Pesquisadora e professora do ensino médio Tatiana Tavares da Silva desenvolveu, em sua dissertação de mestrado, uma sequência didática com b...
Pesquisadora e professora do ensino médio Tatiana Tavares da Silva desenvolveu, em sua dissertação de mestrado, uma sequência didática com base em alguns experimentos que visaram investigar a dispersão de sementes, realizados pelo cientista Charles Darwin.
A pesquisa, apresentada junto ao Programa de Pós-Graduação Interunidades em Ensino de Ciências da USP, vai ajudar os professores do ensino médio a abordarem a Teoria da Evolução em sala de aula.
Replicação do experimento de dispersão de sementes feito por Charles Darwin
“Darwin observou que algumas espécies de plantas eram encontradas em locais do planeta muito diferentes e distantes entre si. Ele se perguntou como isso poderia ocorrer e levantou algumas hipóteses”, explica Tatiana. “A primeira era a das origens múltiplas dos seres vivos: espécies de plantas teriam surgido, espontaneamente, em locais diferentes e distantes entre si, simultaneamente. A outra hipótese, que Darwin acreditou, era a de uma origem única dos seres vivos e uma posterior dispersão das sementes por meio das águas do mar”, conta.
Para verificar essas hipóteses, Darwin realizou alguns experimentos. Ele observou a flutuação de algumas estruturas vegetais e também que algumas plantas germinaram após a semente ficar alguns dias na água salgada. Foi assim que o cientista encontrou algumas evidências plausíveis sobre a hipótese da origem única seguida da dispersão pelo do mar.
Para a realização dos experimentos e criação da sequência didática, Tatiana aprofundou alguns itens de uma proposta didática da TV Escola (televisão pública do Ministério da Educação) e leu A Origem das Espécies, de Darwin, principalmente o capítulo 12 que aborda a distribuição geográfica. A pesquisadora também traduziu o artigo “A água do mar mata sementes?”, de Darwin, para repassá-lo aos alunos; e leu e selecionou algumas correspondências do cientista com outros naturalistas da época.
A aplicação foi realizada na Escola da Vila, na zona oeste de São Paulo, pela professora e pesquisadora Luciana Valéria Nogueira que, assim como Tatiana, é integrante do “Grupo de Pesquisa em História da Biologia e Ensino”, coordenados pela docente Maria Elice Brzezinski Prestes, do IB, e orientadora da dissertação de mestrado.
Sequência didática
Na proposta de sequência didática, a professora Luciana Valéria Nogueira apresentou aos alunos uma biografia de Darwin e o contexto histórico, científico, social e cultural do século 19. Eles receberam também dois textos: “As cinco teorias da evolução de Darwin, segundo Mayr”, de autoria de Tatiana sobre as ideias de Ernst Mayr, biólogo evolucionista do século 20; e “As cinco teorias de Darwin”, do médico Dráuzio Varella, com o objetivo de lê-los e compará-los criticamente. “O primeiro é mais detalhado e apresenta mais cuidados técnicos em relação à Teoria da Evolução. Já o segundo, de Varella, tem alguns erros conceituais.”
Após a contextualização histórica e teórica, a professora apresentou o problema que Darwin precisava resolver e pediu que os alunos criassem hipóteses. Foi exibido o documentário “Darwin’s Garden”, episódio “Dangerous ideas”, produzido pela BBC, e que reproduz o experimento de dispersão de sementes.
Após a leitura dos textos, elaboração e discussão de hipóteses sobre o problema de Darwin, e de assistirem ao documentário, os alunos foram divididos em equipes e passaram a trabalhar com os experimentos práticos: todos testaram a flutuabilidade das estruturas vegetais; alguns grupos deixaram as sementes em água salgada; e os outros plantaram as sementes que ficaram previamente em água salgada. “No final, dos seis tipos de semente, duas germinaram”, informa. Em seguida, os alunos desenvolveram três produções textuais.
Resultados
Entre outros resultados, Tatiana cita que a sequência didática foi útil para os alunos conhecerem o lado experimental de Darwin: eles gostaram das atividades experimentais associadas às aulas teóricas e reconheceram a replicação dos experimentos como uma atividade diferente daquela que estavam habituados. Segundo a pesquisadora, a abordagem histórica é motivadora e facilitadora da aprendizagem.
Ao trabalhar as hipóteses de Darwin, constatou-se uma grande criatividade. “Muitos alunos sugeriram que as aves devem ter tido algum papel para a dispersão das sementes. Isso é muito próximo das ideias propostas por Darwin e de outros naturalistas”, comenta. Para ela, isso motivou o senso de observação e de aprendizado dos passos de uma pesquisa científica.
A sequência didática também ajudou os alunos a desmitificarem a ideia de Charles Darwin como um “gênio” que desenvolveu a Teoria da Evolução ao acaso: “Na verdade, o cientista realizou um grande e longo trabalho de observação, de estudos e de experimentos”, finaliza.
Nota do editor do Blog Brasil Acadêmico: O título "O jeito certo de abordar Darwin em sala de aula" é uma provocação, não queremos dizer com isso que haja somente "uma" maneira correta de se abordar o assunto em sala de aula.
Mas aprovamos esse formato "mão na massa" onde o interesse científico é estimulado com a prática em um contexto histórico. E não apenas com a teoria pura.
Imagens cedidas pela pesquisadora
Mais informações no email: tati.ts@gmail.com, com Tatiana Tavares da Silva
Artigo publicado pela Agência USP com o título "Sequência didática ajuda na abordagem da Teoria da Evolução".
[Via BBA]
A pesquisa, apresentada junto ao Programa de Pós-Graduação Interunidades em Ensino de Ciências da USP, vai ajudar os professores do ensino médio a abordarem a Teoria da Evolução em sala de aula.
Replicação do experimento de dispersão de sementes feito por Charles Darwin
“Darwin observou que algumas espécies de plantas eram encontradas em locais do planeta muito diferentes e distantes entre si. Ele se perguntou como isso poderia ocorrer e levantou algumas hipóteses”, explica Tatiana. “A primeira era a das origens múltiplas dos seres vivos: espécies de plantas teriam surgido, espontaneamente, em locais diferentes e distantes entre si, simultaneamente. A outra hipótese, que Darwin acreditou, era a de uma origem única dos seres vivos e uma posterior dispersão das sementes por meio das águas do mar”, conta.
Replicação do experimento de dispersão de sementes feito por Charles Darwin |
Para a realização dos experimentos e criação da sequência didática, Tatiana aprofundou alguns itens de uma proposta didática da TV Escola (televisão pública do Ministério da Educação) e leu A Origem das Espécies, de Darwin, principalmente o capítulo 12 que aborda a distribuição geográfica. A pesquisadora também traduziu o artigo “A água do mar mata sementes?”, de Darwin, para repassá-lo aos alunos; e leu e selecionou algumas correspondências do cientista com outros naturalistas da época.
A aplicação foi realizada na Escola da Vila, na zona oeste de São Paulo, pela professora e pesquisadora Luciana Valéria Nogueira que, assim como Tatiana, é integrante do “Grupo de Pesquisa em História da Biologia e Ensino”, coordenados pela docente Maria Elice Brzezinski Prestes, do IB, e orientadora da dissertação de mestrado.
Sequência didática foi aplicada na Escola da Vila, zona oeste de São Paulo, com alunos do ensino médio |
Na proposta de sequência didática, a professora Luciana Valéria Nogueira apresentou aos alunos uma biografia de Darwin e o contexto histórico, científico, social e cultural do século 19. Eles receberam também dois textos: “As cinco teorias da evolução de Darwin, segundo Mayr”, de autoria de Tatiana sobre as ideias de Ernst Mayr, biólogo evolucionista do século 20; e “As cinco teorias de Darwin”, do médico Dráuzio Varella, com o objetivo de lê-los e compará-los criticamente. “O primeiro é mais detalhado e apresenta mais cuidados técnicos em relação à Teoria da Evolução. Já o segundo, de Varella, tem alguns erros conceituais.”
Após a contextualização histórica e teórica, a professora apresentou o problema que Darwin precisava resolver e pediu que os alunos criassem hipóteses. Foi exibido o documentário “Darwin’s Garden”, episódio “Dangerous ideas”, produzido pela BBC, e que reproduz o experimento de dispersão de sementes.
Após a leitura dos textos, elaboração e discussão de hipóteses sobre o problema de Darwin, e de assistirem ao documentário, os alunos foram divididos em equipes e passaram a trabalhar com os experimentos práticos: todos testaram a flutuabilidade das estruturas vegetais; alguns grupos deixaram as sementes em água salgada; e os outros plantaram as sementes que ficaram previamente em água salgada. “No final, dos seis tipos de semente, duas germinaram”, informa. Em seguida, os alunos desenvolveram três produções textuais.
Alunos puderam replicar, em sala de aula, os experimentos realizados por Charles Darwin. |
Entre outros resultados, Tatiana cita que a sequência didática foi útil para os alunos conhecerem o lado experimental de Darwin: eles gostaram das atividades experimentais associadas às aulas teóricas e reconheceram a replicação dos experimentos como uma atividade diferente daquela que estavam habituados. Segundo a pesquisadora, a abordagem histórica é motivadora e facilitadora da aprendizagem.
Ao trabalhar as hipóteses de Darwin, constatou-se uma grande criatividade. “Muitos alunos sugeriram que as aves devem ter tido algum papel para a dispersão das sementes. Isso é muito próximo das ideias propostas por Darwin e de outros naturalistas”, comenta. Para ela, isso motivou o senso de observação e de aprendizado dos passos de uma pesquisa científica.
A sequência didática também ajudou os alunos a desmitificarem a ideia de Charles Darwin como um “gênio” que desenvolveu a Teoria da Evolução ao acaso: “Na verdade, o cientista realizou um grande e longo trabalho de observação, de estudos e de experimentos”, finaliza.
Nota do editor do Blog Brasil Acadêmico: O título "O jeito certo de abordar Darwin em sala de aula" é uma provocação, não queremos dizer com isso que haja somente "uma" maneira correta de se abordar o assunto em sala de aula.
Mas aprovamos esse formato "mão na massa" onde o interesse científico é estimulado com a prática em um contexto histórico. E não apenas com a teoria pura.
Imagens cedidas pela pesquisadora
Mais informações no email: tati.ts@gmail.com, com Tatiana Tavares da Silva
Artigo publicado pela Agência USP com o título "Sequência didática ajuda na abordagem da Teoria da Evolução".
[Via BBA]
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