Li o post Contra a regulamentação da profissão de analista de sistemas publicado em 28 de julho de 2009 no site TI Simples e achei apenas i...
Li o post Contra a regulamentação da profissão de analista de sistemas publicado em 28 de julho de 2009 no site TI Simples e achei apenas isso da análise feita. Simplista. Respeitando as colocações do colega blogueiro venho aqui discordar veementemente atacando cada ponto (exceto é claro, quando concordar com o mesmo pois não estou aqui para fazer proselitismo da causa).
Segue o post com os comentários:
Contra a regulamentação da profissão de analista de sistemas
O Projeto de Lei 607/2007 chegou ao Senado com parecer favorável (e você pode acompanhar o processo neste link, se o servidor do Senado te ajudar).
(...)
Para resumir a história, o projeto de lei propõe a criação de um Conselho Federal de Informática e Conselhos Regionais espalhados pelo país, no mesmo molde do Conselho de Medicina. Também seguindo o modelo dos nossos amigos médicos, o projeto de lei quer tornar obrigatório que um Analista de Sistemas seja formado em uma faculdade de Ciência da Computação, Sistemas de Informação ou Processamento de Dados. E quem não tem nenhum desses diplomas? Quem possuir 5 anos comprovados trabalhando em TI, vai ter uma colher de chá, mas os outros serão considerados ilegais.
Muita gente olha para isso e pensa que essa lei vai botar ordem na casa. Afinal, médicos são fodões, e respeitados e ganham melhor que você que programa em Visual Basic. Finalmente, depois de tantos livros e cursos que você fez, vai poder andar na rua com muito mais orgulho, e blá, blá, blá.
Desculpem o balde de água fria, mas essa lei é um retrocesso, um atraso para o país. Não é um passo para trás, é praticamente um moonwalking. Eis os principais porquês:
Competitividade no cenário global: o Brasil já tem dificuldade para competir com outros países na hora de vender TI por causa da burocracia, dos impostos e da barreira da língua. Coloque mais uma coisa para dificultar, como por exemplo uma regulamentação da profissão de analista de sistemas, e veja investidores começando a olhar para o Kuwait ou Polônia como opções mais lucrativas que o Brasil. Pior, começa a valer muito mais a pena para as empresas brasileiras contratarem serviços de outros países, como a Índia. A regulamentação no Brasil não vai criar e nem proteger empregos. Ela faz os empregos migrarem.
Barreira ao empreendedorismo: no Brasil já é complicado abrir um negócio, porque a lei não te ajuda, os impostos comem todo aquele capital que você preferia transformar em mais empregos. A regulamentação da informática torna as coisas ainda mais complicadas, ainda mais hoje que toda empresa precisa pelo menos um pouco de TI. Obrigado a contratar pessoas com diploma e todos os outros detalhes exigidos pelo Conselho Regional, o empreendedor se torna refém dos preços tabelados causados pela falta de mão de obra.
Barreira à inovação: Países que são pólos efervescentes de inovação em tecnologia como os Estados Unidos e a Índia não criam esse tipo de barreira e é por isso que estão aonde estão. O Vale do Silício (de onde sairam as principais e mais famosas empresas de TI do mundo) não existiria com uma lei que torna mais complicada a captação de talentos. E como uma regulamentação pode definir o que é o mínimo que um profissional deve conhecer em uma área tão dinâmica como tecnologia? Isso acaba tendo o mesmo efeito que o vestibular, em que as pessoas vão investir nesse conjunto mínimo de habilidades, ao invés de se arriscar estudando coisas que poderiam gerar muito mais valor.
Baixa oferta de mão de obra qualificada: a gente já está cansado de ouvir as notícias de que está faltando mão de obra qualificada para preencher as vagas de tecnologia em empresas. Mesmo com a crise isso é verdade, como você pode ver nos sites de ofertas de emprego. Com a regulamentação você torna o número de possíveis candidatos ainda menor. O que começa a tornar interessante terceirizar ou contratar serviços em outros países. Ou fechar as portas. Ou engolir a qualidade baixa de qualquer jeito (você não acha que ter diploma seja sinônimo de qualidade, certo?).
Incentivo à mediocridade: não posso opinar sobre outras profissões que não conheço direito. Mas em informática, uma reserva de mercado só vai servir para proteger os medíocres, os caras que tem o diploma e pagam a mensalidade do Conselho Regional em dia, mas que são profissionais bem “mais ou menos”. Normalmente são os caras que se formaram em alguma Uniesquina do grupo Tabajara (se alguém se forma no seu curso sem saber programar, seu curso é picareta) por aí, em que o processo seletivo se tratava de assinar o cheque, e quase todo mundo se forma no tempo certo (se pagar direitinho). Esse cara pode ficar mais despreocupado ainda em tentar melhorar, já que a carteirinha de registro dele e a falta de mão de obra seguram o emprego dele. Se bobear, ele apenas assina os projetos. Os caras bons, diferentes dele, hoje já se diferenciam tanto que não tem problema para se colocar. Se souberem vender seu peixe até conseguem um bom salário. Os bons não precisam dessa lei para se proteger.
Farinha do mesmo saco?: O projeto de lei trata todo profissional de TI como Analista de Sistemas ou Técnico de informática. Inclusive diz que pessoas que vão gerenciar projetos ou fazer auditoria precisam ser profissionais com diploma na área. Tudo bem que acho meio complicado lidar com gerente de TI que entende pouco de informática, mas acho um exagero dizer que alguém precise de um diploma na área para entender o suficiente para gerenciar o projeto. Desenvolver um sistema e gerenciar pessoas são competências muito diferentes, e acredito que uma pessoa que se formou em Ciência da Computação não morra de amores por gerenciar um projeto, da mesma forma que alguém que se formou em Administração não deve achar muito legal desenhar a arquitetura em camadas de um sistema web de alta performance. Acho besteira desperdiçar o tempo dos professores e desses alunos que acham mais legal gerenciar, com aulas sobre árvores rubro-negra, por exemplo. Sem falar que os cursos de TI normalmente não tem quase nada voltado a planejamento, coordenação e etc. (ainda bem, porque se tivessem iriam deixar de fora partes importantes do currículo).
Mais uma taxa para machucar seu bolso: Essa é fácil de justificar. Você, trabalhador honesto, acha legal pagar uma taxa anual (ou mensal, sei lá) para poder continuar trabalhando honestamente? E os impostos que você já paga?
Diploma como um fim: a regulamentação parte do pressuposto de que o diploma é um fim, e não um meio para que o sujeito se torne um bom profissional. Como se ao receber o diploma ele se tornasse um ser iluminado, saindo de seu casulo dourado para se tornar um super mega fodaço analista de sistemas. Acredito que todo mundo que trabalha na área já conheceu gente que tem o diploma e mesmo assim é um zero à esquerda como profissional. Todo mundo da área sabe que existem muitas faculdades que não se preocupam com a qualidade do curso, e sim com a lucratividade do negócio do diploma. A regulamentação ajuda as pessoas que vêem o diploma como um fim a se tornarem mais acomodadas ainda. Porque elas sairam do casulo dourado.
Contra-argumentos comuns e esperados
Reservei este espaço para já deixar meio respondidos os principais contra argumentos (alguns meio idiotas) que vejo por aí quando este assunto é discutido.
“Você está reclamando porque não tem diploma“: Falso. Eu sou formado em Ciência da Computação. Mesmo assim, acho idiota esse argumento. Discussões se fazem com idéias, não com credenciais.
“Você deixaria uma pessoa qualquer que não fosse formada em medicina te operar numa sala de cirurgia?“: Dã! Esse contra argumento assume que essas duas profissões são muito parecidas, o que não é verdade. A medicina não avança na mesma velocidade que a tecnologia. A medicina é uma profissão em que o diploma está muito mais próximo da finalidade a que se propõe (vide metáfora do casulo dourado), mesmo que no decorrer da profissão o profissional precise se atualizar. E principalmente, em uma mesa de cirurgia uma pessoa pode morrer. Como você vai saber se aquele cara que vai te operar (cruz-credo, bate na madeira) pelo menos tem uma idéia do que está fazendo? Um jeito de testar é deixar ele fazer, mas você pode não estar lá para dar o veredito depois. Em informática, você pode e deve levar um tempo para avaliar a competência de alguém. Se você tem um cara muito ruim no seu projeto, você vai notar depois de um mês. Você não tem um mês para avaliar um médico.
“Sem a regulamentação a área fica cheia de oportunistas que aprenderam a programar com um livrinho de banca de jornal e oferecem o serviço a preços muito baixos.“: Oi, conhece capitalismo? Se o serviço que esse garoto fornece, com conhecimento de banca de jornal, atende o que esse suposto cliente está querendo, qual é o problema? E se o que o cliente queria era realmente algo muito simples, possível de se fazer com conhecimento de banca de jornal? Esse cliente também tem que ter na cabeça de quem ele está comprando, e está assumindo esse risco. Muitos vão preferir um profissional graduado para não arriscar e vão pagar mais por isso. O mercado tem diferenças gritantes de salário, e na minha opinião é muito mais questão da pessoa saber se vender (no bom sentido).
Conclusão
A regulamentação só gera mais dinheiro para donos de faculdades picaretas, para as pessoas que vão fazer parte desses conselhos e vai passar um bom tempo contando o dinheiro das mensalidades dos profissionais registrados e para os profissionais mais acomodados. É uma lei que beneficia poucos e prejudica o crescimento do país. Enquanto isso, países que levam a tecnologia e desenvolvimento a sério nem cogitam criar uma lei como essa.
Prof. War - Bacharel em Ciência da Computação, pós-graduado em Educação a Distância pela Universidade Católica de Brasília. Filho de Médico com Advogada. Irmão de Psicóloga e Fisioterapeuta. E o único na família que não tem Conselho (quem mandou não estudar), embora defenda a idéia do Conselho de Informática em salas de aula a cerca de 22 anos. Empreendedor, criou uma empresa de informática em Goiânia (ABC Informática LTDA) que fechou após mais de um ano em funcionamento, sem ficar endividada. Funcionário concursado no SERPRO (como Técnico e como Analista), atuou na POLITEC e na UNEB como celetista e em várias outras empresas. Atualmente leciona como professor da UNIP (Universidade Paulista), trabalha no Ministério Público Federal (concursado como analista de sistemas) e já cursou três semestre de Direito (e não sabe se retoma as aulas). Sendo contra a obrigatoriedade do diploma de jornalismo. #prontofalei
Veja também:
Conselho Federal de Informática: ele pode estar mais perto do você pensa - Computer World
Republicado do dia 03/08/09
Segue o post com os comentários:
Contra a regulamentação da profissão de analista de sistemas
O Projeto de Lei 607/2007 chegou ao Senado com parecer favorável (e você pode acompanhar o processo neste link, se o servidor do Senado te ajudar).
(...)
Para resumir a história, o projeto de lei propõe a criação de um Conselho Federal de Informática e Conselhos Regionais espalhados pelo país, no mesmo molde do Conselho de Medicina. Também seguindo o modelo dos nossos amigos médicos, o projeto de lei quer tornar obrigatório que um Analista de Sistemas seja formado em uma faculdade de Ciência da Computação, Sistemas de Informação ou Processamento de Dados. E quem não tem nenhum desses diplomas? Quem possuir 5 anos comprovados trabalhando em TI, vai ter uma colher de chá, mas os outros serão considerados ilegais.
É fato que o mercado já não olha com bons olhos os não possuidores de diploma. A empresa que contrata um profissional de informática hoje que não possui diploma normalmente incorre em dois erros:
- Não conhece a realidade do mercado e arrisca-se contratando um profissional sem diploma (e sem Conselho) o que empresa de engenharia alguma faria.
- Quer economizar em TI contratando um jovem aventureiro que fará qualquer coisa por uma "chance" mas que vai lutar até o fim para não liberar o "código fonte". Não documentar. E terá que ficar enfurnado na sala de TI sem perspectiva de crescimento pois não sabe, em regra, redigir um e-mail sem estar repleto de erros de português (uma redação geralmente é obrigatória para o ingresso na faculdade mais pé-de-chinelo que você imaginar) e impediria, muitas vezes, a sua progressão para o cargo de analista de negócio. Já que no Brasil, a carreiro em Y não é muito praticada.
O que o cliente discriminaria (uma realidade no mercado, quer queiramos ou não) na hora que batesse o olho em tal e-mail. Regra em muitas fábricas (esse sim, lembra muito um ambiente de retrocesso do século XVIII onde se contrata pessoal "baratinho", sem carteira (PJ) só para ganhar uma licitação.
Muita gente olha para isso e pensa que essa lei vai botar ordem na casa. Afinal, médicos são fodões, e respeitados e ganham melhor que você que programa em Visual Basic. Finalmente, depois de tantos livros e cursos que você fez, vai poder andar na rua com muito mais orgulho, e blá, blá, blá.
Desculpem o balde de água fria, mas essa lei é um retrocesso, um atraso para o país. Não é um passo para trás, é praticamente um moonwalking. Eis os principais porquês:
Competitividade no cenário global: o Brasil já tem dificuldade para competir com outros países na hora de vender TI por causa da burocracia, dos impostos e da barreira da língua. Coloque mais uma coisa para dificultar, como por exemplo uma regulamentação da profissão de analista de sistemas, e veja investidores começando a olhar para o Kuwait ou Polônia como opções mais lucrativas que o Brasil. Pior, começa a valer muito mais a pena para as empresas brasileiras contratarem serviços de outros países, como a Índia. A regulamentação no Brasil não vai criar e nem proteger empregos. Ela faz os empregos migrarem.
Aí começa a complicar a argumentação. O maior problema da TI brasileira é justamente a falta de qualidade. A chamada crise do software. Milhões de horas são desperdiçadas sem que saibamos sequer mensurar a perda. Já estamos tão habituados com isso que nem nos importamos muito com o retrabalho. E você já viu como é que auto-didata aprende? Em regra é só aquilo que gosta. Se gosta de programar, não aprende a testar, documentar, não tem visão estratégica do sistema, gestão de projeto, gestão de qualidade etc. É claro que aprende tudo na marra na hora que entra para uma empresa ou quando precisam arrumar um emprego (já vi alunos estudando em seis meses para concurso o que não estudaram em cinco anos de faculdade, apenas pela motivação, isto é, viu que a coisa é feia).
Assim, os softwares vão ficando cheios de gambiarras e quase imanuteníveis (gostou? Inventei agora...:-P). Não foi a toa que o SEI inventou o CMM. O DoD estava com total falta de qualidade em seu software (e eles lidam com armamento nuclear). Na época se diziam que só um em cada três projetos de software terminavam. E a grande maioria fora do que foi especificado. Será que no Brasil a coisa é diferente? Claro que não. Mas até de números confiáveis e abrangentes nosso setor é carente. E a exigência de diploma e de regulamentação da carreira vai ajudar a dar mais qualidade e credibilidade ao setor? Se quisermos deixarmos de ser "artista" para nos tornamos engenheiros de software certamente que sim. Assim como o CREA "enquadra" o pessoal e as empresas de engenharia exigindo métodos formais e procedimentos de trabalho padronizados.
Já a questão da migração de empregos pode até ocorrer, se tudo ficar tão caro quanto o colega afirmou. Mas um cargo de médico hoje no governo recebe um inicial entre R$ 2.000,00 e R$ 3.000,00 reais. Não é nenhuma fortuna. Mas os melhores sempre vão poder "tirar" uma vantagem maior por serem especializados ou por serem raros.
E isso vai acontecer com a nossa profissão também.
O grande problema do Brasil na área de TI é justamente a falta de mão-de-obra qualificada. Emprego até que tem bastante.
Barreira ao empreendedorismo: no Brasil já é complicado abrir um negócio, porque a lei não te ajuda, os impostos comem todo aquele capital que você preferia transformar em mais empregos. A regulamentação da informática torna as coisas ainda mais complicadas, ainda mais hoje que toda empresa precisa pelo menos um pouco de TI. Obrigado a contratar pessoas com diploma e todos os outros detalhes exigidos pelo Conselho Regional, o empreendedor se torna refém dos preços tabelados causados pela falta de mão de obra.
Olha, eu vou contar uma coisa. A TI é vista pela sociedade como um MAL necessário. Segunda coisa. O empresário, em regra, não está nem aí para geração de empregos. Se ele pudesse colocaria um robô, mandava todo mundo para rua e ía pescar no Araguaia.
É aquele demônio da CLT, da previdência, e dos Conselhos que dificultam o empreendedor a mandar a galera para glória ao primeiro sinal de crise. E como o Brasil vai muito bem obrigado nessa crise, apesar de muitos erros dos nossos governantes (como dar incentivos para a indústria de autos e não exigir nadica em contrapartida), muito desses DEFEITOS do nosso capitalismo intervencionista estão sendo melhor avaliados. O desemprego existe mas não foi essa farra como foi nos EUA. Aqui é mais difícil demitir e quando se demite o funcionário ainda tem uma graninha para girar a economia. Em recente entrevista ao canal ManagemenTV o fundador da Embraer, Osiris Silva, dizia que o brasileiro não pode ter dinheiro na mão que gasta (ao contrário do japonês, que poupa tudo). Assim, o empreendedor pode odiar esse sistema (e eu acho que deve ser aperfeiçoado, especialmente no que diz respeito à carga tributária), mas não é essa farra do boi que os liberais achavam que devia ser o mercado (e essa crise mundial acabou passando um recibo). Agora os economista têm que estudar novamente Marx (renascido das cinzas) e Keynes (outro vingado). E eu não estou falando em comunismo não (antes que um xiita venha com ideologias neoliberais para o meu lado). Estou falando em capitalismo com responsabilidade social e preocupação ambiental.
Barreira à inovação: Países que são pólos efervescentes de inovação em tecnologia como os Estados Unidos e a Índia não criam esse tipo de barreira e é por isso que estão aonde estão. O Vale do Silício (de onde sairam as principais e mais famosas empresas de TI do mundo) não existiria com uma lei que torna mais complicada a captação de talentos. E como uma regulamentação pode definir o que é o mínimo que um profissional deve conhecer em uma área tão dinâmica como tecnologia? Isso acaba tendo o mesmo efeito que o vestibular, em que as pessoas vão investir nesse conjunto mínimo de habilidades, ao invés de se arriscar estudando coisas que poderiam gerar muito mais valor.
Olha, a indústria do cinema nos EUA é a mais inovadora e talentosa do mundo (ok, Bollywood ganhou oscars também). Mas o sindicato dos artistas e dos roteirista é extremamente exigente e regulatório (a ponto de quase não permitirem que Star Wars fosse exibido por não ter os créditos no início da projeção). Quando os roteiristas fazem greve a qualidade das produções vai lá embaixo. E não estamos falando de sindicato aqui. Estamos falando de Conselhos. Que também é uma boa para o patrão. Ele pode exigir diretrizes de conduta que de outra forma inexistiria.
Por exemplo, em uma seguradora que eu trabalhei um analista (sei lá se formado ou não) desviou uma nota preta para sua própria conta. Ele não foi preso por ter feito um acordo e ter contado como conseguiu a façanha e por que havia feito aquilo ("Ué, por que tava fácil!) foi a resposta. Independente do acordo, o nome dos analistas fica manchado com esses casos. Os próprios colegas deveriam denunciá-lo para o Conselho e supendê-lo ou expulsá-lo, o que dificultaria sua contratação. SE houvesse conselho isso poderia ser feito. Mas a gente não é "FODÃO" (para usar um termo do colega) então não precisamos ligar para a nossa reputação, não é?
Baixa oferta de mão de obra qualificada: a gente já está cansado de ouvir as notícias de que está faltando mão de obra qualificada para preencher as vagas de tecnologia em empresas. Mesmo com a crise isso é verdade, como você pode ver nos sites de ofertas de emprego. Com a regulamentação você torna o número de possíveis candidatos ainda menor. O que começa a tornar interessante terceirizar ou contratar serviços em outros países. Ou fechar as portas. Ou engolir a qualidade baixa de qualquer jeito (você não acha que ter diploma seja sinônimo de qualidade, certo?).
Errado. O diploma deve ser sinônimo de diferencial de conhecimento sim. O problema é que o sistema de ensino está depauperado. Hoje algumas empresas discriminam certas instituições de ensino superior (IES) na hora de contratar e admitir para estágio (outra coisa distorcida no país, que deveria ser igual a uma residência médica, e não uma fonte de mão-de-obra barata). Mas isso está mudando, por conta do próprio mercado e de políticas de governo. As IES estão passando por avaliações periódicas para mensurar a qualidade do ensino e quem está indo a faculdade apenas para pegar um título vê que o nível está subindo cada vez mais (o que também fez aparecer no país os cursos de curta duração, mais técnicos). Todo mundo fala mal da academia mas na hora de contratar as empresas valorizam mais (salário) os estudantes oriundos de faculdades públicas (o máximo do academicismo teórico) e com mestrado e doutorado. Será que o departamento de pessoal delas estão tão errados assim?
Incentivo à mediocridade: não posso opinar sobre outras profissões que não conheço direito. Mas em informática, uma reserva de mercado só vai servir para proteger os medíocres, os caras que tem o diploma e pagam a mensalidade do Conselho Regional em dia, mas que são profissionais bem “mais ou menos”. Normalmente são os caras que se formaram em alguma Uniesquina do grupo Tabajara (se alguém se forma no seu curso sem saber programar, seu curso é picareta) por aí, em que o processo seletivo se tratava de assinar o cheque, e quase todo mundo se forma no tempo certo (se pagar direitinho). Esse cara pode ficar mais despreocupado ainda em tentar melhorar, já que a carteirinha de registro dele e a falta de mão de obra seguram o emprego dele. Se bobear, ele apenas assina os projetos. Os caras bons, diferentes dele, hoje já se diferenciam tanto que não tem problema para se colocar. Se souberem vender seu peixe até conseguem um bom salário. Os bons não precisam dessa lei para se proteger.
A prova da Ordem dos Advogados do Brasil - OAB (a Ordem é, em essência, uma espécie de conselho) é o que garante um mínimo de respeito pela já tão mal vista pelo cidadão comum (injustamente creio eu) função de operador do Direito (que eu respeito e admiro, por favor não me processem!). Assim, por pior que seja a Uniesquina, o cara tem que saber o suficiente para fazer a prova. Essa é a vantagem do conselho. Não deixar a classe ao deus-dará. Além disso, o mercado ainda valoriza aqueles que ganham mais causas, acham brechas na lei para seus clientes e cobram o que o mercado paga (mas com um piso muito bem estabelecido).
Farinha do mesmo saco?: O projeto de lei trata todo profissional de TI como Analista de Sistemas ou Técnico de informática. Inclusive diz que pessoas que vão gerenciar projetos ou fazer auditoria precisam ser profissionais com diploma na área. Tudo bem que acho meio complicado lidar com gerente de TI que entende pouco de informática, mas acho um exagero dizer que alguém precise de um diploma na área para entender o suficiente para gerenciar o projeto. Desenvolver um sistema e gerenciar pessoas são competências muito diferentes, e acredito que uma pessoa que se formou em Ciência da Computação não morra de amores por gerenciar um projeto, da mesma forma que alguém que se formou em Administração não deve achar muito legal desenhar a arquitetura em camadas de um sistema web de alta performance. Acho besteira desperdiçar o tempo dos professores e desses alunos que acham mais legal gerenciar, com aulas sobre árvores rubro-negra, por exemplo. Sem falar que os cursos de TI normalmente não tem quase nada voltado a planejamento, coordenação e etc. (ainda bem, porque se tivessem iriam deixar de fora partes importantes do currículo).
Pode até ser, mas o empreendedorismo e a gestão de projetos (já bastante impregnado na engenharia de software) está cada vez mais presente nas grades curriculares do cursos de graduação de tecnologia. Mas não deixo de ressaltar que a graduação deve dar uma sólida base teórica e alguma prática para que o graduado vá depois se especilizar ou mesmo ampliar seus conhecimentos. O problema não é o projeto que tramita no congresso. O desafio é aprimorar a educação (e emprestando a fala de Osiris Silva, eu sou fã da educação como catapulta do desenvolvimento econômico e social do país).
Mais uma taxa para machucar seu bolso: Essa é fácil de justificar. Você, trabalhador honesto, acha legal pagar uma taxa anual (ou mensal, sei lá) para poder continuar trabalhando honestamente? E os impostos que você já paga?
Tem razão. É chato mesmo. Ainda mais que nem todo mundo é tributarista e certamente vai achar injusto. Mas sabe o que poderia ser mais injusto? É o imposto de quem não é de TI e às vezes nem tem Conselho ir parar no nosso no orçamento do nosso. Já pensou se seu imposto de renda fosse parar na OAB? Ou no Conselho de Medicina? ou no CREA? Cada um com seu cada qual...
Diploma como um fim: a regulamentação parte do pressuposto de que o diploma é um fim, e não um meio para que o sujeito se torne um bom profissional. Como se ao receber o diploma ele se tornasse um ser iluminado, saindo de seu casulo dourado para se tornar um super mega fodaço analista de sistemas. Acredito que todo mundo que trabalha na área já conheceu gente que tem o diploma e mesmo assim é um zero à esquerda como profissional. Todo mundo da área sabe que existem muitas faculdades que não se preocupam com a qualidade do curso, e sim com a lucratividade do negócio do diploma. A regulamentação ajuda as pessoas que vêem o diploma como um fim a se tornarem mais acomodadas ainda. Porque elas sairam do casulo dourado.
Pode ser. Mas aí eu posso te garantir, sem medo de errar, que a imensa e esmagadora maioria das pessoas que são um zero à esquerda. Passam a terem muito mais auto-estima, conhecimento, oportunidade e capacidade do que antes de cursar uma faculdade. Pode perguntar para qualquer pai que tenha na mão mais desacreditado dos diplomas de graduação de seu filho. Aí o zero desloca-se um tiquinho para esquerda. Mas será a esquerda da vírgula... E digo mais. O Conselho não vai eliminar o famoso Sr. Mercado. Mas vai com certezar dar mais dignidade para essa Caixa de Pandora que é a TI (do ponto de vista da sociedade).
Contra-argumentos comuns e esperados
Reservei este espaço para já deixar meio respondidos os principais contra argumentos (alguns meio idiotas) que vejo por aí quando este assunto é discutido.
“Você está reclamando porque não tem diploma“: Falso. Eu sou formado em Ciência da Computação. Mesmo assim, acho idiota esse argumento. Discussões se fazem com idéias, não com credenciais.
Concordo.
“Você deixaria uma pessoa qualquer que não fosse formada em medicina te operar numa sala de cirurgia?“: Dã! Esse contra argumento assume que essas duas profissões são muito parecidas, o que não é verdade. A medicina não avança na mesma velocidade que a tecnologia. A medicina é uma profissão em que o diploma está muito mais próximo da finalidade a que se propõe (vide metáfora do casulo dourado), mesmo que no decorrer da profissão o profissional precise se atualizar. E principalmente, em uma mesa de cirurgia uma pessoa pode morrer. Como você vai saber se aquele cara que vai te operar (cruz-credo, bate na madeira) pelo menos tem uma idéia do que está fazendo? Um jeito de testar é deixar ele fazer, mas você pode não estar lá para dar o veredito depois. Em informática, você pode e deve levar um tempo para avaliar a competência de alguém. Se você tem um cara muito ruim no seu projeto, você vai notar depois de um mês. Você não tem um mês para avaliar um médico.
Não pensem que o conselho é "só alegria" para quem atua na área. Geralmente o conselho é mais percebido na hora de "ferrar" os filiados. Mas normalmente ele preconiza diretrizes de procedimentos padronizados, impõe um código de ética à classe, fiscaliza, cria um piso salarial e caracteriza melhor qual é o papel do profissional. Nada de mandar o analista varrer o CPD.
Por falar em falácias. Eu leio muito em blogs coisas do tipo: o John Von Neumann não tinha diploma de computação. Acho que é quase a mesma coisa que dizer que Hipócrates não tinha diploma de medicina. Hoje, até mesmo Hipócrates teria que se formar, fazer residência e se filiar no CFM.
“Sem a regulamentação a área fica cheia de oportunistas que aprenderam a programar com um livrinho de banca de jornal e oferecem o serviço a preços muito baixos.“: Oi, conhece capitalismo? Se o serviço que esse garoto fornece, com conhecimento de banca de jornal, atende o que esse suposto cliente está querendo, qual é o problema? E se o que o cliente queria era realmente algo muito simples, possível de se fazer com conhecimento de banca de jornal? Esse cliente também tem que ter na cabeça de quem ele está comprando, e está assumindo esse risco. Muitos vão preferir um profissional graduado para não arriscar e vão pagar mais por isso. O mercado tem diferenças gritantes de salário, e na minha opinião é muito mais questão da pessoa saber se vender (no bom sentido).
Vide o último comentário.
Conclusão
A regulamentação só gera mais dinheiro para donos de faculdades picaretas, para as pessoas que vão fazer parte desses conselhos e vai passar um bom tempo contando o dinheiro das mensalidades dos profissionais registrados e para os profissionais mais acomodados. É uma lei que beneficia poucos e prejudica o crescimento do país. Enquanto isso, países que levam a tecnologia e desenvolvimento a sério nem cogitam criar uma lei como essa.
Sabe a diferença entre um engenheiro e o pessoal da TIC que não é engenheiro? O CREA.
Prof. War - Bacharel em Ciência da Computação, pós-graduado em Educação a Distância pela Universidade Católica de Brasília. Filho de Médico com Advogada. Irmão de Psicóloga e Fisioterapeuta. E o único na família que não tem Conselho (quem mandou não estudar), embora defenda a idéia do Conselho de Informática em salas de aula a cerca de 22 anos. Empreendedor, criou uma empresa de informática em Goiânia (ABC Informática LTDA) que fechou após mais de um ano em funcionamento, sem ficar endividada. Funcionário concursado no SERPRO (como Técnico e como Analista), atuou na POLITEC e na UNEB como celetista e em várias outras empresas. Atualmente leciona como professor da UNIP (Universidade Paulista), trabalha no Ministério Público Federal (concursado como analista de sistemas) e já cursou três semestre de Direito (e não sabe se retoma as aulas). Sendo contra a obrigatoriedade do diploma de jornalismo. #prontofalei
Veja também:
Conselho Federal de Informática: ele pode estar mais perto do você pensa - Computer World
Republicado do dia 03/08/09
Veja o post de Silvio Meira sobre regulamentação
ResponderExcluirhttp://smeira.blog.terra.com.br/2009/08/17/profisses-regulamentao-flanelinha-capoeirista/
Lá tem tb uma serie "mnaterias" sobre a dita regulamentação de TI!
Chega de informalidade. Para programar precisa de DIPLOMA. Chega de ter que ensinar padrões a programador de revistinha. Chega de ter que ensinar como funciona um SO a DBA de revistinha. Chega de ter que dizer que R$ 1.000,00 é pouco para ter uma profissão séria na hora da entrevista. Todos já sabiam que a Informática ia ser regulamentada desde 19XX. Faltou estudar... Eu estudei apesar de quase 20 anos de experiência. SOU FAVORÁVEL A ESSE PROJETO DE LEI.
ResponderExcluirClap! Clap! Clap! Apoiado.
ResponderExcluirTem muito enrolador que consegue o cliente na conversa e contrata outros Desenvolvedores para fazer para ele por uma merreca. É a chamada quarteirização. O contratante paga uma mixaria para essas pessoas que tem até curso superior e aceitam pois tem muito programador Gambiarra no mercado.
ResponderExcluirvaleu vai me ajudar no debate
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