Conheça as ideias de Amber Case, uma autointitulada antropóloga ciborgue (e uma ciborgue assumida). Clique em View subtitles para ver lege...
Conheça as ideias de Amber Case, uma autointitulada antropóloga ciborgue (e uma ciborgue assumida).
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O que é um ciborgue? Esse conceito se aplicaria a nós? Conheça um pouco da antropologia ciborgue e tire suas dúvidas:
Robocop
Eu gostaria de dizer a todos que vocês são todos ciborgues na verdade, mas não os ciborgues que vocês pensam. Vocês não são o Robocop, não são o Exterminador do Futuro, mas vocês são ciborgues toda vez que olham uma tela de computador ou usam um dos dispositivos do seu celular. Então qual é uma boa definição de ciborgue?
Porque, se vocês pensarem sobre isso, o espaço é muito incômodo. As pessoas não deveriam estar lá. Mas humanos são curiosos, e eles gostam de adicionar coisas a seus corpos assim eles podem ir aos Alpes num dia e depois se tornar um peixe no mar no dia seguinte.
E daí eles escrevem um artigo, e talvez alguns antropólogos o leiam, e nós pensamos que é muito exótico. Bem, o que está acontecendo é que nós de repente descobrimos uma nova espécie. Eu, como uma antropóloga ciborgue, afirmei de repente:
Agora há uma razão para eu estudar isso, contra a antropologia tradicional. E a razão é que o uso de ferramentas, no início, por milhares e milhares de anos, tudo isso tem sido uma modificação física do eu. Isso nos ajudou a estender nosso eu físico, ir mais rápido, bater mais forte, e havia um limite para isso. Mas agora o que estamos observando não é uma extensão do eu físico, mas uma extensão do eu mental. E por causa disso, nós podemos viajar mais rápido e nos comunicar de forma diferente. E a outra coisa que acontece é que nós levamos a tecnologia da Mary Poppins por aí. Nós podemos colocar qualquer coisa que quisermos nisso, e isso não pesa, e depois podemos tirar qualquer coisa para fora. Como é o interior do seu computador? Bem, se você o imprimisse, isso seria uma tonelada de material que você leva por aí o tempo todo.
E se você perder essa informação, isso significa que de repente você sofre uma perda da sua mente, que você sente como se algo estivesse faltando de repente, só que você não é capaz de ver isso, então parece uma emoção muito estranha.
Quer você queira ou não, você está se mostrando online, e as pessoas interagem com seu segundo eu quando você não está lá. Então você precisa ter cuidado ao deixar sua dianteira aberta, que é basicamente seu mural do Facebook, para que as pessoas não escrevam nele no meio da noite – porque isso é muito equivalente. E de repente temos de começar a manter nosso segundo eu. Você precisa se apresentar na vida digital de um jeito parecido ao que faria na sua vida análoga. Então, do mesmo jeito que você acorda, toma um banho e se arruma, você precisa aprender a fazer isso para seu eu digital.
Eles precisam passar pela sua primária, que já é cruel, e depois precisam passar pela adolescência do segundo eu. E que é ainda mais cruel porque há um histórico real do que eles passaram online. E qualquer um que entra em uma nova tecnologia, é um adolescente online nesse momento. E isso é muito cruel, e é muito difícil para eles fazerem essas coisas.
Quando eu era pequena, meu pai foi falar comigo numa noite e disse: "Eu vou te ensinar sobre tempo e espaço no futuro." E eu disse: "Ótimo." E ele disse um dia: "Qual é a menor distância entre dois pontos?" E eu disse: "Bem, é uma reta. Você me disse ontem. Eu achei que eu era esperta." Ele disse: "Não, não, não. Há um jeito melhor." Ele pegou um pedaço de papel, escreveu A e B de cada lado e dobrou de forma que A e B se tocavam. E ele disse: "Essa é a menor distância entre dois pontos." E eu disse: "Pai, pai, pai, como você fez isso?" Ele disse: "Bem, quando você dobra o tempo e o espaço, isso gasta muita energia, e é assim que você faz." E eu disse: "Eu quero fazer isso." E ele disse: "Bem, ok." E então,, quando fui dormir nos próximos 10 ou 20 anos, eu pensava à noite: "Eu quero ser a primeira pessoa a criar um buraco de minhoca, para fazer as coisas acelerarem mais rápido. E eu quero fazer uma máquina do tempo."
Mas depois eu percebi quando estava na universidade que a tecnologia não é apenas adotada porque funciona. Ela é adotada porque as pessoas a usam e é feita para humanos. Então eu comecei a estudar antropologia. E quando estava escrevendo minha tese sobre celulares, eu percebi que todo mundo estava levando buracos de minhoca no bolso. Eles não estavam se transportando fisicamente, eles estavam se transportando mentalmente. Eles clicam um botão, e eles estão conectados imediatamente como A e B. E eu pensei: "Oh, uau. Eu descobri. Isso é ótimo."
Séries dos anos 70 ajudaram a popularizar o conceito de ciborgue
Com o passar do tempo, tempo e espaço se comprimiram por causa disso. Você pode ficar de um lado do mundo, surssurar alguma coisa e ser ouvido no outro lado. Uma das outras idéias que surgiram é que você tem um tipo diferente de tempo para cada dispositivo que usa. Cada navegador dá a você um tipo diferente de tempo. E por causa disso, você começa a buscar por suas memórias externas – onde você as deixou? Assim todos nós somos esses paleontólogos que estão buscando por coisas que perdemos em nossos cérebros externos que carregamos em nossos bolsos. E isso incentiva um tipo de arquitetura de pânico. Ah não, onde está essa coisa? Somos todos inexperientes em uma linha de montagem de informação, e não podemos manter o ritmo.
Então o que acontece é quando trazemos tudo isso num espaço social, acabamos checando nossos telefones toda hora. Nós temos essa coisa chamada de intimidade ambiente. Não é que estamos sempre conectados a todo mundo, mas podemos nos conectar a alguém a qualquer hora que quisermos. E se você pudesse imprimir todo mundo que está no seu celular, essa sala ficaria lotada. Essas são as pessoas que você tem acesso agora, em geral – todas essas pessoas, todos os seus amigos e família que você pode se conectar.
E há alguns efeitos psicológicos que ocorrem com isso. Um que me preocupa muito é que as pessoas não estão mais se dedicando à reflexão mental, e elas não estão desacelerando e parando, estando cercadas de toda essa gente o tempo todo que estão competindo por sua atenção em interfaces de tempo simultâneas, paleoentologia e arquitetura de pânico. Elas não estão apenas sentadas lá.
E então, depois de ter feito isso, você pode descobrir como apresentar seu segundo eu de forma legítima, ao invés de apenas lidar com tudo que chega – e, ah, eu preciso fazer isso, e fazer aquilo, e fazer aquilo outro. Então isso é muito importante. Estou muito preocupada, especialmente com as crianças de hoje, elas não vão lidar com esse tempo de desaceleração, elas terão uma cultura de clicagem de botão instantâneo, e tudo que vem com isso, e elas ficarão muito excitadas e muito viciadas com isso.
Obama: o mais cyborg dos presidentes
Então se você pensar sobre isso, o mundo também não parou. Ele tem seus próprios dispositivos prostéticos, e esses dispositivos estão nos ajudando a nos comunicar e interagir entre nós. Mas quando você visualiza isso, todas as conexões que estamos fazendo agora – essa é uma imagem do mapeamento da Internet – ela não parece tecnológica. Ela parece muito orgânica na verdade. Essa é a primeira vez em toda história da humanidade que nós estamos conectados dessa forma. E não é que as máquinas estão dominando. É que elas estão nos ajudando a sermos mais humanos, nos ajudando a nos conectar entre nós.
A tecnologia mais bem sucedida sai de cena e nos ajuda a viver nossas vidas. E realmente, ela termina sendo mais humana do que tecnlógica, porque nós estamos nos co-criando o tempo todo. E isso é o principal ponto que gosto de estudar: que as coisas são belas, que ainda é uma conexão humana, apenas feita de um jeito diferente.
Obrigada.
[Via BBA]
O que é um ciborgue? Esse conceito se aplicaria a nós? Conheça um pouco da antropologia ciborgue e tire suas dúvidas:
Eu gostaria de dizer a todos que vocês são todos ciborgues na verdade, mas não os ciborgues que vocês pensam. Vocês não são o Robocop, não são o Exterminador do Futuro, mas vocês são ciborgues toda vez que olham uma tela de computador ou usam um dos dispositivos do seu celular. Então qual é uma boa definição de ciborgue?
Bem, a definição tradicional é um organismo "ao qual componentes exógenos foram adicionados com o propósito de adaptar-se a novos ambientes". Isso veio de um artigo de 1960 sobre viagem espacial.
Porque, se vocês pensarem sobre isso, o espaço é muito incômodo. As pessoas não deveriam estar lá. Mas humanos são curiosos, e eles gostam de adicionar coisas a seus corpos assim eles podem ir aos Alpes num dia e depois se tornar um peixe no mar no dia seguinte.
Então vamos olhar o conceito da antropologia tradicional. Alguém vai a outro país, diz: "Como essas pessoas são fascinantes, como suas ferramentas são interessantes, como sua cultura é curiosa."
E daí eles escrevem um artigo, e talvez alguns antropólogos o leiam, e nós pensamos que é muito exótico. Bem, o que está acontecendo é que nós de repente descobrimos uma nova espécie. Eu, como uma antropóloga ciborgue, afirmei de repente:
"Opa. Nós somos agora uma nova forma de Homo sapiens. E observem essas culturas fascinantes. E observem esses rituais curiosos que todo mundo está fazendo com essa tecnologia. Eles estão clicando em coisas e olhando para telas."
Agora há uma razão para eu estudar isso, contra a antropologia tradicional. E a razão é que o uso de ferramentas, no início, por milhares e milhares de anos, tudo isso tem sido uma modificação física do eu. Isso nos ajudou a estender nosso eu físico, ir mais rápido, bater mais forte, e havia um limite para isso. Mas agora o que estamos observando não é uma extensão do eu físico, mas uma extensão do eu mental. E por causa disso, nós podemos viajar mais rápido e nos comunicar de forma diferente. E a outra coisa que acontece é que nós levamos a tecnologia da Mary Poppins por aí. Nós podemos colocar qualquer coisa que quisermos nisso, e isso não pesa, e depois podemos tirar qualquer coisa para fora. Como é o interior do seu computador? Bem, se você o imprimisse, isso seria uma tonelada de material que você leva por aí o tempo todo.
E se você perder essa informação, isso significa que de repente você sofre uma perda da sua mente, que você sente como se algo estivesse faltando de repente, só que você não é capaz de ver isso, então parece uma emoção muito estranha.
A outra coisa que acontece é que você tem um segundo eu.
Quer você queira ou não, você está se mostrando online, e as pessoas interagem com seu segundo eu quando você não está lá. Então você precisa ter cuidado ao deixar sua dianteira aberta, que é basicamente seu mural do Facebook, para que as pessoas não escrevam nele no meio da noite – porque isso é muito equivalente. E de repente temos de começar a manter nosso segundo eu. Você precisa se apresentar na vida digital de um jeito parecido ao que faria na sua vida análoga. Então, do mesmo jeito que você acorda, toma um banho e se arruma, você precisa aprender a fazer isso para seu eu digital.
E o problema é que um monte de gente agora especialmente adolescentes, precisa passar por duas adolescências.
Eles precisam passar pela sua primária, que já é cruel, e depois precisam passar pela adolescência do segundo eu. E que é ainda mais cruel porque há um histórico real do que eles passaram online. E qualquer um que entra em uma nova tecnologia, é um adolescente online nesse momento. E isso é muito cruel, e é muito difícil para eles fazerem essas coisas.
Quando eu era pequena, meu pai foi falar comigo numa noite e disse: "Eu vou te ensinar sobre tempo e espaço no futuro." E eu disse: "Ótimo." E ele disse um dia: "Qual é a menor distância entre dois pontos?" E eu disse: "Bem, é uma reta. Você me disse ontem. Eu achei que eu era esperta." Ele disse: "Não, não, não. Há um jeito melhor." Ele pegou um pedaço de papel, escreveu A e B de cada lado e dobrou de forma que A e B se tocavam. E ele disse: "Essa é a menor distância entre dois pontos." E eu disse: "Pai, pai, pai, como você fez isso?" Ele disse: "Bem, quando você dobra o tempo e o espaço, isso gasta muita energia, e é assim que você faz." E eu disse: "Eu quero fazer isso." E ele disse: "Bem, ok." E então,, quando fui dormir nos próximos 10 ou 20 anos, eu pensava à noite: "Eu quero ser a primeira pessoa a criar um buraco de minhoca, para fazer as coisas acelerarem mais rápido. E eu quero fazer uma máquina do tempo."
E eu estava sempre enviando mensagens ao meu futuro eu usando gravadores de fita.
Mas depois eu percebi quando estava na universidade que a tecnologia não é apenas adotada porque funciona. Ela é adotada porque as pessoas a usam e é feita para humanos. Então eu comecei a estudar antropologia. E quando estava escrevendo minha tese sobre celulares, eu percebi que todo mundo estava levando buracos de minhoca no bolso. Eles não estavam se transportando fisicamente, eles estavam se transportando mentalmente. Eles clicam um botão, e eles estão conectados imediatamente como A e B. E eu pensei: "Oh, uau. Eu descobri. Isso é ótimo."
Com o passar do tempo, tempo e espaço se comprimiram por causa disso. Você pode ficar de um lado do mundo, surssurar alguma coisa e ser ouvido no outro lado. Uma das outras idéias que surgiram é que você tem um tipo diferente de tempo para cada dispositivo que usa. Cada navegador dá a você um tipo diferente de tempo. E por causa disso, você começa a buscar por suas memórias externas – onde você as deixou? Assim todos nós somos esses paleontólogos que estão buscando por coisas que perdemos em nossos cérebros externos que carregamos em nossos bolsos. E isso incentiva um tipo de arquitetura de pânico. Ah não, onde está essa coisa? Somos todos inexperientes em uma linha de montagem de informação, e não podemos manter o ritmo.
E há alguns efeitos psicológicos que ocorrem com isso. Um que me preocupa muito é que as pessoas não estão mais se dedicando à reflexão mental
Então o que acontece é quando trazemos tudo isso num espaço social, acabamos checando nossos telefones toda hora. Nós temos essa coisa chamada de intimidade ambiente. Não é que estamos sempre conectados a todo mundo, mas podemos nos conectar a alguém a qualquer hora que quisermos. E se você pudesse imprimir todo mundo que está no seu celular, essa sala ficaria lotada. Essas são as pessoas que você tem acesso agora, em geral – todas essas pessoas, todos os seus amigos e família que você pode se conectar.
E há alguns efeitos psicológicos que ocorrem com isso. Um que me preocupa muito é que as pessoas não estão mais se dedicando à reflexão mental, e elas não estão desacelerando e parando, estando cercadas de toda essa gente o tempo todo que estão competindo por sua atenção em interfaces de tempo simultâneas, paleoentologia e arquitetura de pânico. Elas não estão apenas sentadas lá.
Sério, quando você não tem nenhum estímulo externo, esse é o momento quando há uma criação do eu, quando você pode fazer planos de longo prazo, quando você pode tentar descobrir quem você é.
E então, depois de ter feito isso, você pode descobrir como apresentar seu segundo eu de forma legítima, ao invés de apenas lidar com tudo que chega – e, ah, eu preciso fazer isso, e fazer aquilo, e fazer aquilo outro. Então isso é muito importante. Estou muito preocupada, especialmente com as crianças de hoje, elas não vão lidar com esse tempo de desaceleração, elas terão uma cultura de clicagem de botão instantâneo, e tudo que vem com isso, e elas ficarão muito excitadas e muito viciadas com isso.
Então se você pensar sobre isso, o mundo também não parou. Ele tem seus próprios dispositivos prostéticos, e esses dispositivos estão nos ajudando a nos comunicar e interagir entre nós. Mas quando você visualiza isso, todas as conexões que estamos fazendo agora – essa é uma imagem do mapeamento da Internet – ela não parece tecnológica. Ela parece muito orgânica na verdade. Essa é a primeira vez em toda história da humanidade que nós estamos conectados dessa forma. E não é que as máquinas estão dominando. É que elas estão nos ajudando a sermos mais humanos, nos ajudando a nos conectar entre nós.
A tecnologia mais bem sucedida sai de cena e nos ajuda a viver nossas vidas. E realmente, ela termina sendo mais humana do que tecnlógica, porque nós estamos nos co-criando o tempo todo. E isso é o principal ponto que gosto de estudar: que as coisas são belas, que ainda é uma conexão humana, apenas feita de um jeito diferente.
Nós estamos aumentando nosso humanismo e nossa habilidade de nos conectar entre nós, independente da geografia. Então é por isso que estudo antropologia ciborgue.
Obrigada.
[Via BBA]
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