Tudo o que você queria saber sobre a crise, mas estava sem dinheiro para contratar uma consultoria. Afinal, o que é essa crise? A origem da ...
Tudo o que você queria saber sobre a crise, mas estava sem dinheiro para contratar uma consultoria.
Afinal, o que é essa crise?
A origem da crise americana, que já tomou conta do mundo, se iniciou no mercado imobiliário americano mas teve sua gênese na crise das empresas de tecnologia em 2001, as chamadas "pontocom" (uma coisa levou a outra).
Depois da crise de 2001, a solução para recuperar o mercado foi injetar dinheiro na economia através da constante queda dos juros pelo Federal Reserve (o Banco Central dos EUA), só que passou da conta.
Com o dinheiro muito barato disponível para os bancos, estes passaram a emprestar sem muito critério principalmente para quem quisesse comprar uma casa. Até imigrantes ilegais tiveram acesso fácil a financiamentos de US$ 50.000. Teve casos de brasileiros que simplesmente deixavam o país dando o calote nos bancos.
E por que isso aconteceu? Ganância. Os executivos dos bancos simplesmente tinham que aumentar os lucros para que pudessem aumentar os seus bônus (concedidos baseados no número de empréstimos realizados) e tiveram lucros fabulosos (os executivos). Para isso investiram nesse segmento de tomadores de empréstimo de baixa renda, com possível histórico de inadimplência e com dificuldade de comprovação de renda (o chamado segmento subprime).
"Sua empresa quebrou, o país mergulhou numa crise e você fica com US$ 480 mi. Uma pergunta bem básica: isso é justo?" - Henry Waxman, pres. do comitê de fiscalização econômica da câmara dos deputados dos EUA. Durante interrogatório ao executivo-chefe do banco Lehman Brothers, Richard Fuld.
E o pior ainda estava por vir. Para adquirir mais dinheiro para emprestar, os bancos passaram a emitir títulos que tinham a dívida subprime de seus clientes como garantia, e esses títulos passaram a servir de garantia a outros títulos e assim por diante. Na hora que se descobriu que a dívida não seria paga, pois os individados se tornaram inadimplentes, os sistema bancário viu que uma montanha de papéis dados como garantia simplesmente não valia nada. Aí ninguém emprestava mais nada para ninguém e quem tinha uma dívida muito maior que o patrimônio, através de um processo conhecido como alavancagem, não tinha mais como refinanciá-la e quebrou.
Quando grandes bancos de investimento, tradicionais, daqueles que dão nota de risco-país para países como o nosso, começaram a afundar como arrogantes Titanics (empresas foram vendidas para não falirem com a nota AA na mão) a crise deixou de ser imobiliária e passou a ser de todo o sistema financeiro.
A confiança dos investidores desapareceu e somado a outros índices, como o taxa de desemprego, fez com que as ações começassem a despencar e o fantasma da recessão começar a se materializar. Como os EUA é o país que mais compra produtos de outros países a crise se tornou global. Um clássico efeito dominó.
Para tentar aplacar o problema, o governo americano tentou passar um pacote de ajuda às instituições financeiras e houve uma resistência inicial do congresso. Afinal, por que os banqueiros podem lucrar e fazer qualquer besteira e depois o contribuinte é quem deve pagar a conta? Assim os contribuintes (dos EUA) chiaram e os deputados votaram contra a ajuda aos bancos. Só que os americanos investem muito na bolsa e perceberam que a crise ia acabar se voltando contra eles de qualquer forma. Então, em um segundo momento, o pacote (muito modificado, de duas páginas passou a ter centenas) passou.
Além dessa crise moral (pois o povo se sentiu usado pelos bancos e o governo) a crise financeira mostrou que o governo deve intervir na economia sim. Algo que os investidores abominavam mas que agora, com o governo americano ficando dono de grande parte dos bancos e tendo que apagar o incêndio com o dinheiro dos impostos, ficou evidente. Essa era uma das maiores diferenças, do ponto de vista econômico, entre o socialismo (que tinha sua economia planificada pelo estado) e o capitalismo (que deveria permitir a livre iniciativa). O socialismo já estaria morto e o capitalismo, como conhecemos hoje, talvez esteja em estado terminal. Algo de novo vem aí.
A crise atual é grave, isso já sabemos, mas será comparável à crise de 1929? Ainda não. Se formos olhar apenas as consequências até o momento.
A Grande Depressão quebrou 1.800 bancos nos EUA, derrubou em 20% o PIB das sete maiores economias do mundo, provocou desemprego de até 33% nos EUA e na Alemanha e fez o comércio mundial se reduzir a um terço. O BC dos EUA era muito recente, havia sido criado em 1913, e demorou 3 anos para tomar a primeira medida para aumentar a liquidez (ou seja, deixou os bancos quebrarem, em uma demonstração de liberalismo fundamentalista, o que se sabe hoje ser a pior atitude, um duro aprendizado) e permitiu que o mundo entrasse em uma profunda depressão. Em 1932 o PIB dos EUA voltou ao que era em 1922, o que foi considerado um atraso de 10 anos na economia do país.
Hoje, o politicamente enfraquecido governo Bush, que se arrasta para uma melancólica sucessão, não impediu que a Europa e os EUA agissem em estreita e histórica cooperação, que permitiu um rápido despejo de moeda no mercado para garantir a liquidez e tentar recuperar a confiança nas instituições financeiras. O que parece estar funcionando, ao menos para diminuir o pânico inicial.
Ninguém pode dizer com certeza. Mas a unanimidade dos economistas dizem que o ano de 2009 vai ter um crescimento global bem menor do que os últimos anos sem que haja um país quebrando, guerras ou ataque terrorista (e caso isso ocorra, muda todo o cenário, para pior). Mas os EUA namoram com a recessão que, caso ocorra e se aprofunde, afetará toda a economia planeta.
O despejo maciço de dinheiro no mercado pode gerar inflação, o que, segundo os mais otimistas pode ser contrabalançado com o desaquecimento da economia. Se tudo correr bem, 2010 talvez retome um ritmo de crescimento mais acelerado.
Contando com um razoável mercado interno e tendo reservas maiores que as dívidas, chegando até a se posicionar como credor, o Brasil tem chances de ser menos afetado, ainda que sinta os efeitos da crise. Desde que a crise não se aprofunde demasiadamente. E pode sair fortalecido no período pós-crise sendo reconhecido como um mercado seguro para se investir. Afinal, toda crise é também uma época de oportunidades.
ALAVANCAGEM – Utilização de recursos emprestados para aplicação no mercado financeiro - em geral, em operações de alto risco. Bancos de investimento como o quebrado Lehman Brothers tinham um nível de alavancagem muito alto porque emprestavam valores muito superiores ao seu patrimônio líquido. (Portal Exame)
É a operação em que bancos de investimento fazem apostas no mercado cujo valor é até quarenta vezes seu patrimônio – quando o limite máximo de segurança recomendado internacionalmente é doze vezes (12:1). A fórmula mais simples de medi-la é L = D / E, em que L é leverage (alavancagem), D é debt (dívida) e E é equity (patrimônio). (Veja)
BAIL-OUT – Pronuncia-se "beil aut". É o socorro financeiro que o governo dá a empresas falidas ou a setores inteiros da economia – no caso atual, o financeiro. Começou a ser usado em economia nos anos 50. Antes se referia principalmente ao ato de o piloto de caça acionar os foguetes que ejetam seu assento quando o avião é abatido – ele se salva, mas Deus sabe onde cairão os destroços em chamas. O paralelo com o pacote de salvação do governo americano é imediato: os ousados pilotos financeiros vão se salvar, mas os destroços cairão na cabeça dos contribuintes mais sensatos e que se recusaram a entrar na ciranda de Wall Street. (Veja)
CDOs (Collateralized Debt Obligations) - Na tradução literal, "títulos que têm dívidas como garantias". Por meio deles, os bancos pulverizaram o risco de calote no setor imobiliário para milhões de investidores. (Veja)
CREDIT CRUNCH - Forte contração de crédito, um cenário em que nem os bons pagadores conseguem obter novas linhas de financiameto. (Veja)
CHAPTER 11 – É o capítulo 11 do Código de Falência dos Estados Unidos, cujo equivalente no Brasil é a recuperação judicial. Menos grave que a falência, permite que a empresa (ou pessoa física) se recupere e pague os credores. O processo de recuperação é supervisionado por um dos tribunais de falências. (Veja)
DEPRESSÃO – Situação de grave crise econômica, em que o crédito desaparece, o desemprego explode, as falências se multiplicam, o comércio internacional e o investimento encolhem e as moedas se desvalorizam por longos períodos. Uma depressão é uma forma grave de recessão. (Veja)
DERIVATIVOS – Instrumentos financeiros que servem para diluir o risco de um investidor. É mais ou menos como pagar alguém (um especulador) para correr riscos em seu lugar em troca de uma remuneração. Tornaram-se tão complexos a ponto de ninguém saber exatamente com quem está o risco. Difícil mentalizar? Imagine uma família tão heterodoxa a ponto de alguém descobrir que é seu próprio avô. (Veja)
DESALAVANCAGEM – É o processo de diminuir a relação D / E, em geral aumentando o patrimônio (E), mas também diminuindo a dívida (D). (Veja)
FEDERAL DEPOSIT INSURANCE CORPORATION (FDIC) – Seguradora Federal de Depósitos. É uma estatal americana encarregada de defender o dinheiro dos pequenos poupadores das peraltices dos banqueiros. Quando um banco quebra, os depósitos até 250 000 dólares estão protegidos.
FEDERAL RESERVE (Fed) – O Sistema Federal de Reservas (Federal Reserve System, mais conhecido como Fed) é o banco central dos Estados Unidos. Seu dever principal é garantir o valor do dólar controlando a inflação, mas nas duas últimas semanas o Fed concentrou-se em salvar o sistema bancário. (Veja)
EMPRÉSTIMOS NINJA - Concedidos a pessoas sem renda, emprego ou bens (No INcome, Jobs or Assets). (Veja)
FORECLOSURE – É o despejo de um comprador inadimplente de imóvel, algo muito mais fácil nos Estados Unidos que no Brasil. O vendedor encerra unilateralmente o contrato de compra e venda antes do prazo (foreclose) e despeja o morador. (Veja)
FUNDOS HEDGE - São fundos que diversificam investimentos e fazem pesadas apostas em ações, títulos de dívida, matérias-primas básicas, as commodities, moedas e até ouro, jóias e obras de arte de modo a ganhar com as oscilações relativas de preços. O nome é quase uma ironia porque quem busca hedge (proteção, em inglês) quer segurança, algo que esses fundos têm estado muito longe de oferecer.(Veja)
São fundos para grandes investidores que prometem rentabilidade bem superior à dos títulos americanos. Investem em qualquer tipo de ativo, desde café do Vietnã até títulos da Eletrobrás. Atualmente estão entupidos de CDOs de péssima qualidade.(Veja)
MORTGAGE - Hipoteca. No setor imobiliário, serve para garantir o financiamento imobiliário. (Veja) É a hipoteca, um empréstimo garantido por um imóvel. As hipotecas foram o principal produtor de riqueza financeira dos Estados Unidos. Com 1 trilhão de dólares de hipotecas, os bancos criaram, por meio de derivativos e outros instrumentos financeiros, cerca de 10 trilhões de dólares (mais ou menos dez PIBs do Brasil) por ano. (Veja)
PANIC SELLING – É o movimento irracional de venda que ocorre quando os investidores entram em pânico e acham que as cotações vão cair muito. Por isso vendem o que possuem a qualquer preço. Bom momento para os grandes investidores (carinhosamente chamados de "tubarões") ganharem dinheiro comprando ações de boas empresas muito barato. O movimento contrário é chamado de panic buying, a compra irracional. (Veja)
PRIME - Em inglês, o melhor. No mercado de crédito, é a classificação conferida aos clientes mais confiáveis, de primeira linha (Veja)
RECESSÃO – Uma situação em que a atividade econômica diminui seu ritmo por um período (para alguns economistas, mais de três trimestres consecutivos). Uma recessão é menos grave do que uma depressão. (Veja)
SECURITIZAÇÃO – Operação que permite a emissão de um título garantido por um direito de recebimento de dívida. Esse instrumento financeiro permitiu a grande alavancagem dos bancos americanos. As instituições “empacotavam” um monte de empréstimos e vendiam títulos lastreados a esses créditos ao mercado por meio da operação conhecida como securitização. Ao dividir o risco desses empréstimos com outras instituições, o banco levantava o capital necessário para conceder novos empréstimos. (Portal Exame)
Emissão de títulos garantidos por um fluxo de pagamentos que ainda será recebido –.ou seja, uma dívida. O emissor desses títulos (em inglês, securities, daí o termo securitization) antecipa os recursos vendendo os papéis para investidores. A crise explodiu quando muitas dívidas não foram pagas e o sistema se convenceu de que muitas outras também não seriam. (Veja)
SHORT SELLING (Venda a descoberto) - Operação na qual o investidor vende um ativo que não possui apostando na queda de seu preço para, depois, comprá-lo e lucrar a diferença. No Brasil, esse tipo de operação é montada por meio do aluguel de ações. Um investidor aluga um papel de outro que não planeja vendê-lo no curto prazo em troca de uma comissão. O locatário imediatamente vende o papel no mercado para recomprá-lo mais adiante, quando tiver que devolvê-lo para o locador. Se a cotação cair, a diferença será igual ao lucro do locatário na operação menos a comissão. (Portal Exame)
SOLVÊNCIA - capacidade de pagar dívidas.(Portal Exame)
STOP LOSS - ordem de venda disparada automaticamente quando um papel cai e atinge uma determinada cotação. É usada por investidores para limitar as perdas com alguma ação.(Portal Exame)
SUBPRIME - Clientes de segunda linha, menos confiáveis. Os juros cobrados são maiores, assim como o risco de calote. (Veja)
Palavra em inglês utilizada para denominar o segmento que reúne as hipotecas com maior risco de crédito nos Estados Unidos.(Portal Exame)
A atual situação caótica dos mercados será conhecida para sempre como a Crise do Subprime. Prime (pronuncia-se "praime" é o título emitido por um devedor com vontade e capacidade de pagar sua dívida. Subprime é o contrário. A malandragem que deu a confusão toda foi justamente empacotar títulos prime junto com subprime e usá-los no processo de securitização com ajuda de derivativos – uma versão de alta tecnologia da venda de gato por lebre. (Veja)
SUBPRIME MORTGAGES - Hipoteca nos financiamentos para clientes de segunda linha. (Veja)
SUPORTE - Patamar em que uma ação não costuma cair abaixo com facilidade. Muitos investidores costumam colocar uma ordem de stop loss abaixo desse suporte porque entendem haver uma tendência de baixa do papel se houver seu rompimento. (Portal Exame)
TESOURO – O Departamento do Tesouro é o órgão encarregado de administrar as finanças públicas dos Estados Unidos, mais ou menos a atribuição do Ministério da Fazenda no Brasil. Mais recentemente, virou também o responsável por tributar os pobres para ajudar os bancos.(Veja)
Links:
A Primeira do Século - Veja
Entenda a crise financeira que atingiu a economia dos EUA - Folha
38 perguntas sobre a crise - Época
A crise dos Estados Unidos sem economês - Portal Exame
Afinal, o que é essa crise?
A origem da crise americana, que já tomou conta do mundo, se iniciou no mercado imobiliário americano mas teve sua gênese na crise das empresas de tecnologia em 2001, as chamadas "pontocom" (uma coisa levou a outra).
Depois da crise de 2001, a solução para recuperar o mercado foi injetar dinheiro na economia através da constante queda dos juros pelo Federal Reserve (o Banco Central dos EUA), só que passou da conta.
Com o dinheiro muito barato disponível para os bancos, estes passaram a emprestar sem muito critério principalmente para quem quisesse comprar uma casa. Até imigrantes ilegais tiveram acesso fácil a financiamentos de US$ 50.000. Teve casos de brasileiros que simplesmente deixavam o país dando o calote nos bancos.
E por que isso aconteceu? Ganância. Os executivos dos bancos simplesmente tinham que aumentar os lucros para que pudessem aumentar os seus bônus (concedidos baseados no número de empréstimos realizados) e tiveram lucros fabulosos (os executivos). Para isso investiram nesse segmento de tomadores de empréstimo de baixa renda, com possível histórico de inadimplência e com dificuldade de comprovação de renda (o chamado segmento subprime).
"Sua empresa quebrou, o país mergulhou numa crise e você fica com US$ 480 mi. Uma pergunta bem básica: isso é justo?" - Henry Waxman, pres. do comitê de fiscalização econômica da câmara dos deputados dos EUA. Durante interrogatório ao executivo-chefe do banco Lehman Brothers, Richard Fuld.
E o pior ainda estava por vir. Para adquirir mais dinheiro para emprestar, os bancos passaram a emitir títulos que tinham a dívida subprime de seus clientes como garantia, e esses títulos passaram a servir de garantia a outros títulos e assim por diante. Na hora que se descobriu que a dívida não seria paga, pois os individados se tornaram inadimplentes, os sistema bancário viu que uma montanha de papéis dados como garantia simplesmente não valia nada. Aí ninguém emprestava mais nada para ninguém e quem tinha uma dívida muito maior que o patrimônio, através de um processo conhecido como alavancagem, não tinha mais como refinanciá-la e quebrou.
Quando grandes bancos de investimento, tradicionais, daqueles que dão nota de risco-país para países como o nosso, começaram a afundar como arrogantes Titanics (empresas foram vendidas para não falirem com a nota AA na mão) a crise deixou de ser imobiliária e passou a ser de todo o sistema financeiro.
A confiança dos investidores desapareceu e somado a outros índices, como o taxa de desemprego, fez com que as ações começassem a despencar e o fantasma da recessão começar a se materializar. Como os EUA é o país que mais compra produtos de outros países a crise se tornou global. Um clássico efeito dominó.
As bolhas murcharam
Para tentar aplacar o problema, o governo americano tentou passar um pacote de ajuda às instituições financeiras e houve uma resistência inicial do congresso. Afinal, por que os banqueiros podem lucrar e fazer qualquer besteira e depois o contribuinte é quem deve pagar a conta? Assim os contribuintes (dos EUA) chiaram e os deputados votaram contra a ajuda aos bancos. Só que os americanos investem muito na bolsa e perceberam que a crise ia acabar se voltando contra eles de qualquer forma. Então, em um segundo momento, o pacote (muito modificado, de duas páginas passou a ter centenas) passou.
Além dessa crise moral (pois o povo se sentiu usado pelos bancos e o governo) a crise financeira mostrou que o governo deve intervir na economia sim. Algo que os investidores abominavam mas que agora, com o governo americano ficando dono de grande parte dos bancos e tendo que apagar o incêndio com o dinheiro dos impostos, ficou evidente. Essa era uma das maiores diferenças, do ponto de vista econômico, entre o socialismo (que tinha sua economia planificada pelo estado) e o capitalismo (que deveria permitir a livre iniciativa). O socialismo já estaria morto e o capitalismo, como conhecemos hoje, talvez esteja em estado terminal. Algo de novo vem aí.
Crise de 1929 X Crise de 2008
A crise atual é grave, isso já sabemos, mas será comparável à crise de 1929? Ainda não. Se formos olhar apenas as consequências até o momento.
A Grande Depressão quebrou 1.800 bancos nos EUA, derrubou em 20% o PIB das sete maiores economias do mundo, provocou desemprego de até 33% nos EUA e na Alemanha e fez o comércio mundial se reduzir a um terço. O BC dos EUA era muito recente, havia sido criado em 1913, e demorou 3 anos para tomar a primeira medida para aumentar a liquidez (ou seja, deixou os bancos quebrarem, em uma demonstração de liberalismo fundamentalista, o que se sabe hoje ser a pior atitude, um duro aprendizado) e permitiu que o mundo entrasse em uma profunda depressão. Em 1932 o PIB dos EUA voltou ao que era em 1922, o que foi considerado um atraso de 10 anos na economia do país.
Hoje, o politicamente enfraquecido governo Bush, que se arrasta para uma melancólica sucessão, não impediu que a Europa e os EUA agissem em estreita e histórica cooperação, que permitiu um rápido despejo de moeda no mercado para garantir a liquidez e tentar recuperar a confiança nas instituições financeiras. O que parece estar funcionando, ao menos para diminuir o pânico inicial.
Aonde vamos parar?
Ninguém pode dizer com certeza. Mas a unanimidade dos economistas dizem que o ano de 2009 vai ter um crescimento global bem menor do que os últimos anos sem que haja um país quebrando, guerras ou ataque terrorista (e caso isso ocorra, muda todo o cenário, para pior). Mas os EUA namoram com a recessão que, caso ocorra e se aprofunde, afetará toda a economia planeta.
O despejo maciço de dinheiro no mercado pode gerar inflação, o que, segundo os mais otimistas pode ser contrabalançado com o desaquecimento da economia. Se tudo correr bem, 2010 talvez retome um ritmo de crescimento mais acelerado.
E o Brasil?
Contando com um razoável mercado interno e tendo reservas maiores que as dívidas, chegando até a se posicionar como credor, o Brasil tem chances de ser menos afetado, ainda que sinta os efeitos da crise. Desde que a crise não se aprofunde demasiadamente. E pode sair fortalecido no período pós-crise sendo reconhecido como um mercado seguro para se investir. Afinal, toda crise é também uma época de oportunidades.
Dicionário da Crise
Entenda os termos que se popularizaram com a crise.ALAVANCAGEM – Utilização de recursos emprestados para aplicação no mercado financeiro - em geral, em operações de alto risco. Bancos de investimento como o quebrado Lehman Brothers tinham um nível de alavancagem muito alto porque emprestavam valores muito superiores ao seu patrimônio líquido. (Portal Exame)
É a operação em que bancos de investimento fazem apostas no mercado cujo valor é até quarenta vezes seu patrimônio – quando o limite máximo de segurança recomendado internacionalmente é doze vezes (12:1). A fórmula mais simples de medi-la é L = D / E, em que L é leverage (alavancagem), D é debt (dívida) e E é equity (patrimônio). (Veja)
BAIL-OUT – Pronuncia-se "beil aut". É o socorro financeiro que o governo dá a empresas falidas ou a setores inteiros da economia – no caso atual, o financeiro. Começou a ser usado em economia nos anos 50. Antes se referia principalmente ao ato de o piloto de caça acionar os foguetes que ejetam seu assento quando o avião é abatido – ele se salva, mas Deus sabe onde cairão os destroços em chamas. O paralelo com o pacote de salvação do governo americano é imediato: os ousados pilotos financeiros vão se salvar, mas os destroços cairão na cabeça dos contribuintes mais sensatos e que se recusaram a entrar na ciranda de Wall Street. (Veja)
CDOs (Collateralized Debt Obligations) - Na tradução literal, "títulos que têm dívidas como garantias". Por meio deles, os bancos pulverizaram o risco de calote no setor imobiliário para milhões de investidores. (Veja)
CREDIT CRUNCH - Forte contração de crédito, um cenário em que nem os bons pagadores conseguem obter novas linhas de financiameto. (Veja)
CHAPTER 11 – É o capítulo 11 do Código de Falência dos Estados Unidos, cujo equivalente no Brasil é a recuperação judicial. Menos grave que a falência, permite que a empresa (ou pessoa física) se recupere e pague os credores. O processo de recuperação é supervisionado por um dos tribunais de falências. (Veja)
DEPRESSÃO – Situação de grave crise econômica, em que o crédito desaparece, o desemprego explode, as falências se multiplicam, o comércio internacional e o investimento encolhem e as moedas se desvalorizam por longos períodos. Uma depressão é uma forma grave de recessão. (Veja)
Recessão é quando seu vizinho perde o emprego. Depressão é quando quem perde o emprego é você.
- Harry TrumanDERIVATIVOS – Instrumentos financeiros que servem para diluir o risco de um investidor. É mais ou menos como pagar alguém (um especulador) para correr riscos em seu lugar em troca de uma remuneração. Tornaram-se tão complexos a ponto de ninguém saber exatamente com quem está o risco. Difícil mentalizar? Imagine uma família tão heterodoxa a ponto de alguém descobrir que é seu próprio avô. (Veja)
DESALAVANCAGEM – É o processo de diminuir a relação D / E, em geral aumentando o patrimônio (E), mas também diminuindo a dívida (D). (Veja)
FEDERAL DEPOSIT INSURANCE CORPORATION (FDIC) – Seguradora Federal de Depósitos. É uma estatal americana encarregada de defender o dinheiro dos pequenos poupadores das peraltices dos banqueiros. Quando um banco quebra, os depósitos até 250 000 dólares estão protegidos.
FEDERAL RESERVE (Fed) – O Sistema Federal de Reservas (Federal Reserve System, mais conhecido como Fed) é o banco central dos Estados Unidos. Seu dever principal é garantir o valor do dólar controlando a inflação, mas nas duas últimas semanas o Fed concentrou-se em salvar o sistema bancário. (Veja)
EMPRÉSTIMOS NINJA - Concedidos a pessoas sem renda, emprego ou bens (No INcome, Jobs or Assets). (Veja)
FORECLOSURE – É o despejo de um comprador inadimplente de imóvel, algo muito mais fácil nos Estados Unidos que no Brasil. O vendedor encerra unilateralmente o contrato de compra e venda antes do prazo (foreclose) e despeja o morador. (Veja)
FUNDOS HEDGE - São fundos que diversificam investimentos e fazem pesadas apostas em ações, títulos de dívida, matérias-primas básicas, as commodities, moedas e até ouro, jóias e obras de arte de modo a ganhar com as oscilações relativas de preços. O nome é quase uma ironia porque quem busca hedge (proteção, em inglês) quer segurança, algo que esses fundos têm estado muito longe de oferecer.(Veja)
São fundos para grandes investidores que prometem rentabilidade bem superior à dos títulos americanos. Investem em qualquer tipo de ativo, desde café do Vietnã até títulos da Eletrobrás. Atualmente estão entupidos de CDOs de péssima qualidade.(Veja)
MORTGAGE - Hipoteca. No setor imobiliário, serve para garantir o financiamento imobiliário. (Veja) É a hipoteca, um empréstimo garantido por um imóvel. As hipotecas foram o principal produtor de riqueza financeira dos Estados Unidos. Com 1 trilhão de dólares de hipotecas, os bancos criaram, por meio de derivativos e outros instrumentos financeiros, cerca de 10 trilhões de dólares (mais ou menos dez PIBs do Brasil) por ano. (Veja)
PANIC SELLING – É o movimento irracional de venda que ocorre quando os investidores entram em pânico e acham que as cotações vão cair muito. Por isso vendem o que possuem a qualquer preço. Bom momento para os grandes investidores (carinhosamente chamados de "tubarões") ganharem dinheiro comprando ações de boas empresas muito barato. O movimento contrário é chamado de panic buying, a compra irracional. (Veja)
PRIME - Em inglês, o melhor. No mercado de crédito, é a classificação conferida aos clientes mais confiáveis, de primeira linha (Veja)
RECESSÃO – Uma situação em que a atividade econômica diminui seu ritmo por um período (para alguns economistas, mais de três trimestres consecutivos). Uma recessão é menos grave do que uma depressão. (Veja)
SECURITIZAÇÃO – Operação que permite a emissão de um título garantido por um direito de recebimento de dívida. Esse instrumento financeiro permitiu a grande alavancagem dos bancos americanos. As instituições “empacotavam” um monte de empréstimos e vendiam títulos lastreados a esses créditos ao mercado por meio da operação conhecida como securitização. Ao dividir o risco desses empréstimos com outras instituições, o banco levantava o capital necessário para conceder novos empréstimos. (Portal Exame)
Emissão de títulos garantidos por um fluxo de pagamentos que ainda será recebido –.ou seja, uma dívida. O emissor desses títulos (em inglês, securities, daí o termo securitization) antecipa os recursos vendendo os papéis para investidores. A crise explodiu quando muitas dívidas não foram pagas e o sistema se convenceu de que muitas outras também não seriam. (Veja)
SHORT SELLING (Venda a descoberto) - Operação na qual o investidor vende um ativo que não possui apostando na queda de seu preço para, depois, comprá-lo e lucrar a diferença. No Brasil, esse tipo de operação é montada por meio do aluguel de ações. Um investidor aluga um papel de outro que não planeja vendê-lo no curto prazo em troca de uma comissão. O locatário imediatamente vende o papel no mercado para recomprá-lo mais adiante, quando tiver que devolvê-lo para o locador. Se a cotação cair, a diferença será igual ao lucro do locatário na operação menos a comissão. (Portal Exame)
SOLVÊNCIA - capacidade de pagar dívidas.(Portal Exame)
STOP LOSS - ordem de venda disparada automaticamente quando um papel cai e atinge uma determinada cotação. É usada por investidores para limitar as perdas com alguma ação.(Portal Exame)
SUBPRIME - Clientes de segunda linha, menos confiáveis. Os juros cobrados são maiores, assim como o risco de calote. (Veja)
Palavra em inglês utilizada para denominar o segmento que reúne as hipotecas com maior risco de crédito nos Estados Unidos.(Portal Exame)
A atual situação caótica dos mercados será conhecida para sempre como a Crise do Subprime. Prime (pronuncia-se "praime" é o título emitido por um devedor com vontade e capacidade de pagar sua dívida. Subprime é o contrário. A malandragem que deu a confusão toda foi justamente empacotar títulos prime junto com subprime e usá-los no processo de securitização com ajuda de derivativos – uma versão de alta tecnologia da venda de gato por lebre. (Veja)
SUBPRIME MORTGAGES - Hipoteca nos financiamentos para clientes de segunda linha. (Veja)
SUPORTE - Patamar em que uma ação não costuma cair abaixo com facilidade. Muitos investidores costumam colocar uma ordem de stop loss abaixo desse suporte porque entendem haver uma tendência de baixa do papel se houver seu rompimento. (Portal Exame)
TESOURO – O Departamento do Tesouro é o órgão encarregado de administrar as finanças públicas dos Estados Unidos, mais ou menos a atribuição do Ministério da Fazenda no Brasil. Mais recentemente, virou também o responsável por tributar os pobres para ajudar os bancos.(Veja)
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A Primeira do Século - Veja
Entenda a crise financeira que atingiu a economia dos EUA - Folha
38 perguntas sobre a crise - Época
A crise dos Estados Unidos sem economês - Portal Exame
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