A questão das Malvinas para a Argentina é como falar do Maracanaço no Brasil para quem viveu a década de 1950 ou falar de Taça de Bolinhas p...
A questão das Malvinas para a Argentina é como falar do Maracanaço no Brasil para quem viveu a década de 1950 ou falar de Taça de Bolinhas para a torcida do Flamengo (que é claro, que pertence por direito ao Fla :D). É uma questão mal resolvida entre nações.
O Brasil só se recuperará do Maracanaço quando o Uruguai tiver time para ir a uma final NO BRASIL (ou no Uruguai) e devolvermos a derrota para a Celeste. A questão da Taça das Bolinhas só poderá ser de fato encerrada quando for dado um título para o Sport de Recife, uma Taça para o Fla e outra para o São Paulo (e ainda assim ainda haverá resmungos). Todas as três questões são explosivas e exploradas politicamente ao limite.
Afinal, dependendo do engajamento dos torcedores, presidentes de clubes e até de países podem cair do poder conforme for a condução dessas questões. Bobagem, dirão alguns, mas pensem no quanto o povo em geral leva mais a sério e discute mais profundamente dilemas como "Que cidade sediará os jogos do Brasil?", "Onde será a abertura da Copa?", do que "Como resolver o problema da falta de mão de obra qualificada?" Embora o custo financeiro para essas respostas toque em cifras de grandezas semelhantes.
Estou brincando, nenhuma dessas questões se compara ao sentimento portenho de injustiça, humilhação e orgulho ferido, sem falar no número de mortes, causado pela disputa territorial das Falkland Islands (como a Inglaterra prefere chamar o arquipélago). Quando a ditadura militar na Argentina iniciou a Guerra das Malvinas em 2 de abril (embora o desembarque das tropas tenha começado ainda no dia primeiro, mas acho que ninguém levou muito a sério, afinal, era Dia da Mentira) estava tentando injetar um novo gás hilariante e inebriante de popularidade no governo inepto, repressor, brutal e capenga de apoio da sociedade.
Ao insuflar as multidões contra o colonialismo britânico, o governo argentino fabricou um conflito que foi além do território da Argentina. Criou um perigoso sentimento de oposição norte-sul. Porque na época evocou-se até um acordo militar entre as nações americanas de proteção mútua chamado TIAR - Tratado Interamericano de Assistência Recíproca, que dizia que caso algum dos países da América fosse atacado por forças externas, os demais entrariam no conflito em defesa do americano ofendido.
Isso obrigou a todos os países do acordo a se posicionarem e mostrar o que de fato era verdadeiro nesse tipo de tratado. E é claro que os EUA nesse momento difícil não abandonou seu antigo parceiro europeu da OTAN, outro tratado que os norteamericanos eram signatários. Afinal, a Argentina parecia flertar com a União Soviética em plena Guerra Fria. E isso também não era bem visto nem pela ditadura brasileira, embora o Brasil tenha se posicionado a favor da Argentina durante o conflito.
Enquanto isso, o Chile também não via a aventura argentina com bons olhos pois sabia que após as Malvinas, a bola da vez provavelmente seria as Ilhas do Canal Beagle atualmente pertencentes ao Chile.
Assim o General Pinochet até ficou do lado da Argentina da boca para fora, mas secretamente proveu dados de radar para as forças britânicas entre outras "ajudas" militares.
Até por causa da pendenga com o Chile, as forças argentinas não podiam enviar as melhores tropas para a ocupação das Ilhas (e também uma certa preocupação com o Brasil, contra o qual mantém uma reclamação dormente sobre Itaipu) - na realidade a chamada "Operação Rosário" previa atuar em três arquipélagos: Malvinas (o único povoado regularmente), Geórgia do Sul e Sandwich do Sul (essa últimas povoadas apenas por cientistas, uma espécie bem comum por lá) - assim as forças de ocupação argentinas contavam com 60% de conscritos, militares com menos de três meses de alistamento, os chamados chicos.
O General Leopoldo Galtieri, que comandava o regime no país do tango, entre um copo de uísque e outro, imaginou que a Inglaterra jamais atravessaria o Atlântico de norte a sul só para impedir a invasão de ilhas que só representavam prejuízo, especialmente com a aproximação do inverno. As ilhas não produzem praticamente nada do que consomem. Quase tudo tem que vir de fora. Provavelmente, como especula-se, já imaginava, após a "fácil" ocupação, se voltar novamente contra os chilenos.
Acontece que a primeira-ministra britânica na época, Margaret Hilda Thatcher, também precisava de uma razão para se manter no poder. Sua impopular gestão baseada em privatizações e cortes, embora
contivesse a inflação e melhorasse a cotação da libra esterlina, acabou agravando o desemprego e colocando a economia em recessão. A guerra era uma oportunidade que a política do Partido Conservador, que ficou conhecida depois como "A Dama de Ferro", não iria deixar escapar.
Também não seria de se estranhar o fato dos EUA ficarem a favor do seu parceiro na OTAN. A guerra contra o comunismo, liderada pela União Soviética, era muito mais prioritária e uma invasão à força para resolver pendências territórias poderia deflagrar revoltas semelhantes no mundo todo. Era intolerável tal "rebeldia", mesmo sendo uma ilha sem valor obviamente bem mais importante estrategicamente para os argentinos do que para os ingleses, em outro hemisfério.
Até mesmo o líder do partido trabalhista na época, Michael Foot, conhecido por ser um pacifista apoiou a primeira-ministra na decisão de brigar pelas Falklands:
Thatcher respondeu com força. Enviou uma frota de 100 navios e 28 mil soldados profissionais que foram chegando às ilhas para defender seus 1800 kelpers (como são chamados os ocupantes das ilhas por ingleses e argentinos, por causa de uma alga que cresce na região. Os cerca de 2000 malvinos acham o termo depreciativo e preferem "islanders" ou "insulares") até o final de abril, e assim combater os 12 mil soldados argentinos já entrincheirados nas ilhas e seus cerca de 40 navios.
Na ilha havia apenas uma curta pista de pouso, feita de alumínio pelos agentinos, assim até os aviões argentinos precisavam vir do continente, mais sinais de falta de planejamento. A junta militar que comandava o país realmente contava que a Inglaterra não se daria ao trabalho de atacar o arquipélago. Mas o blefe teve consequências profundas.
Para a Inglaterra as condições para atacar pelo ar não são melhores. Seus bombardeiros precisam vir da ilha britânica de Ascensão, distantes 6000 km da área do conflito. Para efeito de comparação, a base aérea argentina mais distante disponível no conflito (Trelew) ficava a 1070 km e a mais próxima (Rio Grande) ficava a apenas 700 km. Mesmo assim, os aviões argentinos não contavam com reabastecimento aéreo. Dessa forma, eles tinham pouco tempo operacional útil para realizar as missões e rapidamente tinham que retornar para a base.
Do lado britânico, essa distância quase causou um incidente diplomático de consequências imprevisíveis. Um bombardeiro britânico Vulcan teve problemas no reabastecimento aéreo e se dirigiu para o Brasil (a outra opção era ejetar e cair no oceano).
Mas o piloto manteve o rádio silencioso e não esperava que fosse interceptado (ou talvez estivessem testando nossa capacidade de detecção, vá saber) e passou por um momento tenso pois caças de outro país latino (Brasil) poderia tratar a invasão como uma ameaça e abater o avião da Coroa.
Mas as coordenadas do Galeão foram transmitidas e o bombardeiro foi escoltado. Lá chegando o avião foi desarmado e liberado.
Os últimos episódios em que a Força Aérea Brasileira (FAB) interceptou aviões intrusos no espaço aéreo do País foram há duas décadas, em plena Guerra das Malvinas, travada entre a Argentina e o Reino Unido. Eram 10h50 do dia 4 de junho de 1982, quando os radares brasileiros detectaram o bombardeiro britânico Vulcan, da RAF (Royal Air Force), voando a 340 quilômetros ao sul do Rio de Janeiro. O aparelho voltava das Malvinas à sua base na ilha de Ascensão, no oceano Atlântico, mas teve um defeito mecânico que o impediu de fazer um reabastecimento aéreo e ficou sem combustível. Como o avião não respondeu ao contato por terra, dois caças F-5 Tigger II da FAB o interceptaram e o conduziram à base aérea do Galeão, provocando grandes explosões ao quebrarem a barreira do som. Por estar oficialmente neutro, o Brasil não poderia autorizar a passagem de um avião de um país beligerante – no caso o Reino Unido – em seu espaço aéreo. Três meses antes, em abril, um Ilyushin 63, da Cubana de Aviación, tinha sido interceptado por dois caças Mirage IIIE da FAB que partiram da base de Anápolis (GO), a 300 quilômetros de Brasília. Na época, o Brasil não tinha relações diplomáticas com Cuba. IstoÉ
Ou seja, nunca é bom negócio ficar do lado de vizinhos beligerantes. A gente pode acabar se envolvendo na briga. O presidente Figueiredo chegou a transmitir ao secretário de Estado dos EUA que se a Inglaterra atacasse a Argentina no continente, que o Brasil deixaria a neutralidade e passaria a apoiar o vizinho militarmente. Foi o que revelou documentos diplomáticos ultrassecretos do governo brasileiro.
Outra lição que o Brasil aprendeu nessa guerra foi a necessidade de independência tecnológica quando se trata de armamento. Consta que a Inglaterra pressionou para que a França liberasse os códigos que desarmam os mísseis Exocet (vendidos para os argentinos). Além disso, depois de um embargo contra a Argentina, os franceses não deram mais assistência tecnológica. Assim os técnicos argentinos tiveram que aprender a montar e operar os mísseis "na marra". E fizeram um ótimo trabalho. Afundaram o principal navio inglês disparando a 50 km do alvo, antes dos aviões retornarem para a base no continente.
Os pilotos não tinham a mínima ideia se a operação tinha tido êxito. Afinal, o mundo todo estava observando como se daria a guerra na era dos mísseis. Tais artefato eram sofisticados, mas funcionavam muito bem... na teoria. A destruição do HMS Sheffield foi a prova definitiva de que a guerra do futuro teria ataques vindo de longe. Muito longe.
Assim, já que estamos em pleno processo de compra de aviões para equipar nossa Força Aérea, é bom não esquecer da importância da transferência tecnológica. Afinal, a Argentina poderia até ter ganho a guerra, conforme defende um documentário. Os detalhes foram fundamentais para a decisão do embate.
Se há algo de positivo nessa guerra non sense, especialmente para quem perdeu algum ente querido ou ainda sofre com os traumas do conflito, é o fato de que ela precipitou o fim do regime de exceção argentino. Hoje o apoio à causa argentina não para de crescer e a pressão sobre os britânicos é cada vez maior. Uma solução do tipo que a China negociou com relação à Hong Kong pode perfeitamente ser aplicada no caso das Malvinas/Falklands.
Todavia, o início da exploração de petróleo ao redor da ilha vai tornar a questão ainda mais polêmica e com interesses poderosos influenciando as negociações. Porém, com bom senso, uma boa dose de pressão diplomática, e sem armas, podemos deixar a rivalidade entre britânicos e argentinos apenas restrita aos gramados dos estádios. Afinal, a paixão pelo futebol é algo que une esses dois povos, que ainda realizarão batalhas memoráveis. Abençoadas com las manos de diós e sem o estúpido sacrifício de vidas.
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Propaganda oficial ilude o povo argentino levando centenas de jovens a uma morte por uma razão, no mínimo, duvidosa. |
O Brasil só se recuperará do Maracanaço quando o Uruguai tiver time para ir a uma final NO BRASIL (ou no Uruguai) e devolvermos a derrota para a Celeste. A questão da Taça das Bolinhas só poderá ser de fato encerrada quando for dado um título para o Sport de Recife, uma Taça para o Fla e outra para o São Paulo (e ainda assim ainda haverá resmungos). Todas as três questões são explosivas e exploradas politicamente ao limite.
Afinal, dependendo do engajamento dos torcedores, presidentes de clubes e até de países podem cair do poder conforme for a condução dessas questões. Bobagem, dirão alguns, mas pensem no quanto o povo em geral leva mais a sério e discute mais profundamente dilemas como "Que cidade sediará os jogos do Brasil?", "Onde será a abertura da Copa?", do que "Como resolver o problema da falta de mão de obra qualificada?" Embora o custo financeiro para essas respostas toque em cifras de grandezas semelhantes.
A Argentina precisa ser esfregada no barro da humilhação.
Winston Spencer Churchill. Neto de Winston Churchill, no Parlamento britânico em junho de 1982
Estou brincando, nenhuma dessas questões se compara ao sentimento portenho de injustiça, humilhação e orgulho ferido, sem falar no número de mortes, causado pela disputa territorial das Falkland Islands (como a Inglaterra prefere chamar o arquipélago). Quando a ditadura militar na Argentina iniciou a Guerra das Malvinas em 2 de abril (embora o desembarque das tropas tenha começado ainda no dia primeiro, mas acho que ninguém levou muito a sério, afinal, era Dia da Mentira) estava tentando injetar um novo gás hilariante e inebriante de popularidade no governo inepto, repressor, brutal e capenga de apoio da sociedade.
Ao insuflar as multidões contra o colonialismo britânico, o governo argentino fabricou um conflito que foi além do território da Argentina. Criou um perigoso sentimento de oposição norte-sul. Porque na época evocou-se até um acordo militar entre as nações americanas de proteção mútua chamado TIAR - Tratado Interamericano de Assistência Recíproca, que dizia que caso algum dos países da América fosse atacado por forças externas, os demais entrariam no conflito em defesa do americano ofendido.
Isso obrigou a todos os países do acordo a se posicionarem e mostrar o que de fato era verdadeiro nesse tipo de tratado. E é claro que os EUA nesse momento difícil não abandonou seu antigo parceiro europeu da OTAN, outro tratado que os norteamericanos eram signatários. Afinal, a Argentina parecia flertar com a União Soviética em plena Guerra Fria. E isso também não era bem visto nem pela ditadura brasileira, embora o Brasil tenha se posicionado a favor da Argentina durante o conflito.
Enquanto isso, o Chile também não via a aventura argentina com bons olhos pois sabia que após as Malvinas, a bola da vez provavelmente seria as Ilhas do Canal Beagle atualmente pertencentes ao Chile.
Assim o General Pinochet até ficou do lado da Argentina da boca para fora, mas secretamente proveu dados de radar para as forças britânicas entre outras "ajudas" militares.
Até por causa da pendenga com o Chile, as forças argentinas não podiam enviar as melhores tropas para a ocupação das Ilhas (e também uma certa preocupação com o Brasil, contra o qual mantém uma reclamação dormente sobre Itaipu) - na realidade a chamada "Operação Rosário" previa atuar em três arquipélagos: Malvinas (o único povoado regularmente), Geórgia do Sul e Sandwich do Sul (essa últimas povoadas apenas por cientistas, uma espécie bem comum por lá) - assim as forças de ocupação argentinas contavam com 60% de conscritos, militares com menos de três meses de alistamento, os chamados chicos.
O General Leopoldo Galtieri, que comandava o regime no país do tango, entre um copo de uísque e outro, imaginou que a Inglaterra jamais atravessaria o Atlântico de norte a sul só para impedir a invasão de ilhas que só representavam prejuízo, especialmente com a aproximação do inverno. As ilhas não produzem praticamente nada do que consomem. Quase tudo tem que vir de fora. Provavelmente, como especula-se, já imaginava, após a "fácil" ocupação, se voltar novamente contra os chilenos.
Acontece que a primeira-ministra britânica na época, Margaret Hilda Thatcher, também precisava de uma razão para se manter no poder. Sua impopular gestão baseada em privatizações e cortes, embora
contivesse a inflação e melhorasse a cotação da libra esterlina, acabou agravando o desemprego e colocando a economia em recessão. A guerra era uma oportunidade que a política do Partido Conservador, que ficou conhecida depois como "A Dama de Ferro", não iria deixar escapar.
Também não seria de se estranhar o fato dos EUA ficarem a favor do seu parceiro na OTAN. A guerra contra o comunismo, liderada pela União Soviética, era muito mais prioritária e uma invasão à força para resolver pendências territórias poderia deflagrar revoltas semelhantes no mundo todo. Era intolerável tal "rebeldia", mesmo sendo uma ilha sem valor obviamente bem mais importante estrategicamente para os argentinos do que para os ingleses, em outro hemisfério.
Até mesmo o líder do partido trabalhista na época, Michael Foot, conhecido por ser um pacifista apoiou a primeira-ministra na decisão de brigar pelas Falklands:
As garantias dadas pelo exército invasor valem tanto quanto as garantias oferecidas pela mesma Junta Militar aos seus próprios concidadãos. Não se deve esquecer que milhares de argentinos que lutaram por seus direitos políticos foram presos e torturados.
Thatcher respondeu com força. Enviou uma frota de 100 navios e 28 mil soldados profissionais que foram chegando às ilhas para defender seus 1800 kelpers (como são chamados os ocupantes das ilhas por ingleses e argentinos, por causa de uma alga que cresce na região. Os cerca de 2000 malvinos acham o termo depreciativo e preferem "islanders" ou "insulares") até o final de abril, e assim combater os 12 mil soldados argentinos já entrincheirados nas ilhas e seus cerca de 40 navios.
Na ilha havia apenas uma curta pista de pouso, feita de alumínio pelos agentinos, assim até os aviões argentinos precisavam vir do continente, mais sinais de falta de planejamento. A junta militar que comandava o país realmente contava que a Inglaterra não se daria ao trabalho de atacar o arquipélago. Mas o blefe teve consequências profundas.
Para a Inglaterra as condições para atacar pelo ar não são melhores. Seus bombardeiros precisam vir da ilha britânica de Ascensão, distantes 6000 km da área do conflito. Para efeito de comparação, a base aérea argentina mais distante disponível no conflito (Trelew) ficava a 1070 km e a mais próxima (Rio Grande) ficava a apenas 700 km. Mesmo assim, os aviões argentinos não contavam com reabastecimento aéreo. Dessa forma, eles tinham pouco tempo operacional útil para realizar as missões e rapidamente tinham que retornar para a base.
Do lado britânico, essa distância quase causou um incidente diplomático de consequências imprevisíveis. Um bombardeiro britânico Vulcan teve problemas no reabastecimento aéreo e se dirigiu para o Brasil (a outra opção era ejetar e cair no oceano).
Mas o piloto manteve o rádio silencioso e não esperava que fosse interceptado (ou talvez estivessem testando nossa capacidade de detecção, vá saber) e passou por um momento tenso pois caças de outro país latino (Brasil) poderia tratar a invasão como uma ameaça e abater o avião da Coroa.
Mas as coordenadas do Galeão foram transmitidas e o bombardeiro foi escoltado. Lá chegando o avião foi desarmado e liberado.
Os últimos episódios em que a Força Aérea Brasileira (FAB) interceptou aviões intrusos no espaço aéreo do País foram há duas décadas, em plena Guerra das Malvinas, travada entre a Argentina e o Reino Unido. Eram 10h50 do dia 4 de junho de 1982, quando os radares brasileiros detectaram o bombardeiro britânico Vulcan, da RAF (Royal Air Force), voando a 340 quilômetros ao sul do Rio de Janeiro. O aparelho voltava das Malvinas à sua base na ilha de Ascensão, no oceano Atlântico, mas teve um defeito mecânico que o impediu de fazer um reabastecimento aéreo e ficou sem combustível. Como o avião não respondeu ao contato por terra, dois caças F-5 Tigger II da FAB o interceptaram e o conduziram à base aérea do Galeão, provocando grandes explosões ao quebrarem a barreira do som. Por estar oficialmente neutro, o Brasil não poderia autorizar a passagem de um avião de um país beligerante – no caso o Reino Unido – em seu espaço aéreo. Três meses antes, em abril, um Ilyushin 63, da Cubana de Aviación, tinha sido interceptado por dois caças Mirage IIIE da FAB que partiram da base de Anápolis (GO), a 300 quilômetros de Brasília. Na época, o Brasil não tinha relações diplomáticas com Cuba. IstoÉ
Ou seja, nunca é bom negócio ficar do lado de vizinhos beligerantes. A gente pode acabar se envolvendo na briga. O presidente Figueiredo chegou a transmitir ao secretário de Estado dos EUA que se a Inglaterra atacasse a Argentina no continente, que o Brasil deixaria a neutralidade e passaria a apoiar o vizinho militarmente. Foi o que revelou documentos diplomáticos ultrassecretos do governo brasileiro.
Outra lição que o Brasil aprendeu nessa guerra foi a necessidade de independência tecnológica quando se trata de armamento. Consta que a Inglaterra pressionou para que a França liberasse os códigos que desarmam os mísseis Exocet (vendidos para os argentinos). Além disso, depois de um embargo contra a Argentina, os franceses não deram mais assistência tecnológica. Assim os técnicos argentinos tiveram que aprender a montar e operar os mísseis "na marra". E fizeram um ótimo trabalho. Afundaram o principal navio inglês disparando a 50 km do alvo, antes dos aviões retornarem para a base no continente.
Os pilotos não tinham a mínima ideia se a operação tinha tido êxito. Afinal, o mundo todo estava observando como se daria a guerra na era dos mísseis. Tais artefato eram sofisticados, mas funcionavam muito bem... na teoria. A destruição do HMS Sheffield foi a prova definitiva de que a guerra do futuro teria ataques vindo de longe. Muito longe.
Assim, já que estamos em pleno processo de compra de aviões para equipar nossa Força Aérea, é bom não esquecer da importância da transferência tecnológica. Afinal, a Argentina poderia até ter ganho a guerra, conforme defende um documentário. Os detalhes foram fundamentais para a decisão do embate.
Seis navios britânicos foram alvo de bombas argentinas que não detonaram. Se tivessem explodido, a campanha britânica teria sido derrotada de imediato. Isso ajudou, como também o fato de que valentes soldados da Marinha e paraquedistas britânicos lutaram corpo a corpo até o final.
Mark Fielder. Direto e produtor do documentário "The Great Falklands Gamble: Revealed" ("A grande aposta das Malvinas: revelada", em tradução livre)
Se há algo de positivo nessa guerra non sense, especialmente para quem perdeu algum ente querido ou ainda sofre com os traumas do conflito, é o fato de que ela precipitou o fim do regime de exceção argentino. Hoje o apoio à causa argentina não para de crescer e a pressão sobre os britânicos é cada vez maior. Uma solução do tipo que a China negociou com relação à Hong Kong pode perfeitamente ser aplicada no caso das Malvinas/Falklands.
Todavia, o início da exploração de petróleo ao redor da ilha vai tornar a questão ainda mais polêmica e com interesses poderosos influenciando as negociações. Porém, com bom senso, uma boa dose de pressão diplomática, e sem armas, podemos deixar a rivalidade entre britânicos e argentinos apenas restrita aos gramados dos estádios. Afinal, a paixão pelo futebol é algo que une esses dois povos, que ainda realizarão batalhas memoráveis. Abençoadas com las manos de diós e sem o estúpido sacrifício de vidas.
Saiba mais:
Argentina esteve perto de vencer guerra das Malvinas, aponta documentário - Estadão
Brasil e Grã-Bretanha quase se enfrentaram nos céus na Guerra das Malvinas, diz piloto de caça - Zero Hora
Corrida para a venda de caças que substituirão o Mirage IIIE da FAB entra na reta final - IstoÉ
Guerra das Malvinas completa 30 anos. Conheça a história das ilhas - Estadão
Guerra das Malvinas completa 30 anos; veja linha do tempo - UOL
Trinta anos atrás, Brasil temia influência soviética nas Malvinas - Veja
GUERRA DAS MALVINAS: Brasil quase abateu avião que levava embaixador cubano - Estadão
Figueiredo ameaçou apoiar Argentina militarmente se britânicos a invadissem - Estadão
Reino Unido propôs devolver Ilhas Malvinas apenas no ano de 2073 - Estadão
As duas nações poderiam dividir as terras para começar.
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