, as populações humanas se multiplicaram. As sociedades humanas tornaram-se maiores, mais densas, mais interligadas. E, então, desde há cerca de 500 anos, os humanos começaram a unir-se globalmente através de navios, através de trens, através do telégrafo, através da internet, até agora, quando parecemos formar um único cérebro global com quase 7 bilhões de indivíduos. E esse cérebro está aprendendo à velocidades vertiginosas. E nos últimos 200 anos, algo mais aconteceu: tropeçamos em outra bonança energética, nos combustíveis fósseis. Assim, combustíveis fósseis e aprendizado coletivo reunidos explicam a desconcertante complexidade que vemos à nossa volta.
Então, aqui estamos de volta ao centro de convenções. Estivemos eu uma jornada, uma jornada retrospectiva, de 13.7 bilhões de anos. Eu espero que vocês concordem que esta é uma história poderosa. E é uma história na qual os humanos desempenham um assombroso e criativo papel. Mas ela contém também advertências. O aprendizado coletivo é uma força muito, muito poderosa, e não está claro que nós, humanos, estamos com ela sob controle. Recordo muito vividamente de quando era uma criança, na Inglaterra, vivendo sob a Crise dos Mísseis Cubanos. Por alguns dias, a biosfera inteira parecia estar à beira da destruição. E as mesmas armas ainda estão aqui, e ainda estão armadas. Se evitarmos essa armadilha, outras nos aguardam. Estamos queimando combustíveis fósseis numa taxa tal que parecemos estar minando as "Condições Cachinhos Dourados" que possibilitaram às civilizações humanas florescerem nos últimos 10.000 anos. Portanto, o que a grande história pode fazer é mostrar-nos a natureza de nossa complexidade e fragilidade e os perigos que nos afrontam, mas ela pode nos mostrar também nosso poder com o aprendizado coletivo.
E agora, finalmente, isto é o que eu quero. Eu quero que o meu neto Daniel e seus amigos e sua geração, mundo afora, conheçam a história da grande história, e conheçam-na tão bem que compreendam tanto os desafios que nos afrontam quanto as oportunidades que nos surgem. E é por isso que um grupo, entre nós, está criando um curso gratuito on-line sobre a grande história para alunos do ensino médio de todo o mundo. Acreditamos que a grande história será uma ferramenta intelectual vital para eles, à medida em que o Daniel e sua geração enfrentarem os enormes desafios e também as enormes oportunidades que os aguardam neste momento limiar da história de nosso belo planeta.
Eu agradeço pela atenção de vocês.
(Aplausos)
Link: Big History Project (em inglês)
[Via BBA]
Primeiro, um vídeo. Sim, isto é um ovo mexido. Mas, à medida que vocês olham para ele, Eu acho que vocês começarão a sentir um pequeno estranhamento.
Porque vocês talvez notem que, o que está realmente acontecendo, é que o ovo está se recompondo. E verão agora que a gema e a clara se separaram. E agora, eles retornarão para dentro do ovo. E todos nós sabemos, do fundo de nossos corações, que este não é o modo como o universo funciona. Um ovo mexido é uma desordem, uma saborosa desordem, mas uma desordem. Um ovo é uma coisa bela e sofisticada que pode criar coisas ainda mais sofisticadas, tais como galinhas. E nós sabemos, do fundo de nossos corações, que o universo não vai da desordem para a complexidade. Na verdade, este instinto visceral é representado em uma das mais fundamentais leis da física, a 2ª Lei da Termodinâmica, ou a Lei da Entropia. O que ela diz basicamente é que a tendência geral do universo é se mover da ordem e estrutura para a falta de ordem, falta de estrutura -- na verdade, para a desordem. E é por isso que aquele vídeo nos parece um pouco estranho.
E contudo, olhem ao nosso redor. O que vemos ao nosso redor é uma assombrosa complexidade. Eric Beinhocker estima que em Nova Iorque, isolada, existam cerca de 10 bilhões bens, ou diferentes commodities, sendo negociados. Isto é centenas de vezes o número de espécies que existem na Terra. E eles são negociados por uma espécie com quase sete bilhões de indivíduos que são ligados pelo comércio, viagens e internet a um sistema global de estupenda complexidade.
Então, eis aqui uma quebra-cabeça: Em um universo governado pela 2ª Lei da Termodinâmica, como é possível gerar o tipo de complexidade que descrevi -- o tipo de complexidade representada por vocês e por mim e por este centro de convenções? Bem, a resposta parece ser que o universo pode criar complexidade, mas com grande dificuldade. Em bolsões, surge aquilo que meu colega, Fred Spier, chama de "Condições Cachinhos Dourados" (e os três ursos) não tão quente, não tão frio; simplesmente o tanto exato para a criação da complexidade. E coisas ligeiramente mais complexas surgem. E onde você tem coisas ligeiramente mais complexas, você pode obter coisas um pouco mais complexas. E, deste modo, a complexidade é gerada passo a passo. Cada passo é mágico pois ele cria a impressão de algo inteiramente novo aparentemente vindo do nada do universo. Nós chamamos estes momentos, na grande história universal, de momentos limiares. E a cada limiar, o avanço torna-se mais difícil. As coisas complexas tornam-se mais frágeis, mais vulneráveis, as condições "Cachinhos Dourados" ficam mais estritas e é mais difícil criar a complexidade.
Agora, nós, como criaturas extremamente complexas, necessitamos desesperadamente conhecer esta história de como o universo gera a complexidade, a despeito da 2ª Lei, e por que a complexidade significa vulnerabilidade e fragilidade. E esta é a história que contamos na grande história. Mas para fazê-lo, você deve fazer algo que, talvez, à primeira vista, parece completamente impossível. Você deve investigar a história completa do universo. Então, vamos fazer isto. (Risos) Vamos comecar recuando na linha do tempo 13.7 bilhões de anos até o começo do tempo...
À nossa volta não há nada. Não há nem mesmo tempo ou espaço. Imaginem a coisa mais escura e vazia que conseguirem elevem isto à um zetalhão de vezes e é aí que nós estamos. E depois, de repente, BANG! Um universo aparece, um universo inteiro. E cruzamos o nosso primeiro limiar. O universo é pequeno; ele é menor do que um átomo. Ele é inacreditavelmente quente. Ele contém tudo o que está no universo atual, então, vocês podem imaginar, está arrebentando, e se expandindo a uma incrível velocidade. E, inicialmente, ele é apenas um borrão, mas muito rapidamente coisas distintas começam a surgir naquele borrão. Dentro do primeiro segundo, a própria energia separa-se em forças distintas incluindo o eletromagnetismo e a gravidade. E a energia faz outra coisa realmente mágica, ela se solidifica para formar a matéria -- quarks que criarão os prótons e léptons que incluem os elétrons. E tudo isso acontece no primeiro segundo.
Agora, avancemos 380.000 anos. Isso é o dobro do tempo de existência dos humanos neste planeta. E agora, átomos simples aparecem de hidrogênio e hélio. Agora, eu quero fazer uma breve pausa, nos 380.000 anos após a origem do universo, pois, na verdade, sabemos um bocado sobre o universo neste estágio. Sabemos, acima de tudo, que ele era extremamente simples. Era formado por enormes nuvens de átomos de hidrogênio e hélio, sem nenhuma estrutura. Eles eram, na verdade, um tipo de mistura cósmica. Mas isso não é totalmente verdadeiro. Estudos recentes de satélites, como o WMAP (Wilkinson Microwave Anisotropy Probe) mostraram que, na verdade, existiam pequenas diferenças naquele contexto. O que vocês vêem aqui, as áreas azuis são cerca de um milésimo de grau mais frias do que as áreas vermelhas. Estas são diferenças mínimas, mas eram suficientes para que o universo avançasse para o estágio seguinte de criação de complexidade.
E é assim que funciona. A gravidade é mais poderosa onde existem mais coisas. Então, onde você tem áreas um pouco mais densas, a gravidade começa a compactar as nuvens de átomos de hidrogênio e hélio. Assim, podemos imaginar o universo primevo separando-se em bilhões de nuvens. E cada nuvem é compactada, a gravidade torna-se mais poderosa à medida que a densidade aumenta, a temperatura começa a subir no centro de cada nuvem, e depois, no centro de cada nuvem, a temperatura ultrapassa o limiar de temperatura de 10 milhões de graus, os prótons começam a se fundir, há uma enorme liberação de energia, e, BANG! Temos as nossas primeiras estrelas. Cerca de 200 milhões de anos depois do Big Bang, estrelas começam a aparecer por todo o universo, bilhões delas. E o universo é agora significativamente mais interessante e mais complexo.
As estrelas criarão "Condições Cachinhos Dourados" para ultrapassar dois outros limiares. Quando estrelas muito grandes morrem, elas criam temperaturas tão altas que os prótons começam a se fundir em todo o tipo de combinações exóticas, para formar todos os elementos da tabela periódica. Se, como eu, vocês usam uma aliança de ouro, ela foi forjada na explosão de uma supernova. Agora então, o universo é quimicamente mais complexo. E, em um universo quimicamente mais complexo, é possível fazer mais coisas. E o que começa a acontecer é que, em torno de jovens sóis, de jovens estrelas, todos esses elementos se combinam, eles gravitam ao redor, a energia da estrela os move ao redor, eles formam partículas, eles formam flocos de neve, eles formam pequenos grãos de poeira, eles formam rochas, eles formam asteróides e eventualmente eles formam planetas e luas. E foi assim que o nosso sistema solar foi formado, quatro bilhões e meio de anos atrás. Planetas rochosos como a nossa Terra são significativamente mais complexos do que estrelas, pois eles contêm uma diversidade muito maior de materiais. Portanto, cruzamos um quarto limiar de complexidade.
Agora, o avanço torna-se mais difícil. O estágio seguinte introduz entidades que são significativamente mais frágeis, significativamente mais vulneráveis, mas elas são também muito mais criativas e muito mais capazes de gerar maior complexidade. Eu me refiro, é claro, aos organismos vivos. Organismos vivos são gerados pela química. Somos grandes pacotes de produtos químicos. Tal química é governada pela força eletromagnética. Que opera em escalas menores do que a gravidade, o que explica porque vocês e eu somos menores do que as estrelas e os planetas. Agora, quais são as condições ideais para a química? Quais são as "Condições Cachinhos Dourados"? Bem, primeiro você precisa de energia, mas não muita. No centro de uma estrela, há energia demais, tanta energia que, quaisquer átomos que se combinem, serão separados de novo. Mas não energia de menos. No espaço intergalático, há tão pouca energia que os átomos não conseguem se combinar. O que vocês querem é apenas a quantidade certa, e nos planetas, por outro lado, há a quantidade certa, pois eles estão próximos das estrelas, mas não tão próximos.
Você também precisa de uma grande diversidade de elementos químicos, e você precisa de um líquido, tal como a água, Por que? Bem, nos gases, os átomos passam uns pelos outros tão rapidamente que eles não conseguem pegar uma carona. Nos sólidos, os átomos estão tão juntos, que não podem se movimentar. Nos líquidos, eles podem viajar e se abraçar e se ligarem para formar moléculas. Pois bem, onde vocês encontram tais "Condições Cachinhos Dourados"? Bem, planetas são ótimos, e nossa primitiva Terra era quase perfeita. Ela estava simplesmente na distância certa de sua estrela para conter enormes oceanos de água livre. E na profundeza destes oceanos junto às fendas da crosta terrestre, você tinha calor jorrando do interior da Terra, e você tinha uma grande diversidade de elementos. Então, nestas produndas aberturas oceânicas, uma fantástica química começou a acontecer, e os átomos combinaram-se em todos o tipos de exóticos arranjos.
Mas, evidentemente, a vida é mais do que uma mera química exótica. Como é que vocês estabilizam essas enormes moléculas que parecem ser viáveis? Bem, é aqui que a vida introduz um truque inteiramente novo. Você não estabiliza o indivíduo; você estabiliza o molde, a coisa que carreia a informação, e você permite que o molde copie a si mesmo. E o DNA, é claro, é a bela molécula que contém aquela informação. Vocês se familiarizarão com a dupla hélice do DNA. Cada degrau contém informação. Assim, o DNA contém informação sobre como fazer organismos vivos. E o DNA também copia a si mesmo. Então, ele copia a si mesmo e espalha os moldes pelo oceano. Assim, a informação se propaga. Notem que a informação passou a fazer parte da nossa história. A real beleza do DNA, todavia, está em suas imperfeições. À medida em que ele se copia, uma vez em cada bilhão de degraus, tende a ocorrer um erro. E o que isto significa é que aquele DNA está, de fato, aprendendo. Ele está acumulando novas formas de fazer organismos vivos pois alguns daqueles erros funcionam. Então, o DNA está aprendendo e está gerando maior diversidade e maior complexidade. E nós podemos ver isto acontecendo ao longo dos últimos 4 bilhões de anos.
Durante a maior parte do tempo de vida na Terra, os organismos vivos eram relativamente simples -- células isoladas. Mas tinham grande diversidade, e, em seus interiores, grande complexidade. Depois, a partir de 600 a 800 milhões de anos atrás, organismos multicelulares aparecem. Você tem fungos, você tem peixes, você tem plantas, você tem anfíbios, você tem répteis, e depois, é claro, você tem os dinossauros. E ocasionalmente acontecem disastres. Há 65 milhões de anos, um asteróide 'pousou' na Terra perto da península de Yucatán, criando condições semelhantes àquelas de uma guerra nuclear e os dinossauros foram aniquilados. Péssima notícia para os dinossauros. Mas excelente notícia para os nossos ancestrais mamíferos que floresceram nos nichos vazios, deixados pelos dinossauros. E nós, seres humanos somos parte daquele impluso criativo evolutivo que começou 65 milhões de anos atrás com a 'aterrissagem' de um asteróide.
Humanos aparecem por volta de 200.000 anos atrás. E eu acredito que nós somos um limiar nesta grandiosa história. Deixem-me explicar o porquê. Vimos que o DNA aprende, num certo sentido, ele acumula informação. Mas ele é muito lento. O DNA acumula informação através de erros aleatórios, alguns dos quais, acabam dando certo. Mas o DNA, na realidade, gerou um modo mais rápido de aprender; ele produziu organismos vivos com cérebros, e esses organismos podem aprender em tempo real. Eles acumulam informação, eles aprendem. A coisa triste é que, quando eles morrem, a informação morre com eles. Agora, o que faz os humanos diferentes é a linguagem humana. Fomos presenteados com uma linguagem, com um sistema de comunicação, tão poderoso e preciso que nós podemos compartilhar aquilo que aprendemos com tamanha precisão que isto pode ser acumulado na memória coletiva. E isso significa que a informação pode perdurar além dos indivíduos que a aprenderam, e pode acumular-se de geração em geração. E é por isso que, como espécie, somos tão criativos e tão poderosos, e é por isso que temos uma história. Parecemos ser a única espécie, em 4 bilhões de anos, a ter este dom.
Eu chamo esta habilidade de aprendizado coletivo. É o que nos faz diferentes. Podemos ver isto funcionando desde os primórdios da história humana. Nós evoluímos, como espécie, nas áreas de savana da África, mas depois, você vê os humanos migrando para novos ambientes -- para terras desertas, para florestas, para a tundra glacial da Sibéria -- um duro, duro ambiente -- para as Américas, para a Australásia. Cada migração envolveu aprendizagem -- aprendendo novas maneiras de explorar o ambiente, novas maneiras de lidar com seus arredores.
Depois, há 10.000 anos, explorando uma súbita mudança climática global com o fim da última era glacial, os humanos aprenderam a cultivar. Cultivar era uma bonança de energia. E explorando aquela energia, as populações humanas se multiplicaram. As sociedades humanas tornaram-se maiores, mais densas, mais interligadas. E, então, desde há cerca de 500 anos, os humanos começaram a unir-se globalmente através de navios, através de trens, através do telégrafo, através da internet, até agora, quando parecemos formar um único cérebro global com quase 7 bilhões de indivíduos. E esse cérebro está aprendendo à velocidades vertiginosas. E nos últimos 200 anos, algo mais aconteceu: tropeçamos em outra bonança energética, nos combustíveis fósseis. Assim, combustíveis fósseis e aprendizado coletivo reunidos explicam a desconcertante complexidade que vemos à nossa volta.
Então, aqui estamos de volta ao centro de convenções. Estivemos eu uma jornada, uma jornada retrospectiva, de 13.7 bilhões de anos. Eu espero que vocês concordem que esta é uma história poderosa. E é uma história na qual os humanos desempenham um assombroso e criativo papel. Mas ela contém também advertências. O aprendizado coletivo é uma força muito, muito poderosa, e não está claro que nós, humanos, estamos com ela sob controle. Recordo muito vividamente de quando era uma criança, na Inglaterra, vivendo sob a Crise dos Mísseis Cubanos. Por alguns dias, a biosfera inteira parecia estar à beira da destruição. E as mesmas armas ainda estão aqui, e ainda estão armadas. Se evitarmos essa armadilha, outras nos aguardam. Estamos queimando combustíveis fósseis numa taxa tal que parecemos estar minando as "Condições Cachinhos Dourados" que possibilitaram às civilizações humanas florescerem nos últimos 10.000 anos. Portanto, o que a grande história pode fazer é mostrar-nos a natureza de nossa complexidade e fragilidade e os perigos que nos afrontam, mas ela pode nos mostrar também nosso poder com o aprendizado coletivo.
E agora, finalmente, isto é o que eu quero. Eu quero que o meu neto Daniel e seus amigos e sua geração, mundo afora, conheçam a história da grande história, e conheçam-na tão bem que compreendam tanto os desafios que nos afrontam quanto as oportunidades que nos surgem. E é por isso que um grupo, entre nós, está criando um curso gratuito on-line sobre a grande história para alunos do ensino médio de todo o mundo. Acreditamos que a grande história será uma ferramenta intelectual vital para eles, à medida em que o Daniel e sua geração enfrentarem os enormes desafios e também as enormes oportunidades que os aguardam neste momento limiar da história de nosso belo planeta.
Eu agradeço pela atenção de vocês.
(Aplausos)
Link: Big History Project (em inglês)
[Via BBA]
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