Vacina contra AIDS baseada em mRNA da Covid-19 testada com êxito

Em meio à esteira de efeitos maléficos diretos e indiretos causados pela pandemia de Covid-19 alguns avanços na ciência surgem como algo de ...

Em meio à esteira de efeitos maléficos diretos e indiretos causados pela pandemia de Covid-19 alguns avanços na ciência surgem como algo de positivo. Dentre eles o combate à AIDS se destaca.

A ciência foi chamada a salvar a humanidade de uma enigma do tipo "decifra-me ou te devoro" que é a ação devastadora do coronavírus Sars-CoV-2, cuja variante ômicron é apenas mais um capítulo dessa longa sequência de ondas de surtos que vão e vem ceifando vidas, destruindo paradigmas e alastrando infodemias de fake news.

No Brasil, apesar do obscurantismo e truculência do governo contra a ciência, vide as deserções em massa na CAPES por avaliadores de pesquisa, foi  o próprio sequenciamento da variante ômicron que alçou um cientista brasileiro no panteão do maiores cientistas do ano, segundo a Nature – atualmente ele trabalha na África do Sul. E a cultura de vacinação e o SUS fazem o Brasil melhor em cobertura vacinal do que países mais ricos e desenvolvidos, como os EUA, que sofre com a praga do negacionismo de forma mais intensa.

Pois foi justamente na revista "Nature Medicine" que foi publicado, no último dia 9, um promissor estudo onde uma vacina experimental contra a AIDS, baseada na mesma tecnologia de duas vacinas contra a COVID-19, o mRNA, obteve bons resultados primeiro em ratos e depois em macacos.

Segundo os cientistas do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas (NIAD), que faz parte da agência de investigação médica (NHI), do Departamento de Saúde dos EUA, os resultados mostraram que a vacina era segura e conseguiu provocar as respostas imunológicas celulares e de anticorpos desejadas pelos cientistas contra um vírus similar ao HIV – o HIV Símio, já que os macacos são invulneráveis ao HIV humano.

A vacina experimental funciona de modo análogo às vacinas para COVID-19 baseadas no mRNA. Contudo, em vez de transportar instruções para a proteína do coronavírus a vacina fornece instruções codificadas de mRNA para fazer duas proteínas características do vírus – que não podem causar infeção ou doença por não possuírem o código genético completo do HIV. Elas então se agrupam em pseudovírus (VLPs) específicos, simulando uma infecção para induzir uma resposta do sistema imunológico. 

Segundo os cientistas a vacina foi considerada segura após ser administrada em macacos, com uma redução de 79% no risco de infecção devido à exposição ao vírus e foi bem tolerada, apesar das altas doses do imunizante, com efeitos adversos como perda temporária de apetite.

“Apesar de quase quatro décadas de esforços da comunidade científica mundial, uma vacina eficaz para prevenir o HIV continua sendo um objetivo inatingível.”
Anthony Fauci. Coautor do estudo e consultor da Casa Branca para a crise sanitária da Covid-19.

Na semana 58, todos os primatas desenvolveram níveis detectáveis de anticorpos. A partir da semana 60, os macacos foram expostos semanalmente ao vírus, por meio da mucosa retal.

Após 13 semanas, apenas dois dos sete primatas imunizados não estavam infectados. Enquanto os demais não vacinados desenvolveram a doença após cerca de três semanas, os imunizados demoraram em média oito semanas.

Segundo destacou a pesquisa, “este nível de redução de risco pode ter um impacto significativo na transmissão viral”.

Os cientistas do NIAD trabalharam em conjunto com pesquisadores da Moderna, empresa americana responsável por uma das vacinas mais utilizadas contra a Covid a qual, como a vacina da Pfizer, também se utiliza do mRNA.

Eles observaram, no entanto, que os níveis de anticorpos produzidos foram relativamente baixos e que uma vacina que exija várias injeções seria difícil de ser aplicada em humanos.

Eles também esperam melhorar a qualidade e a quantidade do VLP gerado, antes de testar a vacina em seres humanos.

Mas porque ainda não temos uma vacina contra o vírus da AIDS? Bem, o HIV, embora tenha sido descoberto na década de 1980, ainda desafia a ciência por causa de suas mutações e, até hoje, ainda não há uma vacina eficaz contra este agente infeccioso. Talvez, um dos maiores desafios para o desenvolvimento de um imunizante seja o fato de que o vírus se integra ao genoma humano rapidamente. Isso ocorre em até 72h e, após esse prazo, a doença se torna praticamente irreversível.

Assim, torna-se mandatório que no momento em que vai ser exposto o paciente já tenha anticorpos prontos.

Fonte: Folha, Canaltech, ilustração de vírus HIV (em amarelo)  infectando células T (wikimedia)
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