Depois de ser responsável por alterar nomes de genes o editor de planilhas da Microsoft está envolvido agora em desaparecimento de casos de ...
Depois de ser responsável por alterar nomes de genes o editor de planilhas da Microsoft está envolvido agora em desaparecimento de casos de Covid-19. Entenda.
Sou fã das planilhas como ferramenta de trabalho. Não do Excel propriamente, embora também goste dele, mas das soluções que o conceito de planilha eletrônica de cálculo trouxe para os seus usuários. Uma gigantesca matriz bidimensional onde as células são repositórios variáveis de dados de diversos tipos (números, textos, datas) facilmente endereçáveis e pelas quais podemos navegar com rapidez fazendo cálculos e fazendo ordenações, transposições, filtragens, entre outras formas de processamento de suas informações.
E eu as via muito antes de entendê-las. Foi assim com as primeiras versões da Lotus 123 para DOS, que cabia em um disquete e contava apenas com comandos de teclado. Quattro Pro, um dos vários sucessores, uma maravilha para criar gráficos sobre os dados. Até que chegamos ao Windows com o MS Excel que fazia tudo isso em uma interface gráfica e passou a dominar o mundo dos suítes de escritório juntamente com o Word. Já que os processadores de texto estão para as palavras assim como os editores de planilhas eletrônicas estão para os números.
Consolidado como um padrão de mercado informalmente, a ponto de obrigar os geneticistas a rebatizarem alguns genes por causa de suas funções, os arquivos do Excel são quase que uma unanimidade nos escritórios que não se importam em pagar pelos softwares proprietários (alguns nem mesmo pagam por ele). Assim, não foi tão estranho que a agência de saúde britânica Public Health England (PHE) tenha escolhido os arquivos do Excel para registrar os casos de Covid e enviar essa informações para um sistema central. Até aí parecia tudo bem.
Afinal, ser simples e conhecido de todos torna essa decisão vantajosa sob a óptica do mundo interio estar em estado de guerra em meio a uma crise sanitária onde uma simples ida a um treinamento presencial poderia estar fora de questão. O problema é que os desenvolvedores do PHE escolheram o formato de arquivo do Excel mais antigo para fazer isso. O formato XLS.
Visualmente, nem parece mesmo haver diferença. Continua mostrando a mesma matriz de células na tela do computador quando você trabalha com esse tipo de arquivo (o padrão atual é o XLSX). A questão é que o padrão XLS só consegue guardar pouco mais de 65.000 linhas de dados (65.536 para ser mais preciso), ao passo que o padrão XLSX pode arquivar mais de um milhão de linhas (1.048.576 linhas, para ser mais exato). E isso fez toda a diferença.
Como cada teste feito com o swab (uma espécie de cotonete de Itu para coletar amostras da garganta acessando pela narina) gera várias linha de dados, na prática, cada planilha só guarda 1.400 casos. Se tivesse optado pelo outro formato teria manipulado 16 vezes mais.
Ocorre que cada empresa que analisava os testes envia os resultados como um arquivo de texto separado por vírgulas (conhecido como CSV - Common-Separeted Value) que em seguida eram inseridos nos modelos do Excel para posteriormente serem carregados em um sistema central para serem disponibilizados para as equipes de teste e rastreamento e para o governo. Só que quando os dados enviados no formato CSV passavam do limite de 65000 linhas do formato XLS as linhas que sobravam eram simplesmente ignoradas pelo sistema. Dessa forma, muitos casos foram omitidos nos relatórios diários.
Ao todo, foi estimado que por esse erro técnico perderam-se 16.000 casos e que as consequências podem ter sido devastadoras para muitas família já que muitas medidas de prevenção eram tomadas com base nesses dados. Os dados perdido já foram adicionados ao sistema central.
No Brasil, o Ministério da Saúde divulga os dados no formato CSV mas já deixou de fazê-lo sob o argumento de que iria melhorar o sistema de divulgação. Nosso maior receio não era das escolhas tecnológicas, mas sim da manipulação política dos dados. Essa situação gerou preocupação junto a pesquisadores como já mostramos aqui.
No Brasil, o Ministério da Saúde divulga os dados no formato CSV mas já deixou de fazê-lo sob o argumento de que iria melhorar o sistema de divulgação. Nosso maior receio não era das escolhas tecnológicas, mas sim da manipulação política dos dados. Essa situação gerou preocupação junto a pesquisadores como já mostramos aqui.
Agora parece estranho que um país como a Inglaterra escolhesse arquivos do Excel para consolidar dados a serem enviados à central de dados do governo. Mas talvez se não houvesse tido problema seria o caso de dizer que o governo britânico agiu com austeridade ao usar planilhas baratas ao invés de gastar com um sistema mais sofisticado. O prejuízo político é enorme com a perda da credibilidade na gestão da saúde durante a epidemia fora as eventuais mortes que poderiam ter sido evitadas com a apuração mais eficaz dos dados e até mesmo uma maior demora para a recuperação econômica.
Esses são só alguns fatores a serem levados em consideração na hora de se optar por uma análise de requisitos mais cuidadosa e se tomar uma decisão de mais longo prazo como a de se interligar toda a rede de saúde. Isso necessitaria de grandes investimento mas que poderia trazer informações praticamente em tempo real o que poderia, por exemplo, identificar rapidamente um surto isolando o resto da população (e da economia) dos efeitos localizados. Na área da saúde, tempo tende a ser a diferença entre a vida e a morte. É como diz aquela canção, a lição sabemos de cor só nos resta aprender.
Fonte: The Next Web, BBC
Visto no Brasil Acadêmico
Esses são só alguns fatores a serem levados em consideração na hora de se optar por uma análise de requisitos mais cuidadosa e se tomar uma decisão de mais longo prazo como a de se interligar toda a rede de saúde. Isso necessitaria de grandes investimento mas que poderia trazer informações praticamente em tempo real o que poderia, por exemplo, identificar rapidamente um surto isolando o resto da população (e da economia) dos efeitos localizados. Na área da saúde, tempo tende a ser a diferença entre a vida e a morte. É como diz aquela canção, a lição sabemos de cor só nos resta aprender.
Fonte: The Next Web, BBC
Visto no Brasil Acadêmico
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