A guerra que você não vê

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Documentário dirigido, produzido, apresentado e escrito pelo correspondente de Guerra John Pilger, mostra o papel da mídia quando as elites ...

Documentário dirigido, produzido, apresentado e escrito pelo correspondente de Guerra John Pilger, mostra o papel da mídia quando as elites querem levar uma nação à guerra. E o quanto essa máquina de propaganda simplesmente atropela o jornalismo quando a liberdade de imprensa é pressionada por forças poderosas. Inclui uma entrevista com Julian Assange, fundador e editor-chefe do WikiLeaks.



A transcrição do vídeo segue abaixo:



Ataque não relatado a partir de helicóptero Apache

- Está vendo todas aquelas pessoas lá embaixo?
- Er. "Lá perto da uma hora?
- Assim que você os tiver em mira, abra fogo. Passe fogo em todos eles.
- Vamos lá. Dispare!
- Continue disparando, continue disparando. Continue disparando.

A GUERRA QUE VOCÊ NÃO VÊ

Um filme de John Pilger

John Pilger: Esta foi a matança conhecida como Primeira Guerra Mundial. 16 milhões morreram e 21 milhões foram feridos. Mas, no auge da carnificina, o Primeiro Ministro britânico David Lloyd George teve uma conversa privada com o editor de The Guardian, C. P. Scott.

Se as pessoas realmente soubessem a verdade, disse o Primeiro Ministro, a guerra terminaria amanhã.

Mas, é claro, eles não sabem... E não podem saber.

O público britânico estava desesperado por informações reais.

Mais da metade da nação se juntou para ver um filme oficial de propaganda...

A Batalha de Somme.

As câmaras eram tão pouco comuns que os jovens soldados costumavam gritar "Oi, mamãe", quando eles marchavam para a frente de guerra...

E podia-se ouvi-los chorar por suas mães quando morriam no campo de batalha.

Isto quase nunca era relatado.

Hoje em dia, temos notícias as 24 horas do dia. As frases de impacto nunca param. E as guerras nunca param.

Iraque, Afeganistão, Palestina.

Este filme é sobre a guerra que você não vê.

Baseando-me em minha experiência pessoal como correspondente de guerra, vamos abordar principalmente a televisão, concentrando-nos nos canais mais populares dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha.

O filme indagará acerca do papel da mídia em guerras de rapina como a do Iraque e a do Afeganistão.

Por que muitos jornalistas tocam os tambores de guerra a despeito das mentiras dos governos?

E como os crimes de guerra foram narrados e justificados se eles são crimes?



Um pioneiro da propaganda moderna foi este homem, Edward Bernays.

Bernays inventou a expressão Relações Públicas.

Ele escreveu:

A manipulação inteligente das massas é um governo invisível que é o verdadeiro poder governante em nosso país.

Ele fazia parte de um grupo secreto chamado de Comitê dos Estados Unidos sobre Informações Públicas, formado em 1917 para persuadir os estadunidenses relutantes a apoiar a participação na guerra na Europa.

Professor Stuart Ewen (historiador da mídia): Edward Bernays foi a Woodrow Wilson e disse:

Olhe, se você vai entrar nesta guerra nós vamos ter de vender esta guerra para o povo estadunidense.

E, então, Wilson instituiu e criou a primeira maquinária de propaganda moderna. Ela era de fato brilhante em sua conceitualização. Ou seja, que a melhor maneira de persuadir as pessoas é agarrando-as por suas emoções.

Através de seus impulsos inconscientes e instintivos. Não vamos nos preocupar com divulgar os fatos. Vamos atemorizar as pessoas com o inferno.

Uma imagem da Estátua da Liberdade em pedaços, caía no porto de Nova Iorque, com aviões alemães voando ao seu redor. Uma imagem do mundo sendo arrebatado pelas mãos sangrentas de um gorila usando um capacete alemão. Então, já não se trata mais dos fatos. Os fatos não importam.
J.P.: Para Edward Bernays, as relações públicas eram como uma guerra contra o povo. Para manipular sua vontade. Ele persuadiu as mulheres a fumar numa época em que fumar em público não era considerado próprio de uma dama.

Ele convenceu um grupo de debutantes a desfilar pela Quinta Avenida segurando um cigarro Lucky Strike como sinal da liberação da mulher. Para seu deleito, a imprensa chamou isto de "tochas de liberdade".

S.E.: O que ele estava interessado em fazer era criar uma associação entre um produto, neste caso o cigarro, e a aspiração da mulher por sua liberação. Isso funcionou, no sentido de que teve muita cobertura jornalística. Funcionou no sentido de que as mulheres começaram a fumar em público e, na verdade, o fumar se tornou um símbolo da nova mulher. Da mulher emancipada.

J.P.: Iraque, 20 de março de 2003.

A criação de ilusões e a venda de guerras avançaram um longo caminho desde Edward Bernays. A venda desta invasão dependeu da promoção pela mídia de uma série de ilusões. Como a vinculação de Saddam Hussein com o 11 de setembro.

S.E.: A visão do poster da Primeira Guerra Mundial, da Estátua da Liberdade em frangalhos no porto de Nova Iorque, não é tão diferente da imagem do World Trade Center. Um símbolo em chamas, para que entrasse no acervo dos sonhos das pessoas. Assim, imediatamente você tem essas associações da imagem do World Trade Center com o Saddam Hussein e o Iraque.

J.P.: Mas o Saddam Hussein não teve absolutamente nada a ver com aquilo.

S.E.: Saddam Hussein não teve nada a ver com aquilo, mas isso não importava. Porque quando você começa a usar símbolos separados de seus significados, os quais passaram a ter uma existência por conta própria, os fatos já não têm mais importância.

J.P.: Este é o Pentágono, que gasta quase um bilhão de dólares por ano só em publicidade, recrutamento, propaganda, a venda da guerra.

Melvin Goodman (Ex-analista da CIA): Há contratos do Pentágono com organizações jornalísticas em termos de como manipular as informações. Há agentes do Pentágono envolvidos na divulgação dos boletins da mídia, quando o serviço de espionagem é usado para manipular a opinião pública, o que é uma violação dos estatutos de qualquer organização de inteligência. E você têm generais retirados que servem de porta-vozes para todas as redes e nunca se revela para quais firmas da indústria militar eles trabalham.

J.P.: Ponto central disto é a cooptação e arregimentação da mídia considerada a mais livre do mundo.

Narrador (MSNBC): CONFRONTAÇÃO COM O IRAQUE. Se os Estados Unidos forem pra guerra, sintonize a MSNBC e os especialistas.

Dan Rather (Âncora da CBS News 1981-2005): Se nós, jornalistas, incluindo a mim mesmo, tivéssemos, desde o comecinho, começado a fazer as perguntas profundas e agressivas que deveríamos fazer, e fazendo nossos relatos, e não ser apenas cenógrafos, ir a uma conferência, ouvir um oficial dizer algo e colocá-lo no jornal no dia seguinte. Se nós tivéssemos feito nosso trabalho, eu creio que poderíamos argumentar com firmeza que talvez nós não tivéssemos partido para a guerra.

J.P.: O ataque ao Iraque foi vendido por estes dois homens. O plano da invasão foi esta doutrina militar chamada "Choque e Pavor", elaborada para paralisar o país, destruir a produção de alimentos, o fornecimento de água e outras infraestruturas civis.

Os efeitos seriam similares ao do lançamento das bombas atômicas sobre o Japão.

Isto era o aterrorizamento das pessoas em grande escala. E seria acobertado por "enganos em montantes massivos". Mas não foi assim que a coisa foi narrada no momento.

Âncora: Dezenas de repórteres estadunidenses se juntaram às unidades militares dos EUA no Kuwait, como parte dos esforços do Pentágono de fazer com que qualquer guerra contra o Iraque. Uma campanha que o Pentágono chama de "Campanha Amistosa com a Mídia".

J.P.: Uma nova palavra, "Embedded" (embutimento) entrou no vocabulário da mídia ao ser planejada a invasão.

A maioria dos relatos que os espectadores viram vieram de um sistema no qual as organizações midiáticas concordaram com certas condições impostas pelo Ministro da Defesa, em Londres e o Pentágono, em Washington, D.C..

Bryan Whitman (US Assist. Secretary of Defence): No momento em que nossas forças ingressaram no Iraque, nós tínhamos cerca de 700 repórteres embutidos em nossas formações militares. Este "embutimento" foi importante para aquele conflito. Por uma série de razões. Uma era porque sabíamos que estávamos indo contra um inimigo que era, de certa forma, mestre em desinformação.

Âncora (Fox News): Temos um número de correspondentes embutidos com nossas tropas por toda a região.

Âncora (abc):Profundamente embutido de modo pessoal com os fuzileiros com os quais ele está viajando.

M.G.: Eu adoro esta expressão para a guerra do Iraque, "os jornalistas embutidos". Muitíssimos jornalistas têm estado na cama com a Administração numa variedade de questões. Eu diria que de 80 a 90% do que você lê nos jornais é oficialmente inspirado. Se eles estiverem cobrindo a comunidade de espionagem, por exemplo, e eles se tornarem críticos da CIA ou de outras organizações importantes, eles vão perder suas fontes.

Se eles se tornarem críticos do Pentágono, vai ser muito difícil conseguir entrar no Pentágono para tratar com fontes militares oficiais. Eu acho que os jornalistas gostam de fazer parte do jogo, parte da turma de dentro. Portanto, a sabedoria convencional é a melhor sabedoria.

Rageh Omaar (repórter de assuntos internacionais da BBC 2000-2006): O noticiário 24 Horas, em particular, é um sistema que é o mais fácil de manipular.

O noticiário 24 horas é uma caixa de ressonância conjunta.

É por isso, portanto, que Basra foi dada como ocupada 17 vezes antes disso realmente ocorrer.

No noticiário 24 horas, quando você está relatando o caso pela sétima vez naquela cadeia de 17 vezes em que a cidade tinha sido falsamente ocupada. O fato que isso tinha sido falso nas sete vezes anteriores, isto não importa.

Reggy Yama: O exército dos EUA está se movendo à vontade por amplos setores de Bagdá.

J.P.: Este é Reggy Yama narrando para a BBC de Bagdá. Ele descreve a chegada dos estadunidenses como uma libertação.

R.Y.: As pessoas saíram para lhes dar as boas vindas, fazendo sinais de V. Esta é uma imagem ocorrendo em toda a capital iraquiana hoje.

J.P.: Mas isto não estava acontecendo no resto do Iraque. Esta era outra ilusão. A derrubada de uma estátua de Saddam Hussein foi aproveitada pelas forças invasoras como um alvo de oportunidade. O que não foi notícia foi uma investigação do exército estadunidense descrevendo como eles exploraram o que chamaram de "circo midiático".

Há quase tantos repórteres quanto iraquianos, diz o relatório. Foi um oficial dos EUA que ordenou que a estátua fosse derrubada. As imagens de TV resultantes não davam conta da sangrenta conquista do Iraque que já estava bem avançada.

R.O.: Bem, eu realmente não fiz meu trabalho como deveria. Eu ergueria minha mão e diria que a gente não apertou os botões incômodos com a força suficiente.

J.P.: Do modo como você descreveu a chegada dos estadunidenses você não nos contou a história de como a como a derrubada daquela estátua tinha sido ela mesma manipulada. Por que não?

R.O.: Todas as câmaras ao vivo da imprensa mundial estavam no terraço do Palestine Hotel.

E aqueles eram de fato os únicos acontecimentos que elas viam sobre a reação do Iraque.

Era algo feito para o momento da TV. E os momentos mais marcantes de todo aquele dia foi quando um soldado estadunidense subiu por um guincho e colocou a bandeira dos Estados Unidos sobre a face da estátua. Aquilo foi de fato um momento icônico do que tinha acontecido. Os EUA tinham conquistado a propriedade do Iraque.

J.P.: Na Grã-Bretanha, a invasão do Bush e de Blair foi aplaudida como uma defesa deles e de sua estratégia.

Andrew Marr (Editor de política, BBC News 09/abr/2003): Ele disse que seria possível ocupar Bagdad sem um banho de sangue e que, ao final, os iraquianos estariam celebrando. E nestes dois pontos ele se mostrou convincentemente certo. E seria inteiramente ingrato, mesmo para seus críticos, não reconhecer que esta noite ele se perfila como um homem maior e um Primeiro Ministro mais forte, como resultado.

Repórter: É absolutamente sem dúvida uma justificação da estratégia de...

Mark Mardell: Uma justificação para ele. Aqueles que disseram...

Como resultado da invasão do Iraque, 740.000 mulheres são agora viúvas.

4,5 milhões de pessoas foram forçadas a abandonar suas casas.

Narrador: Será que deveriam usar a MOAB, a Mãe de Todas as Bombas?

Repórter (Fox News): As corta-margaridas... Não vamos parar simplesmente com alguns mísseis de cruzeiro...

Narrador (NBC): Eu quase me apaixonei pelo F-18 Super Hornet porque ele é um avião tão versátil...

Repórter (Fox News): Eu tenho de lhes dizer. Meu avião favorito é o A-10, Warthog. Eu adoro os Warthogs.

Dahr Jamail: A guerra que a gente não vê no Iraque são principalmente as graves consequências para os civis no Iraque, onde diariamente, inclusive agora, as pessoas estão sendo mortas ou feridas por causa desta ocupação.

Soldado: Abram a porta!

D.J.: Vendo o que eu vejo,...

Contrastando isto com o que tem sido noticiado pela maioria das grandes redes são dois mundos completamente diferentes.

J.P.: Em 2004, os fuzileiros estadunidenses invadiram por duas vezes a cidade de Falluja. A segunda vez, junto com tropas britânicas.

Um pesadelo revelado!

Os estadunidenses tornaram a cidade uma zona de bombardeios indiscriminados.

A ONU relatou que 70% das casas foram destruídas.

E as que ficaram de pé estavam todas crivadas de balas. Milhares de civis foram mortos. Muito pouco disto foi mostrado pela maioria das redes de TV. Na Grã-Bretanha ou nos Estados Unidos. Que os estadunidenses encontraram uma resistência corajosa nunca foi mencionado. Os espectadores não tiveram noção do nível de sofrimento da gente comum.

Este filme impressionante de dentro de Falluja foi feito por um estadunidense, Mark Manning, com Ran Al-Ayubi, um iraquiano, e nunca foi mostrado na televisão. Nas guerras de hoje em dia é geralmente muito ousado ver cinegrafistas independentes como estes que dão voz às vítimas:

Mulher iraquiana: Três deles vieram daquele lado.

Repórter: Daquela porta?

Mulher iraquiana: Daquela porta, os três. E então um deles veio...e pegou meu filho daqui... Com toda minha força, eu rebentei a porta... E eu o vi morto. Com sangue espalhado por todo lado. Um deles estava de pé aqui. Um estadunidense. Eles o trouxeram para cá. Aqui eles o colocaram de pé. 11 tiros. Aqui está um... Aqui está um! Eles realmente o massacraram.

J.P.: O jornalista independente estadunidense Dahr Jamail também foi a Falluja independentemente.

E revelou que os estadunidenses tinham usado fósforo branco e atacaram civis.

Seu testemunho ocular, seus despachos e fotografias contradiziam as versões que muita gente via e lia... mas não foram publicados na grande mídia.

D.J.: Eu tenho fotos de trincheiras sendo cavadas. E eu vi eles enterrando pessoas lá. Colocando pedras sepulcrais improvisadas escrevendo qualquer coisa que pudesse identificar essa gente. E eu caminhei por entre essas pedras depois do bloqueio de abril com uma de minhas intérpretes e ela leu:

- Homem velho, de bata e com uma chave nas mãos.
- Mãe e seus dois filhos.

Estas eram as marcas de identificação. E esses eram claramente civis.

J.P.: O que significa "embutimento" em relação a jornalistas, propriamente?

D.J.: Uma diferença importante entre um jornalista "embutido" e um independente é que quando você escolhe ser "embutido" você está dando aos militares todo o poder para controlar onde você vai. Como você chega lá. O que você vê. E quando você vê... Uma grande preocupação é mesmo como você vai relatar isso.

J.P.: Centenas de milhares de pessoas foram forçadas a evacuar a cidade. Refugiados em sua própria terra. Não lhes foi dado nenhum lugar para ir. Muitos ainda não podem voltar.

Mulher iraquiana: Como o governo pode aceitar isto? Eles mostram na TV os lutadores pela liberdade e dizem que eles são terroristas. Mas se estão chamando as pessoas daqui de terroristas, então porque não chamam os estadunidenses de terroristas também? Eles nunca aceitariam isso em suas vidas.

Manifestantes: Hey, invasores! Hey, invasores!

J.P.: As evidências de que os invasores aterrorizaram os civis foram fornecidas pela Al Jazeera e outras redes árabes.

Cujos repórteres e cinegrafistas destemidos e não embutidos se tornaram uma ameaça à propaganda militar.

Eles davam voz as pessoas que se recusavam a ser retratadas simplesmente como vítimas.

Mulher iraquiana: Bem-vindo a minha casa, Sr. Bush. Olhe para isto! O senhor tem humanidade? Como o senhor aceita ver uma garotinha chorando por sua mãe e seu pai? Onde está sua humanidade? Onde está sua consciência?

R.O.: Eu creio que sou o único jornalista do mundo que viu o bombardeamento dos escritórios da Al Jazeera tanto em Kabul, em 2001, e em Bagdad, em 2003. O caso do bombardeio do escritório de Al Jazeera em Kabul foi, sem nenhuma dúvida, e categoricamente, um alvo deliberado para calar aqueles jornalistas. E provavelmente para matá-los.

J.P.: A Al Jazeera não tinha informado Washington?

R.O.: Toda organização jornalística fornece aos comandantes militares ocidentais as coordenadas exatas de onde seus jornalistas estão. A questão sobre o bombardeio dos escritórios árabes da Al Jazeera em Kabul e que eles tinham recebido uma advertência para irem embora. Então, esse foi um caso claro de alvo deliberado de uma instituição jornalística e seu pessoal. Para tirá-los do ar.

OS JAPONESES ASSINAM SUA RENDIÇÃO FINAL!

J.P.: Os jornalistas que se recusam a seguir junto com os militares, em geral, são os que relatam as notícias verdadeiras.

Em agosto de 1945, um espetáculo de relações públicas foi encenado no USS Missouri, na baía de Tóquio.

Quando o general Douglas MacArthur ostensivamente aceitou a rendição dos japoneses.

A mídia "embutida" foi convocada a assistir.

Mas um repórter australiano, Wilfred Burchett, do Daily Express, de Londres, se recusou a participar.

E partiu numa viagem paralela às ruínas de Hiroshima.

A versão oficial do bombardeio atômico foi apresentada nesta reportagem do New York Times, a qual alegava que as doenças por causa da irradiação não existiam.

O repórter que tinha escrito a história foi mais tarde descoberto como fazendo parte da folha de pagamentos secretos do Depto. de Guerra dos EUA.

A revelação histórica de Burchett expôs a mentira. Havia, ele relatou, uma praga atômica. Eu entrevistei Wilfred Burchett em 1983, pouco antes de ele morrer.

Wilfred Burchett: Era como uma cidade, acho que eu descrevi assim, não uma cidade bombardeada, mas o resultado de uma topadora que arrasou com tudo.

Quando eu estava lá, com este sentimento me absorvendo, enquanto eu andava por ali, eu olhava para as pessoas e dizia: Hey, este é o último minuto. O que acontece no último minuto?

Isto foi na II Guerra Mundial, mas seria o destino de todas as cidades por todo o mundo nas primeiras horas da III Guerra Mundial.

J.P.: O que aconteceu com o senhor pessoalmente no Japão depois que aquilo foi publicado?

W.B.: Eu voltei a Tóquio de trem e cheguei bem na hora de uma conferência de imprensa que estava se realizando para negar minha história.

A mentira oficial é que não havia nada do tipo de radiação atômica.

E a negação daquela história continuou por décadas. Por tempo longo demais.

J.P.: A mídia não podia avaliar se a bomba atômica tinha posto fim à guerra, mas os arquivos oficiais mostravam uma outra história.

Com base numa investigação detalhada dos fatos, o Japão teria se rendido mesmo se a bomba atômica não tivesse sido lançada. Investigação estratégica do bombardeio feita pelos EUA em 1946.

J.P.: Uma corrida nuclear tinha começado. E a guerra fria a seguiu.

Com base na propaganda do medo, era uma guerra que nunca víamos, mas estava sempre ameaçando. E nunca soubemos quão perto os EUA chegaram de usar as armas atômicas de novo.

O que vem a seguir é uma conversa secreta em 1972 entre o presidente Richard Nixon e Henry Kissinger gravada na Casa Branca:

Presidente Nixon: Bem, não, não, não... Eu preferiria usar a bomba nuclear.

Henry Kissinger: Isso, eu acho que já seria demais.

Presidente Nixon: A bomba nuclear? Isto te incomoda?

Presidente Nixon: Eu só quero que você pense grande. Henry, pelo amor de Deus.

J.P.: Pensar grande é o que a administração de Bush fez em fevereiro 2003.

Este é o Secretário de Estado Colin Powell nas Nações Unidas promovendo a invasão do Iraque com um extraordinário teatro do absurdo.

C.P.: Iraque declarou 8.500 litros de antrax. Mas a UNSCOM estima que Saddam Hussein possa ter produzido 25.000 litros.

J.P.: Nada do que ele alegou era verdade. Todas essas figuras não significavam nada.


C.P.: As intenções de Saddam Hussein nunca mudaram. Ele não está desenvolvendo mísseis para auto-defesa. Ele quer mísseis para o Iraque a fim de projetar poder. Para ameaçar, para lançar armas químico-biológicas e, se nós permitirmos, ogivas nucleares.

Repórter (Fox News): É uma evidência irrefutável, inegável, incontroversa. Hoje Collin Powell brilhantemente disparou aquele revólver fumegante.

Colaborador (Fox News): Foi devastador. E com uma abundância esmagadora de evidências. Ponto após ponto. Ele simplesmente inundou o terreno com dados.

Repórter (CNN): Em sua opinião, Colin Powell fechou a questão hoje para qualquer um que ainda tinha objeções para se decidir?

Henry Kissinger (Ex-Secretário de Estado): Eu acho que para qualquer um que analise a situação. Ele fechou a questão.

J.P.: O incrível desempenho de Colin Powell nunca foi seriamente desafiada na mídia televisiva estadunidense da qual a Fox Television do grupo Rupert Murdoch é a maior rede. Assim como o resto do império Murdoch, ela apoiou a invasão.

Comentarista (Fox News): Esperamos que cada estadunidense apóie nossos militares, mas se não puder fazer isto... que cale a boca!

Repórter feminina(Fox News): Como você dirige isto? Você tem um bastão, certo?
Piloto: Certamente,...

J.P.: O jornalismo de desenho animado da Fox pode com frequência ofuscar o fato de que a mídia respeitável teve um papel decisivo na promoção da guerra.

Assim como a Fox, o celebrado New York Times publicou as falsas alegações de que Saddam tinha armas de destruição massiva.

O jornal pediu desculpas a seus leitores... um ano depois.

Na Grã-Bretanha, The Observer, um outro jornal respeitável,... publicou as mesmas alegações falsas.

J.P.: David, você escreveu sobre seus artigos em The Observer, na montagem para a invasão do Iraque. Que você se sente, em suas palavras, nauseado, zangado e envergonhado sobre o que você escreveu. O que você quer dizer exatamente?

David Rose (Ex-Jornalista The Observer): É agora, e já é há alguns anos, dolorosamente claro que os fatos que eu acreditava que fossem verdadeiros naqueles artigos... eles não eram verdadeiros. Eram um monte de mentiras enfiado em mim por uma campanha de desinformação razoavelmente sofisticada.

J.P.: Mas, não ocorreu a você que essas pessoas eram mentirosos profissionais?

D. Rose: Eu reconheço que deveria ter sido mais forte. Eu não posso me justificar. Eu deveria ter sido mais cético.

J.P.: Você terminou um de seus artigos expressando quase que um pequeno editorial e no final você escreveu que para o Ocidente, Iraque era o lugar ideal para instalar uma cabeça de ponte. Há ocasiões na história, você escreveu, quando o uso da força é tanto correto como sensato e esta é uma delas. Em essência, você estava pregando um ataque. Contra um país indefeso. Isto é bastante significativo, não?

D. Rose: O que aconteceu no Iraque, a enormidade do que aconteceu no Iraque é muito maior que meu próprio embaraço, meu próprio sentimento... O que aconteceu foi um crime. Foi um crime numa escala muito grande.

J.P.: Isto não torna um jornalista cúmplice?

D. Rose: Sim. Infelizmente. Eu tenho culpa, talvez, mas sim.

Narrador (CBS News): Este boletim especial da CBS News é parte de nossa contínua cobertura de América em Guerra.

Aqui está Dan Rather...

J.P.: Por 24 anos o mais famoso âncora da televisão estadunidense foi Dan Rather. Sua própria carreira é notável por muitas coisas, mas uma delas é que você enfrentou o poder. Seu questionamento de Nixon, que eu me lembro. Como em 1974 e também sua entrevista sobre o Irangate com Bush pai. Mas, mais tarde, você apareceu no David Letterman Show...que eu casualmente vi, você disse: George Bush é o presidente, ele toma as decisões e... eu sou só mais um estadunidense. Onde ele quiser que eu me alinhe, só me diga onde e ele faz a convocação. Por que você disse isso?

D.R.: Isso foi quase que na crista do 11 de setembro e esta era a maneira que eu genuinamente me sentia. Eu estava reagindo como um cidadão estadunidense. Numa forma pessoal. Eu tenho dito que se nós do jornalismo queremos admitir ou não, então, pelo menos de algum pequeno modo, o medo está presente em cada sala de notícias do país.

O medo de perder seu emprego. O medo de que a instituição ou companhia para a qual você trabalha venha a quebrar. O medo de ser tachado com algum rótulo de antipatriótico, ou coisa parecida. O que você levaria para seu túmulo e ainda além.

O medo de que haja coisa demais em jogo para seu país e ao fazer o que você profundamente sente que é seu dever você pode se queimar. Todas estas coisas entram na mistura.

Mas é muito importante o que você diz, ainda que não acredite, eu não sou o vice-presidente encarregado das desculpas. E nós não deveríamos ter desculpas. O que deveríamos fazer é dar uma muito boa olhada naquele período e aprender dele. E recuperar nossa coragem.

Steve Randall (Fairness and Accuracy in Reporting): Charles Hanley, que ganhou o Prêmio Pulitzer de reportagem, estava no Iraque em janeiro de 2003.

E ele esteve em todos os locais que tinham sido mencionados pelos funcionários de Bush como locais suspeitos. In Bagdad, in Falluja. Ele foi a cada local que tinha sido mencionado por George Bush, Cheney, Rice, Collin Powell,...

E ele descobriu que em todos os casos eles estavam ainda lacrados...desde 1991, quando foram lacrados pelos inspetores da ONU.

Ele elaborou um relatório em janeiro e foi a todas as principais salas de notícias dos Estados Unidos porque era a AP que vai a todas as principais salas de notícias nos EUA.

Sem resultado.

J.P.: Ninguém o publicou?

S.R.: Não se adequava ao enredo. Não se adequava ao enredo. Nós vamos à guerra de qualquer jeito. Eu acho que se isso tivesse tido boa cobertura da mídia bom jornalismo, que diz a verdade ao poder, isso pode fazer uma diferença muito grande.

Bem, se eu acho que nós teríamos ido à guerra se a mídia tivesse feito seu papel e seu desafio?

Não apenas as mentiras sobre as armas de destruição massiva, mas as mentiras sobre como o Saddam expulsou os inspetores em 1998. Toda a propaganda neocon que nos levou ao 20 de março de 2003. A deflagração da guerra. Eu creio que se a mídia tivesse desafiado isso nós não teríamos ido para a guerra.

J.P.: Jeremy Paxman disse no ano passado que ele e o resto da mídia tinham sido enganados na corrida para a invasão do Iraque. Isto é algo com o qual você concordaria?

Fran Unsworth (BBC HEad of Newsgathering): Bem, o que eu acho que diria sobre isso é que claramente nós não nos demos conta até muito mais tarde que as armas de destruição massiva não existiam.

E, claro, também havia os chamados dodgy dossiers (dossiês fraudulentos)... Portanto, há um montão de evidências que sugerem que a mídia certamente foi iludida pelas alegações que estavam vindo do governo naquele momento. Sim.

J.P.: Por que a mídia não conseguiu? Por que a BBC não conseguiu?

F.U.: Eu acho que nós não conseguimos em parte, por falta de acesso. Se você quer descobrir o que está acontecendo, então, você realmente tem de ir lá e fazer algumas investigações de primeira mão. O que não era possível na corrida para a guerra no Iraque.

J.P.: Mas os fatos cruciais estavam disponíveis. O chefe dos inspetores de armamento da ONU no Iraque, Scott Ritter, me deu esta entrevista 4 anos antes da invasão.

Scott Ritter (Inspetor de armas da ONU 1991-1998): Em 1991, o Iraque tinha significativa capacidade de produzir armas químicas, armas biológicas. Capacidade de produção de armas nucleares. Capacidade para manufaturar mísseis balísticos de longo alcance. Mas em 1998, a infraestrutura para as armas químicas tinham sido completamente desmontadas ou destruída pela UNSCOM.

Consequentemente, o Iraque, em cumprimento do mandato da UNSCOM, o programa de armas biológicas foi declarado em sua totalidade desativado. Mas tinha acabado. Todas as principais estruturas eliminadas. Armas nucleares novamente? Completamente eliminadas.

O programa de mísseis balísticos de longo alcance? Completamente eliminado.

Tudo o que restou foi o desenvolvimento da pesquisa e a capacidade de fabricação de mísseis com alcance menor de 150 quilômetros. Uma atividade permitida.

Tudo o que a gente se propôs destruir em 1991. A infraestrutura física tinha sido eliminada.

Então, se eu tivesse que quantificar a ameaça do Iraque em termos de armas de destruição massiva, a ameaça real é zero. Nenhuma!

J.P.: O ex-chefe dos inspetores de armamento, Scott Ritter, dizia já em 1998 que Saddam Hussein estava completamente desarmado. Scott Ritter apareceu, se não me engano, duas vezes em 2003 às 1:00 ou 2:00 da madrugada, no noticiário da BBC. Ele era uma testemunha especialista vital, e havia outras.

F.U.: Bem, eu não sei porque Scott Ritter não apareceu mais. Mas, claramente, ele apareceu.

J.P.: Esta é uma pergunta para a BBC. Por que não aqueles...

F.U.: Por que aquelas vozes não foram ouvidas?

J.P.: Isto!

F.U.: Bem, porque também havia outras vozes que estávamos colocando no ar...

Mohamed Al Baradei, Hans Blix,...

Assim que nós estávamos na verdade ouvindo aquelas vozes, mas, eu acho que você levanta uma boa questão. Por que, a gente tem de se perguntar, por que não descobrimos isto antes? Por que não descobrimos o real estado das armas de destruição massiva de Saddam Hussein.

J.P.: Eu acho que o que os críticos disso diriam é que os retransmissores, notavelmente a BBC, ecoaram, ou amplificaram, as mentiras ditas na corrida para a invasão. Em lugar de investigar eles mesmos.

F.U.: O que a BBC tem o dever de fazer é relatar o que o governo e seus representantes estão dizendo. O que nós, sem dúvida, fizemos. Nós estávamos apenas, muito legitimamente, relatando as alegações que as pessoas no momento estavam fazendo.

J.P.: No entanto, não eram alegações legítimas.

F.U.: Elas vinham da boca de líderes legítimos e, portanto, nós tínhamos o dever de relatá-las.

J.P.: Aqueles líderes, você mencionou os dois, Blair e Bush, há muito foram desacreditados. Não é papel da BBC, além de relatar o que os políticos dizem, fazer o poder prestar contas?

F.U.: Claro que é. É dever da BBC examinar o que as pessoas dizem. Mas não o de acusá-los de mentir. Porque isso seria julgamento.

J.P.: Não, não é isso que está sendo sugerido, que você faça um julgamento... A questão é que, parece agora, que aqueles importantes desafios jornalísticos nunca foram feitos.

F.U.: Não cabe a mim fazer um julgamento. Nós estamos lá para relatar suas alegações e submetê-las a exame. E investigar.

J.P.: Em agosto de 2002, ITV transmitiu um alerta do vice-presidente Cheney de que o Iraque em breve teria armas nucleares. E aquilo era bobagem.

Mas foi apresentado de modo não crítico como notícia. Quando você diz que aquilo contribuiu para a invasão que aconteceu no seguinte mês de março...

David Mannion (Editor in Chief, ITV News): Com todo respeito, mas não é nossa culpa. Eu não acredito que você esteja sugerindo - ou está? - que a gente deva descartar por completo as palavras do segundo mais poderoso homem do mundo ocidental. Nós a relatamos. Não necessariamente concordamos com ela. Nós relatamos, e deixamos para nossos espectadores concluírem se este homem está dizendo a verdade ou não.

J.P.: Mas isto não é justo com os espectadores, porque eles podem não saber o que nós, como jornalistas, sabemos, ou deveríamos saber que esse era um político extremamente melindroso que estava fazendo alegações extraordinárias.

D.M.: Se nós soubéssemos isso, deveríamos dizê-lo. Se não soubéssemos, não poderíamos. E isso se aplica a todas as coisas. Mas você está absolutamente certo num aspecto. Não deveríamos aceitar as coisas por seu valor nominal. Deveríamos fazer o melhor para investigar. E quando sabemos, deveríamos dizer a nossos espectadores. Claro que deveríamos. Isto é parte do processo de ser jornalistas numa organização chave.

J.P.: Estava pensando nas muitas declarações de Blair. Uma de 29 de janeiro de 2003... A ITV relatou o Blair dizendo: "Nós sabemos das ligações entre Al Qaeda e o Iraque." Estas ligações, como você sabe, não existiam.

D.M.: Acho que estamos entrando no campo da semântica agora. Mas...

J.P.: Mas a semântica é muito importante, não é?

D.M.: :Ele usou a palavra "ligações" entre os dois. As aspas são suas, não minhas.

J.P.: Essa foi uma cotação tirada de ITV News.

D.M.: Certo, agora, "ligações" pode significar milhares de coisas. Não significa necessariamente uma vinculação de apoio.

J.P.: (Não havia nenhuma ligação)

D.M.: Bem, estou aqui sentado em frente de você. Você está me dizendo isso. E eu lhe diria: Demonstre-me que não havia ligações. Mostre-me que eles nunca...

J.P.: Oh, mesmo aqueles que alegavam admitem que não havia nenhuma ligação. Nenhuma comunicação de nenhum tipo entre essas duas organizações.

D.M.: É impossível fazer isso. Ele escolheu suas palavras cuidadosamente. E, claro...

J.P.: Elas não foram cuidadosas, "Nós sabemos de ligações entre Al Qaeda e o Iraque".

D.R.: A palavra "ligações" poderia significar milhares de coisas. É o que estou tentando dizer. E você não está sugerindo, tenho certeza, que a gente não deveria relatar o que o Primeiro Ministro estava dizendo.

(Você está falando de semântica do mundo).

Mark Curtis (Historiador e autor,"Web of Deceit"): Eu acho quase impossível acreditar que a Grã-Bretanha tenha se safado da invasão do Iraque se a mídia estivesse cumprindo com seu papel. Quando o Blair estava discursando e dizendo que nossa política para a região era fortalecer as forças da democracia, realmente, a atitude apropriada para isso era cair na gargalhada.

Não há simplesmente nenhum histórico disso. A Grã-Bretanha sempre esteve do lado dos regimes autoritários e repressivos. Eles são nossos aliados. Os amamis, os sauditas, os egípcios.

Eles são nossos aliados. Não as forças mais democráticas, as forças mais liberais da região.

E eu creio que se os jornalistas, pelo menos, tivessem tido um leve interesse de olhar a história da região, e observando o que o governo estava de fato dizendo no momento,
ou o que era a evidência no momento, eles teriam narrado a coisa de uma maneira tal que o governo não teria se safado do que fez.

A GUERRA QUE VOCÊ NÃO VÊ

Bom dia, Vietnam! Bem-vindos a...

J.P.: Esta foi a Guerra do Vietnam que eu reportei.

Um novo jargão militar, danos colaterais, foi elaborado para a mídia e para cobrir a escala da matança industrializada de mais de 3 milhões de pessoas e o terror dos bombardeios indiscriminados conhecidos como Turkey shoots.

A mais longa campanha de bombardeios da história ocorreu aqui, no Vietnam do Norte. A maior parte dela nunca vista de fora. Esta é uma foto da cidade de Han-Long no norte. Não restou nenhum edifício, só crateras de bombas. Imagens como esta raramente eram publicadas.

O Vietnam foi o esquema para as guerras atuais. Matança e destruição substituem a tática militar. Quase que todos os homens, mulheres e crianças se tornaram os inimigos.

É hora de que a gente reconheça que a nossa é de verdade uma causa nobre. Como em guerras anteriores, a memória pública da guerra do Vietnam foi fortemente influenciada por Hollywood.

The Deer Hunter, Platoon, Bom dia, Vietnã!, Os boinas verdes

Todos estes filmes perpetuaram uma ilusão, tornando a ficção em realidade. O tema era falso heroísmo e auto-piedade. O invasor é a vítima. Purgado de qualquer crime.

Hoje, uma série de filmes sobre a guerra no Iraque segue a tradição. O atual vencedor do Oscar, Guerra ao Terror, é a história familiar de um psicopata expondo sua violência no país dos outros.

No qual o sofrimento do povo local quase que não existe.

S.E.: O que eu vi foi um filme que era uma completa celebração do lunático solitário. Mas que, no fim, é a quintessência do herói estadunidense.

Porque os lunáticos solitários são muitos neste país. Nós, às vezes, até os elegemos para a presidência.

Este é um filme sobre matança no qual a matança é completamente casual. E esta é uma guerra que foi orquestrada puramente para lucros, para petróleo e para a apropriação dos recursos de outros povos.

Para o controle dos recursos globais.

J.P.: Esta é outra guerra que não vemos na Grã-Bretanha. Neste vídeo, soldados britânicos estão abusando de civis iraquianos.

Um inquérito público sobre o assassinato de Baba Malsã, um trabalhador de hotel iraquiano, revelou que os soldados britânicos torturaram e mataram prisioneiros.

Phil Shiner é um advogado que trabalha para mais de uma centena de famílias iraquianas.

Phil Shiner: As democracias modernas não deixam marcas. As torturas ocultas. Assim, as coisas que desenvolvemos e nós não estivemos sozinhos. Os estadunidenses fizeram o mesmo oficialmente. São muito mais sutis. Deixando alguém encapuzado, colocando alguém numa posição de pé junto a parede, privando-o de comida e água, etc.

Meus clientes se queixam de todo tipo de ameaças. Sua mulher vai ser trazida pra cá e estuprada em sua frente. Ameaças de morte. Você será transferido para a Baía de Guantánamo.

Francamente, as pessoas deveriam ser processadas por todas estas coisas que eu estou falando em cortes criminais e não em cortes militares. Você não pode ter soldados processando outros soldados sendo julgados por um painel de soldados. O sistema de corte marcial, para mim, é totalmente falho. Isso tem de acabar.

As pessoas que agiram em cumplicidade. Eles precisam ser processados.

J.P.: Que papel você acha que o "embutimento" desempenha nisso?

P.S.: O problema com o jornalismo "embutido" é o de sempre dizer o ponto de vista das tropas. A gente não vê ou ouve dos civis. Eles estão no final equivocado de sua tática.

Então, vamos considerar a detenção. Está claro que as forças britânicas no Iraque mataram muita gente. Talvez centenas de civis, quando eles tinham a custódia deles.

E fizeram as coisas mais extraordinárias e brutais envolvendo atos sexuais, etc.

O jornalismo embutido nunca, jamais, vai chegar perto de ouvir a história daqueles iraquianos.


Durante a I Guerra Mundial 10% de todas as baixas eram civis.

Durante a II Guerra Mundial o número de mortes de civis elevou-se a 50%.

Durante a Guerra do Vietnam 70% de todas as baixas foram civis.

Na guerra no Iraque, os civis representam mais de 90% de todas as mortes.

A matança de civis e causar-lhes grande sofrimento é crime de guerra. IV Convenção de Genebra, 1949.


J.P.: Este é o bombardeiro B-1. Ele custa para o contribuinte estadunidense 283 milhões de dólares cada.

E isto é o que ele fez em 4 de maio de 2009, na província de Fahra, no Afeganistão.

Seguindo uma informação de inteligência falsa sobre os taliban em uma aldeia.

Suas vítimas eram algumas das pessoas mais pobres da Terra.

Guy Smallman é um fotojornalista independente. E o primeiro ocidental a chegar à aldeia logo após o bombardeio.

Guy Smallman: O primeiro golpe foi fora da mesquita da aldeia. Foi o primeiro lugar aonde me levaram. Era um mar de crateras. Várias bombas caíram naquela área. Logo após, as mulheres e as crianças foram evacuadas para um complexo ao norte da aldeia.

E novamente suas impressões foram captadas pela tripulação do bombardeiro. E uma bomba de 2.000 libras foi lançada no meio deles. Foi aí que a maioria das pessoas morreram. A primeira coisa que me chocou quando estava inda para lá foi o silêncio.

No campo afegão você em geral só ouve o cantar dos pássaros. E estava absolutamente tudo em silêncio. E os lugarenhos tinham feito o melhor para recolher todos os corpos e partes de corpos. Mas ainda havia moscas voando por toda a área. E ainda havia um forte cheiro de morte muito forte no ar.

Eu acho que a coisa que mais me chocou foram as crianças. Era quase como se toda suas energia e emoções tivessem sido extraídas delas. E eles olhavam penetrantemente em mim e meu tradutor. A meia distância. Eles não riam e quase não falavam. E eu acho que isto foi o que deixou a impressão mais duradoura.

E eu fui levado a um passeio bastante sombrio ao lugar onde as pessoas são enterradas. Em muitos casos, famílias inteiras são enterradas na mesma cova. Eu creio que contei cerca de 70 novas covas, covas frescas. E então, num extremo do cemitério havia uma enorme cova massiva, de cerca de 30 metros de diâmetro.

E naquela cova, os restos de 55 pessoas. E eles tinham de ser enterrados juntos porque tinham sido literalmente despedaçados. Era impossível distinguir quem era quem. Por isso, tiveram de enterrá-los juntos em uma longa cova. E então havia a diferença em relação com as baixas. Os lugarenhos insistiam em que mais de 140 civis tinham morrido.

E a OTAN disse que foram 25.

J.P.: Ou seja, a morte de 147 pessoas, incluindo 93 crianças tornou-se uma disputa.

G.S.: Tornou-se uma disputa sobre a contagem de cadáveres. E nada mais.

Eu sei com certeza que as fotos tomadas pelos jornalistas radiais afegãos que estiveram lá mostram os corpos no chão. Nós estávamos disputando para ter aquelas fotos. As fotos são muito gráficas, mas muitas delas realmente mostravam as pessoas escavando corpos dos escombros. Elas mostravam aqueles corpos alinhados para o enterro.

J.P.: Por que você acha que a audiência britânica, e as outras audiências ocidentais, não tem um sentido real de uma atrocidade desta escala?

G.S.: Eu creio que as pessoas se tornam insensíveis a isto. Quando eles ouvem no noticiário que uma festa de casamento foi bombardeada por acidente, um complexo foi bombardeado por acidente, um agricultor e sua família foram mortos por acidente, eles realmente não se conectam com o caso.

Porque eles não vêem de fato aqueles corpos. Os rostos, os nomes não são conhecidos. Sem rostos, sem nomes. São apenas números. Sejam eles afegãos, ou iraquianos, ou civis libaneses. Eles são apenas números. Talvez seja fácil entender porque os muçulmanos britânicos se sentem totalmente desligados de nossos serviços informativos domésticos.

Eu acho que a mídia realmente conspira para suavizar a carnificina no Iraque e no Afeganistão.


S.R.: Isto concorda com o que o grande escritor e acadêmico estadunidense Ed Herman chamava de vítimas valiosas e vítimas não valiosas.

Os iraquianos não são vítimas valiosas. Por isso podemos menosprezar suas mortes. Porque, se aceitarmos a realidade de que há mais de um milhão de mortos, e é em grande medida nossa culpa.

Por exemplo, a mídia estadunidense fala sobre 200 ou 400 mil mortos na Somália. Essas vítimas são vítimas valiosas porque elas foram mortas por gente de quem não gostamos.

E um caso bizarro. Você falava sobre as peculiaridades culturais da sociedade afegã. Eles realmente ficam furiosos quando matam seus familiares. Seus familiares civis.

Num outro caso, argumentavam que a sociedade afegã era peculiar porque eles não gostavam de que irrompessem em suas casas no meio da noite.

Isso faz com que eles fiquem furiosos e às vezes realizem "vendettas".


J.P.: Este é o memorial das forças armadas britânicas em Staffordshire.

Não é tão conhecido como outros e guarda muitos segredos. Há 16.000 nomes aqui. Todo ano, desde 1948, tropas britânicas têm estado em ação em algum lugar do mundo.

E há espaço para outros 15.000 nomes. De jovens servidores, homens e mulheres, esperando para morrer.

O que é extraordinário sobre este memorial é seu recorde de guerras constantes durante os chamados tempos de paz.

Como se revelasse os segredos do papel duradouro do império britânico.

O que está faltando é o registro das vítimas dessas guerras. Os incontáveis homens, mulheres e crianças mortos principalmente em seus próprios países em nosso nome. E passam como relâmpagos vez por outra em nossos noticiários de TV.

Pelo menos um milhão de pessoas morreram como resultado da invasão do Iraque. Eles não fazem parte de nossas lembranças porque eles não são admitidos em nossa memória.

Mark Curtis é um historiador que escreve sobre a política exterior britânica. Sua especialidade é revelar arquivos oficiais há muito esquecidos.

M.C.: Os arquivos colocaram a descoberto muitos episódios nos quais a Grã-Bretanha está ou envolvida em golpes ou está envolvida em intervenções militares que tiveram impactos pavorosos na vida das pessoas.

Eles simplesmente nunca são mencionados. Nunca há referências deles nos jornais. Nunca aparecem nas histórias britânicas da TV. Eles são simplesmente eliminados, são apagados de nossa memória histórica.

J.P.: Por que o público britânico tem tão pouca ideia da escala disto?

M.C.: Uma grande razão para isto é que se você olha para cada guerra, ou cada golpe, ou cada regime com o qual a Grã-Bretanha se envolve ou apóia. Estará geralmente acompanhado de um cada vez mais sofisticado esquema de operações de relações públicas do governo.

Nos dizem que a política exterior britânica se baseia na promoção da democracia, em expandir o desenvolvimento e defender os direitos humanos. Mas se você ler os arquivos governamentais de planejamento real, seus planos não dizem isso para eles mesmos. A sua política não se baseia naquilo.

Ela se baseia no controle do petróleo, se baseia na criação de uma economia internacional que beneficie as corporações britânicas, e se baseia em manter seu status de grande poder. A cultura da impunidade está profundamente embutida dentro da sociedade britânica.

Se você voltar no tempo, digamos à década de 1960, uma época em que a Grã-Bretanha estava veladamente apoiando os militares indonésios que tinham assassinado mais de um milhão de pessoas.

Onde a Grã-Bretanha foi responsável por despovoar a ilha de Chagos.

E onde a Grã-Bretanha estava armando o governo nigeriano que estava matando centenas de milhares de biafrenses na guerra civil da Nigéria. Tudo isto aconteceu sob o governo trabalhista na década de 1960. E nenhum daqueles ministros jamais foi questionado.

No entanto, aquelas decisões custaram literalmente milhões de vidas.

A GUERRA QUE VOCÊ NÃO VÊ

J.P.: O ataque no Iraque não começou com choque e terror.

Durante a primeira guerra do Golfo, em 1991, a Grã-Bretanha e os Estados Unidos deliberadamente bombardearam a moderna infraestrutura do Iraque.

E quando a guerra tinha terminado, o bombardeio continuou. Isto raramente foi noticiado. Durante este período dos anos 1990, a ONU impôs um bloqueio econômico liderado pela Grã-Bretanha e os EUA. Coisas essenciais como água limpa e drogas vitais foram negadas.

Em 1998, a UNICEF informou da morte de meio milhão de crianças abaixo dos cinco anos. Um resultado direto das sanções impostas pelo bloqueio. Este é Dennis Halliday, ex-secretário geral assistente da ONU. Ele renunciou após recusar-se a administrar as sanções. Em 1999, eu viajei com ele para o Iraque.


Dennis Halliday: As próprias provisões da carta e a Declaração dos Direitos Humanos foram deixadas de lado.

E nós estamos travando uma guerra através da ONU contra as crianças e o povo do Iraque. Com resultados incríveis. Resultados que você não espera ver numa guerra sob a Convenção de Genebra. Nós estamos alvejando os civis. Pior, estamos alvejando as crianças, como Safa. Que nem tinha nascido quando o Iraque foi para o Kuwait.

O que é isto? É uma situação monstruosa para as Nações Unidas, para o mundo ocidental, para todos nós que fazemos parte de algum sistema democrático, que somos de fato responsáveis pelas políticas de nossos governos e a implementação de sanções econômicas.

J.P.: Carne Ross era um alto diplomático britânico na ONU responsável por impor o embargo contra o Iraque.

Você mostrou evidências do impacto das sanções.

Carne Ross: Sim.

J.P.: E isto é o que você disse: O peso das evidências claramente indicam que as sanções causaram sofrimento humano em massa entre iraquianos comuns, em especial, crianças. Nós, os governos dos EUA e do Reino Unido, somos os principais arquitetos e violadores das sanções estávamos bastante cientes destas evidências na época.

Mas nós as ignoramos amplamente ou pusemos a culpa destes efeitos no governo de Saddam. As sanções efetivamente negam a toda a população os meios para viver. Esta é uma admissão chocante.

C.R.: É, eu concordo. É o que defendo hoje.

J.P.: Por que você não se manifestou durante estes 4 anos e meio?

C.R.: Há uma certa questão de cultura nos círculos de política exterior que falar de coisas como sofrimento humano quando está lidando com Saddam Hussein é um pouco de sentimentalismo.

Não é disso do que realmente se trata. Os governos tratam de segurança e este é o tipo de coisa dura que nós estamos lá para fornecer.

E eu acho que, não importa quão equivocada tenha sido sua decisão. Qualquer que seja o dano que você cause a outros indivíduos, no final do dia não haverá nenhuma prestação de contas.

Nós tínhamos recursos extraordinariamente bons para montar nossa história para encontrar pequenos fatos que justificassem a história. Factoides, como comecei a chamá-los.

J.P.: E com que entusiasmo os jornalistas aceitavam esses factoides?

C.R.: Eles tinham muito pouca chance de fazer qualquer coisa além de aceitar nossa versão dos acontecimentos e mais ou menos transmiti-la sem editar para o público.

O governo é uma máquina de informação. E nós costumávamos controlar o acesso para os jornalistas a nós, do governo, quando eu estava no Depto. de Informações do Ministério, eu costumava controlar o acesso ao Secretário de Relações Exteriores, como forma de recompensa aos jornalistas.

Se eles fossem críticos, se nós achássemos que eles eram muito hostis a nossa visão dos acontecimentos, nós não lhes daríamos as benesses das boas viagens com o ministro pelo mundo, ou as entrevistas exclusivas de tanto em tanto.

Fizemos o mesmo em Nova Iorque. Se os jornalistas não defendessem nossa posição, nós os poríamos na geladeira. Tornaríamos a vida mais difícil para eles. Mas há uma relação privada e sutil entre eles, que é basicamente de favoritismo.

Certos jornalistas são recompensados com acesso por serem apoiadores da nossa história. Eles eram basicamente jornalistas acuados.

Se você continuar com esta linha, com este tipo de crítica injustificada à política de nosso governo quanto a X, Y ou Z. Nós vamos te punir. E isso é muito explícito. Esses tipos de ameaça.

O que acontecia não era um processo baseado no serviço de inteligência.

Era basicamente um processo de RP administrado pelo Nº 10,...
(Obs.: 10 Downing Street, Sede do Governo) Para exibir um documento que tivesse muito mais credibilidade política do que as evidências sugeriam.

J.P.: Foi uma fraude significativa, não?

C.R.: Eu acho que, com efeito, equivale a isso. Sim! Eu me lembro, antes de ser enviado a Nova Iorque em fins de 1997, eu fiz a gira pelos departamentos em Londres dizendo a eles: OK, estou indo para Nova Iorque, eu vou lidar com o Iraque. O que eu preciso saber?

Quando eu fui ver o departamento de não proliferação, no Ministérios de Exteriores, e eu estava esperando uma conversa sobre a vasta pilha de armamentos que ainda pensávamos que o Iraque possuía.

E o funcionário encarregado olhou para mim e disse: Na verdade, não achamos que haja nada. A gente não acha que haja nada no Iraque.

Eu disse: Isso é extraordinário. Quero dizer, eu achava que estávamos pressionando pelas sanções porque pensávamos que o Iraque tinha grande quantidade de armas.

Ele disse: Não, não, a justificativa para as sanções é basicamente porque temos questões não respondidas sobre como aqueles estoques foram destruídos no passado.

Eu me sinto muito culpado por isso. Eu me sinto envergonhado ao estar aqui falando com você. Eu sinto uma vergonha real percorrendo meu corpo quando eu falo sobre isso.

J.P.: Os jornalistas deveriam sentir o mesmo? Aqueles que passam adiante o engano?

C.R.: Logicamente. Todos nós deveríamos prestar contas uns aos outros. Eu acho que essa é a única maneira de ter um sociedade civilizada.

Que haja algum tipo de transparência de uns aos outros e responsabilidade, fazendo as pessoas moralmente responsáveis pelo que fazem.

Isso se aplica a jornalistas como se aplica a qualquer um.


PALESTINA

Os Territórios Ocupados

J.P.: Estas deveriam ser as fronteiras de Israel e Palestina quando Israel foi fundado em 1948. E isto é o que resta da Palestina hoje.

Fragmentada e deslocada por uma ocupação militar que desafia a lei internacional e é sustentada por uma das mais sofisticadas máquinas de propaganda do mundo.

Este é o câmara palestino Imad Ganin.

Sendo alvejado repetidamente por soldados israelenses. O assassinato de jornalistas não ocidentais raramente é notícia. Imad Ganin tinha 21 anos e perdeu suas duas pernas.

Dez jornalistas foram mortos pelas forças israelenses desde 1992.

E muitos mais foram feridos. O grupo pioneiro de mídia da Universidade de Glasgow acaba de publicar seu mais recente relatório sobre as reportagens da mídia de Israel e Palestina.

Greg Philo (Glasgow University Media Group): Se trata de um conhecimento básico que os jornalistas têm. Que é muito simplesmente que, se eles criticarem Israel isso será potencialmente problemático.

Se eles criticarem os palestinos, então haverá muito menos problemas.

Assim, eles poderiam usar uma palavra como "ocupação". Mas não dirão "ocupação militar". Não dirão "controle militar". Não explicarão em detalhes o que significa. Eles certamente não o fariam rotineiramente. Explicar em detalhes o que significa viver sob controle militar.

E porque os palestinos, desde seus pontos de vista, estão tentando derrubar aquele controle militar.

Tentando acabar com aquele controle.


J.P.: O Prof. Greg Philo chefia a ULO de Glasgow. Ao analisar suas pesquisas parece bastante claro que um certo estado de medo existe sobre com quem os israelenses vão reclamar. Eles dizem em sua pesquisa:

As pessoas trabalham preocupadas. Será que eles vão reclamar a nível de diretoria geral? Ou eles simplesmente ligarão para a sala de notícias? A questão é a sensação de quase intimidação.

F.U.: Bem-vindo ao mundo do correspondente, que tem de lidar com essas pressões diariamente. Sim. Mas onde eu discutiria com você é o fator justo. Porque, de fato, nenhum correspondente com quem eu me tenha cruzado, que costumava trabalhar em Jerusalém, em particular, ou lidando com estas coisas teme isto, em absoluto.

J.P.: Eu estava pensando nas pessoas daqui, do centro de televisão.

F.U.: Nós também não temos medo. Nós recebemos muita pressão, mas não temos medo.

G.P.: Depois de fazer o primeiro livro, eu fiz uma série de conversas com jornalistas na Grã-Bretanha, a jornalistas da BBC. Eu passei bastante tempo com gente que era produtores-senior dos noticiários televisivos.

E um deles me disse, no contexto da discussão acalorada que estava acontecendo com os jornalistas: Ele disse:

A gente espera com medo (foram suas palavras exatas), a gente espera com medo pelo telefonema dos israelenses.

A única questão que encaramos então é de que nível deles veio. Veio de um grupo monitor? Veio da embaixada israelense? E daí, até que ponto irá em nossa organização?

Será até o editor imediato? Ou o superior? Ou o diretor geral?

Ele disse: Eu tenho tido jornalistas comigo ao telefone minutos antes de a gente ir para o ar com um noticiário importante, perguntando "O que eu devo dizer?", "Que palavras devo usar?", "Estará bem se eu disser isto?"

J.P.: Em 31 de maio de 2010, as forças israelenses atacaram uma frota de ajuda que se dirigia a Gaza, em águas internacionais.

Eles mataram nove pessoas. Nos dias que seguiram, a propaganda israelenses se pôs a manipular a agenda noticiosa.

Benjamin Netanyahu: Eles foram golpeados, eles foram espancados, esfaqueados. Houve informação até de tiros de revólver.

J.P.: Você não acha justo que se olhe para algumas coberturas e dizer isto em casa. O tom foi, logicamente, vocês não se sentaram e disseram 'Vamos colocar o ponto de vista de Israel', mas o tom o tempo todo foi de que Israel tem um problema.

Não as pessoas que foram alvejadas nas costas e na cabeça. Mas era que Israel tinha um problema.

F.U.: Eu acho que há duas coisas aqui. Você está dizendo que nós de fato desvalorizamos a vida humana? Porque eu não acho que fizemos isso.

J.P.: Eu não disse isso.

F.U.: Mas eu considero legítimo quais seriam as implicações disso para Israel. Que era o que aquela pergunta estava tentando fazer.

Âncora: Esta noite: Israel sob pressão depois do assalto aos barcos levando ajuda a Gaza. Centenas de ativistas no comboio foram detidos em Israel, incluindo ao menos 40 britânicos.

Ativista: Eles estavam empurrando todo mundo. As pessoas estavam correndo. E eles nos batiam com a culatra de seus rifles.

Âncora: Os israelenses são acusados de cometer um massacre sangrento. Mas eles alegam que foi em defesa própria.

Mark Regev (Porta-voz israelense): Nosso planejamento para a interceptação de ontem foi para uma operação policial pacífica. Nossos marinheiros em serviço foram orientados a usar o mínimo de força e o máximo de moderação.

J.P.: O auge do noticiário principal foi com Mark Regev. Sem disputa. Mark Regev, como você sabe, é o principal propagandista de Israel.

F.U.: Mark Regev é um portavoz do governo de Israel. Você pode descrevê-lo como propagandista se quiser. (Que outra coisa ele é?)

J.P.: Por favor, me diga.

F.U.: Essa é uma maneira pejorativa de dizer o que os porta-vozes de governo são. Eles têm o direito de expressar seu ponto de vista. E nós temos o dever de divulgá-lo.

J.P.: Eu receio que esta visão educada não seria compartilhada pelas famílias das pessoas que foram assassinadas no barco.

F.U.: Eu aceito totalmente isso e temos o dever de divulgar essa perspectiva também.

J.P.: Qual é o palestino equivalente de Mark Regev? Que aparece com tanta frequência. Quem são os palestinos equivalentes a todas aquelas, principalmente mulheres, porta-vozes de Israel durante a operação Chumbo Derretido? Quem são seus equivalentes, fluentes em inglês? Recebendo um espaço no alto da noticiário da BBC?

F.U.: Esta é a questão. Se há essas pessoas.

J.P.: Mas, por que a BBC...

F.U.: Não é nosso trabalho designar os porta-vozes palestinos.

J.P.: Você diria que é imparcial? Certamente, você encontraria alguém para ser... Sim, deixa o Sr. Regev dizer o que está dizendo,... E então o seu equivalente.

F.U.: Fazemos isso. E fizemos.

J.P.: Não fazem, na verdade. Não têm um equivalente do Mark Regev. Simplesmente não é verdade.

F.U.: Só porque não há um equivalente do Mark Regev não quer dizer que não permitimos que fosse ouvida gente com os pontos de vista que você expressou ao longo de nossas transmissões.

J.P.: Este foi o noticiário de ITV News em 31 de março usando a mesma base israelense.

Filmados com câmaras de visão noturna, comandos israelenses saltaram de helicópteros no convés de um barco de ajuda turco.


J.P.: A consequência imediata do ataque de Israel contra a frota de ajuda humanitária, em junho. Por uma coisa. Os israelenses forneceram filmes editados, até mesmo com legendas, que foram amplamente usados pela ITV e pela BBC.

Eram rotulados, mas, o contexto disso, de acordo com os israelenses, o seu pessoal que estava atacando a frota passaram a ser quem estava de fato sendo atacado pela gente da frota. Nesta perspectiva, a propaganda israelense predominou.

David Mannion (ITV): Realmente predominou. Mas certamente a máquina de propaganda de Israel, como você sabe, é muito, muito sofisticada. E em seus próprios termos, ela é muito exitosa. E, sim, este é o caso. Que às vezes as organizações midiáticas caem numa armadilha armada para eles por...

J.P.: Só é sofisticada porque nos permitimos que ela seja sofisticada.

D.M.: Mas, é somente quando você está escrevendo a história destes acontecimentos,que você pode vê-la com esta visão retrospectiva. Mas quando está acontecendo numa base diária, você precisa tomar cuidado com o que faz.

Quando a história está terminada, e quando alguém tem tempo e cabeça sobrando para reanalisar a história,... Certo, então, se você errou, você levanta as mãos e diz: naquela hora eu cometi um erro. Isto acontece de vez em quando.

J.P.: Os palestinos não podem esperar até que alguém reescreva a história definitiva. Eles dependem dos jornalistas agora.

D.M.: Você está sugerindo que os jornalistas podem... Que o papel do jornalismo é mudar o mundo. Não é! Tenho de lhe dizer. Mesmo alguém com sua enorme experiência... Você deveria saber melhor isso.

J.P.: Eu não estou dizendo isso. É você que está dizendo.

D.M.: Por certo, o público que consome nossas notícias estão tão informados como nós podemos informá-lo. Assim, eles podem chegar a suas próprias conclusões.


J.P.: Mas os espectadores só podem tirar suas próprias conclusões se lhes forem mostrados todos os fatos disponíveis.

Vídeo gráfico independente estava disponível na internet na noite do ataque.

Quatro meses depois, uma investigação das Nações Unidas descreveu o ataque de Israel como tendo feito uso de violência incrível e desnecessária.

Seis pessoas foram executadas à queima roupa. O ataque justificava o processamento por crimes de guerra.

Isto só foi apresentado num item de 12 segundos na ITV News e completamente ignorado nos três principais boletins de notícias da BBC. E visto apenas no News 24.


J.P.: Um dos triunfos das relações públicas no século 21 foi a ascensão de Barack Obama.

Seu slogan de campanha era:

Mudanças nas quais podemos acreditar.

Ele era uma marca que oferecia algo especial. Excitante. Em 2008, Obama, o candidato, foi eleito a marca do ano, na frente de Apple, Nike e de Coors Beer.

Ele fez muita gente se sentir bem como se seu slogan pudesse ser verdadeiro.

Acima de tudo, a percepção da marca Obama era de que ele era contra a guerra.

Barack Obama: A maioria de vocês sabe que eu me opus a esta guerra desde o começo. Eu achava que era um erro trágico.

J.P.: Mas isso era falso. Como presidente, Obama não retirou os EUA do Iraque, e apoiou as ações militares dos EUA no Afeganistão, Paquistão, Somália e Iémen.

E aprovou um orçamento militar de 708 bilhões de dólares.

O maior gasto de guerra de todos os tempos.

Cynthia McKinney é uma ex-congressista e candidata à presidência pelo Partido Verde.

Cynthia McKinney: É uma grande vergonha para a tradição política dos negros nos EUA. Ter... um guerreirista. É quase como se a comunidade negra dos EUA... Talvez... nós também tenhamos perdido nossa inocência. Porque... seria muito difícil encontrar... uma pessoa negra nos EUA, uma pessoa comum, média,... que apóie... qualquer uma dessas guerras. E ainda assim essas guerras estão sendo continuadas com uma face negra.

J.P.: Mais do que qualquer outro presidente, Obama tem processado os contadores de verdades, conhecidos como sopradores de apito.

J.P.: E esta é Wikileaks, uma organização de sopradores de apito na internet. Independente e sem país, representa um marco decisivo no jornalismo.

Wikileaks revelou centenas de milhares de documentos secretos do Pentágono que descreve a matança por atacado de civis no Iraque e no Afeganistão.

J.P.: Na informação que você revelou no Wikileaks sobre essas chamadas guerras sem fim, o que aconteceu com isso?

Julian Assange: Olhando para a enorme quantidade e diversidade desses aparatos de inteligência militar nos documentos,o que eu vejo é um vasto estado em expansão. O que era tradicionalmente chamado de complexo militar de inteligência, ou complexo militar industrial, e este estado industrial em expansão está crescendo, se tornando mais secreto, tornando-se mais incontrolável. Esta não é uma conspiração sofisticada controlada de cima. Este é um vasto movimento de interesses próprios. Milhares e milhares de atores. Todos trabalhando juntos, e uns contra os outros, para produzir um resultado final, que é Iraque e Afeganistão, Colômbia, para manter aquilo andando.

Paraísos fiscais, onde as pessoas escondem o patrimônio e transferem dinheiro, para isso servem os paraísos fiscais, e eu vejo algumas semelhanças muito marcantes Guantánamo é usada para fazer a lavagem de gente para um porto off-shore, que não segue as regras da lei.

De modo similar, Iraque, Afeganistão e Colômbia são usados para retirar dinheiro dos contribuintes estadunidenses e de volta...

J.P.: As empresas de armamento.

J.A.: Empresas de armamento.

J.P.: O que você está dizendo é que o dinheiro e o fazer dinheiro estão no centro das guerras modernas. E é algo quase auto-perpetuante.

J.A.: Sim. E tem se tornado pior.

J.P.: O que ocorre quando Wikileaks chega ao Reino Unido, que tem algumas das leis de segredo mais draconianas do mundo, como o "Ato de segredos oficiais"?

J.A.: Nós não tivemos problemas por publicar informações do Reino Unido. Quero dizer, quando olhamos o rótulo do Ato de segredos oficiais vemos uma declaração de que é uma violação reter documentos e é uma violação destruir documentos. Então, a única conclusão é que temos de publicar os documentos. O que nós fizemos em muita, muitas ocasiões.

J.P.: Eu sei de um no qual eu tinha um interesse pessoal. Era um do Ministério de Defesa. Um documento classificado que equiparava terroristas com jornalistas investigativos como ameaças.

J.A.: E espiões russos.

J.P.: Como espiões russos.

J.A.: De fato, em muitas seções, como eu relato, jornalistas investigativos são os nº 1. Uma ameaça a essa segurança informativa do Ministério da Defesa. Era um documento de 2000 páginas sobre como parar vazamentos do Ministério da Defesa. O qual nos vazamos.

J.P.: Eu não sabia se devia me sentir ofendido ou honrado.

J.A.: É agradável estar causando um impacto.


J.P.: Desde a divulgação dos segredos de guerra do Pentágono, Julian Assange vem sendo submetido a extraordinárias acusações e difamações originárias dos Estados Unidos e da Suécia.

Elas incluem ameaças a sua vida e um bizarro assassinato de caráter. A mídia pelo mundo inteiro vem amplificando esta propaganda.

Este documento secreto do Pentágono afirma claramente que o serviço de espionagem estadunidense pretende destruir a credibilidade do Wikileaks ameaçando os "sopradores de apito" com exposição e processamento criminal.

Dessa forma, desacreditando os contadores de verdade.

J.P.: Como o senhor se sente com respeito aos "sopradores de apito" como parte essencial da democracia? O senhor aprova os "sopradores de apito"?

B.W.: Bem, eu acho que este país tem leis para proteger os "sopradores de apito". E eu acho que houve casos em nossa história quando lançar luz sobre algo é importante.

J.P.: Como um alto funcionário do governo dos EUA, o senhor poderia garantir que os editores de Wikileaks, e o editor ele mesmo não é estadunidense, não estão em perigo Que eles mesmos não serão submetidos ao tipo de caçada que nós lemos na mídia?

B.W.: Em primeiro lugar, não é minha posição dar garantias sobre nada. Nós temos de fato uma investigação criminal aberta. A investigação está dirigida aos indivíduos que violaram a fé e a confiança que foi neles depositada por este país.

J.P.: Mas Wikileaks é uma organização dirigida de fora dos EUA. E seu fundador foi informado de que corre grande risco de ser caçado. Eu não sei em que forma.

B.W.: E eu também não. Por isso, lamento não poder ajudar.


J.P.: Para você receber aquele volume de documentação sugere que deve haver algo de rebelião acontecendo dentro do sistema.

J.A.: Sim. É uma das coisas esperançosas. De fato, existe gente boa entre os militares dos EUA. É uma outra maneira de se tornar um sujeito consciente. De fato, é uma maneira indiscutivelmente bem mais poderosa de fazer objeção.

A GUERRA QUE VOCÊ NÃO VÊ

J.P.: Em abril de 2010, Wikileaks divulgou este vídeo da cabine de uma canhoneira Apache em Bagdad em 2007.

A canhoneira está disparando de uma distância de mais de 1 milha de suas vítimas. Esta é a guerra que você não vê.

J.A.: Claramente, há dois câmeras segurando as câmeras.

Estes câmeras acabaram por se transformar de repórteres em notícias. Não vi nada desde então.

Soldado 1: Assim que você os localizar, dispare neles. Acabe com eles.

Soldado 2: Estou vendo seu elemento. Há 4 outros em volta.

Soldado 1: Você foi claro.

Soldado 2: Tudo certo. Disparando.

Soldado 1: Me avise quando você os tiver agarrado.

Soldado 2: Vamos disparar.

Soldado 1:Passe fogo em todos eles.

Soldado 2: Vamos lá. Fogo!

Soldado 1: Continue disparando. Continue disparando.

Soldado 1: Continue disparando.

Soldado 1: Continue disparando.

Soldado 2: Temos de mudar a hora agora! Tudo certo, pegamos todos os 8 indivíduos.

J.A.: Toda uma rua coberta de cadáveres. E a reação para isso foi "Legal".

Soldado 2: Oh, olhe pra todos aqueles bastardos mortos. Legal! Dois-seis; Cavalo Louco Um-Oito

J.A.: Esse cara para mim, e todos os outros envolvidos, fez muito bem um trabalho sujo. Eu não podia achar nada legal, quando toda a rua esta coberta de carnificina. Pra ele, foi "legal".

J.P.: Ethan McCord foi um dos primeiros soldados a chegar ao local da matança. Aqui ele fala para uma audiência nos EUA.

Ethan McCord (Ex-soldado EUA): Eu e uma equipe de soldados que estava comigo começamos a correr em direção aonde ouvimos o fogo do Apache.

(Bom disparo. )

E.M.: Eu não estava nem um pouco preparado para a carnificina com a qual iria me deparar. Eu vi o que parecia três homens na esquina. Houve um estranho choque para meus sentidos. Eles não pareciam humanos.

E havia o cheiro. O cheiro não era igual a nada que eu tivesse cheirado antes. Uma mistura de fezes, urina, sangue, fumaça e outras coisas indescritíveis.

Eu ouvi choro. Não choros de dor. Mas o de um criancinha que tinha acabado de passar ao lado de um homem morto.

Eu vi que havia muitos homens. E os choros pareciam estar vindo deles. Eu e o outro soldado, um praça de 21 anos, caminhamos para a van de passageiros e olhamos dentro.

O praça que estava comigo começou a vomitar e rapidamente correu dali. O que eu vi dentro da van era uma garotinha de uns 4 anos no assento de passageiro.

Ele tinha uma grave ferida na barriga e estava coberta de vidro. O vidro estava em seus cabelos e também em seus olhos. Ao lado dela, meio no piso da van, com a cabeça apoiada no assento, estava um garoto de cerca de 7 anos. Ele não se movia e pela ferida profunda no lado direito de sua cabeça, meu primeiro pensamento foi que ele estava morto.

No assento do motorista estava quem eu imediatamente supus ser o pai das crianças pela maneira como ele estava estirado sobre as crianças numa maneira protetora.

O tempo todo pensando, "diabo", que diabo é para os bebês.

- Hey, preciso chegar ao Brads para deixar feridos. Tenho uma garota que precisamos levar a Rustamiyah.

- É culpa deles que trazem suas crianças para uma batalha. É isso mesmo.

E.M.: Meu filho nasceu em 21 de maior 2007. Eu ainda não o tinha visto. E eu tinha uma filha que era um pouco mais velha que essa garota. A unidade médica então concluiu que o local tinha de ser evacuado pois não havia nada mais a fazer lá.

Eu passei a criança para os médicos e fui ver o veículo armado Bradley. Eu voltei para a van. Não sei porque. Olhei dentro da van novamente e o garoto se moveu. Oh, merda, o garoto se moveu. Eu tirei o garoto da van e o apertei contra meu tórax. Eu saí gritando neste ponto:

O garoto está vivo. O garoto está vivo.

Comecei a correr para o Bradley esperando que não estivesse indo embora. Neste ponto o garoto me olhou. Seus olhos tinham voltado. Meu coração afundou. Está OK. Estou com você. Tudo vai ficar Ok. Não morra. Não morra. Eu o apertei ainda mais forte. Eu o coloquei no Bradley tão suavemente como pude.

- Você pode dizer ao batalhão que 2 baixas de crianças civis estão indo para Rustamiyah no Bradley? Câmbio.

- Roger, negativo com relação às crianças, ah, civis, ah, crianças.

- IPs vão levá-los a um hospital local. Câmbio.

E.M.: Que porra você está fazendo McCord? Era o líder de meu pelotão.

- Você fica se preocupando com essas porras de crianças em vez da segurança. Ele gritou.

E.M.: Na hora, a única coisa que eu pensei foi: É isso, senhor.

J.P.: Um dos soldados no terreno descreveu a atrocidade como, em suas palavras, uma ocorrência diária. E ele disse que as palavras de seu comandante era para matar todo mundo na rua. E ele respondeu:

Vamos matar as mulheres e crianças?

Ele disse: Sim!

É um ponto levantado por muitos outros soldados que voltaram do Afeganistão e Iraque. Este tipo de atrocidade não é uma aberração?

B.W.: Em primeiro lugar, isto não é uma ocorrência diária. Se fosse uma ocorrência diária nós certamente saberíamos sobre elas. Esses incidentes são lamentáveis. Cada um em que haja baixas civis é lamentável. Mas, novamente, é o inimigo que está deliberadamente tentando infligir baixas civis. E colocam os civis em perigo.

São as forças da OTAN, são as forças dos EUA que estão tomando todas as precauções que podem para prosseguir a guerra e prevenir baixas civis.

J.P.: O general James Cartwright é o vice-comandante do alto mando conjunto.

Ele diz que os EUA pode esperar estar em guerra em suas palavras, até onde os olhos possam ver. Isso soa como um estado de guerra permanente.

B.W.: Nosso trabalho é estar preparados para lutar quando esta nação está em guerra. Então, temos de estar preparados para a possibilidade de conflito no futuro.

J.P.: É uma notável situação, não é mesmo? Porque os EUA não estão de fato ameaçado por um poder que pudesse possivelmente derrubá-lo. Derrotá-lo. Isto é impossível. Mas ainda assim, eles continuam, como se estivessem empurrando a maioria da humanidade a um estado de guerra permanente. Para muita gente, isso parece muito difícil de justificar.

B.W.: Em primeiro lugar, há muitos perigos assimétricos que existem por aí. O terrorismo, obviamente, é um deles. O que a gente antevê no futuro não é necessariamente conflito de nação contra nação. São esses conflitos assimétricos que estão por aí. É a ameaça de armas de destruição massiva. Este é outra ameaça assimétrica. São os tipos de problemas que existem. Estes todos são ameaças que transcendem... fronteiras geográficas.

B.W.: Os militares dos Estados Unidos têm de se preparar para uma ampla gama de ameaças que existem por aí a fim de proteger seus interesses nacionais.

J.P.: Os tambores da mídia estão soando para uma nova guerra? Digamos uma guerra com o Irã?

S.R.: Eu não diria que a mídia já está tocando os tambores para a guerra. Embora estejam mostrando a mesma credulidade. A mesma obsequiência para com os poderosos como fizeram nas vésperas da guerra contra o Iraque.

Eu não estou seguro de se eles já estão tocando os tambores para a guerra. Mas quando a elite decidir que é hora de ir, eu ficaria surpreso se eles fizessem qualquer outra coisa.


Repórter: O senhor já mencionou o Irã e há uma enorme escolha a ser feita quanto ao Irã... Um país mais desenvolvido, mais formidável, mais populoso e certamente melhor armado que o Iraque de Saddam em qualquer tempo foi. O senhor está sugerindo que deveríamos de fato ameaçá-los militarmente, se eles estiverem determinados a desenvolver armas nucleares?

Tony Blair: Estou dizendo que eu acho que é totalmente inaceitável que o Irã tenha capacidade para armas nucleares. Eu acho que devemos estar preparados para confrontá-los. Se for necessário, militarmente. Eu creio que não há nenhuma alternativa quanto a isso. Se eles continuarem a desenvolver armas nucleares, eles precisam receber essa mensagem. De alto e bom som.

J.P.: Isto lhe soa familiar? Há tanta evidência de que o Irã está preparando armas nucleares como havia de que o Iraque tinha armas de destruição massiva. Como tinha sido alegado por Tony Blair.


Carne Ross: Nós sabemos que grandes falsidades foram perpetradas e ainda assim os indivíduos que perpetraram estas coisas continuam circulando mais ou menos tanto como antes.

Sendo apresentados como comentaristas sérios, ou autoridades nisto ou naquilo. Eu acho isto espantoso.

Essas pessoas deveriam esconder suas caras de vergonha.


Mark Curtis: A elite britânica não quer que o público saiba o que eles estão fazendo. Eles acham mesmo que nem têm o direito de saber o que eles estão fazendo.

E eles sabem que quanto mais informação o público tenha mais difícil será para eles prosseguir com políticas que talvez sejam abusos dos direitos humanos, ou apoio a regimes repressivos.

Então, há na verdade uma estratégia consciente de fazer essas campanhas de relações públicas. Como o governo regularmente faz. Sempre que decide fazer um intervenção militar no exterior.

Para tentar convencer o público de que estão atuando com a mais nobre das intenções. E de fato não estão. Eles estão agindo a partir dos mais desapiedados interesses das elites.

Portanto, o público é uma ameaça que eles precisam levar em consideração.


J.P.: Para muitos jornalistas o preço de sua independência é sua vida.

Eles incluem Terry Lloyd, da ITN, morto a tiros no Iraque pelos fuzileiros estadunidenses.

Desde a invasão do Iraque, mais de 300 jornalistas foram mortos. Mais do que em qualquer outra guerra. Este filme é um tributo a eles.

Isto não quer dizer que nós jornalistas tenhamos que arriscar nossas vidas para dizer a verdade. Mas temos de ser suficientemente bravos para desafiar aqueles que buscam nossa cumplicidade ao vender sua última aventura sangrenta no país de outras pessoas.

Isto significa sempre desafiar a versão oficial. Por mais patriótica que esta história possa parecer. Por mais sedutora e insidiosa que seja. Pois a propaganda depende de nós da mídia para dirigir sua fraude não contra um inimigo distante mas contra você em casa.

É muito simples. Nesta era de guerras imperiais intermináveis, as vidas de incontáveis homens, mulheres e crianças dependem da verdade. Ou o seu sangue recairá sobre nós. Nunca acredite em nada até que seja oficialmente negado, disse o grande repórter Claud Cockburn.

Em outras palavras, aqueles cujo trabalho é manter sua ficha correta, ou ser a voz do povo, não do poder.

Fonte: Site de John Pilger
[Via BBA]

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Brasil Acadêmico: A guerra que você não vê
A guerra que você não vê
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Brasil Acadêmico
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