O biólogo Sandro José de Souza fala um pouco sobre como está a pesquisa do genoma no Brasil e como isso pode afetar nossas vidas.
O biólogo Sandro José de Souza fala um pouco sobre como está a pesquisa do genoma no Brasil e como isso pode afetar nossas vidas.
Eu vou falar hoje sobre um assunto que está mudando a vida de vocês. E nos próximos anos vai continuar a mudar de forma ainda mais dramática.
Vou falar sobre biotecnologia, vou falar sobre genoma, vou falar sobre bioinformática. Bem, vamos começar com uma definição: O que é um genoma? Eu gosto dessa aí:
E quando a gente fala "genoma", a gente está falando de DNA. E o DNA é uma das poucas coisas que é comum a todas as espécies biológicas. Falou em genoma, falou em DNA. Vamos fazer uma analogia. Vamos pensar que o corpo físico, o material físico, a estrutura física, o corpo de um organismo é um hardware. O genoma seria um software. E como todo software, o genoma é escrito em uma linguagem, e essa linguagem tem 4 letras.
A, C, T e G.
Está aqui, um pedaço do genoma, que acontece de ser o meu genoma. Mas é um pedacinho muito pequenino do meu genoma. O nosso genoma... todos aqui tem um genoma
que tem mais ou menos três bilhões de letras. Graças a esses três indivíduos aqui, nós sabemos hoje, como ler o DNA, ler o genoma. É um processo relativamente trivial.
Uma data histórica, nesse contexto, é essa aí: 28 de julho de 1995. Quando, pela primeira vez, nós deciframos o genoma completo de uma espécie. Nesse caso, uma bactéria chamada Hemófilus influenza, causadora de um tipo de meningite.
Hoje, nós temos mais de mil genomas conhecidos, genoma de mais de mil espécies conhecidas. Mas óbvio que o clímax desse período, que se convencionou chamar de "Era Genômica", foi o genoma humano, que nós deciframos em 2001, mais precisamente no dia 12 de fevereiro de 2001, dia do nascimento de Darwin.
Uma consequência de tudo isso é que existe um acúmulo, que é exponencial, de informação biológica, de medicina, número de genomas, número de sequências de DNA, número de patentes, número de trabalhos científicos publicados. E nesse contexto, surge a bioinformática.
E com toda essa quantidade de informação, nós precisamos dos computadores para olhar para todos esses dados, para usar esses dados no dia a dia do médico, no dia a dia do biólogo. Bem, foi uma revolução, isso, sem dúvida.
Nos últimos dois anos, a coisa ficou ainda mais revolucionária. Por quê? Porque em 2001, a tecnologia vigente gerava 500 mil letras de DNA por dia. Hoje, a tecnologia vigente, o equipamento comercialmente disponível, gera 5 bilhões de letras por dia. Obviamente, se você gera mais dados, o custo tende a diminuir.
E realmente, em 2001, aquele genoma humano que eu mencionei, custou 3 bilhões de dólares. Hoje, em 2009, sequenciar um genoma custa 50 mil dólares. Isso fez e faz com que algumas pessoas achem que num futuro muito, muito próximo, a gente consiga sequenciar um genoma por algo em torno de mil dólares. Imaginar isso, todos aqui poderíamos ter o nosso genoma sequenciado.
Isso parece algo muito futurista, mas há dez dias atrás, foi publicado na revista Science um trabalho científico, que está ali, título bem complicado, mas uma companhia americana sequenciou três genomas a um custo por genoma de 4.400 dólares. Então, o genoma a mil dólares, ou talvez até a menos, seja algo bastante factível em curto espaço de tempo.
Eu vou falar mais um pouquinho sobre medicina, câncer, mas isso afeta basicamente todas as áreas de conhecimento. Não só a saúde, mas também a agricultura, a pecuária, a tecnologia dos biocombustíveis, e a biodiversidade.
Bem, voltando ao genoma humano. Hoje nós conhecemos o genoma de mais ou menos mil pessoas. Estamos conhecendo, esse é um projeto que está andando,nós já temos dados de praticamente mil pessoas, um projeto que se chama "Mil Genomas". Vamos imaginar que, a gente sabe disso já, se a gente olha para qualquer grupo de pessoas o que acontece é que... não está aparecendo ali... mas a identidade genética entre quaisquer duas pessoas nessa sala, é na ordem de 99,9%.
Então, se você pegar o genoma dele e comparar com o genoma do Helder, vai ser 99,9% idêntico.
E o quê acontece é o seguinte: Imaginemos uma letra variável como aquela. Se nós sequenciarmos aquele pedaço, se a gente ler aquele pedaço do genoma de todo mundo aqui, o quê vai acontecer é que mais ou menos metade vai ter um "A" e a outra metade vai ter um "C".
Qual é a consequência disso? A consequência é que, se a gente pega um grupo de pessoas, a gente pode definir um padrão de variação. Aquele grupo ali tem um padrão de variação, esse grupo, um outro padrão de variação, e assim por diante.
Por quê isso é importante? Isso é um caso real.
Se a gente pega pacientes com câncer de mama, e aqui a gente tem padrão de variação, padrão de variação.
Hoje a gente sabe que esses dois padrões de variação aqui, aqueles indivíduos, aquelas pacientes, respondem a uma determinada droga que é comercialmente disponível. Esses indivíduos aqui, essas pacientes, não respondem ao tratamento.
Bem... Se você fuma, ou já fumou, ou pretende fumar, preste atenção nesse slide. É muito comum a gente ouvir:
Bem, isso é verdade. Mas muito, muito, muito infrequente. Cigarro causa uma série de malefícios, a gente sabe disso.
Mas existem algumas pessoas, que apesar de fumarem a vida toda, realmente não apresentam esses problemas, principalmente câncer.
A gente está começando a entender o porquê disso. Existe uma molécula no nosso corpo chamada "GST", que faz o quê?
Ela pega... as bolinhas vermelhas aqui são os agentes cancerígenos, essa molécula transforma esses agentes cancerígenos em agentes menos tóxicos, são os verdinhos, que são solúveis em água e são eliminados pela urina.
Bem, acontece que na nossa população existem duas versões principais da GST. Uma que a gente poderia chamar "Organizadores do TED", competentes, trabalhadores, vão lá e transformam o agente cancerígeno... transformam o agente cancerígeno em algo menos tóxico.
Existe uma outra GST, que a gente poderia chamar de "Deputado federal", trabalha de terça à quinta, não sei quantos cafézinhos por dia... e assim por diante.
Acontece que, hoje a gente sabe que existe uma clara associação entre a GST... Desculpe, isso aqui está... está certo... a GST lerda, a GST preguiçosa, e aquele indivíduo que vai desenvolver a doença. E uma clara associação entre a GST mais ativa e aquele indivíduo que não vai desenvolver a doença. Bem, sim, essa associação, a GST mais ativa tem um "A" no genoma, a GST menos ativa tem um "T", ou seja, uma única letra entre as três bilhões de letras do genoma.
Bem, eu vim aqui para falar um pouquinho sobre o Brasil, como que o Brasil está, como que a gente pode contribuir para o mundo em relação à genômica, à biotecnologia, à bioinformática. Nós estamos bem. No Brasil, no final da década de 90, houve uma grande iniciativa de genômica, principalmente aqui no estado de São Paulo, começou no estado de São Paulo e se irradiou, principalmente financiado pela FAPESP, Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo.
O primeiro caso de sucesso foi esse aí, a "Chilela fastidiosa", um nome complicado para uma bactéria que infecta um pé de laranja. Então vocês vêem aqui, essa laranjinha aqui veio de um pé infectado, a laranjona bonita veio de um pé não infectado. Vocês podem imaginar o prejuízo para a indústria de suco de laranja no estado de São Paulo. Um grupo de pesquisadores sequenciou o genoma dessa bactéria.
Um outro caso de sucesso, e esse eu tive o prazer de ser um dos coordenadores, foi o projeto "Genoma Humano do Câncer". Nós analisamos o material genético de uma dezena de tumores muito prevalentes em São Paulo e no Brasil. Foi um sucesso tremendo.
O projeto estava entre os três maiores projetos de genética de câncer do mundo inteiro. Junto com o Instituto Nacional de Câncer e um projeto de genoma de câncer da Inglaterra. Foi um sucesso. Aqui eu vou passar algumas manchetes de jornais e revistas enfatizando a contribuição brasileira, essa iniciativa toda, genômica.
O Brasil surgiu como um modelo de um país em desenvolvimento fazendo pesquisa de ponta. Uma das coisas mais originais que eu vi aqui hoje, vi muitas,
foi a Regina Casé dizendo que ela gostaria de ver o Brasil como vanguarda do anti-gueto.
Isso me fez pensar que existem várias formas de gueto. Gueto social, o gueto racial, o gueto econômico, mas um gueto que é normalmente negligenciado é o gueto tecnológico, o gueto científico.
Acho que esse projeto, e muitos outros que ocorrem no Brasil, mostram que o país não precisa ser um gueto do ponto de vista tecnológico. Duas mensagens para vocês.
A primeira mensagem, mais de cunho pessoal. Tudo isso que eu contei para vocês não tem mais volta, isso vai acontecer, já está acontecendo. Vocês, muito provavelmente, logo, logo, vão chegar no médico com um pen drive como esse e nesse pen drive vai estar o genoma de vocês. O médico vai colocar isso no computador e baseado naquilo vai dizer para você:
- "Olha, tome três pílulas dessa droga..."
- "Tome uma..."
- "Você não pode tomar essa droga..."
Isso já está acontecendo, e vai se tornar ainda mais dramático. Então, se informem, pressionem os nossos legisladores porque no Brasil não existe nada em termos de legislação para proteger a informação genética do cidadão. A outra mensagem é essa:
o Brasil tem tudo para se tornar uma grande potência em biotecnologia, principalmente em genômica e bioinformática. Nós temos um histórico de sucesso, nós temos uma comunidade tecnicamente muito qualificada, nós temos uma biodiversidade a ser geneticamente explorada, um setor agropecuário desenvolvido, nós somos um expoente em tecnologia de biocombustíveis.
Um problema é que ainda existe uma distância entre academia e o setor produtivo. Essa distância foi maior, ela está diminuindo, mas ainda é um impeditivo para a gente dar um salto nessa área.
Eu acho que vou terminar antes do tempo. É que vocês não imaginam, mas está calor aqui, está muito quente aqui em cima. Mas antes de terminar, eu não quero que vocês saiam dessa sala, você podem ter a impressão, depois, da minha fala, de que:
"Ah! O genoma define tudo o que eu sou".
As minhas características físicas, as minhas características comportamentais. Pelo o amor de Deus, não é isso.
O que nós somos é definido pelo genoma e pelo ambiente. Eu costumo brincar que, se o Einstein tivesse se apaixonado pela Marie Curie,
e os dois tivessem uma filha, os genes da genialidade estariam ali, convenhamos.
Se aquela filha não fosse bem alimentada, nos primeiros anos de vida, danem-se os genes, não iriam fazer a menor diferença.
Então é sempre genoma e ambiente. Um exemplo é isso aqui:
Bonobo, é um tipo de chinpanzé. Ele é tão parecido com o chimpanzé tradicional que até... mesmo no século 20 os dois eram confundidos como a mesma espécie.
Bem, o genoma dos dois é praticamente idêntico, 99,5% de identidade. A estrutura social é totalmente diferente. A estrutura social dos chimpanzés é... os chimpanzés são mais agressivos, são mais violentos. Sexo, na sociedade dos chimpanzés tradicionais, só serve para fins reprodutivos e para a hierarquia dos machos. Tem um macho lá que quer comer todas, que quer bater no mais fraquinho e só.
Nos bonobos, sexo é a base de toda a estrutura social. Um bonobo, em média... Não se assustem agora. Um bonobo, em média, tem dezenas de relações sexuais por dia.
Quem me dera!
Um detalhe, último detalhe! Chimpanzé, sociedade patriarcal. Bonobo, sociedade matriarcal.
É a prova final de que as mulheres são mais inteligentes do que os homens.
Obrigado.
Sandro José de Souza é Biólogo, graduado pela Universidade Federal do Paraná (1989) e Doutor em Bioquímica pela Universidade de São Paulo (1993). De 1995 a 1998, foi Pew Latin American Fellow na Universidade de Harvard. Atualmente é membro associado do Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer. Na área de Genética, trabalha com ênfase em Bioinformática e Genômica, atuando principalmente nos seguintes temas: câncer e evolução molecular.
[Via BBA]
Eu vou falar hoje sobre um assunto que está mudando a vida de vocês. E nos próximos anos vai continuar a mudar de forma ainda mais dramática.
Vou falar sobre biotecnologia, vou falar sobre genoma, vou falar sobre bioinformática. Bem, vamos começar com uma definição: O que é um genoma? Eu gosto dessa aí:
Conjunto de todo o material genético de uma espécie.
E quando a gente fala "genoma", a gente está falando de DNA. E o DNA é uma das poucas coisas que é comum a todas as espécies biológicas. Falou em genoma, falou em DNA. Vamos fazer uma analogia. Vamos pensar que o corpo físico, o material físico, a estrutura física, o corpo de um organismo é um hardware. O genoma seria um software. E como todo software, o genoma é escrito em uma linguagem, e essa linguagem tem 4 letras.
A, C, T e G.
Está aqui, um pedaço do genoma, que acontece de ser o meu genoma. Mas é um pedacinho muito pequenino do meu genoma. O nosso genoma... todos aqui tem um genoma
que tem mais ou menos três bilhões de letras. Graças a esses três indivíduos aqui, nós sabemos hoje, como ler o DNA, ler o genoma. É um processo relativamente trivial.
Uma data histórica, nesse contexto, é essa aí: 28 de julho de 1995. Quando, pela primeira vez, nós deciframos o genoma completo de uma espécie. Nesse caso, uma bactéria chamada Hemófilus influenza, causadora de um tipo de meningite.
Hoje, nós temos mais de mil genomas conhecidos, genoma de mais de mil espécies conhecidas. Mas óbvio que o clímax desse período, que se convencionou chamar de "Era Genômica", foi o genoma humano, que nós deciframos em 2001, mais precisamente no dia 12 de fevereiro de 2001, dia do nascimento de Darwin.
Uma consequência de tudo isso é que existe um acúmulo, que é exponencial, de informação biológica, de medicina, número de genomas, número de sequências de DNA, número de patentes, número de trabalhos científicos publicados. E nesse contexto, surge a bioinformática.
E com toda essa quantidade de informação, nós precisamos dos computadores para olhar para todos esses dados, para usar esses dados no dia a dia do médico, no dia a dia do biólogo. Bem, foi uma revolução, isso, sem dúvida.
Nos últimos dois anos, a coisa ficou ainda mais revolucionária. Por quê? Porque em 2001, a tecnologia vigente gerava 500 mil letras de DNA por dia. Hoje, a tecnologia vigente, o equipamento comercialmente disponível, gera 5 bilhões de letras por dia. Obviamente, se você gera mais dados, o custo tende a diminuir.
E realmente, em 2001, aquele genoma humano que eu mencionei, custou 3 bilhões de dólares. Hoje, em 2009, sequenciar um genoma custa 50 mil dólares. Isso fez e faz com que algumas pessoas achem que num futuro muito, muito próximo, a gente consiga sequenciar um genoma por algo em torno de mil dólares. Imaginar isso, todos aqui poderíamos ter o nosso genoma sequenciado.
Isso parece algo muito futurista, mas há dez dias atrás, foi publicado na revista Science um trabalho científico, que está ali, título bem complicado, mas uma companhia americana sequenciou três genomas a um custo por genoma de 4.400 dólares. Então, o genoma a mil dólares, ou talvez até a menos, seja algo bastante factível em curto espaço de tempo.
Eu vou falar mais um pouquinho sobre medicina, câncer, mas isso afeta basicamente todas as áreas de conhecimento. Não só a saúde, mas também a agricultura, a pecuária, a tecnologia dos biocombustíveis, e a biodiversidade.
Bem, voltando ao genoma humano. Hoje nós conhecemos o genoma de mais ou menos mil pessoas. Estamos conhecendo, esse é um projeto que está andando,nós já temos dados de praticamente mil pessoas, um projeto que se chama "Mil Genomas". Vamos imaginar que, a gente sabe disso já, se a gente olha para qualquer grupo de pessoas o que acontece é que... não está aparecendo ali... mas a identidade genética entre quaisquer duas pessoas nessa sala, é na ordem de 99,9%.
Então, se você pegar o genoma dele e comparar com o genoma do Helder, vai ser 99,9% idêntico.
Só para vocês compararem, colocarem num contexto, o genoma da espécie humana com o do chimpanzé, nosso primo evolutivo mais próximo, é 99% idêntico.
E o quê acontece é o seguinte: Imaginemos uma letra variável como aquela. Se nós sequenciarmos aquele pedaço, se a gente ler aquele pedaço do genoma de todo mundo aqui, o quê vai acontecer é que mais ou menos metade vai ter um "A" e a outra metade vai ter um "C".
Qual é a consequência disso? A consequência é que, se a gente pega um grupo de pessoas, a gente pode definir um padrão de variação. Aquele grupo ali tem um padrão de variação, esse grupo, um outro padrão de variação, e assim por diante.
Por quê isso é importante? Isso é um caso real.
Se a gente pega pacientes com câncer de mama, e aqui a gente tem padrão de variação, padrão de variação.
Hoje a gente sabe que esses dois padrões de variação aqui, aqueles indivíduos, aquelas pacientes, respondem a uma determinada droga que é comercialmente disponível. Esses indivíduos aqui, essas pacientes, não respondem ao tratamento.
Bem... Se você fuma, ou já fumou, ou pretende fumar, preste atenção nesse slide. É muito comum a gente ouvir:
Ah, meu vizinho fumou sempre, morreu aos cem anos sem ter câncer, morreu saudável.
Bem, isso é verdade. Mas muito, muito, muito infrequente. Cigarro causa uma série de malefícios, a gente sabe disso.
Mas existem algumas pessoas, que apesar de fumarem a vida toda, realmente não apresentam esses problemas, principalmente câncer.
A gente está começando a entender o porquê disso. Existe uma molécula no nosso corpo chamada "GST", que faz o quê?
Ela pega... as bolinhas vermelhas aqui são os agentes cancerígenos, essa molécula transforma esses agentes cancerígenos em agentes menos tóxicos, são os verdinhos, que são solúveis em água e são eliminados pela urina.
Bem, acontece que na nossa população existem duas versões principais da GST. Uma que a gente poderia chamar "Organizadores do TED", competentes, trabalhadores, vão lá e transformam o agente cancerígeno... transformam o agente cancerígeno em algo menos tóxico.
Existe uma outra GST, que a gente poderia chamar de "Deputado federal", trabalha de terça à quinta, não sei quantos cafézinhos por dia... e assim por diante.
Acontece que, hoje a gente sabe que existe uma clara associação entre a GST... Desculpe, isso aqui está... está certo... a GST lerda, a GST preguiçosa, e aquele indivíduo que vai desenvolver a doença. E uma clara associação entre a GST mais ativa e aquele indivíduo que não vai desenvolver a doença. Bem, sim, essa associação, a GST mais ativa tem um "A" no genoma, a GST menos ativa tem um "T", ou seja, uma única letra entre as três bilhões de letras do genoma.
Bem, eu vim aqui para falar um pouquinho sobre o Brasil, como que o Brasil está, como que a gente pode contribuir para o mundo em relação à genômica, à biotecnologia, à bioinformática. Nós estamos bem. No Brasil, no final da década de 90, houve uma grande iniciativa de genômica, principalmente aqui no estado de São Paulo, começou no estado de São Paulo e se irradiou, principalmente financiado pela FAPESP, Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo.
O primeiro caso de sucesso foi esse aí, a "Chilela fastidiosa", um nome complicado para uma bactéria que infecta um pé de laranja. Então vocês vêem aqui, essa laranjinha aqui veio de um pé infectado, a laranjona bonita veio de um pé não infectado. Vocês podem imaginar o prejuízo para a indústria de suco de laranja no estado de São Paulo. Um grupo de pesquisadores sequenciou o genoma dessa bactéria.
Um outro caso de sucesso, e esse eu tive o prazer de ser um dos coordenadores, foi o projeto "Genoma Humano do Câncer". Nós analisamos o material genético de uma dezena de tumores muito prevalentes em São Paulo e no Brasil. Foi um sucesso tremendo.
O projeto estava entre os três maiores projetos de genética de câncer do mundo inteiro. Junto com o Instituto Nacional de Câncer e um projeto de genoma de câncer da Inglaterra. Foi um sucesso. Aqui eu vou passar algumas manchetes de jornais e revistas enfatizando a contribuição brasileira, essa iniciativa toda, genômica.
O Brasil surgiu como um modelo de um país em desenvolvimento fazendo pesquisa de ponta. Uma das coisas mais originais que eu vi aqui hoje, vi muitas,
foi a Regina Casé dizendo que ela gostaria de ver o Brasil como vanguarda do anti-gueto.
Isso me fez pensar que existem várias formas de gueto. Gueto social, o gueto racial, o gueto econômico, mas um gueto que é normalmente negligenciado é o gueto tecnológico, o gueto científico.
Acho que esse projeto, e muitos outros que ocorrem no Brasil, mostram que o país não precisa ser um gueto do ponto de vista tecnológico. Duas mensagens para vocês.
A primeira mensagem, mais de cunho pessoal. Tudo isso que eu contei para vocês não tem mais volta, isso vai acontecer, já está acontecendo. Vocês, muito provavelmente, logo, logo, vão chegar no médico com um pen drive como esse e nesse pen drive vai estar o genoma de vocês. O médico vai colocar isso no computador e baseado naquilo vai dizer para você:
- "Olha, tome três pílulas dessa droga..."
- "Tome uma..."
- "Você não pode tomar essa droga..."
Isso já está acontecendo, e vai se tornar ainda mais dramático. Então, se informem, pressionem os nossos legisladores porque no Brasil não existe nada em termos de legislação para proteger a informação genética do cidadão. A outra mensagem é essa:
o Brasil tem tudo para se tornar uma grande potência em biotecnologia, principalmente em genômica e bioinformática. Nós temos um histórico de sucesso, nós temos uma comunidade tecnicamente muito qualificada, nós temos uma biodiversidade a ser geneticamente explorada, um setor agropecuário desenvolvido, nós somos um expoente em tecnologia de biocombustíveis.
Um problema é que ainda existe uma distância entre academia e o setor produtivo. Essa distância foi maior, ela está diminuindo, mas ainda é um impeditivo para a gente dar um salto nessa área.
Eu acho que vou terminar antes do tempo. É que vocês não imaginam, mas está calor aqui, está muito quente aqui em cima. Mas antes de terminar, eu não quero que vocês saiam dessa sala, você podem ter a impressão, depois, da minha fala, de que:
"Ah! O genoma define tudo o que eu sou".
As minhas características físicas, as minhas características comportamentais. Pelo o amor de Deus, não é isso.
O que nós somos é definido pelo genoma e pelo ambiente. Eu costumo brincar que, se o Einstein tivesse se apaixonado pela Marie Curie,
e os dois tivessem uma filha, os genes da genialidade estariam ali, convenhamos.
Se aquela filha não fosse bem alimentada, nos primeiros anos de vida, danem-se os genes, não iriam fazer a menor diferença.
Então é sempre genoma e ambiente. Um exemplo é isso aqui:
Bonobo, é um tipo de chinpanzé. Ele é tão parecido com o chimpanzé tradicional que até... mesmo no século 20 os dois eram confundidos como a mesma espécie.
Bem, o genoma dos dois é praticamente idêntico, 99,5% de identidade. A estrutura social é totalmente diferente. A estrutura social dos chimpanzés é... os chimpanzés são mais agressivos, são mais violentos. Sexo, na sociedade dos chimpanzés tradicionais, só serve para fins reprodutivos e para a hierarquia dos machos. Tem um macho lá que quer comer todas, que quer bater no mais fraquinho e só.
Nos bonobos, sexo é a base de toda a estrutura social. Um bonobo, em média... Não se assustem agora. Um bonobo, em média, tem dezenas de relações sexuais por dia.
Quem me dera!
Um detalhe, último detalhe! Chimpanzé, sociedade patriarcal. Bonobo, sociedade matriarcal.
É a prova final de que as mulheres são mais inteligentes do que os homens.
Obrigado.
Sandro José de Souza é Biólogo, graduado pela Universidade Federal do Paraná (1989) e Doutor em Bioquímica pela Universidade de São Paulo (1993). De 1995 a 1998, foi Pew Latin American Fellow na Universidade de Harvard. Atualmente é membro associado do Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer. Na área de Genética, trabalha com ênfase em Bioinformática e Genômica, atuando principalmente nos seguintes temas: câncer e evolução molecular.
[Via BBA]
Agora me sinto nas nuvens.
ResponderExcluir´Veja a resposta em Solução do problema dos cinco cincos (http://blog.brasilacademico.com/2013/10/solucao-do-problema-dos-cinco-cincos.html).
ResponderExcluirEsse Sandro explica muita bem. Achei bem fácil de entender do jeito que ele falou sobre genoma.
ResponderExcluirA ideia é boa. Mas talvez deveria se chamar Wi-Li-Fi, ou Wi-LI. LI-FI soa como WI-FI mas não faz sentido. Ou faz?
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