Para fechar 2013 com um bode na sala. Atenção Brasília, São Paulo, Curitiba, Rio de Janeiro (Anápolis?)... Cuidado ao investir em imóveis. ...
Para fechar 2013 com um bode na sala. Atenção Brasília, São Paulo, Curitiba, Rio de Janeiro (Anápolis?)... Cuidado ao investir em imóveis.
Será que não conseguimos aprender com os erros dos outros? Ou será que no Brasil não há uma bolha, o que haveria, na verdade, é uma jabuticaba, fruta que só dá no Brasil. Tão doce e complexa que nem um laureado pelo Nobel de economia consegue interpretar?
Bob Shiller, professor de finanças comportamentais da Universidade de Yale afirmou, em visita recente ao país, que um dos principais indicadores da existência da bolha era o fato de os preços no Rio de Janeiro e em São Paulo terem dobrado nos últimos cinco anos
Veja o que economista que, em 2005, anteviu a crise do "subprime" de 2008 e um dos ganhadores do Nobel de economia de 2013, disse em entrevista ao canal PBS:
Paul Solman: Eu sei que você não gosta de fazer previsões e acho que elas são tolas em algum sentido, mas eu não estou fazendo o meu trabalho, se eu não perguntar a Shiller de Case-Shiller, sobre o mercado imobiliário atualmente.
Bob Shiller: É um fenômeno muito interessante para mim que haja bolhas em tantos países diferentes ao redor do mundo. Como no Brasil. Eu estava lá há alguns meses, e eles estão passando por uma fase de grande expansão em habitação e que parece ser ... bem, eles não têm quaisquer dados. Eles não estavam mesmo prestando atenção. Eles não tinham os índices de preços de casa, até alguns anos atrás. Agora, todo mundo está falando sobre isso e eles estão animado sobre ele.
Paul Solman: Ainda que, no mundo... na Irlanda, na Espanha, nos EUA, houvessem essas explosões espetaculares de bolhas imobiliárias.
Bob Shiller: Certo. Você pode pensar que os brasileiros aprenderiam que os americanos tinham essa enorme bolha e, em seguida, explodiram. Mas isso não parece ser o que aprendem. Eles adotaram o mesmo tipo de mentalidade que tínhamos há oito anos. É estranho. Quando eu estava no Brasil conversando com as pessoas, eu senti como se estivesse nos Estados Unidos de 2005.
Paul Solman: Bem, você começou a avisá-los, a maneira como você nos alertou então?
Bob Shiller: Eu fiz, embora o boom dos preços da habitação brasileira é interpretado pela maioria dos brasileiros como um sinal do país emergente. De que o Brasil está se juntando aos países avançados do mundo. "Claro, se você quiser comprar um apartamento em São Paulo, você tem que esperar para pagar os preços de Nova York. Que é por aí que a situação vai, certo?" E se eu digo: "Nãããooo", então me parece errado dizer isso. E eu posso fazer isso, porque eu estou deixando o Brasil em uma hora. Em um par de horas que eu estou fora daqui.
Paul Solman: Mas você é um ganhador do Prêmio Nobel que ganhou o prêmio baseiado, em grande medida, em seu ceticismo sobre os mercados irracionais, certo? Quero dizer, nós imaginaríamos que os brasileiros diriam: "Meu Deus, Bob Shiller está chamando isso de 'uma bolha imobiliária'".
Bob Shiller: Alguns deles fizeram. Mas eu tenho certeza que ele permanece como uma opinião marginal. É só as forças nacionalistas, que simplesmente não se sentem bem, este ponto de vista alternativo. E, por falar nisso, temos economistas profissionais que poderiam defender qualquer ponto de vista com as estatísticas, e eles fazem isso.
Paul Solman: Em todos os lugares do mundo.
Bob Shiller: Em todos os lugares do mundo. A economia não é uma ciência exata. Eu queria ser um cientista, quando eu era uma criança. E eu tenho a lamentar, desde sempre, que eu entrrei em um campo onde eu não posso ser exato, e eu não acho que alguém possa. O que é a economia vai fazer a seguir? Nós acabamos de sair da maior bolha imobiliária da história dos EUA. É algo que não está no mapa. E agora ela está começando a subir novamente. O que acha disso? Quero dizer, vamos voltar a outra bolha econômica? Eu não sei. Eu não vejo como alguém possa saber.
Agora, isso me faz lembrar: em 2005, durante a nossa boom imobiliário, eu fiz uma pesquisa no site do Federal Reserve - trabalhos de pesquisa para "bolha" - "bolha imobiliária". E eu achei difícil - este é o nosso próprio Federal Reserve - [bolha] quase nunca é mencionada em seus trabalhos de pesquisa. Mas eu encontrei um artigo que mencionou que poderíamos estar em uma bolha imobiliária. Então eu chamei o economista-se e disse: "Você está no conselho do Federal Reserve. Você tinha preocupações sobre a bolha imobiliária. Por que você não vai até ele dizer firmemente que poderia estar em uma bolha imobiliária?" E ele meio que cercado e hesitante não parecia querer me responder.
Eu tive a sensação de que - e é óbvio, certo? Você está trabalhando como economista no conselho do Federal Reserve, você não pode dizer isso, quero dizer, porque iria ser atribuído aos seus superiores hierárquicos. Você é parte de uma organização. E o presidente do Fed é tão cuidadoso a respeito de tudo. O presidente do Fed não vai dizer "bolha imobiliária". Então você lá em baixo, mais baixo no totem, com certeza não vai dizer isso. Então, isso é o que o psicólogo Irving Janis chamado de "pensamento de grupo", e ele a chamou de "auto-censura". Eu não acho que o conselho do Federal Reserve tenha censurado este economista, mas ele sabe que ele é parte de uma organização que faz parte do "espírito animal" do nosso país. Está administrando o nível de nossa confiança. Então, ele só vai manter essas dúvidas para si mesmo.
Paul Solman: Mas você não manteve as dúvidas para si mesmo.
Bob Shiller: Eu acho que é, em parte, a minha personalidade, é em parte meu diferente senso de dever nacional, ou o meu dever para com os brasileiros, eu não sei. É, em parte, que eu nunca tinha aceito a sabedoria convencional. É talvez uma atitude que eu tenho do meu pai: "não acredite em todas essas pessoas importantes". E quando elas dizem que alguma coisa é certa, bem, há certos tipos de coisas que você pode confiar nelas, mas quando se trata de discussões politicamente envolvidos, "não acredite em nada que elas dizem". E assim que me deu a coragem para me levantar pelo que pareceu correto para mim.
Em palestra recente, realizada em Campos do Jordão-SP, Shiller foi perguntado sobre o que o governo poderia fazer para evitar que essa suposta bolha eventualmente exploda. Ele sugeriu como primeira medida alertar o mercado sobre tal risco. Depois, agir para para remover as barreiras para a expansão da indústria da construção. E, finalmente, adotar "mais responsabilidades" na concessão de créditos para a compra de imóveis.
Mesmo não sendo economista, creio que cabe aqui algumas reflexões sobre o caso de Brasília-DF. O Plano Piloto, projetado pelo urbanista Lúcio Costa (o que convencionou-se chamar de "avião") é tombado pelo Patrimônio Histórico. assim, não há mais grandes áreas para serem aproveitadas como áreas residenciais nesse local. O Plano Piloto foi projetado para ter grandes áreas verde e prédios baixos.
Vê-se que onde foi liberada a construção de prédios altos, com mais de 20 andares, formou-se verdadeiras muralhas, mostrando uma demanda reprimida, como em Águas Claras e em certas partes do Guará. Brasília poderia se tornar uma exceção dentre as grandes cidades modernas onde temos, em regra, o centro (downtown) formado de prédios altos e o subúrbio (uptown) de casas e prédios mais baixos, isso se dará na medida que o plano diretor da cidade permitir, e sempre haverá uma forte pressão por parte de construtoras e incorporadoras nesse sentido.
O criticado arranha-céu Monte Parnaso em Paris (à esq. da Torre Eifel).
Se liberarem para as construtoras, o skyline urbano muda radicalmente.
Setores planejados ainda em formação, como o Noroeste, uma das últimas expansões adjacentes do Plano Piloto, e suas coberturas que beira os 4 milhões de reais, simplesmente não têm imóveis em número suficiente para atender a enorme demanda.
Por conseguinte, poderá até haver uma redução drástica nos preços desses imóveis, especialmente se deixarem degradar excessivamente as áreas com construções mais antigas, da época da inauguração da capital federal, e nos salários pagos para os empregados da construção civil. Mas creio que, no curto prazo, não teria como atingir a agudez vista nas crises americanas e europeias.
Fonte: Folha, O Globo, IPHAN
[Via BBA]
Será que não conseguimos aprender com os erros dos outros? Ou será que no Brasil não há uma bolha, o que haveria, na verdade, é uma jabuticaba, fruta que só dá no Brasil. Tão doce e complexa que nem um laureado pelo Nobel de economia consegue interpretar?
Bob Shiller, professor de finanças comportamentais da Universidade de Yale afirmou, em visita recente ao país, que um dos principais indicadores da existência da bolha era o fato de os preços no Rio de Janeiro e em São Paulo terem dobrado nos últimos cinco anos
Veja o que economista que, em 2005, anteviu a crise do "subprime" de 2008 e um dos ganhadores do Nobel de economia de 2013, disse em entrevista ao canal PBS:
Paul Solman: Eu sei que você não gosta de fazer previsões e acho que elas são tolas em algum sentido, mas eu não estou fazendo o meu trabalho, se eu não perguntar a Shiller de Case-Shiller, sobre o mercado imobiliário atualmente.
Bob Shiller: É um fenômeno muito interessante para mim que haja bolhas em tantos países diferentes ao redor do mundo. Como no Brasil. Eu estava lá há alguns meses, e eles estão passando por uma fase de grande expansão em habitação e que parece ser ... bem, eles não têm quaisquer dados. Eles não estavam mesmo prestando atenção. Eles não tinham os índices de preços de casa, até alguns anos atrás. Agora, todo mundo está falando sobre isso e eles estão animado sobre ele.
Paul Solman: Ainda que, no mundo... na Irlanda, na Espanha, nos EUA, houvessem essas explosões espetaculares de bolhas imobiliárias.
Quando eu estava no Brasil conversando com as pessoas, eu senti como se estivesse nos Estados Unidos de 2005.
Bob Shiller: Certo. Você pode pensar que os brasileiros aprenderiam que os americanos tinham essa enorme bolha e, em seguida, explodiram. Mas isso não parece ser o que aprendem. Eles adotaram o mesmo tipo de mentalidade que tínhamos há oito anos. É estranho. Quando eu estava no Brasil conversando com as pessoas, eu senti como se estivesse nos Estados Unidos de 2005.
Paul Solman: Bem, você começou a avisá-los, a maneira como você nos alertou então?
Bob Shiller: Eu fiz, embora o boom dos preços da habitação brasileira é interpretado pela maioria dos brasileiros como um sinal do país emergente. De que o Brasil está se juntando aos países avançados do mundo. "Claro, se você quiser comprar um apartamento em São Paulo, você tem que esperar para pagar os preços de Nova York. Que é por aí que a situação vai, certo?" E se eu digo: "Nãããooo", então me parece errado dizer isso. E eu posso fazer isso, porque eu estou deixando o Brasil em uma hora. Em um par de horas que eu estou fora daqui.
Paul Solman: Mas você é um ganhador do Prêmio Nobel que ganhou o prêmio baseiado, em grande medida, em seu ceticismo sobre os mercados irracionais, certo? Quero dizer, nós imaginaríamos que os brasileiros diriam: "Meu Deus, Bob Shiller está chamando isso de 'uma bolha imobiliária'".
O boom dos preços da habitação brasileira é interpretado pela maioria dos brasileiros como um sinal do país emergente.
Bob Shiller: Alguns deles fizeram. Mas eu tenho certeza que ele permanece como uma opinião marginal. É só as forças nacionalistas, que simplesmente não se sentem bem, este ponto de vista alternativo. E, por falar nisso, temos economistas profissionais que poderiam defender qualquer ponto de vista com as estatísticas, e eles fazem isso.
Paul Solman: Em todos os lugares do mundo.
Bob Shiller: Em todos os lugares do mundo. A economia não é uma ciência exata. Eu queria ser um cientista, quando eu era uma criança. E eu tenho a lamentar, desde sempre, que eu entrrei em um campo onde eu não posso ser exato, e eu não acho que alguém possa. O que é a economia vai fazer a seguir? Nós acabamos de sair da maior bolha imobiliária da história dos EUA. É algo que não está no mapa. E agora ela está começando a subir novamente. O que acha disso? Quero dizer, vamos voltar a outra bolha econômica? Eu não sei. Eu não vejo como alguém possa saber.
Agora, isso me faz lembrar: em 2005, durante a nossa boom imobiliário, eu fiz uma pesquisa no site do Federal Reserve - trabalhos de pesquisa para "bolha" - "bolha imobiliária". E eu achei difícil - este é o nosso próprio Federal Reserve - [bolha] quase nunca é mencionada em seus trabalhos de pesquisa. Mas eu encontrei um artigo que mencionou que poderíamos estar em uma bolha imobiliária. Então eu chamei o economista-se e disse: "Você está no conselho do Federal Reserve. Você tinha preocupações sobre a bolha imobiliária. Por que você não vai até ele dizer firmemente que poderia estar em uma bolha imobiliária?" E ele meio que cercado e hesitante não parecia querer me responder.
Eu tive a sensação de que - e é óbvio, certo? Você está trabalhando como economista no conselho do Federal Reserve, você não pode dizer isso, quero dizer, porque iria ser atribuído aos seus superiores hierárquicos. Você é parte de uma organização. E o presidente do Fed é tão cuidadoso a respeito de tudo. O presidente do Fed não vai dizer "bolha imobiliária". Então você lá em baixo, mais baixo no totem, com certeza não vai dizer isso. Então, isso é o que o psicólogo Irving Janis chamado de "pensamento de grupo", e ele a chamou de "auto-censura". Eu não acho que o conselho do Federal Reserve tenha censurado este economista, mas ele sabe que ele é parte de uma organização que faz parte do "espírito animal" do nosso país. Está administrando o nível de nossa confiança. Então, ele só vai manter essas dúvidas para si mesmo.
Paul Solman: Mas você não manteve as dúvidas para si mesmo.
E quando elas dizem que alguma coisa é certa, bem, há certos tipos de coisas que você pode confiar nelas, mas quando se trata de discussões politicamente envolvidos, "não acredite em nada que elas dizem".
Bob Shiller: Eu acho que é, em parte, a minha personalidade, é em parte meu diferente senso de dever nacional, ou o meu dever para com os brasileiros, eu não sei. É, em parte, que eu nunca tinha aceito a sabedoria convencional. É talvez uma atitude que eu tenho do meu pai: "não acredite em todas essas pessoas importantes". E quando elas dizem que alguma coisa é certa, bem, há certos tipos de coisas que você pode confiar nelas, mas quando se trata de discussões politicamente envolvidos, "não acredite em nada que elas dizem". E assim que me deu a coragem para me levantar pelo que pareceu correto para mim.
Em palestra recente, realizada em Campos do Jordão-SP, Shiller foi perguntado sobre o que o governo poderia fazer para evitar que essa suposta bolha eventualmente exploda. Ele sugeriu como primeira medida alertar o mercado sobre tal risco. Depois, agir para para remover as barreiras para a expansão da indústria da construção. E, finalmente, adotar "mais responsabilidades" na concessão de créditos para a compra de imóveis.
Suponho que Rio e São Paulo são os casos mais dramáticos, porque são as principais cidades do país.
Mesmo não sendo economista, creio que cabe aqui algumas reflexões sobre o caso de Brasília-DF. O Plano Piloto, projetado pelo urbanista Lúcio Costa (o que convencionou-se chamar de "avião") é tombado pelo Patrimônio Histórico. assim, não há mais grandes áreas para serem aproveitadas como áreas residenciais nesse local. O Plano Piloto foi projetado para ter grandes áreas verde e prédios baixos.
Dentro destas "superquadras" os blocos residenciais o discurso da maneira mais variada, obedecendo porém a dois princípios gerais: gabarito máximo uniforme, talvez seis pavimentos e pilotis, e separação do tráfego de veículos do trânsito de pedestres, momento o acesso à escola primária e às comodidades existente no interior de cada quadra.
Relatório do Plano Piloto de Brasília (in site do IPHAN)
Vê-se que onde foi liberada a construção de prédios altos, com mais de 20 andares, formou-se verdadeiras muralhas, mostrando uma demanda reprimida, como em Águas Claras e em certas partes do Guará. Brasília poderia se tornar uma exceção dentre as grandes cidades modernas onde temos, em regra, o centro (downtown) formado de prédios altos e o subúrbio (uptown) de casas e prédios mais baixos, isso se dará na medida que o plano diretor da cidade permitir, e sempre haverá uma forte pressão por parte de construtoras e incorporadoras nesse sentido.
Setores planejados ainda em formação, como o Noroeste, uma das últimas expansões adjacentes do Plano Piloto, e suas coberturas que beira os 4 milhões de reais, simplesmente não têm imóveis em número suficiente para atender a enorme demanda.
Águas Claras-DF. Crescendo verticalmente para atender a demanda por imóveis no DF. |
Fonte: Folha, O Globo, IPHAN
[Via BBA]
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