Em entrevista ao jornalista Luís Nassif do GGN, Miguel Nicolelis dá sua visão sobre vários temas: Desde a Educação, passando pela importânci...
Em entrevista ao jornalista Luís Nassif do GGN, Miguel Nicolelis dá sua visão sobre vários temas: Desde a Educação, passando pela importância do investimento estatal em ciência, até o possível aparecimento de uma nova espécie humana.
Nesta entrevista, Nicolelis opina sobre os sistemas de compliance que burocratizam e matam a criatividade e a inovação nas universidades americanas. Tratando da neuroplasticidade cerebral, o neuro cientista brasileiro diz que certas áreas do cérebro podem sofrer atrofias que podem até mesmo ficarem irrecuperáveis. Por isso, a preocupação com a hiperconectividade e seus efeitos deletérios no cérebro humano. Além disso, compara o fenômeno moderno das fake news com verdadeiros vírus e explica em seu livro o mecanismo daquilo que Jung chamou de inconsciente coletivo.
Miguel Nicolelis: O primeiro livro está saindo agora nos Estados Unidos daqui três meses, depois no Brasil no ano que vem pela (editora) Planeta é chamado "O Verdadeiro Criador de Tudo: Como o Cérebro Humano Esculpiu o Universo como Nós o Conhecemos". Onde eu conto como ao longo de toda a história da humanidade abstrações mentais criadas pela mente humana se transformaram em algo mais importante que a própria vida humana. Religiões, os sistemas econômicos... e hoje... a ponto da cosmologia humana ter-se fincado, o epicentro de diferentes momentos da história, se ficaram nessas abstrações mentais. Deuses...
Só que hoje nós vivemos a dominação do dinheiro, do sistema financeiro, como o centro do universo, né? O que eu proponho no livro é que para gente também ter alguma esperança enquanto espécie nós teremos que recriar essa cosmologia e descobrir que na verdade tudo que nós fazemos venda das propriedades do cérebro humano. Tudo que foi criado cientificamente, do ponto de vista artístico, político, econômico, depende do tipo de cérebro que nós temos.
Então, o humanismo do século 21, que eu espero que possa ser reativado um dia, teria que ser baseado num melhor entendimento de como a mente humana cria essas abstrações mentais, não é? Porque realmente elas assumam uma dimensão muito maior do que qualquer direito ou qualquer aspecto da vida humana.
Luís Nassif: Quer dizer, uma coisa que você propõe é colocar o homem no centro de tudo.
M.N.: Exatamente, isso que eu proponho. Eu chamo isso de uma cosmologia cérebro cêntrica.
L.N.: E a gente está no meio do processo em que a automação ameaça substituir o homem.
M.N.: Exato. Eu termino o livro contando a história do que tem ocorrido nos últimos 50 anos desde da explosão da era digital como Claude Shannon e Bell Labs... invenção do transístores, dos sistemas digitais. Há um crescimento exponencial da automação. Mas não é só da automação industrial que todo mundo fala. Que resulta em um desemprego muito grande. Que outro ponto fundamental. (...) que é
A eliminação dos meios de produção tradicionais não só elimina os empregos, mas elimina toda a discussão do que é mais valia, do que é trabalho.
Mas o meu aspecto, que abordei no livro é que essa automação atingiu o comportamento humano.
(...)
M.N.: O Marshall McLuhan dizia que isso (a hiperconectividade) iria cria o "global village", a aldeia global, e o que aconteceu foi o oposto. Foi a tribalização do mundo. E várias dessas tribos são reações ao modelo dominante.
E o drama da humanidade, em todos os lugares, eu acho que não só aqui, é que uma tribo não dialoga com a outra.
Elas se fecham no seus mundos, pois são mundo muito confortáveis, você está falando com gente que pensa que nem você. Que compartilha de seu valores morais, éticos, visões de mundo e tal. Mas, todavia, não há troca.
(...)
M.N.: (...) No limite, não é agora mas no limite, a gente pode pensar até no aparecimento de uma nova espécie.
L.N.: Que coisa.
M.N.: Que eu chamo de homo digital é uma espécie menos vocal, menos comunicativa, menos social, menos inteligente e menos capaz de desafiar o automatismo e o controle que os sistemas políticos futuros poderão exercer na gente.
L.N.: Isso explica porque pessoas aparentemente normais, inteligentes, de repente se renderam a essa maluquice desse ódio.
M.N.: É pra mim é um vírus é o que o Jung chamava de inconsciente coletivo mas o Jung nunca conseguiu verbalizar qual o mecanismo cerebral para isso acontecer. Acho que eu consegui, nesse livro, descrever o mecanismo cerebral.
Com a hiperconectividade eletrônica a informação, ou a fake news, passou a ser como um vírus. Esse vírus infecta rapidamente milhões de pessoas que têm um reforço da sua tribo de que aquilo é verdade. E isso reativa arquétipos, que era o que o Jung falava, mas são programas embutido no cérebro primordiais que vem desde o início da nossa evolução. Programas tribais de autodefesa, busca do inimigo, tentativa de coesão de um grupo que pensa igual para defender os seus valores são todos atributos primitivos.
(...)
(Veja a entrevista no vídeo acima).
Fonte: YouTube - Nicolelis, um filósofo a serviço da ciência
[Visto no Brasil Acadêmico]
Nesta entrevista, Nicolelis opina sobre os sistemas de compliance que burocratizam e matam a criatividade e a inovação nas universidades americanas. Tratando da neuroplasticidade cerebral, o neuro cientista brasileiro diz que certas áreas do cérebro podem sofrer atrofias que podem até mesmo ficarem irrecuperáveis. Por isso, a preocupação com a hiperconectividade e seus efeitos deletérios no cérebro humano. Além disso, compara o fenômeno moderno das fake news com verdadeiros vírus e explica em seu livro o mecanismo daquilo que Jung chamou de inconsciente coletivo.
Miguel Nicolelis: O primeiro livro está saindo agora nos Estados Unidos daqui três meses, depois no Brasil no ano que vem pela (editora) Planeta é chamado "O Verdadeiro Criador de Tudo: Como o Cérebro Humano Esculpiu o Universo como Nós o Conhecemos". Onde eu conto como ao longo de toda a história da humanidade abstrações mentais criadas pela mente humana se transformaram em algo mais importante que a própria vida humana. Religiões, os sistemas econômicos... e hoje... a ponto da cosmologia humana ter-se fincado, o epicentro de diferentes momentos da história, se ficaram nessas abstrações mentais. Deuses...
Só que hoje nós vivemos a dominação do dinheiro, do sistema financeiro, como o centro do universo, né? O que eu proponho no livro é que para gente também ter alguma esperança enquanto espécie nós teremos que recriar essa cosmologia e descobrir que na verdade tudo que nós fazemos venda das propriedades do cérebro humano. Tudo que foi criado cientificamente, do ponto de vista artístico, político, econômico, depende do tipo de cérebro que nós temos.
Então, o humanismo do século 21, que eu espero que possa ser reativado um dia, teria que ser baseado num melhor entendimento de como a mente humana cria essas abstrações mentais, não é? Porque realmente elas assumam uma dimensão muito maior do que qualquer direito ou qualquer aspecto da vida humana.
Luís Nassif: Quer dizer, uma coisa que você propõe é colocar o homem no centro de tudo.
M.N.: Exatamente, isso que eu proponho. Eu chamo isso de uma cosmologia cérebro cêntrica.
L.N.: E a gente está no meio do processo em que a automação ameaça substituir o homem.
M.N.: Exato. Eu termino o livro contando a história do que tem ocorrido nos últimos 50 anos desde da explosão da era digital como Claude Shannon e Bell Labs... invenção do transístores, dos sistemas digitais. Há um crescimento exponencial da automação. Mas não é só da automação industrial que todo mundo fala. Que resulta em um desemprego muito grande. Que outro ponto fundamental. (...) que é
A eliminação dos meios de produção tradicionais não só elimina os empregos, mas elimina toda a discussão do que é mais valia, do que é trabalho.
Mas o meu aspecto, que abordei no livro é que essa automação atingiu o comportamento humano.
(...)
M.N.: O Marshall McLuhan dizia que isso (a hiperconectividade) iria cria o "global village", a aldeia global, e o que aconteceu foi o oposto. Foi a tribalização do mundo. E várias dessas tribos são reações ao modelo dominante.
E o drama da humanidade, em todos os lugares, eu acho que não só aqui, é que uma tribo não dialoga com a outra.
Elas se fecham no seus mundos, pois são mundo muito confortáveis, você está falando com gente que pensa que nem você. Que compartilha de seu valores morais, éticos, visões de mundo e tal. Mas, todavia, não há troca.
(...)
M.N.: (...) No limite, não é agora mas no limite, a gente pode pensar até no aparecimento de uma nova espécie.
L.N.: Que coisa.
M.N.: Que eu chamo de homo digital é uma espécie menos vocal, menos comunicativa, menos social, menos inteligente e menos capaz de desafiar o automatismo e o controle que os sistemas políticos futuros poderão exercer na gente.
L.N.: Isso explica porque pessoas aparentemente normais, inteligentes, de repente se renderam a essa maluquice desse ódio.
M.N.: É pra mim é um vírus é o que o Jung chamava de inconsciente coletivo mas o Jung nunca conseguiu verbalizar qual o mecanismo cerebral para isso acontecer. Acho que eu consegui, nesse livro, descrever o mecanismo cerebral.
Com a hiperconectividade eletrônica a informação, ou a fake news, passou a ser como um vírus. Esse vírus infecta rapidamente milhões de pessoas que têm um reforço da sua tribo de que aquilo é verdade. E isso reativa arquétipos, que era o que o Jung falava, mas são programas embutido no cérebro primordiais que vem desde o início da nossa evolução. Programas tribais de autodefesa, busca do inimigo, tentativa de coesão de um grupo que pensa igual para defender os seus valores são todos atributos primitivos.
(...)
(Veja a entrevista no vídeo acima).
Fonte: YouTube - Nicolelis, um filósofo a serviço da ciência
[Visto no Brasil Acadêmico]
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