Ciência versus religião em um romance cheio de drama e aventura medieval.
Ciência versus religião em um romance cheio de drama e aventura medieval.
O filme, uma versão cinematográfica do livro The Physician do jornalista Noah Gordon que conta a história de Rob J. Cole. Um menino que, após a morte de sua mãe, é adotado pelo barbeiro-cirurgião Barber e passa a viajar pela Inglaterra ganhando dinheiro através de amputações e sangrias, sempre às voltas com o charlatanismo. Insatisfeito com a "medicina" por eles praticada, ele conhece um médico judeu que estudou na escola de medicina de Ispahan, Pérsia, com o famoso Ibn Sina.
Decidido a se tornar um médico "de verdade" e motivado por um incontrolável desejo de conhecer a cura do mal que levara sua mãe. Partindo da Inglaterra com destino a onde hoje se encontra o Irã. Ele enfrenta toda a sorte de obstáculos, desde o fato de não tolerarem cristãos, desde o Egito até a Ásia, até a mais prosaica questão: Por que, afinal, Avicena (o nome latinizado do sábio Ibn Sina), o mais famoso e influente polímata da Era de Ouro Islâmica iria aceitar um órfão ignorante, sem cartas de recomendação e, sobretudo, sem onde cair morto?
O filme também retrata as diferenças culturais entre judeus, muçulmanos e cristãos e a intolerância religiosa. Principalmente no que tange sua influência no meio científico, uma vez que a dissecação de um cadáver, algo rotineiro em qualquer IML hoje em dia, poderia significar a morte para o "necromante". Mas para não ficar apenas no academicismo convém lembrar que Rob também possuía o poder de adivinhar se alguém iria morrer. Esse dom profético confere um toque místico ao roteiro que nos transporta à atmosfera da época. Onde lendas de bruxas, magos e gênios eram comuns a todos os povos e credos.
Um filme sobre a idade média que, embora mostre o mundo do século XI, trata de assuntos ainda não superados pela humanidade.
A luta pelo poder político, as Guerras Santas, a falta de assistência médica, as enormes divergências culturais, as diferenças tecnológicas (com o sinal trocado naquela época. Com uma evidente superioridade oriental), os direitos humanos, o sexismo, a falta de educação, as epidemias e como tais temas afetam as pessoas, acabam nos dando uma pista do quão antigas são essas questões.
Já vimos aqui que barbeiros-sangradores ainda existiam no Brasil em pleno século XIX. E a recente polêmica com a importação de médicos e o escândalo da implantação de próteses desnecessárias por cirurgiões brasileiros, só ilustra o quanto a saúde pública ainda recebe uma terapia medieva, embora acreditemos estar vivenciando a realização de toda a literatura de ficção científica até o século XX rumo à singularidade.
Nosso objetivo aqui é despertar o interesse pela obra, e não de contar o enredo. Asseguro, portanto, que a obra é bastante recomendada para quem curte história, romance e aventura. Um equilíbrio difícil combinando diversão com conteúdo.
A tradução do nome do livro (e depois, do filme) levou muitos a desconfiarem de um erro de tradução por se tratar de um falso cognato em inglês. Eu acredito ser bem difícil de um tradutor profissional deixar passar essa (a tradutora, Aulyde Soares Rodrigues, teria confundido physician - que significa médico - com physicist - que significa físico, em inglês).
O termo "físico" seria usado na idade média com a mesma semântica de "médico" nos dias atuais. Mas é um assunto controverso.
Fonte: O Sangrador e o Doutor, Tecla Sap
[Visto no Brasil acadêmico]
O filme, uma versão cinematográfica do livro The Physician do jornalista Noah Gordon que conta a história de Rob J. Cole. Um menino que, após a morte de sua mãe, é adotado pelo barbeiro-cirurgião Barber e passa a viajar pela Inglaterra ganhando dinheiro através de amputações e sangrias, sempre às voltas com o charlatanismo. Insatisfeito com a "medicina" por eles praticada, ele conhece um médico judeu que estudou na escola de medicina de Ispahan, Pérsia, com o famoso Ibn Sina.
Decidido a se tornar um médico "de verdade" e motivado por um incontrolável desejo de conhecer a cura do mal que levara sua mãe. Partindo da Inglaterra com destino a onde hoje se encontra o Irã. Ele enfrenta toda a sorte de obstáculos, desde o fato de não tolerarem cristãos, desde o Egito até a Ásia, até a mais prosaica questão: Por que, afinal, Avicena (o nome latinizado do sábio Ibn Sina), o mais famoso e influente polímata da Era de Ouro Islâmica iria aceitar um órfão ignorante, sem cartas de recomendação e, sobretudo, sem onde cair morto?
O filme também retrata as diferenças culturais entre judeus, muçulmanos e cristãos e a intolerância religiosa. Principalmente no que tange sua influência no meio científico, uma vez que a dissecação de um cadáver, algo rotineiro em qualquer IML hoje em dia, poderia significar a morte para o "necromante". Mas para não ficar apenas no academicismo convém lembrar que Rob também possuía o poder de adivinhar se alguém iria morrer. Esse dom profético confere um toque místico ao roteiro que nos transporta à atmosfera da época. Onde lendas de bruxas, magos e gênios eram comuns a todos os povos e credos.
Um filme sobre a idade média que, embora mostre o mundo do século XI, trata de assuntos ainda não superados pela humanidade.
A luta pelo poder político, as Guerras Santas, a falta de assistência médica, as enormes divergências culturais, as diferenças tecnológicas (com o sinal trocado naquela época. Com uma evidente superioridade oriental), os direitos humanos, o sexismo, a falta de educação, as epidemias e como tais temas afetam as pessoas, acabam nos dando uma pista do quão antigas são essas questões.
Já vimos aqui que barbeiros-sangradores ainda existiam no Brasil em pleno século XIX. E a recente polêmica com a importação de médicos e o escândalo da implantação de próteses desnecessárias por cirurgiões brasileiros, só ilustra o quanto a saúde pública ainda recebe uma terapia medieva, embora acreditemos estar vivenciando a realização de toda a literatura de ficção científica até o século XX rumo à singularidade.
Nosso objetivo aqui é despertar o interesse pela obra, e não de contar o enredo. Asseguro, portanto, que a obra é bastante recomendada para quem curte história, romance e aventura. Um equilíbrio difícil combinando diversão com conteúdo.
A tradução do nome do livro (e depois, do filme) levou muitos a desconfiarem de um erro de tradução por se tratar de um falso cognato em inglês. Eu acredito ser bem difícil de um tradutor profissional deixar passar essa (a tradutora, Aulyde Soares Rodrigues, teria confundido physician - que significa médico - com physicist - que significa físico, em inglês).
O termo "físico" seria usado na idade média com a mesma semântica de "médico" nos dias atuais. Mas é um assunto controverso.
Fonte: O Sangrador e o Doutor, Tecla Sap
[Visto no Brasil acadêmico]
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