Veerle Ponnet buscou formas de ensinar aquilo que aprendera e passou a usar insights da neurociência para melhorar o ensino e também a apren...
Destaques
👥 Responsabilidade dos educadores: Ponnet destaca o papel dos educadores em criar uma atmosfera positiva em sala de aula, compartilhando paixão pelo conhecimento e estimulando a aprendizagem.
A palestra de Veerle Ponnet oferece insights valiosos sobre como a neurociência pode informar e melhorar a prática educativa, destacando o papel das emoções, motivação intrínseca e responsabilidade dos educadores no processo de ensino e aprendizagem.
Transcrição
Quando concluí a universidade, eu deixei o meu país natal para começar a trabalhar com turismo. Viajei pelo mundo por cerca de sete anos e, em dado momento ao longo do caminho, aprendi outras línguas. Eu me apaixonei, então aprendi espanhol. Aprendi francês e alemão porque eram as línguas que eu precisava em meu trabalho. E eu aperfeiçoei meu inglês porque esse era o idioma que eu precisava para comunicação internacional. Quando abandonei meu trabalho em turismo, as pessoas começaram a me perguntar se eu poderia ajudá-las a aprender francês ou alemão ou espanhol.
Foi quando percebi que saber uma língua não necessariamente te dá conhecimento para ensiná-la. Então comecei a estudar de novo. Comecei fazendo mestrado em linguística aplicada ao ensino de inglês como língua estrangeira. Porém, isso não me deu o conhecimento que eu estava procurando. Eu ansiava por descobrir por que algo que é fácil e natural para mim, como o aprendizado de línguas, é complicado para outros. Queria saber um pouco mais sobre como o cérebro funciona e ser capaz de ajudar as pessoas, então, continuei a estudar. Eu me tornei uma coach certificada em aprendizagem de línguas, dei continuidade para me tornar uma coach de vida e recentemente concluí um mestrado em neurociência aplicada à educação.
A neurociência aplicada à educação parece ser uma disciplina muito complicada e, certamente, há muito a se aprender. Mas, eu gosto de descrevê-la como senso comum em educação explicada pela ciência. A neurociência aplicada à educação é onde a psicologia, neurociência e educação se encontram e aquele conhecimento é utilizado para aprimorar ensino e aprendizagem.
O que exatamente faz a aprendizagem se consolidar? E como podemos ajudar a aprendizagem se consolidar?
Uma coisa que sabemos é que não há aprendizagem sem emoção. Precisamos de emoção para adquirir novos conhecimentos.
Precisamos de emoção para reter esses conhecimentos novos. Precisamos de emoção para pensar, para resolver problemas e precisamos de emoção para atenção focada.
Vamos tentar isto: posso pedir que fechem os olhos? Fechem seus olhos e imaginem um momento feliz. Pode ser que vocês tenham ido à praia semana passada com alguns amigos. Talvez estejam um pouco mais no passado talvez estejam pensando no seu primeiro namorado, namorada. seu primeiro beijo, talvez? Fiquem à vontade para escolher qualquer memória que venha à mente. Agora, eu gostaria que se lembrassem do maior número de detalhes que puderem. Onde você estava? Com quem você estava? O que você estava vestindo? Como estava o tempo naquele dia? Estava quente? Estava frio? Estava ventando? Que cheiro você sente? E o que tudo isso faz você sentir?Tenho certeza que todos vocês se lembram de muitos detalhes. Podem abrir os olhos agora. Tenho certeza que todos se lembram de muitos detalhes. Por que isso acontece? Bem, nosso cérebro se lembra mais de eventos carregados de emoção do que dos eventos entediantes.
E embora a ciência ainda não esteja clara sobre os detalhes, sabemos que as emoções positivas estão relacionadas à nossa memória associativa. Então, se aplicarmos este conhecimento à sala de aula, nós sabemos que precisamos de uma atmosfera criativa, favorável e positiva a fim de que a aprendizagem ocorra.
Como podemos ajudar a criar esta tão necessária atitude positiva em relação à aprendizagem? Alunos motivados têm uma atitude positiva em relação à aprendizagem. Há dois tipos diferentes de motivação. Os alunos podem ser motivados extrinsecamente ou intrinsecamente. A motivação extrínseca desaparece assim que o aluno conquista a recompensa prometida ao passar em um exame, por exemplo.
O tipo de motivação que estamos procurando é a motivação intrínseca. Precisamos estimular e promover aquela motivação que vem de dentro. Precisamos que os alunos se apropriem do seu aprendizado. Como educadores, podemos oferecer conhecimento, mas não conseguimos abrir a cabeça dos alunos, colocar o conhecimento lá dentro e fechar a tampa de novo. Não seria fácil? Os próprios alunos são responsáveis por isso.
Então por que muitos alunos relutam em assumir essa responsabilidade? Seria medo do fracasso? Medo de errar? Não gostamos de errar. Não gostamos de sermos vistos como burros. Todos nós temos a necessidade de proteger nosso ego. E por isso é tão importante que a sala de aula seja um lugar seguro, que permita que erros sejam cometidos e perguntas sejam feitas. Lembrem-se que ninguém nasceu sabendo tudo. Ninguém nasceu sabendo andar de bicicleta.
Você monta na sua bicicleta, cai, arranha o joelho, bate a cabeça, monta na bicicleta novamente e tenta de novo. Isso tem a ver com a experiência de aprendizagem. Só tentando e errando na primeira vez que vocês vão então tentar de novo e talvez acertar na segunda ou terceira vez. Assim, é igualmente importante para nós observarmos nosso próprio comportamento. Estamos motivados? Nos permitimos errar? Fazemos perguntas? Aceitamos feedback?
Pesquisas recentes em neurociência mostram que nossas emoções são contagiosas. Nosso cérebro é um órgão social. Quando testemunhamos emoções intensas, então sentimos aquelas emoções como se elas fossem nossas. Imediatamente, isso nos dá uma responsabilidade. Como educadores, quando somos apaixonados por um tópico, precisamos compartilhar aquela paixão, precisamos demonstrar aquela paixão porque ninguém gosta de ouvir um locutor que parece estar entediado com seu próprio tópico. Nossos neurônios-espelhos são responsáveis pela empatia e felicidade que sentimos quando vemos outro indivíduo experimentando esses mesmos sentimentos.
Há uma forma bem mais fácil de dizer isso: o que você dá é o que você recebe. Tente e sorria, e verá que seu rosto sorridente será correspondido em sua maior parte por um sorriso. Na minha opinião, o conhecimento básico da neurociência aplicada à educação deve ser conhecido por todos. Não há necessidade que todos nós nos tornemos neurocientistas, mas acredito que esse conhecimento básico de como o cérebro trabalha deve estar presente no ensino primário, secundário e superior. E deve, certamente, ser incluído nos programas de treinamento de professores.
A neurociência educacional não é uma pílula mágica que resolverá todos os problemas na educação. Mas nos ajudará a achar algumas soluções visto que só compartilhando conhecimento, estimularemos uma evolução na educação. Nós compartilhamos com alunos, pais, professores e especialistas em educação. Dessa forma, todos seremos parte dessa evolução natural na educação.
Assim, se vocês se sentem da mesma forma, então gostaria de convidá-los a começarem a ler e investigar sobre essa fascinante e nova abordagem na educação. Abracem a ideia. Compartilhem o conhecimento. Divulguem a palavra. E, aqui entre nós, podemos fazer isso acontecer. O futuro da educação é brilhante.
Obrigada. (Aplausos)
Sobre Veerle Ponnet
Visto no Brasil Acadêmico
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