Nos últimos 70 anos, os cientistas britânicos têm estudado milhares de crianças ao longo da vida para descobrir por que algumas acabam feliz...
Nos últimos 70 anos, os cientistas britânicos têm estudado milhares de crianças ao longo da vida para descobrir por que algumas acabam felizes e saudáveis enquanto outras sofrem. É o estudo mais longo sobre desenvolvimento humano no mundo, que resultou nas pessoas mais bem estudadas do planeta e mudou o modo como vivemos, aprendemos e criamos filhos. Ao rever esta pesquisa impressionante, a cientista e jornalista Helen Pearson compartilha algumas descobertas importantes e verdades simples sobre a vida e uma boa criação.
Hoje eu quero confessar algo para vocês, mas antes vou fazer algumas perguntas. Quantos aqui têm filhos? E quantos estão confiantes de que sabem como criar seus filhos da maneira certa?
(Risos)
Ok, Não vejo muitas mãos levantadas para a segunda pergunta, e esta é minha confissão também. Eu tenho três meninos; eles têm 3, 9 e 12 anos. E como vocês e a maioria dos pais, a verdade é que não tenho a menor ideia do que estou fazendo. Quero que eles sejam felizes e saudáveis. Mas não sei o que devo fazer para garantir que sejam felizes e saudáveis. Há tantos livros oferecendo todo tipo de conselho conflitante, que pode ser muito aflitivo. Então passei a maior parte da vida deles inventando. Porém, algo mudou em mim há alguns anos, quando descobri um segredinho que temos na Inglaterra, que me ajudou a ser mais confiante de como criar meus filhos, e muito de como a sociedade pode ajudar as crianças. Quero compartilhar este segredo com vocês.
Nos últimos 70 anos, os cientistas na Inglaterra têm acompanhado milhares de crianças pela vida como parte de um estudo científico incrível. Não há nada igual em lugar algum do mundo. Coletar informações sobre milhares de crianças é algo muito poderoso de se fazer, porque significa que podemos comparar: quem vai bem na escola, ou fica saudável ou feliz ou rico quando adultos, com quem tem mais dificuldade, e podemos cruzar todas as informações coletadas e tentar entender por que suas vidas foram diferentes.
Este estudo britânico, na verdade é uma história louca. Começou em 1946, poucos meses após o fim da guerra, com cientistas querendo saber como era para uma mulher ter um filho naquele tempo. Eles fizeram uma pesquisa enorme com mães e acabaram registrando o nascimento de quase todos os bebês nascidos na Inglaterra, Escócia e Gales em uma semana. Foram aproximadamente 14 mil bebês. As perguntas que fizeram às mulheres são muito diferentes das que perguntaríamos hoje. Parecem muito antiquadas hoje. Eles perguntaram coisas como: “Durante a gravidez, você tomava uma quantidade maior de leite ou uma caneca por dia?” “Quanto você gastou em aventais, corpetes, camisolas, tênis, sutiãs?” Esta é minha favorita:
(Risos)
Agora, este estudo do tempo da guerra acabou tendo tanto sucesso que os cientistas o repetiram. Eles registraram nascimentos de milhares de bebês nascidos em 1958 e mais milhares em 1970. E repetiram-no no início dos anos 90. E novamente na virada do milênio. Somando, mais de 70 mil crianças foram envolvidas nestes estudos nestas cinco gerações. Elas se chamam de corte britânicos; e os cientistas voltaram e registraram mais informações sobre estas pessoas de tempo em tempo. A quantidade de informações coletada sobre estas pessoas é absolutamente extraordinária. Inclui milhares de questionários em papel e terabytes de dados de computador. Eles coletaram um enorme banco de amostras de tecidos, que incluem cachos de cabelo, unhas, dentes de bebê e DNA. Eles coletaram até 9 mil placentas de alguns nascimentos, que estão envasadas em tubos plásticos em um local de armazenamento seguro. Este projeto se tornou único. Nenhum outro país no mundo está rastreando gerações de crianças com tantos detalhes. Estas estão entre as pessoas mais bem estudadas no planeta, e os dados tornaram-se muito valiosos para os cientistas, gerando mais de 6 mil artigos acadêmicos e livros. Mas hoje, quero focar apenas uma descoberta: talvez a mais importante descoberta vinda deste estudo incrível. E também é a que me tocou pessoalmente, porque é sobre como usar a ciência para fazer o melhor para nossos filhos.
Então vamos primeiramente tirar as más notícias do caminho. Talvez a maior mensagem desse impressionante estudo seja esta:
Muitas crianças neste estudo nasceram em famílias pobres ou de trabalhadores que tinham casas apertadas ou outros problemas, e ficou claro que estas crianças em desvantagem têm mais chances de ter dificuldades em quase todos os pontos. Têm mais chances de ir mal na escola, de acabar em empregos ruins e ganhar menos. Talvez isso soe óbvio, mas alguns resultados são muito surpreendentes, então crianças com começo difícil na vida têm mais chances de se tornarem adultos não saudáveis também, mais chances de ficar acima do peso, de ter pressão alta, e depois de décadas, mais chances de ter falha de memória, saúde ruim e até de morrer mais cedo.
Bem, falei sobre o que ocorre depois, mas algumas destas diferenças aparecem surpreendentemente bem cedo. Em um estudo, crianças que crescem na pobreza estão quase um ano atrás de crianças mais ricas em testes educacionais e isso apenas aos três anos. Estas diferenças foram encontradas repetidamente nas gerações. Significa que nossas circunstâncias iniciais têm influência profunda no rumo que o resto de nossas vidas toma. E entender o porquê disso é uma das questões mais difíceis que enfrentamos hoje.
Então aí está.
(Risos)
Não nasça em família pobre ou numa família com dificuldades. Tenho certeza que vocês podem ver o probleminha aqui. Não podemos escolher nossos pais ou quanto eles ganham. Mas este estudo britânico também tem uma nota de otimismo mostrando que nem todos que têm um começo em desvantagem acabam em circunstâncias difíceis. Como sabem, muitos têm um começo de vida difícil mas acabam se saindo bem em algum ponto, e este estudo começa a explicar como.
Então a segunda lição é: pais de fato importam. Neste estudo, filhos de pais engajados, interessados, que tinham ambições para seu futuro, tiveram mais chances de escapar de um começo difícil. Parece que os pais e o que eles fazem realmente importam, especialmente nos primeiros anos de vida.
Deixe-me dar um exemplo disso: Em um estudo, cientistas estudaram em torno de 17 mil crianças nascidas em 1970. Eles cruzaram as montanhas de dados coletados para tentar entender o que permitia que crianças com um começo de vida difícil ainda assim se saíssem bem na escola, ou seja, quais foram contra as probabilidades. Os dados mostraram que o que pesou mais que tudo foram os pais. Ter pais engajados e interessados naqueles primeiros anos de vida foi fortemente associado às crianças irem bem na escola mais tarde. Na verdade, pequenas coisas que os pais mais fazem estão associadas a bons resultados para as crianças. Conversar e ouvir a criança, responder a elas afetuosamente, ensiná-las as letras e números, levá-las a viagens e visitas. Ler para elas todos os dias parece ser muito importante também. Então em um estudo, filhos cujos pais liam para eles diariamente quando tinham cinco anos e mostravam interesse em sua educação aos 10 anos, tinham significativamente menos chances de serem pobres aos 30 do aqueles cujos pais não faziam essas coisas.
Há desafios enormes ao interpretar este tipo de ciência. Estes estudos mostraram que certas coisas que os pais fazem estão ligadas a bons resultados para os filhos, mas não sabemos necessariamente se isto causou bons resultados, ou se algum outro fator influenciou. Por exemplo, precisamos considerar os genes, e esta é uma outra história.
Mas os cientistas de um estudo britânico estão dando duro para chegar às causas, e este estudo eu pessoalmente adoro. Neste estudo, observaram as rotinas na hora de dormir de 10 mil crianças nascidas na virada do milênio. As crianças que iam dormir em horários regulares, ou iam dormir em horas diferentes durante a semana?
Dados mostraram que...
...e isto era mesmo crucial porque sugeriu que a rotina da hora de dormir estava de fato ajudando a melhorar a vida das crianças.
Mais um fato a se pensar. Neste estudo, os cientistas observaram crianças que liam por prazer. Significa que elas pegavam revistas, livro de imagens ou de história. Os dados mostraram que crianças que liam por prazer aos cinco e dez anos tinham mais chances de ir melhor na escola, em testes escolares mais tarde. E não apenas em testes de leitura. em testes de matemática e ortografia também. Este estudo tentou controlar todos os fatores contraditórios. Então ele observou crianças igualmente inteligentes e com mesmo histórico social-escolar, e parece que a leitura foi o que de fato ajudou as crianças a pontuarem melhor nos testes escolares posteriores na vida.
Então no começo, disse que a primeira lição deste estudo era não nascer na pobreza ou na desvantagem, pois estas crianças tendem a ter caminhos mais difíceis na vida. Mas aí eu disse que os pais importam, e que bons pais, se é que pode-se chamar assim, ajudam os filhos a superar as conflitos e algumas desvantagens. Então espere, isso significa que a pobreza, na verdade, não importa? Você pode dizer que não importa se uma criança nasce pobre; desde que seus pais sejam bons, ela ficará bem. Não acredito nisso. Este estudo mostra que a pobreza e os pais importam. Um estudo, de fato, coloca isso em números. Ele observou crianças crescendo em pobreza contínua e como elas iam na escola. Os dados mostraram que mesmo que os pais fizessem a coisa certa - colocá-los na cama no horário, ler para eles todos os dias e tudo mais - isso só os ajudava até certo ponto.
Isso significa que a pobreza realmente deixa uma cicatriz duradoura, e significa que se queremos mesmo garantir o sucesso e bem-estar da próxima geração, então corrigir a pobreza infantil é incrivelmente importante.
O que isso significa para mim e para você? Há alguma lição que podemos levar pra casa e usar? Como cientista e jornalista, gosto de usar a ciência para me informar como mãe. E posso dizer que quando você grita com seus filhos para irem para cama, ter a literatura científica ao seu lado ajuda.
(Risos)
Não seria ótimo pensar que para termos filhos bem-sucedidos e felizes só precisamos falar com eles, nos interessarmos por seu futuro, colocá-los na cama na hora, dar um livro para eles? Nosso trabalho estaria feito.
Como vocês podem imaginar, as respostas não são tão simples assim. Primeiro porque este estudo avalia o que ocorre com milhares de crianças em média, mas não diz necessariamente o que ajudará nossos filhos ou qualquer criança individual. No fim, cada uma de nossas crianças percorrerá seu próprio caminho, e isto está em parte definido pelos genes que herdam e, é claro, todas as experiências que eles têm na vida, inclusive suas interações conosco, seus pais.
Vou dizer o que fiz depois que aprendi isso. É meio constrangedor. Percebi que estava tão ocupada trabalhando e, ironicamente, aprendendo e escrevendo sobre um estudo de crianças britânicas, que havia dias que eu mal falava com meu próprios filhos britânicos. Então, introduzimos o tempo de conversa em casa que são só 15 minutos no fim do dia em que falamos e ouvimos os meninos. Agora tento perguntar a eles o que fizeram no dia, e mostro que valorizo o que eles fazem na escola. Claro, garanto que sempre tenham um livro para ler. Digo que tenho ambições para o futuro deles, e acho que podem ser felizes e fazer grandes coisas. Não sei se isso vai fazer diferença, mas tenho certeza de que não fará mal, e pode até fazer bem.
Afinal, se queremos filhos felizes, tudo que podemos fazer é ouvir a ciência e, é claro, ouvir nossos próprios filhos.
Obrigada. (Aplausos)
Fonte: TED
[Visto no Brasil Acadêmico]
Hoje eu quero confessar algo para vocês, mas antes vou fazer algumas perguntas. Quantos aqui têm filhos? E quantos estão confiantes de que sabem como criar seus filhos da maneira certa?
(Risos)
Ok, Não vejo muitas mãos levantadas para a segunda pergunta, e esta é minha confissão também. Eu tenho três meninos; eles têm 3, 9 e 12 anos. E como vocês e a maioria dos pais, a verdade é que não tenho a menor ideia do que estou fazendo. Quero que eles sejam felizes e saudáveis. Mas não sei o que devo fazer para garantir que sejam felizes e saudáveis. Há tantos livros oferecendo todo tipo de conselho conflitante, que pode ser muito aflitivo. Então passei a maior parte da vida deles inventando. Porém, algo mudou em mim há alguns anos, quando descobri um segredinho que temos na Inglaterra, que me ajudou a ser mais confiante de como criar meus filhos, e muito de como a sociedade pode ajudar as crianças. Quero compartilhar este segredo com vocês.
Nos últimos 70 anos, os cientistas na Inglaterra têm acompanhado milhares de crianças pela vida como parte de um estudo científico incrível. Não há nada igual em lugar algum do mundo. Coletar informações sobre milhares de crianças é algo muito poderoso de se fazer, porque significa que podemos comparar: quem vai bem na escola, ou fica saudável ou feliz ou rico quando adultos, com quem tem mais dificuldade, e podemos cruzar todas as informações coletadas e tentar entender por que suas vidas foram diferentes.
Este estudo britânico, na verdade é uma história louca. Começou em 1946, poucos meses após o fim da guerra, com cientistas querendo saber como era para uma mulher ter um filho naquele tempo. Eles fizeram uma pesquisa enorme com mães e acabaram registrando o nascimento de quase todos os bebês nascidos na Inglaterra, Escócia e Gales em uma semana. Foram aproximadamente 14 mil bebês. As perguntas que fizeram às mulheres são muito diferentes das que perguntaríamos hoje. Parecem muito antiquadas hoje. Eles perguntaram coisas como: “Durante a gravidez, você tomava uma quantidade maior de leite ou uma caneca por dia?” “Quanto você gastou em aventais, corpetes, camisolas, tênis, sutiãs?” Esta é minha favorita:
“Quem cuidava do seu marido enquanto você estava de cama com o bebê?”
(Risos)
Agora, este estudo do tempo da guerra acabou tendo tanto sucesso que os cientistas o repetiram. Eles registraram nascimentos de milhares de bebês nascidos em 1958 e mais milhares em 1970. E repetiram-no no início dos anos 90. E novamente na virada do milênio. Somando, mais de 70 mil crianças foram envolvidas nestes estudos nestas cinco gerações. Elas se chamam de corte britânicos; e os cientistas voltaram e registraram mais informações sobre estas pessoas de tempo em tempo. A quantidade de informações coletada sobre estas pessoas é absolutamente extraordinária. Inclui milhares de questionários em papel e terabytes de dados de computador. Eles coletaram um enorme banco de amostras de tecidos, que incluem cachos de cabelo, unhas, dentes de bebê e DNA. Eles coletaram até 9 mil placentas de alguns nascimentos, que estão envasadas em tubos plásticos em um local de armazenamento seguro. Este projeto se tornou único. Nenhum outro país no mundo está rastreando gerações de crianças com tantos detalhes. Estas estão entre as pessoas mais bem estudadas no planeta, e os dados tornaram-se muito valiosos para os cientistas, gerando mais de 6 mil artigos acadêmicos e livros. Mas hoje, quero focar apenas uma descoberta: talvez a mais importante descoberta vinda deste estudo incrível. E também é a que me tocou pessoalmente, porque é sobre como usar a ciência para fazer o melhor para nossos filhos.
Então vamos primeiramente tirar as más notícias do caminho. Talvez a maior mensagem desse impressionante estudo seja esta:
Não nasça na pobreza ou em desvantagem, porque se nascer, você tem muito mais chances de ter um caminho difícil.
Muitas crianças neste estudo nasceram em famílias pobres ou de trabalhadores que tinham casas apertadas ou outros problemas, e ficou claro que estas crianças em desvantagem têm mais chances de ter dificuldades em quase todos os pontos. Têm mais chances de ir mal na escola, de acabar em empregos ruins e ganhar menos. Talvez isso soe óbvio, mas alguns resultados são muito surpreendentes, então crianças com começo difícil na vida têm mais chances de se tornarem adultos não saudáveis também, mais chances de ficar acima do peso, de ter pressão alta, e depois de décadas, mais chances de ter falha de memória, saúde ruim e até de morrer mais cedo.
Bem, falei sobre o que ocorre depois, mas algumas destas diferenças aparecem surpreendentemente bem cedo. Em um estudo, crianças que crescem na pobreza estão quase um ano atrás de crianças mais ricas em testes educacionais e isso apenas aos três anos. Estas diferenças foram encontradas repetidamente nas gerações. Significa que nossas circunstâncias iniciais têm influência profunda no rumo que o resto de nossas vidas toma. E entender o porquê disso é uma das questões mais difíceis que enfrentamos hoje.
Então aí está.
A primeira lição para uma vida de sucesso é esta: escolha seus pais cuidadosamente.
(Risos)
Não nasça em família pobre ou numa família com dificuldades. Tenho certeza que vocês podem ver o probleminha aqui. Não podemos escolher nossos pais ou quanto eles ganham. Mas este estudo britânico também tem uma nota de otimismo mostrando que nem todos que têm um começo em desvantagem acabam em circunstâncias difíceis. Como sabem, muitos têm um começo de vida difícil mas acabam se saindo bem em algum ponto, e este estudo começa a explicar como.
Então a segunda lição é: pais de fato importam. Neste estudo, filhos de pais engajados, interessados, que tinham ambições para seu futuro, tiveram mais chances de escapar de um começo difícil. Parece que os pais e o que eles fazem realmente importam, especialmente nos primeiros anos de vida.
Deixe-me dar um exemplo disso: Em um estudo, cientistas estudaram em torno de 17 mil crianças nascidas em 1970. Eles cruzaram as montanhas de dados coletados para tentar entender o que permitia que crianças com um começo de vida difícil ainda assim se saíssem bem na escola, ou seja, quais foram contra as probabilidades. Os dados mostraram que o que pesou mais que tudo foram os pais. Ter pais engajados e interessados naqueles primeiros anos de vida foi fortemente associado às crianças irem bem na escola mais tarde. Na verdade, pequenas coisas que os pais mais fazem estão associadas a bons resultados para as crianças. Conversar e ouvir a criança, responder a elas afetuosamente, ensiná-las as letras e números, levá-las a viagens e visitas. Ler para elas todos os dias parece ser muito importante também. Então em um estudo, filhos cujos pais liam para eles diariamente quando tinham cinco anos e mostravam interesse em sua educação aos 10 anos, tinham significativamente menos chances de serem pobres aos 30 do aqueles cujos pais não faziam essas coisas.
Há desafios enormes ao interpretar este tipo de ciência. Estes estudos mostraram que certas coisas que os pais fazem estão ligadas a bons resultados para os filhos, mas não sabemos necessariamente se isto causou bons resultados, ou se algum outro fator influenciou. Por exemplo, precisamos considerar os genes, e esta é uma outra história.
Mas os cientistas de um estudo britânico estão dando duro para chegar às causas, e este estudo eu pessoalmente adoro. Neste estudo, observaram as rotinas na hora de dormir de 10 mil crianças nascidas na virada do milênio. As crianças que iam dormir em horários regulares, ou iam dormir em horas diferentes durante a semana?
Dados mostraram que...
...as crianças que iam dormir em horários diferentes tinham mais problemas de comportamento e aquelas que mudaram para terem horários regulares com frequência tiveram melhoria de comportamento,...
...e isto era mesmo crucial porque sugeriu que a rotina da hora de dormir estava de fato ajudando a melhorar a vida das crianças.
Mais um fato a se pensar. Neste estudo, os cientistas observaram crianças que liam por prazer. Significa que elas pegavam revistas, livro de imagens ou de história. Os dados mostraram que crianças que liam por prazer aos cinco e dez anos tinham mais chances de ir melhor na escola, em testes escolares mais tarde. E não apenas em testes de leitura. em testes de matemática e ortografia também. Este estudo tentou controlar todos os fatores contraditórios. Então ele observou crianças igualmente inteligentes e com mesmo histórico social-escolar, e parece que a leitura foi o que de fato ajudou as crianças a pontuarem melhor nos testes escolares posteriores na vida.
Então no começo, disse que a primeira lição deste estudo era não nascer na pobreza ou na desvantagem, pois estas crianças tendem a ter caminhos mais difíceis na vida. Mas aí eu disse que os pais importam, e que bons pais, se é que pode-se chamar assim, ajudam os filhos a superar as conflitos e algumas desvantagens. Então espere, isso significa que a pobreza, na verdade, não importa? Você pode dizer que não importa se uma criança nasce pobre; desde que seus pais sejam bons, ela ficará bem. Não acredito nisso. Este estudo mostra que a pobreza e os pais importam. Um estudo, de fato, coloca isso em números. Ele observou crianças crescendo em pobreza contínua e como elas iam na escola. Os dados mostraram que mesmo que os pais fizessem a coisa certa - colocá-los na cama no horário, ler para eles todos os dias e tudo mais - isso só os ajudava até certo ponto.
Bons pais apenas reduziram a falha educacional entre crianças ricas e pobres em torno de 50%.
Isso significa que a pobreza realmente deixa uma cicatriz duradoura, e significa que se queremos mesmo garantir o sucesso e bem-estar da próxima geração, então corrigir a pobreza infantil é incrivelmente importante.
O que isso significa para mim e para você? Há alguma lição que podemos levar pra casa e usar? Como cientista e jornalista, gosto de usar a ciência para me informar como mãe. E posso dizer que quando você grita com seus filhos para irem para cama, ter a literatura científica ao seu lado ajuda.
(Risos)
Não seria ótimo pensar que para termos filhos bem-sucedidos e felizes só precisamos falar com eles, nos interessarmos por seu futuro, colocá-los na cama na hora, dar um livro para eles? Nosso trabalho estaria feito.
Como vocês podem imaginar, as respostas não são tão simples assim. Primeiro porque este estudo avalia o que ocorre com milhares de crianças em média, mas não diz necessariamente o que ajudará nossos filhos ou qualquer criança individual. No fim, cada uma de nossas crianças percorrerá seu próprio caminho, e isto está em parte definido pelos genes que herdam e, é claro, todas as experiências que eles têm na vida, inclusive suas interações conosco, seus pais.
Vou dizer o que fiz depois que aprendi isso. É meio constrangedor. Percebi que estava tão ocupada trabalhando e, ironicamente, aprendendo e escrevendo sobre um estudo de crianças britânicas, que havia dias que eu mal falava com meu próprios filhos britânicos. Então, introduzimos o tempo de conversa em casa que são só 15 minutos no fim do dia em que falamos e ouvimos os meninos. Agora tento perguntar a eles o que fizeram no dia, e mostro que valorizo o que eles fazem na escola. Claro, garanto que sempre tenham um livro para ler. Digo que tenho ambições para o futuro deles, e acho que podem ser felizes e fazer grandes coisas. Não sei se isso vai fazer diferença, mas tenho certeza de que não fará mal, e pode até fazer bem.
Afinal, se queremos filhos felizes, tudo que podemos fazer é ouvir a ciência e, é claro, ouvir nossos próprios filhos.
Obrigada. (Aplausos)
Fonte: TED
[Visto no Brasil Acadêmico]
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