Você sabe o porquê de você achar determinada paisagem, filme, objeto ou pessoa bela? A beleza é cultural? Tem certeza? Denis Dutton tenta de...
Você sabe o porquê de você achar determinada paisagem, filme, objeto ou pessoa bela? A beleza é cultural? Tem certeza? Denis Dutton tenta demonstrar que a noção de beleza é puramente evolutiva nessa apresentação no TED (dublada em português).
Denis Dutton era um professor de filosofia na Universidade de Canterbury em Christchurch, Nova Zelândia. Poucos meses antes de falecer, Dutton ministrou a seguinte palestra, em 2010, com auxílio de animação, que resume bem seus conceitos darwinianos sobre a estética. Todavia, o recurso de legendas prejudica o acompanhamento das ilustrações o que nos fez optar por dublar sua apresentação.
Muito feliz por estar aqui e falar sobre um assuntos que eu adoro, que é a beleza.
Eu trabalho com filosofia da arte, estética, na verdade.
Tento entender intelectualmente, filosoficamente, psicologicamente, qual é a experiência da beleza, o que sensatamente pode ser dito sobre ela e como as pessoas se desdobram para tentar entendê-la. Esse é um assunto extremamente complicado, em parte porque as coisas que chamamos de lindas são tão diferentes. Pensem na completa variedade - o rosto de um bebê, "Haroldo na Itália" de Berlioz, filmes como "O Mágico de Oz", ou as peças de Chekhov, uma paisagem do centro da Califórnia, uma vista do Monte Fuji de Hokusai, "Der Rosenkavalier", um maravilhoso gol da vitória numa partida da Copa do Mundo, "A Noite Estrelada" de Van Gogh, um romance de Jane Austen, Fred Astaire dançando na tela. A pequena lista inclui seres humanos, formas geográficas da natureza, obras de arte e ações humanas. A explicação da presença da beleza em tudo nesta lista não vai ser fácil.
No entanto, eu posso dar pelo menos um pouco do que eu considero como a mais poderosa teoria da beleza que temos. E ela não vem de um filósofo da arte, ou de uma teoria pós-moderna ou de um importante crítico de arte. Não, essa teoria é de um expert em cirripédios e vermes e reprodução de pombos. E vocês sabem de quem estou falando: Charles Darwin. Claro que muitas pessoas pensam que já sabem a resposta certa para a pergunta "o que é beleza?" Está nos olhos de quem vê. É o que mexe com você pessoalmente. Ou, como algumas pessoas - especialmente acadêmicos - preferem, a beleza está nos olhos culturalmente condicionados de quem vê. As pessoas concordam que pinturas ou filmes ou música são lindas porque suas culturas determinam uma uniformidade de gosto estético. Gosto por beleza natural e pelas artes atravessam culturas com grande facilidade. Beethoven é adorado no Japão. Peruanos amam as gravuras japonesas. Esculturas incas são vistas como tesouros nos museus britânicos, e Shakespeare é traduzido para todas as maiores línguas da Terra. Ou pensem no jazz americano ou filmes americanos, eles chegam em todos os lugares. Há muitas diferenças entre as artes, mas há também prazeres e valores universais e transculturais.
Como podemos explicar esta universalidade? A melhor resposta está em tentar reconstruir uma história evolucionária Darwiniana dos nossos gostos estéticos e artísticos. Precisamos desconstruir nossos gostos e preferências artísticas atuais e explicar como eles tornaram-se gravados em nossas mentes. Pelas ações dos nossos ambientes pré-histórico e principalmente pleistocênico, onde nos tornamos inteiramente humanos, e também pelas ações sociais nas quais evoluímos. Esta desconstrução também pode relacionar a ajuda do registro humano preservado na pré-história. Os fósseis, pinturas em cavernas e assim por diante. E deveria considerar o que sabemos sobre interesses estéticos de grupos de caçadores-colecionadores isolados que sobreviveram nos séculos XIX e XX.
Agora, eu pessoalmente não tenho qualquer dúvida de que a experiência da beleza, com sua intensidade e prazer emocionais, pertence à psicologia humana evoluída. A experiência da beleza é um componente numa série de adaptações Darwinianas. Beleza é um efeito adaptativo, o qual estendemos e intensificamos na criação e apreciação das obras de arte e entretenimento. Como muitos de vocês saberão, a evolução opera por dois mecanismos principais. O primeiro é seleção natural - ou mutação randômica e retenção seletiva - junto com nossa anatomia e fisiologia básicas - a evolução do pâncreas ou do olho ou das unhas. Seleção natural também explica muitas repulsas básicas, como o odor terrível de carne podre, ou medos, como o medo de cobras ou estar de pé na beira de um abismo. Seleção natural também explica prazeres - prazer sexual, ou gosto por doces, gorduras e proteínas, o que explica muitas comidas polulares, de frutas maduras a malte de chocolate e churrasco de costelas.
O outro grande princípio da evolução é seleção sexual, e ela opera de maneira muito diferente. O magnífico rabo do pavão é o exemplo mais famoso. Ele não evoluiu para sobrevivência natural. Na verdade, ele vai contra a sobrevivência natural. Não, o rabo do pavão é resultado das escolhas de acasalamento feitas pelas fêmeas. É uma história familiar. São na verdade as mulheres que avançam a história. O próprio Darwin, por sinal, não tinha dúvidas de que o rabo do pavão era lindo para os olhos das fêmeas. Ele na verdade usou esta palavra. Tendo essas ideias em mente, podemos dizer que a experiência da beleza é uma das maneiras que a evolução tem de criar e manter interesse e fascinação, até mesmo obcessão, para nos encorajar a tomar as decisões mais adaptativas para sobrevivência e reprodução. A beleza é o jeito da natureza de agir a distância, por assim dizer. Você não pode querer comer uma paisagem que adaptativamente nos beneficia. Não seria uma boa ideia comer o seu bebê ou seu amante. Então a artimanha da evolução é fazê-los bonitos, fazê-los exercer um certo magnetismo para lhes dar prazer de simplesmente olhá-los.
Pensem por um momento numa importante fonte de prazer estético, o magnetismo de lindas paisagens. Pessoas em culturas muito diferentes em todo o mundo tendem a gostar de um tipo de paisagem em particular, uma paisagem que é bem similar às savanas pleistocênicas onde nós evoluímos. Esta paisagem aparece hoje em calendários, cartões postais, no design de campos de golfe e parques e em imagens em molduras douradas que estão penduradas em salas de Nova York à Nova Zelândia. É um tipo de paisagem da escola Hudson River apresentando espaços abertos de gramas baixas alternadas com conjuntos de árvores. As árvores, por sinal, são mais preferidas se bifurcam-se próximas do chão, ou seja, se são árvores em que vocês poderiam subir se estivessem em dificuldade. A paisagem mostra a presença de água diretamente a vista, ou evidência de água numa distância azulada, indicações de vida animal ou de pássaros, assim como diversos verdes e finalmente - vejam só - um caminho, ou uma estrada, talvez a margem de um rio ou uma costa, que se estende ao infinito, quase convidando-os a segui-la. Este tipo de paisagem é considerada linda, até mesmo por pessoas em países que não a possuem. A paisagem de savana ideal é um dos exemplos mais claros onde seres humanos em qualquer lugar acham beleza numa experiência visual similar.
Mas alguém pode argumentar que isso é beleza natural. E o que me dizem sobre beleza artística? Isso não é exaustivamente cultural? Não, eu não acho que seja. E mais uma vez eu gostaria de olhar para a pré-história para falar sobre isso. É em grande parte considerado que as primeiras obras de arte humanas são as incrivelmente habilidosas pinturas de cavernas que todos nós conhecemos de Lascaux e Chauvet. As cavernas de Chauvet têm aproximadamente 32 mil anos, junto com algumas esculturas pequenas e realistas de mulheres e animais do mesmo período. Mas habilidades artísticas e decorativas são muito mais antigas que isso. Lindos colares de conchas que parecem com algo que vocês veriam numa feira de artesanato, assim como pintura corporal com ocre, foram encontrados datados de cem mil anos atrás.
Mas artefatos pré-históricos mais intrigantes são mais velhos que isso. Eu tenho em mente os chamados bifaces Auchelianos. As ferramentas de pedra mais velhas são cutelos da Garganta de Olduvai no leste da África. Eles datam de mais ou menos dois milhões e meio de anos. Essas ferramentas grosseiras foram usadas por milhares de séculos, até mais ou menos 1.4 milhão de anos atrás quando o Homo erectus começou a fazer lâminas finas de pedra, às vezes com formas ovais arredondadas, mas muitas vezes no que para nós parece com folhas pontudas ou formatos de lágrimas cativantes e simétricas. Estes bifaces Acheulianos - são chamados assim por causa de Saint-Acheul na França, onde as peças foram encontrads no século 19 - foram escavados aos milhares, ao longo ca Ásia, Europa e África, quase em todo lugar onde o Homo erectus e o Homo ergaster estiveram. Agora, os números desses bifaces mostram que eles não poderiam ter sido feitos para cortar animais. E a história fica mais complicada quando percebemos que, diferente de outras ferramentas pleistocênicas, os bifaces não apresentam evidências de desgaste nas suas lâminas delicadas. E alguns são grandes demais para usar para cortar animais. Sua simetria, seus materiais atraentes e, acima de tudo, seu acabamento meticuloso são simplesmente lindos para nossos olhos, até hoje.
Então para que esses antigos - digo, são antigos, são anormais, mas ao mesmo tempo são de alguma forma familiares. Para que serviam esses artefatos? A melhor resposta disponível é que eles foram literalmente as primeiras obras de arte conhecidas, ferramentas práticas transformadas em objectos estéticos cativantes, contemplados por sua forma elegante e seu artesanato virtuoso. Os bifaces marcam um avanço evolucionário na história da humanidade - ferramentas feitas para funcionarem como o que os Darwinianos chamam de sinais de aptidão - ou seja, manifestações que são performances como o rabo do pavão, mas diferente de cabelos e penas, os bicafes são feitos consciente e habilmente. Bifaces feitos competentemente indicam qualidades pessoais desejadas: inteligênica, coordenação motora refinada, habilidade de planejar, consciência, e às vezes acesso a materiais raros. Ao longo de dezenas de milhares de gerações, tais habilidades aumentaram o status daqueles que as manifestaram e ganharam uma vantagem reprodutiva sobre os menos capazes. É uma velha cantada, mas provou ter funcionado: "Por que você não vem na minha caverna e eu lhe mostro os meus bifaces?"
(Risos)
Exceto, claro, que o interessante sobre isso é que não sabemos como a ideia foi comunicada, pois o Homo erectus que fez esses objetos não tinha linguagem. É difícil entender, mas é um fato incrível. Este objeto foi feito por um ancestral hominídeo - Homo erectus ou Homo ergaster - entre 50 e 100 mil anos antes da linguagem. Ao longo de mais de um milhão de anos, a tradição do biface é a mais longa tradição artística na história da humanidade e proto-humanidade. No fim do épico do biface, Homo sapiens - como eles foram finalmente chamados - sem dúvida encontraram novas maneiras de divertir e impressionar uns aos outros através de, quem sabe, piadas, histórias, dança ou penteados. Sim, penteados - eu insisto nisso.
Para nós modernos, técnica virtuosa é usada para criar mundos imaginários na ficção e em filmes, para expressar emoções intensas com música, pintura e dança. Mas mesmo assim, uma característica fundamental da personalidade ancestral persiste nos nossos desejos estéticos: a beleza que encontramos em performances habilidosas. De Lascaux ao Louvre ao Carnegie Hall, os seres humanos têm um gosto inato permanente por manifestações virtuosas na arte. Encontramos beleza em algo bem feito.
Então da próxima vez que vocês passarem pela vitrine de uma joalheria mostrando uma pedra em formato de lágrima maravilhosamente cortada, não tenham tanta certeza que é só a sua cultura lhes dizendo que aquela jóia cintilante é linda. Seus antepassados distantes amavam essa forma e acharam beleza na habilidade de fazê-la, mesmo antes de conseguirem colocar seu amor em palavras. A beleza está nos olhos de quem vê? Não, está no fundo de nossas mentes. É um presente, passado por habilidades inteligentes e vidas ricas e emocionais dos antepassados mais antigos. Nossa reação poderosa às imagens à expressão de emoção em arte à beleza da música, ao céu noturno estará conosco e com nossos descendentes enquanto a raça humana existir.
Obrigado.
Fonte: TED
[Via BBA]
Denis Dutton era um professor de filosofia na Universidade de Canterbury em Christchurch, Nova Zelândia. Poucos meses antes de falecer, Dutton ministrou a seguinte palestra, em 2010, com auxílio de animação, que resume bem seus conceitos darwinianos sobre a estética. Todavia, o recurso de legendas prejudica o acompanhamento das ilustrações o que nos fez optar por dublar sua apresentação.
Muito feliz por estar aqui e falar sobre um assuntos que eu adoro, que é a beleza.
Eu trabalho com filosofia da arte, estética, na verdade.
Tento entender intelectualmente, filosoficamente, psicologicamente, qual é a experiência da beleza, o que sensatamente pode ser dito sobre ela e como as pessoas se desdobram para tentar entendê-la. Esse é um assunto extremamente complicado, em parte porque as coisas que chamamos de lindas são tão diferentes. Pensem na completa variedade - o rosto de um bebê, "Haroldo na Itália" de Berlioz, filmes como "O Mágico de Oz", ou as peças de Chekhov, uma paisagem do centro da Califórnia, uma vista do Monte Fuji de Hokusai, "Der Rosenkavalier", um maravilhoso gol da vitória numa partida da Copa do Mundo, "A Noite Estrelada" de Van Gogh, um romance de Jane Austen, Fred Astaire dançando na tela. A pequena lista inclui seres humanos, formas geográficas da natureza, obras de arte e ações humanas. A explicação da presença da beleza em tudo nesta lista não vai ser fácil.
No entanto, eu posso dar pelo menos um pouco do que eu considero como a mais poderosa teoria da beleza que temos. E ela não vem de um filósofo da arte, ou de uma teoria pós-moderna ou de um importante crítico de arte. Não, essa teoria é de um expert em cirripédios e vermes e reprodução de pombos. E vocês sabem de quem estou falando: Charles Darwin. Claro que muitas pessoas pensam que já sabem a resposta certa para a pergunta "o que é beleza?" Está nos olhos de quem vê. É o que mexe com você pessoalmente. Ou, como algumas pessoas - especialmente acadêmicos - preferem, a beleza está nos olhos culturalmente condicionados de quem vê. As pessoas concordam que pinturas ou filmes ou música são lindas porque suas culturas determinam uma uniformidade de gosto estético. Gosto por beleza natural e pelas artes atravessam culturas com grande facilidade. Beethoven é adorado no Japão. Peruanos amam as gravuras japonesas. Esculturas incas são vistas como tesouros nos museus britânicos, e Shakespeare é traduzido para todas as maiores línguas da Terra. Ou pensem no jazz americano ou filmes americanos, eles chegam em todos os lugares. Há muitas diferenças entre as artes, mas há também prazeres e valores universais e transculturais.
Como podemos explicar esta universalidade? A melhor resposta está em tentar reconstruir uma história evolucionária Darwiniana dos nossos gostos estéticos e artísticos. Precisamos desconstruir nossos gostos e preferências artísticas atuais e explicar como eles tornaram-se gravados em nossas mentes. Pelas ações dos nossos ambientes pré-histórico e principalmente pleistocênico, onde nos tornamos inteiramente humanos, e também pelas ações sociais nas quais evoluímos. Esta desconstrução também pode relacionar a ajuda do registro humano preservado na pré-história. Os fósseis, pinturas em cavernas e assim por diante. E deveria considerar o que sabemos sobre interesses estéticos de grupos de caçadores-colecionadores isolados que sobreviveram nos séculos XIX e XX.
Agora, eu pessoalmente não tenho qualquer dúvida de que a experiência da beleza, com sua intensidade e prazer emocionais, pertence à psicologia humana evoluída. A experiência da beleza é um componente numa série de adaptações Darwinianas. Beleza é um efeito adaptativo, o qual estendemos e intensificamos na criação e apreciação das obras de arte e entretenimento. Como muitos de vocês saberão, a evolução opera por dois mecanismos principais. O primeiro é seleção natural - ou mutação randômica e retenção seletiva - junto com nossa anatomia e fisiologia básicas - a evolução do pâncreas ou do olho ou das unhas. Seleção natural também explica muitas repulsas básicas, como o odor terrível de carne podre, ou medos, como o medo de cobras ou estar de pé na beira de um abismo. Seleção natural também explica prazeres - prazer sexual, ou gosto por doces, gorduras e proteínas, o que explica muitas comidas polulares, de frutas maduras a malte de chocolate e churrasco de costelas.
O outro grande princípio da evolução é seleção sexual, e ela opera de maneira muito diferente. O magnífico rabo do pavão é o exemplo mais famoso. Ele não evoluiu para sobrevivência natural. Na verdade, ele vai contra a sobrevivência natural. Não, o rabo do pavão é resultado das escolhas de acasalamento feitas pelas fêmeas. É uma história familiar. São na verdade as mulheres que avançam a história. O próprio Darwin, por sinal, não tinha dúvidas de que o rabo do pavão era lindo para os olhos das fêmeas. Ele na verdade usou esta palavra. Tendo essas ideias em mente, podemos dizer que a experiência da beleza é uma das maneiras que a evolução tem de criar e manter interesse e fascinação, até mesmo obcessão, para nos encorajar a tomar as decisões mais adaptativas para sobrevivência e reprodução. A beleza é o jeito da natureza de agir a distância, por assim dizer. Você não pode querer comer uma paisagem que adaptativamente nos beneficia. Não seria uma boa ideia comer o seu bebê ou seu amante. Então a artimanha da evolução é fazê-los bonitos, fazê-los exercer um certo magnetismo para lhes dar prazer de simplesmente olhá-los.
Pensem por um momento numa importante fonte de prazer estético, o magnetismo de lindas paisagens. Pessoas em culturas muito diferentes em todo o mundo tendem a gostar de um tipo de paisagem em particular, uma paisagem que é bem similar às savanas pleistocênicas onde nós evoluímos. Esta paisagem aparece hoje em calendários, cartões postais, no design de campos de golfe e parques e em imagens em molduras douradas que estão penduradas em salas de Nova York à Nova Zelândia. É um tipo de paisagem da escola Hudson River apresentando espaços abertos de gramas baixas alternadas com conjuntos de árvores. As árvores, por sinal, são mais preferidas se bifurcam-se próximas do chão, ou seja, se são árvores em que vocês poderiam subir se estivessem em dificuldade. A paisagem mostra a presença de água diretamente a vista, ou evidência de água numa distância azulada, indicações de vida animal ou de pássaros, assim como diversos verdes e finalmente - vejam só - um caminho, ou uma estrada, talvez a margem de um rio ou uma costa, que se estende ao infinito, quase convidando-os a segui-la. Este tipo de paisagem é considerada linda, até mesmo por pessoas em países que não a possuem. A paisagem de savana ideal é um dos exemplos mais claros onde seres humanos em qualquer lugar acham beleza numa experiência visual similar.
Mas alguém pode argumentar que isso é beleza natural. E o que me dizem sobre beleza artística? Isso não é exaustivamente cultural? Não, eu não acho que seja. E mais uma vez eu gostaria de olhar para a pré-história para falar sobre isso. É em grande parte considerado que as primeiras obras de arte humanas são as incrivelmente habilidosas pinturas de cavernas que todos nós conhecemos de Lascaux e Chauvet. As cavernas de Chauvet têm aproximadamente 32 mil anos, junto com algumas esculturas pequenas e realistas de mulheres e animais do mesmo período. Mas habilidades artísticas e decorativas são muito mais antigas que isso. Lindos colares de conchas que parecem com algo que vocês veriam numa feira de artesanato, assim como pintura corporal com ocre, foram encontrados datados de cem mil anos atrás.
Mas artefatos pré-históricos mais intrigantes são mais velhos que isso. Eu tenho em mente os chamados bifaces Auchelianos. As ferramentas de pedra mais velhas são cutelos da Garganta de Olduvai no leste da África. Eles datam de mais ou menos dois milhões e meio de anos. Essas ferramentas grosseiras foram usadas por milhares de séculos, até mais ou menos 1.4 milhão de anos atrás quando o Homo erectus começou a fazer lâminas finas de pedra, às vezes com formas ovais arredondadas, mas muitas vezes no que para nós parece com folhas pontudas ou formatos de lágrimas cativantes e simétricas. Estes bifaces Acheulianos - são chamados assim por causa de Saint-Acheul na França, onde as peças foram encontrads no século 19 - foram escavados aos milhares, ao longo ca Ásia, Europa e África, quase em todo lugar onde o Homo erectus e o Homo ergaster estiveram. Agora, os números desses bifaces mostram que eles não poderiam ter sido feitos para cortar animais. E a história fica mais complicada quando percebemos que, diferente de outras ferramentas pleistocênicas, os bifaces não apresentam evidências de desgaste nas suas lâminas delicadas. E alguns são grandes demais para usar para cortar animais. Sua simetria, seus materiais atraentes e, acima de tudo, seu acabamento meticuloso são simplesmente lindos para nossos olhos, até hoje.
Então para que esses antigos - digo, são antigos, são anormais, mas ao mesmo tempo são de alguma forma familiares. Para que serviam esses artefatos? A melhor resposta disponível é que eles foram literalmente as primeiras obras de arte conhecidas, ferramentas práticas transformadas em objectos estéticos cativantes, contemplados por sua forma elegante e seu artesanato virtuoso. Os bifaces marcam um avanço evolucionário na história da humanidade - ferramentas feitas para funcionarem como o que os Darwinianos chamam de sinais de aptidão - ou seja, manifestações que são performances como o rabo do pavão, mas diferente de cabelos e penas, os bicafes são feitos consciente e habilmente. Bifaces feitos competentemente indicam qualidades pessoais desejadas: inteligênica, coordenação motora refinada, habilidade de planejar, consciência, e às vezes acesso a materiais raros. Ao longo de dezenas de milhares de gerações, tais habilidades aumentaram o status daqueles que as manifestaram e ganharam uma vantagem reprodutiva sobre os menos capazes. É uma velha cantada, mas provou ter funcionado: "Por que você não vem na minha caverna e eu lhe mostro os meus bifaces?"
(Risos)
Exceto, claro, que o interessante sobre isso é que não sabemos como a ideia foi comunicada, pois o Homo erectus que fez esses objetos não tinha linguagem. É difícil entender, mas é um fato incrível. Este objeto foi feito por um ancestral hominídeo - Homo erectus ou Homo ergaster - entre 50 e 100 mil anos antes da linguagem. Ao longo de mais de um milhão de anos, a tradição do biface é a mais longa tradição artística na história da humanidade e proto-humanidade. No fim do épico do biface, Homo sapiens - como eles foram finalmente chamados - sem dúvida encontraram novas maneiras de divertir e impressionar uns aos outros através de, quem sabe, piadas, histórias, dança ou penteados. Sim, penteados - eu insisto nisso.
Para nós modernos, técnica virtuosa é usada para criar mundos imaginários na ficção e em filmes, para expressar emoções intensas com música, pintura e dança. Mas mesmo assim, uma característica fundamental da personalidade ancestral persiste nos nossos desejos estéticos: a beleza que encontramos em performances habilidosas. De Lascaux ao Louvre ao Carnegie Hall, os seres humanos têm um gosto inato permanente por manifestações virtuosas na arte. Encontramos beleza em algo bem feito.
Então da próxima vez que vocês passarem pela vitrine de uma joalheria mostrando uma pedra em formato de lágrima maravilhosamente cortada, não tenham tanta certeza que é só a sua cultura lhes dizendo que aquela jóia cintilante é linda. Seus antepassados distantes amavam essa forma e acharam beleza na habilidade de fazê-la, mesmo antes de conseguirem colocar seu amor em palavras. A beleza está nos olhos de quem vê? Não, está no fundo de nossas mentes. É um presente, passado por habilidades inteligentes e vidas ricas e emocionais dos antepassados mais antigos. Nossa reação poderosa às imagens à expressão de emoção em arte à beleza da música, ao céu noturno estará conosco e com nossos descendentes enquanto a raça humana existir.
Obrigado.
Fonte: TED
[Via BBA]
A palestra é um excelente aprendizado, amigo Profwar. A dinâmica da animação é um trabalho didático fantástico. Obrigada por compartilhar a pesquisa e empenho ao publicar o texto na íntegra e a narração traduzida.
ResponderExcluirConheci a beleza por um outro ângulo... Lembro que já tive uma pedra em forma de gota e adorava...
Meu abraço,
Yolanda
Dá um pouco de trabalho, mas vale a pena derrubar a barreira do idioma para que possamos ter a experiência semelhante ao do fluente em inglês na hora de assistir.
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