Série britânica nos faz refletir sobre como a tecnologia suficientemente avançada pode ser assustadora. Esteja preparado.
Série britânica nos faz refletir sobre como a tecnologia suficientemente avançada pode ser assustadora. Esteja preparado.
Postamos documentários por aqui com certa frequência, raramente comento filmes e não me lembro da última vez que postei sobre uma série de TV. Mas Black Mirror é diferente e vale destacar. Esse seriado britânico com cara de ficção científica e com fortes doses de crítica social escancara o futuro com distopias exibindo aspectos de como será a vida em sociedade quando a tecnologia estiver um pouco mais avançada.
Da mesma forma que muito da ficção científica de ontem é nossa realidade atual, Black Mirror é um pouco assustador se pensarmos que seus episódios com histórias inteiras e independentes no melhor estilo Além da Imaginação, abrem possibilidades para um amanhã que já mostra os primeiros raios do seu alvorecer cibernético, com sua robótica de humanoides querendo saltar o Vale da Estranheza e nos ameaçando com um clássico: "Decifra-me ou te devoro!"
O próprio título da série já é uma alusão a um futuro de interfaces digitais onipresentes e depressivas. Conforme prognostica Charlie Brooker, o criador da série, quando faz sua presciência sobre a intoxicação tecnológica que as pessoas parecem sofrer, já nos dias atuais:
Gostando ou não de tecnologia, recomendo fortemente vê-la e não ser pego de surpresa quando as revoluções que estão sendo finalizadas em algum centro de pesquisa, ou no quarto de um adolescente, solaparem sua zona de conforto como um estouro de represa cheia de lama de uma empresa para a qual você trabalha e sua vida dependa. Essa analogia é apenas uma alegoria ilustrando como será o nosso sistema projetado um pouco a frente.
Há mais duas temporadas (com três episódios cada) que a Netflix já disponibilizou. Para encerrar, e mostrar o quanto essa série é pretenciosa em vaticinar nosso destino, exemplificamos com o primeiro episódio da segunda tempora, "Volto já", onde uma viúva se envolve com um avatar digital de seu falecido marido na esperança de aplacar a dor do luto.
Como isso é possível? Bem, vale dizer não haver aqui nenhum kardecismo cibernético. De acordo com o roteiro isso se daria coletando fragmentos digitais do indivíduo que ele teria deixado como legado. Assim seria possível reconstruir sua personalidade, suas opiniões, suas respostas de caráter personalíssimo para quase tudo.
Muita viagem por parte do roteirista? Bem, de fato, algo semelhante está sendo desenvolvido hoje por pesquisadores da Universidade de Washington. E apesar dos resultados serem uma pálida sombra do que propõe o seriado, não deixa de ser impressionante. Segundo os pesquisadores, é isso que nos permitirá, no futuro, conversarmos com Charlie Chaplin, Ayrton Senna ou, desenvolvendo um pouco mais a ideia, um viúvo matar a saudade de seu cônjuge.
Essa série é muito pessimista quanto à nossa Tomorrowland. Tanto que nem mencionou os carros autônomos no episódio "Volto Já". Que futuro é esse capaz de reconstruir a personalidade das pessoas e não conseguir desenvolver os carros "driverless". Espero, sinceramente, que não seja assim. Aliás, até onde a vista alcança certamente os carros sem motoristas virão antes dos ovos armazenadores de mente.
Desculpem-me se alguma análise trouxe spoilers demais para o post a ponto de atrapalhar o prazer de degustar esse verdadeiro tratado disruptivo. Não foi a intenção. Em tempo, não deixe de ver o último episódio. Um especial de Natal capaz de acabar com qualquer clima de esperança. :P
Fonte: Netflix
[Visto no Brasil Acadêmico]
Postamos documentários por aqui com certa frequência, raramente comento filmes e não me lembro da última vez que postei sobre uma série de TV. Mas Black Mirror é diferente e vale destacar. Esse seriado britânico com cara de ficção científica e com fortes doses de crítica social escancara o futuro com distopias exibindo aspectos de como será a vida em sociedade quando a tecnologia estiver um pouco mais avançada.
Da mesma forma que muito da ficção científica de ontem é nossa realidade atual, Black Mirror é um pouco assustador se pensarmos que seus episódios com histórias inteiras e independentes no melhor estilo Além da Imaginação, abrem possibilidades para um amanhã que já mostra os primeiros raios do seu alvorecer cibernético, com sua robótica de humanoides querendo saltar o Vale da Estranheza e nos ameaçando com um clássico: "Decifra-me ou te devoro!"
O próprio título da série já é uma alusão a um futuro de interfaces digitais onipresentes e depressivas. Conforme prognostica Charlie Brooker, o criador da série, quando faz sua presciência sobre a intoxicação tecnológica que as pessoas parecem sofrer, já nos dias atuais:
Se a tecnologia é como uma droga – e ela parece com uma droga – quais são precisamente os efeitos colaterais? Essa área entre o prazer e o desconforto é onde Black Mirror, minha nova série dramática, está situada. O “espelho negro” do título é aquele que você irá encontrar em cada parede, em cada mesa, na palma de cada mão: a fria e brilhante tela de uma TV, monitor, smartphone.
Gostando ou não de tecnologia, recomendo fortemente vê-la e não ser pego de surpresa quando as revoluções que estão sendo finalizadas em algum centro de pesquisa, ou no quarto de um adolescente, solaparem sua zona de conforto como um estouro de represa cheia de lama de uma empresa para a qual você trabalha e sua vida dependa. Essa analogia é apenas uma alegoria ilustrando como será o nosso sistema projetado um pouco a frente.
Isso é o que estamos buscando com Black Mirror: cada episódio tem um elenco diferente, um cenário diferente, mesmo uma realidade diferente. Mas todos eles são sobre a maneira como vivemos agora - e a maneira que nós podemos estar vivendo em 10 minutos de tempo, se estamos desajeitados. E se há uma coisa que sabemos sobre a humanidade, é esta: estamos geralmente desajeitados. E não adianta implorar ao Siri para obter ajuda. Ele não entende súplica chorosa. Confie em mim, eu tentei.A seguir uma sinopse de alguns episódios para convencer aqueles que ainda não foram fisgados por essa série extraordinária. Uma reflexão profunda nesses tempos de debates políticos infantilizados.
Charlie Brooker
- [accordion]
- 1 - Hino Nacional
- Logo no primeiro episódio o sequestro de uma princesa tenta obrigar o primeiro-ministro a ter relações com um porco. O hiperlink com a questão tecnológica se dá pela forma como os sequestradores tentam burlar qualquer espécie de censura estatal para tentar constranger o primeiro-ministro a realizar o ato.
O mais estranho disso tudo é que de fato há um escândalo recente (que gerou a hashtag #piggate) vinculando as partes intímas do atual primeiro-ministro, James Cameron, à boca de um porco morto. O estranho episódio teria se dado no contexto de uma sociedade secreta com rituais de iniciação bizarros, segundo relato de um livro escrito por um desafeto de Cameron.
Charlie Brooker nega ter qualquer conhecimento prévio sobre o descrito e depois de alguns comentários chocados no twitter chegou a fazer uma tirada bem-humorada: "Ao que parece Black Mirror é uma série documental." - 2 - Quinze Milhões de méritos
- Recebendo para assistir aos conteúdos ofertados e vivendo como escravos, os shows de talento podem ser a porta de saída da dura realidade. Aqui as relações efêmeras e a pressão de uma sociedade consumista e hiperconectada é o pano de fundo.
- 3 - Toda a sua história
- Praticamente todos têm um implante de memória que grava tudo o que as pessoa veem e ouvem. Se hoje temos imagens de praticamente tudo com a ubiquidade dos smartphones, como será quando o Google Glass passar para dentro de nós?
Há mais duas temporadas (com três episódios cada) que a Netflix já disponibilizou. Para encerrar, e mostrar o quanto essa série é pretenciosa em vaticinar nosso destino, exemplificamos com o primeiro episódio da segunda tempora, "Volto já", onde uma viúva se envolve com um avatar digital de seu falecido marido na esperança de aplacar a dor do luto.
Como isso é possível? Bem, vale dizer não haver aqui nenhum kardecismo cibernético. De acordo com o roteiro isso se daria coletando fragmentos digitais do indivíduo que ele teria deixado como legado. Assim seria possível reconstruir sua personalidade, suas opiniões, suas respostas de caráter personalíssimo para quase tudo.
Muita viagem por parte do roteirista? Bem, de fato, algo semelhante está sendo desenvolvido hoje por pesquisadores da Universidade de Washington. E apesar dos resultados serem uma pálida sombra do que propõe o seriado, não deixa de ser impressionante. Segundo os pesquisadores, é isso que nos permitirá, no futuro, conversarmos com Charlie Chaplin, Ayrton Senna ou, desenvolvendo um pouco mais a ideia, um viúvo matar a saudade de seu cônjuge.
Essa série é muito pessimista quanto à nossa Tomorrowland. Tanto que nem mencionou os carros autônomos no episódio "Volto Já". Que futuro é esse capaz de reconstruir a personalidade das pessoas e não conseguir desenvolver os carros "driverless". Espero, sinceramente, que não seja assim. Aliás, até onde a vista alcança certamente os carros sem motoristas virão antes dos ovos armazenadores de mente.
Desculpem-me se alguma análise trouxe spoilers demais para o post a ponto de atrapalhar o prazer de degustar esse verdadeiro tratado disruptivo. Não foi a intenção. Em tempo, não deixe de ver o último episódio. Um especial de Natal capaz de acabar com qualquer clima de esperança. :P
Fonte: Netflix
[Visto no Brasil Acadêmico]
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