Tudo sobre a Guerra das Malvinas - 30 anos

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A questão das Malvinas para a Argentina é como falar do Maracanaço no Brasil para quem viveu a década de 1950 ou falar de Taça de Bolinhas p...

A questão das Malvinas para a Argentina é como falar do Maracanaço no Brasil para quem viveu a década de 1950 ou falar de Taça de Bolinhas para a torcida do Flamengo (que é claro,  que pertence por direito ao Fla :D). É uma questão mal resolvida entre nações.
Propaganda oficial ilude o povo argentino levando centenas
de jovens a uma morte por uma razão, no mínimo, duvidosa.


O Brasil só se recuperará do Maracanaço quando o Uruguai tiver time para ir a uma final NO BRASIL (ou no Uruguai) e devolvermos a derrota para a Celeste. A questão da Taça das Bolinhas só poderá ser de fato encerrada quando for dado um título para o Sport de Recife, uma Taça para o Fla e outra para o São Paulo (e ainda assim ainda haverá resmungos). Todas as três questões são explosivas e exploradas politicamente ao limite.



Afinal, dependendo do engajamento dos torcedores, presidentes de clubes e até de países podem cair do poder conforme for a condução dessas questões. Bobagem, dirão alguns, mas pensem no quanto o povo em geral leva mais a sério e discute mais profundamente dilemas como "Que cidade sediará os jogos do Brasil?", "Onde será a abertura da Copa?", do que "Como resolver o problema da falta de mão de obra qualificada?" Embora o custo financeiro para essas respostas toque em cifras de grandezas semelhantes.

A Argentina precisa ser esfregada no barro da humilhação.
Winston Spencer Churchill. Neto de Winston Churchill, no Parlamento britânico em junho de 1982

Antecedentes
14 de agosto de 1592
Capitão John Davis
Segundo o site do governo das Ilhas Falklands, o Capitão inglês John Davis, avista o arquipélago a bordo do navio "Desire". 
1833
Outro inglês, John Strong realiza o primeiro desembarque nas ilhas batizando-as de Falklands, em homenagem ao sobrenome do patrocinador de sua expedição, o tesoureiro real Visconde Falkland.
1764
Louis Antoine
de Bougainville
O francês Louis Antoine de Bougainville fundou uma base naval em Port Louis (Malvinas Oriental). Ele a chamou de Îles Malouines, fazendo uma referência ao porto francês de Saint Malo.
1765
Lord John Byron
O britânico John Byron estabeleceu uma base em Egmont (Malvina Ocidental), desconhecendo a presença francesa no arquipélago.

1766
A França vendeu sua base para a Espanha, que declara guerra à presença britânica nas ilhas, mas a disputa se acalmou no ano seguinte, decidindo-se que a parte oriental seria controlada pela Espanha e a parte ocidental pelos britânicos.
1811
Durante as lutas de independência na América do Sul, os espanhóis partem e abandonam as ilhas, que ficam totalmente abandonadas durante quase uma década.
1820
A Argentina envia um mercenário dos EUA para reocupar as ilhas em nome do novo governo independente. Mas a ocupação das ilhas, na prática, só começou em 1827, quando a Argentina enviou colonos. A anteriormente francesa Port Louis é rebatizada como Puerto Soledad.
1829
Luis María Vernet, cidadão naturalizado de Buenos Aires, é nomeado governador da ilha para colonizá-la.
1831
USS Lexington, comandado
pelo Capitão Silas Duncan
Vernet apreendeu três baleeiros norte-americanos. Em retaliação, uma operação comandada pelo Capitão da marinha do EUA, Silas Duncan, destruiu as instalações de Puerto Soledad, na qual foram feitos prisioneiros que posteriormente foram entregues ao governo da Argentina, e proclamou as ilhas "livres de governo".

2 de janeiro de 1833
Puerto Soledad
A Inglaterra desembarca tropas e expulsa os argentinos. Em outra versão, o capitão John James Onslow, comandante da fragata britânica HMS Clio, informou aos argentinos que o Império Britânico iria retomar a posse das ilhas. O Capitão José Maria Pinedo, considerando que não havia condições para resistência, embarcou seus homens e voltou para a Argentina. O Reino Unido coloniza as ilhas com escoceses, galeses e irlandeses. Puerto Soledad transforma-se em “Puerto Stanley”. Buenos Aires protesta (enquanto o resto do país estava imerso em uma guerra civil).

1841
O ditador argentino Juan Manuel de Rosas oferece ceder o domínio das Malvinas (que, de fato, já estavam sob a possessão inglesa) em troca do cancelamento da dívidas do país junto ao banco Baring. Os britânicos rejeitam a oferta.
1884
A Argentina pede que a posse das Malvinas seja submetida a arbitragem internacional. A coroa britânica rejeita a proposta.
1947
A Grã-Bretanha propõe à Argentina levar à Corte Internacional de Justiça as discussões sobre a soberania das ilhas. A Argentina rejeita a oferta.
1965
A ONU aprova a resolução 2065, que convoca a Grã-Bretanha e a Argentina a sentarem à mesa de negociações para discutir a soberania das Malvinas. A Inglaterra se recusa a discutir a questão.
1966
Um grupo nacionalista argentino sequestra um DC4, voa até as ilhas e declara a reconquista das Malvinas. As autoridades britânicas rapidamente desarma o grupo.
1967
A Grã-Bretanha abre negociações com a Argentina, indicando que poderia discutir de forma reservada e bilateral sobre a transferência da soberania.
1971-1980
A Argentina estabelece voos semanais até às ilhas, instala o único posto de combustível do arquipélago, oferece bolsas de estudo e atendimento hospitalar aos insulares no sul da Argentina. O governo britânica avalia várias propostas de soberania compartilhada com o país portenho.
1974
A Grã-Bretanha propõe à Argentina um acordo no qual as Ilhas Malvinas/Falklands passariam formalmente para o Estado argentino em 99 anos (2073). Porém, os planos foram cancelados subitamente por uma troca de governo em Londres e a morte do presidente Juan Domingo Perón.
1976
Uma junta militar dá um golpe de estado e põe fim ao governo civil de Isabelita Péron, a primeira mulher a assumir a presidência da Argentina. O golpe é parte de um plano maior da CIA e dos EUA para impedir a chegada ao poder de regimes de esquerda na América Latina.
1978
Conflito de Beagle: uma outra disputa territorial, que envolvia o Canal Beagle e algumas ilhas, dessa vez com o Chile, quase leva a Argentina à guerra contra o vizinho andino. Um laudo da Coroa Britânica em 1977 dava ganho de causa ao Chile. A questão foi mediada e pacificada pelo papa João Paulo II, que foi favorável ao Chile, quando tropas portenhas já marchavam três quilômetros adentro no território chileno.
A Guerra das Malvinas (1982)
2 de abril
Centenas de soldados argentinos ocupam as Ilhas Falklands/Malvinas. Na verdade, o dia do desembarque foi a noite de primeiro de abril, mas por ser o Dia da Mentira em várias partes do mundo (embora não seja comemorado na Argentina), oficialmente ficou sendo dia 2. O governo britânico corta relações diplomáticas com a Argentina e aprova o envio de uma força-tarefa naval para o Atlântico Sul.
3 de abril
O general Mario Menendez é nomeado governador militar das ilhas A Argentina também toma a ilha de Geórgia do Sul. O Conselho de Segurança da ONU aprova a resolução 502, que pede a retirada de todas as tropas das ilhas e negociações de paz. No Parlamento britânico, o governo de Margaret Thatcher é duramente criticado por não prever a ação argentina.
4 de abril
Tropas argentinas ocupam Goose Green e Darwin.
5 de abril
As primeiras das 40 embarcações britânicas que compõem a força-tarefa partem para o Atlântico Sul. Sob críticas, o ministro de Relações Exteriores do país, Lord Carrington, se demite e é substituído por Francis Pym. O Peru declara seu apoio ao governo argentino.
7 de abril
O governo britânico anuncia que pretende impor uma zona de exclusão ao redor das ilhas de 320 km no dia 26 de abril.
8 de abril
A Fuerza Aérea Argentina inicia uma ponte aérea ilhas-continente. Ainda na Semana Santa, um avião com o embaixador cubano na Argentina entrara, sem permissão, no espaço aéreo do Brasil e caças brasileiros tentavam obrigá-lo a pousar em Brasília. Com ordens do presidente Figueiredo para abatê-lo se esse se recusa-se a obedecer. Tiros de advertência chegaram a ser disparados.
12 de abril:
Os primeiros submarino ingleses se aproximam do arquipélago. A zona de exclusão marítima imposta pelos britânicos começa a vigorar.
14 de abril
Após visitas a Buenos Aires e Londres, o então secretário de Estado americano, Alexander Haig, encarregado de mediar o conflito, retorna para os Estados Unidos para reunião com o presidente Ronald Reagan. Os navios de guerra ingleses chegam ao Atlântico Sul.
17 de abril
Haig apresenta um plano de paz ao governo militar argentino.
O império contra-ataca: Manchete na capa da revista britânica Newsweek de 19 de abril.

22 de abril
A força-tarefa britânica entra nas águas das Malvinas. Pym chega a Washington para reunião com Haig.
A revista Time trouxe várias capas sobre o conflito. Nessa ela mostra soldados argentinos defendendo as ilhas.

25 de abril
Os britânicos retomam as ilhas Geórgia do Sul. Helicópteros ingleses bombardeam o Santa Fe, um dos dois submarinos argentinos. A primeira-ministra Margaret Thatcher conclama os britânicos a "festejarem".
26 de abril
Thatcher diz que o tempo para diplomacia está se esgotando.
Margaret Thatcher na capa da Time
27 de abril
Militares apresentam ao gabinete de guerra britânico os planos para liberar as ilhas. Haig envia a Londres uma proposta final para evitar o conflito.
30 de abril
O presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, torna público seu apoio à Grã-Bretanha e impõe sanções econômicas à Argentina.
Os primeiros ataques não
conseguem inutilizar a pista
1º de maio
Aviões britânicos atacam a pista de pouso de Porto Stanley. Na primeira batalha aérea, três aviões argentinos são derrubados. Pym volta a Washington, agora como aliado dos EUA.
Cruzador Gal. Belgrano afunda
2 de maio
O submarino nuclear britânico HMS Conqueror afunda o cruzador argentino General Belgrano, fora da zona de exclusão. O ataque resulta na morte de 323 argentinos; 680 são resgatados. Francis Pym se econtra com o secretário-geral da ONU, Javier Perez de Cuellar.
3 de maio
Barcos de patrulha da Argentina são atacados.
4 de maio
Uma aeronave argentina Super Étendard alveja o destróier britânico HMS Sheffield, com um míssil Exocet. Cerca de vinte britânicos morrem. Caça britânico é derrubado. Os britânicos iniciam o bombardeio de Porto Stanley.
11 de maio
O presidente do Brasil, General João Baptista Figueiredo, em reunião com o secretário de Estado dos EUA, Alexander Haig, dá a entender que se Londres resolvesse combater a Argentina no continente, além do combate insular, poderia apoiar militarmente o país vizinho. Também revelou preocupação com o possível aumento da influência soviética na região, com o possível auxílio enviado pela URSS.
3 de junho
Aviões britânicos com problemas no reabastecimento invadem o espaço aéreo brasileiro e são interceptados por caças da FAB que os escolta até o Galeão, no Rio. Inicialmente não se sabia se tratava-se ou não de um ato hostil.
12 de junho
As tropas britânicas tomam a posição argentina no Monte Longdon, nos arredores de Porto Stanley, depois de longa batalha. O confronto resulta em 50 mortes entre argentinos e 29 entre os britânicos. O Monte Harriet também é tomado. O destróier britânico HMS Glamorgan é atingido na região, matando 13 britânicos.
13 de junho
Combates em Monte Tumbledown. Combates em Wireless Ridge. Combates em Mount William.

14 de junho
Tropas britânicas entram em Port Stanley As tropas argentinas são derrotadas. O General Mário Menendez se rende ao General de Divisao Jeremy Moore. Cerca de 9.800 soldados entregam suas armas.
17 de julho
O general Leopoldo Galtieri, que dizia estar ganhando a guerra até nos últimos dias do conflito, é deposto pelos seus próprios colegas militares.
Desdobramentos
9 de junho de 1983
Fortalecida com o resultado da Guerra das Malvinas/Falklands, a premiê britânica Margareth Thatcher é reeleita para chefiar o governo.
10 de dezembro de 1983
Raúl Alfonsin assume o poder na Argentina como presidente civil.

1985
Galtieri foi acusado pela Justiça de ter cometido pelo menos onze seqüestros, três torturas, oito situações de escravidão, dois seqüestros de menores e 242 casos de falsidade ideológica. Mas surpreendentemente, conseguiu ser absolvido.
1986
Em outro processo, Galtieri foi indicado como o responsável pela má condução da guerra das Malvinas. A Justiça o condenou a doze anos em uma prisão militar.
1989
Carlos Menem toma posse da presidência da Argentina prometendo reconquistar as Malvinas "a ferro e fogo". Mas muda de ideia e adota a "política de sedução". Forma sutil de aproximar-se da Grã-Bretanha sem declarações hostis. Além disso, Menem anistiou Galtieri.
1991-1999
Como parte da "política de sedução", a Argentina confeccionou bichos de pelúcia e desenhos animados que "valorizavam a amizade" para os insulares. Guido Di Tella, ministro dos Negócios Estrangeiros, mandou cartas pessoais a dois mil kelpers, entre outras estratégias que desagradavam à oposição e a dissidentes peronistas. Os malvinenses enviam os bonecos e os vídeos para as crianças órfãs da Bósnia.
1999
Depois de 17 anos de proibição, a Inglaterra permite visitantes argentinos nas ilhas.
2007
O presidente argentina Néstor Kirchner abandona a política da sedução e lança ofensiva diplomática e comercial para reaver as ilhas.
2011
Cristina Kirchner consegue o respaldo do Mercosul para impedir o atracamento de navios com bandeira das Malvinas. Relatório mostra um alto índice de suicídios entre os veteranos do conflito. 58% dos combatentes sofrem de depressão e 30% revelaram já terem tido pensamentos suicidas. Mais de 500 veteranos cometeram suicídio, número muito superior aos argentinos mortos em combates na ilha (326, não contabilizando os 323 que afundaram com o cruzador General Belgrano).
2012
O governo argentino pressiona empresas para realizar boicote comercial contra produtos importados da Grã-Bretanha.

Estou brincando, nenhuma dessas questões se compara ao sentimento portenho de injustiça, humilhação e orgulho ferido, sem falar no número de mortes, causado pela disputa territorial das Falkland Islands (como a Inglaterra prefere chamar o arquipélago). Quando a ditadura militar na Argentina iniciou a Guerra das Malvinas em 2 de abril (embora o desembarque das tropas tenha começado ainda no dia primeiro, mas acho que ninguém levou muito a sério, afinal, era Dia da Mentira) estava tentando injetar um novo gás hilariante e inebriante de popularidade no governo inepto, repressor, brutal e capenga de apoio da sociedade.



Ao insuflar as multidões contra o colonialismo britânico, o governo argentino fabricou um conflito que foi além do território da Argentina. Criou um perigoso sentimento de oposição norte-sul. Porque na época evocou-se até um acordo militar entre as nações americanas de proteção mútua chamado TIAR - Tratado Interamericano de Assistência Recíproca, que dizia que caso algum dos países da América fosse atacado por forças externas, os demais entrariam no conflito em defesa do americano ofendido.

Isso obrigou a todos os países do acordo a se posicionarem e mostrar o que de fato era verdadeiro nesse tipo de tratado. E é claro que os EUA nesse momento difícil não abandonou seu antigo parceiro europeu da OTAN, outro tratado que os norteamericanos eram signatários. Afinal, a Argentina parecia flertar com a União Soviética em plena Guerra Fria. E isso também não era bem visto nem pela ditadura brasileira, embora o Brasil tenha se posicionado a favor da Argentina durante o conflito.



Enquanto isso, o Chile também não via a aventura argentina com bons olhos pois sabia que após as Malvinas, a bola da vez provavelmente seria as Ilhas do Canal Beagle atualmente pertencentes ao Chile.

Assim o General Pinochet até ficou do lado da Argentina da boca para fora, mas secretamente proveu dados de radar para as forças britânicas entre outras "ajudas" militares.

Até por causa da pendenga com o Chile, as forças argentinas não podiam enviar as melhores tropas para a ocupação das Ilhas (e também uma certa preocupação com o Brasil, contra o qual mantém uma reclamação dormente sobre Itaipu)  - na realidade a chamada "Operação Rosário" previa atuar em três arquipélagos: Malvinas (o único povoado regularmente), Geórgia do Sul e Sandwich do Sul (essa últimas povoadas apenas por cientistas, uma espécie bem comum por lá) - assim as forças de ocupação argentinas contavam com 60% de conscritos, militares com menos de três meses de alistamento, os chamados chicos.



O General Leopoldo Galtieri, que comandava o regime no país do tango, entre um copo de uísque e outro, imaginou que a Inglaterra jamais atravessaria o Atlântico de norte a sul só para impedir a invasão de ilhas que só representavam prejuízo, especialmente com a aproximação do inverno. As ilhas não produzem praticamente nada do que consomem. Quase tudo tem que vir de fora. Provavelmente, como especula-se, já imaginava, após a "fácil" ocupação, se voltar novamente contra os chilenos.



Acontece que a primeira-ministra britânica na época, Margaret Hilda Thatcher, também precisava de uma razão para se manter no poder. Sua impopular gestão baseada em privatizações e cortes, embora
contivesse a inflação e melhorasse a cotação da libra esterlina, acabou agravando o desemprego e colocando a economia em recessão. A guerra era uma oportunidade que a política do Partido Conservador, que ficou conhecida depois como "A Dama de Ferro", não iria deixar escapar.

Também não seria de se estranhar o fato dos EUA ficarem a favor do seu parceiro na OTAN. A guerra contra o comunismo, liderada pela União Soviética, era muito mais prioritária e uma invasão à força para resolver pendências territórias poderia deflagrar revoltas semelhantes no mundo todo. Era intolerável tal "rebeldia", mesmo sendo uma ilha sem valor obviamente bem mais importante estrategicamente para os argentinos do que para os ingleses, em outro hemisfério.

Até mesmo o líder do partido trabalhista na época, Michael Foot, conhecido por ser um pacifista apoiou a primeira-ministra na decisão de brigar pelas Falklands:

As garantias dadas pelo exército invasor valem tanto quanto as garantias oferecidas pela mesma Junta Militar aos seus próprios concidadãos. Não se deve esquecer que milhares de argentinos que lutaram por seus direitos políticos foram presos e torturados.

Thatcher respondeu com força. Enviou uma frota de 100 navios e 28 mil soldados profissionais que foram chegando às ilhas para defender seus 1800 kelpers (como são chamados os ocupantes das ilhas por ingleses e argentinos, por causa de uma alga que cresce na região. Os cerca de 2000 malvinos acham o termo depreciativo e preferem "islanders" ou "insulares") até o final de abril, e assim combater os 12 mil soldados argentinos já entrincheirados nas ilhas e seus cerca de 40 navios.

Na ilha havia apenas uma curta pista de pouso, feita de alumínio pelos agentinos, assim até os aviões argentinos precisavam vir do continente, mais sinais de falta de planejamento. A junta militar que comandava o país realmente contava que a Inglaterra não se daria ao trabalho de atacar o arquipélago. Mas o blefe teve consequências profundas.
Para a Inglaterra as condições para atacar pelo ar não são melhores. Seus bombardeiros precisam vir da ilha britânica de Ascensão, distantes 6000 km da área do conflito. Para efeito de comparação, a base aérea argentina mais distante disponível no conflito (Trelew) ficava a 1070 km e a mais próxima (Rio Grande) ficava a apenas 700 km. Mesmo assim, os aviões argentinos não contavam com reabastecimento aéreo. Dessa forma, eles tinham pouco tempo operacional útil para realizar as missões e rapidamente tinham que retornar para a base.



Do lado britânico, essa distância quase causou um incidente diplomático de consequências imprevisíveis. Um bombardeiro britânico Vulcan teve problemas no reabastecimento aéreo e se dirigiu para o Brasil (a outra opção era ejetar e cair no oceano).

Mas o piloto manteve o rádio silencioso e não esperava que fosse interceptado (ou talvez estivessem testando nossa capacidade de detecção, vá saber)  e passou por um momento tenso pois caças de outro país latino (Brasil)  poderia tratar a invasão como uma ameaça e abater o avião da Coroa.

Mas as coordenadas do Galeão foram transmitidas e o bombardeiro foi escoltado. Lá chegando o avião foi desarmado e liberado.

Os últimos episódios em que a Força Aérea Brasileira (FAB) interceptou aviões intrusos no espaço aéreo do País foram há duas décadas, em plena Guerra das Malvinas, travada entre a Argentina e o Reino Unido. Eram 10h50 do dia 4 de junho de 1982, quando os radares brasileiros detectaram o bombardeiro britânico Vulcan, da RAF (Royal Air Force), voando a 340 quilômetros ao sul do Rio de Janeiro. O aparelho voltava das Malvinas à sua base na ilha de Ascensão, no oceano Atlântico, mas teve um defeito mecânico que o impediu de fazer um reabastecimento aéreo e ficou sem combustível. Como o avião não respondeu ao contato por terra, dois caças F-5 Tigger II da FAB o interceptaram e o conduziram à base aérea do Galeão, provocando grandes explosões ao quebrarem a barreira do som. Por estar oficialmente neutro, o Brasil não poderia autorizar a passagem de um avião de um país beligerante – no caso o Reino Unido – em seu espaço aéreo. Três meses antes, em abril, um Ilyushin 63, da Cubana de Aviación, tinha sido interceptado por dois caças Mirage IIIE da FAB que partiram da base de Anápolis (GO), a 300 quilômetros de Brasília. Na época, o Brasil não tinha relações diplomáticas com Cuba. IstoÉ

Ou seja, nunca é bom negócio ficar do lado de vizinhos beligerantes. A gente pode acabar se envolvendo na briga. O presidente Figueiredo chegou a transmitir ao secretário de Estado dos EUA que se a Inglaterra atacasse a Argentina no continente, que o Brasil deixaria a neutralidade e passaria a apoiar o vizinho militarmente. Foi o que revelou documentos diplomáticos ultrassecretos do governo brasileiro.

Outra lição que o Brasil aprendeu nessa guerra foi a necessidade de independência tecnológica quando se trata de armamento. Consta que a Inglaterra pressionou para que a França liberasse os códigos que desarmam os mísseis Exocet (vendidos para os argentinos). Além disso, depois de um embargo contra a Argentina, os franceses não deram mais assistência tecnológica. Assim os técnicos argentinos tiveram que aprender a montar e operar os mísseis "na marra". E fizeram um ótimo trabalho. Afundaram o principal navio inglês disparando a 50 km do alvo, antes dos aviões retornarem para a base no continente.

Os pilotos não tinham a mínima ideia se a operação tinha tido êxito. Afinal, o mundo todo estava observando como se daria a guerra na era dos mísseis. Tais artefato eram sofisticados, mas funcionavam muito bem... na teoria. A destruição do HMS Sheffield foi a prova definitiva de que a guerra do futuro teria ataques vindo de longe. Muito longe.



Assim, já que estamos em pleno processo de compra de aviões para equipar nossa Força Aérea, é bom não esquecer da importância da transferência tecnológica. Afinal, a Argentina poderia até ter ganho a guerra, conforme defende um documentário. Os detalhes foram fundamentais para a decisão do embate.

Seis navios britânicos foram alvo de bombas argentinas que não detonaram. Se tivessem explodido, a campanha britânica teria sido derrotada de imediato. Isso ajudou, como também o fato de que valentes soldados da Marinha e paraquedistas britânicos lutaram corpo a corpo até o final.
Mark Fielder. Direto e produtor do documentário "The Great Falklands Gamble: Revealed" ("A grande aposta das Malvinas: revelada", em tradução livre)

Se há algo de positivo nessa guerra non sense, especialmente para quem perdeu algum ente querido ou ainda sofre com os traumas do conflito, é o fato de que ela precipitou o fim do regime de exceção argentino. Hoje o apoio à causa argentina não para de crescer e a pressão sobre os britânicos é cada vez maior. Uma solução do tipo que a China negociou com relação à Hong Kong pode perfeitamente ser aplicada no caso das Malvinas/Falklands.



Todavia, o início da exploração de petróleo ao redor da ilha vai tornar a questão ainda mais polêmica e com interesses poderosos influenciando as negociações. Porém, com bom senso, uma boa dose de pressão diplomática, e sem armas, podemos deixar a rivalidade entre britânicos e argentinos apenas restrita aos gramados dos estádios. Afinal, a paixão pelo futebol é algo que une esses dois povos, que ainda realizarão batalhas memoráveis. Abençoadas com las manos de diós e sem o estúpido sacrifício de vidas.

Saiba mais:
Argentina esteve perto de vencer guerra das Malvinas, aponta documentário - Estadão
Brasil e Grã-Bretanha quase se enfrentaram nos céus na Guerra das Malvinas, diz piloto de caça - Zero Hora
Corrida para a venda de caças que substituirão o Mirage IIIE da FAB entra na reta final - IstoÉ
Guerra das Malvinas completa 30 anos. Conheça a história das ilhas - Estadão
Guerra das Malvinas completa 30 anos; veja linha do tempo - UOL
Trinta anos atrás, Brasil temia influência soviética nas Malvinas - Veja
GUERRA DAS MALVINAS: Brasil quase abateu avião que levava embaixador cubano - Estadão
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Brasil Acadêmico: Tudo sobre a Guerra das Malvinas - 30 anos
Tudo sobre a Guerra das Malvinas - 30 anos
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