Se as cores tivessem som, você diria que o preto corresponderia a um som grave ou agudo? E essa sua escolha seria baseada na sua cultura ou ...
Se as cores tivessem som, você diria que o preto corresponderia a um som grave ou agudo? E essa sua escolha seria baseada na sua cultura ou na biologia?
Não estamos trantando aqui de sinestesia, distúrbio neurológico no qual o indivíduo mistura vários sentidos podendo, literalmente, ouvir cores, enxergar sons, tocar os sabores etc. Estamos falando da associação que normalmente fazemos ao associarmos os sons graves e às cores escuras (e dos sons agudos com as cores claras), já que a maioria das pessoas responderia assim à indagação feita anteriormente.
Essa associação entre cores e sons há anos é observada por neurocientistas. Porém, agora, cientistas alemães e japoneses identificaram o mesmo fenômeno também em chimpanzés e sugerem que a correlação não é cultural, mas sim biológica.
Para investigar a hipótese dessa relação ser cultural ou evolutiva, a equipe japonesa do estudo conduziu uma série de testes comportamentais com humanos e chimpanzés, primatas que compartilham um ancestral comum conosco. Caso a manifestação do fenômeno fosse apenas cultural, não ocorreria também nos chimpazés.
Assim, seis chimpanzés foram treinados para participar de uma espécie de jogo de identificação de cores. Um pequeno quadrado branco ou preto apareceria em um monitor por alguns segundos entre outros dois quadrados maiores, um branco e outro preto, que permaneciam na tela. O chimpanzé teria que identificar a cor do quadrado pequeno tocando no quadrado maior de cor correspondente. Acertando, ele ganhava uma recompensa.
O testes foram divididos em duas modalidades. Na primeira, sons eram tocados aleatoriamente. Na segunda, havia uma correspondência entre os sons e as cores (graves com preto e agudos com branco).
Após o experimento os pesquisadores observaram que ambos os primatas, humanos e chimpanzés, desempenharam melhor a tarefa na segunda modalidade.
Os macacos acertaram 93% das vezes quando houve a correspondência entre sons e cores e 90% com sons randômicos. Já entre os humanos, apenas três erros foram registrados. E todos eles aconteceram durante os testes quando os sons eram tocados ao acaso. Todavia, o tempo de resposta caiu nessa modalidade (sons aleatórios).
Os pesquisadores concluíram que essa associação entre cores e sons não poderia ter sido aprendida pelos chimpanzés e que, supostamente, ela seja uma característica evolutiva dos grandes primatas que teria surgido no ancestral comum das duas espécies, antes da divisão entre chimpanzés e humanos.
Mas há também quem discorde das conclusões dos cientistas que realizaram a pesquisa. Segundo o psicofísico especializado no estudo da visão Russel Hamer, professor convidado da Universidade de São Paulo, a teoria não se sustenta somente com os experimentos realizados.
O especialista põe em dúvida também a validade da metodologia utilizada. De acordo com Hamer, os autores ignoram alguns conceitos importantes envolvidos no processo como o cérebro interpreta a visão.
Ainda assim, o pesquisador acredita que estudos como este podem ser importantes para entender melhor os mecanismos por trás da sinestesia.
A pesquisa foi publicada no PNAS Online no dia 5 de dezembro.
Muito além da cultura - Ciência Hoje
Visuoauditory mappings between high luminance and high pitch are shared by chimpanzees (Pan troglodytes) and humans - PNAS.org
[Via BBA]
Não estamos trantando aqui de sinestesia, distúrbio neurológico no qual o indivíduo mistura vários sentidos podendo, literalmente, ouvir cores, enxergar sons, tocar os sabores etc. Estamos falando da associação que normalmente fazemos ao associarmos os sons graves e às cores escuras (e dos sons agudos com as cores claras), já que a maioria das pessoas responderia assim à indagação feita anteriormente.
Essa associação entre cores e sons há anos é observada por neurocientistas. Porém, agora, cientistas alemães e japoneses identificaram o mesmo fenômeno também em chimpanzés e sugerem que a correlação não é cultural, mas sim biológica.
Essa associação entre cores e sons é muito bem documentada e transparece na linguagem. Em alemão, por exemplo, o termo 'dunkler Ton’, som escuro, se refere a um som grave, enquanto em espanhol é usada a expressão ‘voces blancas’ para descrever sons agudos.
Vera Ludwig. Neurocientista e psiquiatra da Universidade de Berlim e a principal autora da pesquisa.
Para investigar a hipótese dessa relação ser cultural ou evolutiva, a equipe japonesa do estudo conduziu uma série de testes comportamentais com humanos e chimpanzés, primatas que compartilham um ancestral comum conosco. Caso a manifestação do fenômeno fosse apenas cultural, não ocorreria também nos chimpazés.
Assim, seis chimpanzés foram treinados para participar de uma espécie de jogo de identificação de cores. Um pequeno quadrado branco ou preto apareceria em um monitor por alguns segundos entre outros dois quadrados maiores, um branco e outro preto, que permaneciam na tela. O chimpanzé teria que identificar a cor do quadrado pequeno tocando no quadrado maior de cor correspondente. Acertando, ele ganhava uma recompensa.
O testes foram divididos em duas modalidades. Na primeira, sons eram tocados aleatoriamente. Na segunda, havia uma correspondência entre os sons e as cores (graves com preto e agudos com branco).
Após o experimento os pesquisadores observaram que ambos os primatas, humanos e chimpanzés, desempenharam melhor a tarefa na segunda modalidade.
Os macacos acertaram 93% das vezes quando houve a correspondência entre sons e cores e 90% com sons randômicos. Já entre os humanos, apenas três erros foram registrados. E todos eles aconteceram durante os testes quando os sons eram tocados ao acaso. Todavia, o tempo de resposta caiu nessa modalidade (sons aleatórios).
Os pesquisadores concluíram que essa associação entre cores e sons não poderia ter sido aprendida pelos chimpanzés e que, supostamente, ela seja uma característica evolutiva dos grandes primatas que teria surgido no ancestral comum das duas espécies, antes da divisão entre chimpanzés e humanos.
Treinar chimpanzés para desempenhar tarefas associadas ao som, como apertar um botão ao ouvir um determinado som, é muito difícil. Assim é surpreendente que a performance deles tenha sido afetada pelos sons que eram irrelevantes para a tarefa visual. Eles não tiveram nenhum treino prévio para associar sons agudos com cores claras e sons graves com cores escuras. Fica claro que a correlação não surgiu por causa da linguagem ou da cultura, embora seja provável que tenha um papel importante no desenvolvimento da linguagem.
Vera Ludwig
Mas há também quem discorde das conclusões dos cientistas que realizaram a pesquisa. Segundo o psicofísico especializado no estudo da visão Russel Hamer, professor convidado da Universidade de São Paulo, a teoria não se sustenta somente com os experimentos realizados.
Não dá para afirmar que essa relação é evolutiva só com base nos experimentos e nos resultados do estudo; são necessárias mais pesquisas.
Prof. Russel Hamer
O especialista põe em dúvida também a validade da metodologia utilizada. De acordo com Hamer, os autores ignoram alguns conceitos importantes envolvidos no processo como o cérebro interpreta a visão.
Os autores falam na relação entre cores e sons, mas no estudo da visão nós não chamamos preto e branco de cores, mas sim de acromáticos, pois não são reconhecidos pela mesma região do cérebro que identifica as cores.
Russel Hamer
Ainda assim, o pesquisador acredita que estudos como este podem ser importantes para entender melhor os mecanismos por trás da sinestesia.
A pesquisa foi publicada no PNAS Online no dia 5 de dezembro.
Muito além da cultura - Ciência Hoje
Visuoauditory mappings between high luminance and high pitch are shared by chimpanzees (Pan troglodytes) and humans - PNAS.org
[Via BBA]
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