Manifestantes, em grande parte compostos por estudantes de Brasília, se concentraram em frente ao palácio do governo em um protesto contra o...
Manifestantes, em grande parte compostos por estudantes de Brasília, se concentraram em frente ao palácio do governo em um protesto contra o governador Arruda. Saiba o que aconteceu.
Estava indo para uma dessas confraternizações de fim de ano com colegas de trabalho (muito animada por sinal) quando tentei no eixo monumental, pista que corta Brasília no sentido leste-oeste, e entrei bem. O trânsito estava anormalmente parado para o horário (pouco mais de 14:00h). O sinal abria e fechava e nada. Tudo parado.
Comecei a ver que alguns motorista, já impacientes, abandonavam a pista e começavam a invadir o cerrado, sinal de que a situação estava daquele jeito fazia bastante tempo.
Me senti privilegiado por estar ao lado do meio-fio (o eixo monumental possui seis pista de cada lado separadas por um enorme canteiro o que confere a essa avenida 250 metros de largura) e me vi compelido a também apelar para os trieiros já trilhados por dezenas de outros carros, o que fazia o tráfego se movimentar um pouco.
Depois ouvi no rádio o motivo do contratempo, havia um confronto entre policiais e manifestantes e já havia pedras atiradas contra a polícia, grupos cercados por cavalos em um estacionamento etc.
É um momento delicado. O governador foi filmado recebendo maços de dinheiro e colocado na TV como produto de uma investigação que aponta sujeira por toda a cúpula do governo local. E até do judiciário. A maior defesa que se faz é que esse esquema vem da administração passada (do Governador Joaquim Roriz) e que o dinheiro que o Governador atual recebeu era para comprar panetones para a população do entorno da cidade (e o pobre do pão do Toni, que não tem nada com isso, virou símbolo de corrupção. Como a coitada da pizza se converteu em sinônimo de impunidade).
Os cerca de 2000 manifestantes, começaram com uns 40 na invasão da Câmara Legislativa a cerca de uma semana, inicialmente estavam protestando pacificamente. Até alguns protestantes (não estou falando da religião deles) fecharem pistas do eixo monumental, pretendendo uma passeata até a rodoviária do Plano Piloto, e o tempo fechou.
O irônico é que o governador nem trabalha lá, uma vez que ele despacha na residência oficial e na outra sede do governo, na cidade satélite de Taguatinga, apelidada de Buritinga. A única explicação para o protesto ter ocorrido lá, puxado por carros de som da CUT no final da manhã de ontem, é a visibilidade que o lugar proporcionaria.
O lugar é uma espécie de Praça dos Três Poderes local. Onde ficaria a sede admnistrativa do DF, a futura sede da Câmara Legislativa (que receberá novos questionamentos sobre a real necessidade de sua existência, pois muitos acham que a instituição traz mais corrupção e mácula sobre a imagem de Brasília do que benefícios para a população) que está em fase final de construção, e o Tribunal de Justiça do DF.
Realmente, se as pistas fossem fechadas a cidade mergulharia no caos. Pois Brasília possuiu um movimento pendular de trabalhadores que moram nas cidades satélites e que voltam aos milhares através de duas grandes avenidas que cortam a cidade como uma cruz. Se o eixo monumental fosse totalmente bloqueado o governador iria ter que cotrolar uma situação de descontentamento muito grande em um momento político frágil e que turbações como a que se ensaiou ontem iria certamente tornar ainda mais insustentável sua permanência no cargo.
A polícia fez coreografias com a cavalaria avançando sobre a multidão. Participantes do protesto revidaram com pedras e mangas (há muitas mangueiras plantadas na área verde da via, para aumentar nossa qualidade de vida). Depois foram lançadas bombas de efeito moral e gás lacrimogênio contra aqueles que faziam o protesto e a imprensa, só de sacanagem (não se preocupem, a imprensa, ao contrário dos manifestantes, sabe se defender).
Ainda bem que não houve mortes nem feridos graves. Mas as imagens impressionam e elevam a tensão política por aqui. A operação deflagrada pela Polícia Federal foi batizada de Caixa de Pandora. Pandora é a personagem de um mito grego que abriu uma caixa que continha todos os males do mundo, algo como a mordida da maçã por Adão.
Não poderiam pensar em um nome mais adequado.
Os depoimentos foram divulgados pela Secretaria de Comunicação da UNB e foram coletados via Planeta Universitário.
Estava indo para uma dessas confraternizações de fim de ano com colegas de trabalho (muito animada por sinal) quando tentei no eixo monumental, pista que corta Brasília no sentido leste-oeste, e entrei bem. O trânsito estava anormalmente parado para o horário (pouco mais de 14:00h). O sinal abria e fechava e nada. Tudo parado.
Comecei a ver que alguns motorista, já impacientes, abandonavam a pista e começavam a invadir o cerrado, sinal de que a situação estava daquele jeito fazia bastante tempo.
Meu pai não está bem. Ele apanhou muito nas costas e na cabeça. O cavalo pisoteou o pé dele. Está muito machucado e com muita dor. Ele não caiu no chão, mas deitou-se na hora em que viu a cavalaria chegando. Ele tentou nos proteger, foi para a frente do movimento e se deitou no chão porque achou que assim a polícia não nos atacaria. Não adiantou nada. A polícia passou por cima dele sem dó. Fiquei desesperada. Ele está no hospital, mas vai melhorar.
Luiza Oliveira, 19 anos, é aluna de sociologia da UnB. Ela testemunhou o pai, radialista de 51 anos, receber seguidas pancadas de cassetetes. O homem de boné vermelho, deitado no chão e cercado por cavalos, foi visto pela TV em todo o país.
Me senti privilegiado por estar ao lado do meio-fio (o eixo monumental possui seis pista de cada lado separadas por um enorme canteiro o que confere a essa avenida 250 metros de largura) e me vi compelido a também apelar para os trieiros já trilhados por dezenas de outros carros, o que fazia o tráfego se movimentar um pouco.
Depois ouvi no rádio o motivo do contratempo, havia um confronto entre policiais e manifestantes e já havia pedras atiradas contra a polícia, grupos cercados por cavalos em um estacionamento etc.
É um momento delicado. O governador foi filmado recebendo maços de dinheiro e colocado na TV como produto de uma investigação que aponta sujeira por toda a cúpula do governo local. E até do judiciário. A maior defesa que se faz é que esse esquema vem da administração passada (do Governador Joaquim Roriz) e que o dinheiro que o Governador atual recebeu era para comprar panetones para a população do entorno da cidade (e o pobre do pão do Toni, que não tem nada com isso, virou símbolo de corrupção. Como a coitada da pizza se converteu em sinônimo de impunidade).
Pouco tempo depois que paramos o trânsito, fique com a impressão de que a nossa manifestação política estava sendo confundida com banditismo, pois logo fomos cercados pela cavalaria da PM. Pra quê isso? Contra uma manifestação política? Será que nosso governador corrupto deu ordem para dispersar o protesto? Um manifestante foi pego, agredido e levado para o gramado. Alguns cinegrafistas da imprensa estavam bem próximos filmando toda esta cena. Os policiais do Bope começaram a bater neles e a lançar bombas para que eles não conseguissem mais filmar. Eu estava atônita: o Estado, com o seu uso legítimo da força, impedindo a impressa de narrar os fatos ao resto da sociedade! Que democracia é essa?
Jaciane Milanezi, 28 anos, é aluna de mestrado em Ciências Sociais na UnB. Não participa do movimento estudantil, mas foi à manifestação acompanhada de uma amiga. Estavam armadas apenas de apitos e cartazes. Ela se surpreendeu com os atos da PM.
Os cerca de 2000 manifestantes, começaram com uns 40 na invasão da Câmara Legislativa a cerca de uma semana, inicialmente estavam protestando pacificamente. Até alguns protestantes (não estou falando da religião deles) fecharem pistas do eixo monumental, pretendendo uma passeata até a rodoviária do Plano Piloto, e o tempo fechou.
O irônico é que o governador nem trabalha lá, uma vez que ele despacha na residência oficial e na outra sede do governo, na cidade satélite de Taguatinga, apelidada de Buritinga. A única explicação para o protesto ter ocorrido lá, puxado por carros de som da CUT no final da manhã de ontem, é a visibilidade que o lugar proporcionaria.
O lugar é uma espécie de Praça dos Três Poderes local. Onde ficaria a sede admnistrativa do DF, a futura sede da Câmara Legislativa (que receberá novos questionamentos sobre a real necessidade de sua existência, pois muitos acham que a instituição traz mais corrupção e mácula sobre a imagem de Brasília do que benefícios para a população) que está em fase final de construção, e o Tribunal de Justiça do DF.
Batalha das Mangas
Realmente, se as pistas fossem fechadas a cidade mergulharia no caos. Pois Brasília possuiu um movimento pendular de trabalhadores que moram nas cidades satélites e que voltam aos milhares através de duas grandes avenidas que cortam a cidade como uma cruz. Se o eixo monumental fosse totalmente bloqueado o governador iria ter que cotrolar uma situação de descontentamento muito grande em um momento político frágil e que turbações como a que se ensaiou ontem iria certamente tornar ainda mais insustentável sua permanência no cargo.
A polícia fez coreografias com a cavalaria avançando sobre a multidão. Participantes do protesto revidaram com pedras e mangas (há muitas mangueiras plantadas na área verde da via, para aumentar nossa qualidade de vida). Depois foram lançadas bombas de efeito moral e gás lacrimogênio contra aqueles que faziam o protesto e a imprensa, só de sacanagem (não se preocupem, a imprensa, ao contrário dos manifestantes, sabe se defender).
A polícia estava acompanhando toda a manifestação. O ato tomou uma proporção que não esperávamos. Quando fomos para a rua, partiram para cima da gente. Tropa de choque, armas, cavalaria. E a gente sem nada. Isso é um instrumento de repressão. Infelizmente, houve enfrentamento com a polícia porque não queriam que a gente ficasse na rua. Eu estava tirando algumas fotos e a cavalaria veio para cima de mim. Levantei os braços para mostrar que não havia resistência. Ainda assim me acertaram uma cacetada no braço. O que aconteceu só me estimula a resistir ainda mais. O governo precisa saber que não vai ser fácil calar a população. Precisamos retomar o poder.
Perci Marrara, 28, é jornalista e militante política. Ela participou da ocupação da Câmara e, no Palácio do Buriti, foi cercada por cavalos da PM enquanto fotografava a truculência dos policiais.
Ainda bem que não houve mortes nem feridos graves. Mas as imagens impressionam e elevam a tensão política por aqui. A operação deflagrada pela Polícia Federal foi batizada de Caixa de Pandora. Pandora é a personagem de um mito grego que abriu uma caixa que continha todos os males do mundo, algo como a mordida da maçã por Adão.
Não poderiam pensar em um nome mais adequado.
Os depoimentos foram divulgados pela Secretaria de Comunicação da UNB e foram coletados via Planeta Universitário.
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